– Vocês não sossegam mesmo, hein? – ouço Calipso comentar divertida.

Eu tento me levantar mais uma vez e novamente me atrapalho com Nico que continuou no chão fazendo assim nós dois voltarmos a mesma estaca, deitamos no chão um empurrando o outro para tentarmos nós separarmos.

– Mais que droga. Isso foi jogado nas nossas roupas não na nossa pele. – resmunga Nico por entre os dentes colocando a mão no meu rosto tentando me empurrar para longe de si.

– Para Nico, você mesmo disse que talvez tenha quebrado o seu braço esquerdo. – falei segurando o pulso do braço direito dele fazendo-o parar.

– Devo dizer que vocês são cômicos também pelas coisas ridículas que estão tentando fazer. – disse Calipso e Nico e eu paramos imediatamente de nós mexer assim que a ouvimos de novo.

Eu estava deitado de barriga para baixo e Nico de costas. Levantei a minha cabeça, o que eu podia, e vi Calipso caminhar em nossa direção devagar.

– Pelo que você me contou sobre ela, preferia a inocente garota de 14 anos da ilha do que essa. – disse Nico soando emburrado, mas dava para ver como ele estava sentindo dor pelo seu braço. – Você é ótimo em arranjar amigos.

– Cala boca, filho de Hades. – falei por entre os dentes nervoso.

– Não adianta. Não vão conseguir se soltarem assim. – disse ela parando na nossa frente. – Pelo menos não nas próximas cinco horas.

– Obrigado pela informação. Também gostaria de um refrigerante e um x-Burger. – disse Nico soando sarcástico. – Eu gostaria de bastante ketchup no meu hambúrguer.

– Pedido anotado, Nico di Angelo. – disse Calipso soando fria. – Não precisa se preocupar, fazemos entrega em vários lugares incluindo entregas especiais para o mundo inferior em qualquer seção que você for parar.

Xi, eu não estava gostando do rumo que essa conversa estava tomando.

– Hã, Calipso, será que você não poderia...

O urro do Leão de Neméia me fez calar a boca rapidamente. Pelo canto do olho vi o leão se aproximar e ficar ao lado de Calipso arreganhando seus dentes para mim e Nico.

– O leão não gosta de você Percy, então fica de boca fechada se não quiser ser o primeiro a ir para o Mundo Inferior só com a passagem de ida. – disse Calipso. Bati a testa no chão não conseguindo ficar mais com a cabeça levantada.

– É, continue a falar, Percy. – disse Nico, sua voz estava soando alegre? – Eu quero ver como esse leão vai te matar com você portando a maldição de Aquiles.

– Muito engraçado, Caveirinha Junior. – dei um peteleco na cabeça de Nico e voltei a encarar Calipso. Se eu sair dessa vivo eu vou ficar com dor no pescoço por um bom tempo. – O que você quer com tudo isso?

– Eu somente estou seguindo ordens. – disse ela dando de ombros. – E você deveria me a...

– Fechem os olhos e a boca. – ouvi a voz de Annabeth soando um pouco longe da gente e menos de um segundo depois vi uma flecha cravar perto das patas do leão de Nemeia.

O que Annabeth estava fazendo aqui? E quanto às crianças? Onde elas estavam?

Antes de fechar os olhos vi Calispo escalar o leão Neméia enquanto que ele recuou. Escutei um tipo de tic e coloquei minha mão direta sobre a boca fechando os olhos com força.

Sem querer acabei inalando um cheiro estranho e forte que me fez sentir anciã. Aquilo tinha cheiro de bomba fedorenta. Uma vez um professor de química ensinou como fazer uma dessas na sala de aula, um dos poucos professores legais que eu conheci.

Foi muito divertido, mas fiquei dias com aquele cheiro.

Depois de alguns segundos senti alguém tocar em meu cabelo. Abri os olhos e vi Annabeth ao meu lado com seu arco em mãos apontado para Calipso que estava em pé em cima do leão de Neméia, este mantinha a boca fechada e tinha um olhar sombrio sobre a gente, mas não fazia qualquer movimento para nós atacar.

Eu estava curioso para saber como que o leão obedecia Calipso. Ele não parece o tipo de animal que obedece a alguém.

Uma coisa que me deixou curioso também era o fato de nem um mortal estar correndo de um lado para o outro gritando sobre o ataque que aconteceu a pouco e do que estava acontecendo e não ter nem um a vista também.

O que será que tinha acontecido com as pessoas que estavam na lanchonete e com quem estava no posto abastecendo? Poderiam todos sumirem assim de uma hora para a outra?

– Hum, tenho que fazer uma ligação importante. – disse Calipso tirando um celular do bolso e falou alguma coisa para o leão. – Não poderei levar as crianças sozinha, vou precisar de ajuda. – O leão de Nemeia foi em direção à lanchonete e Calipso pulou no telhado. – Você tem dois minutos para sair de perto deles, Annabeth, ou serei forçada a deixar o leão te matar também.

– Essa vadia. – rosnou Nico.

– Esquece ela. Preciso que vocês tirem a camisa, ou só você, Percy já que pelo que reparei Nico esta com o braço esquerdo machucado. – disse Annabeth ajudando Nico e eu a sentarmos.

– Porque temos que tirar a camisa? – perguntei confuso.

– Essa “cola” que esta no ombro de vocês libera um tipo de alucinógeno indolor que faz vocês acreditarem que não conseguem se soltar, vocês somente acham que tentara usar toda força de vocês, mas na verdade não fizeram nada.

“Ela esta somente grudada na camisa de vocês e se tirarem ela vocês ficam livre, mas o efeito do alucinógeno pode durar mais alguns minutos mesmo se jogarmos a camisa de vocês longe.”

– Esta dizendo que esse negocio é tão poderoso assim? – perguntou Nico incrédulo. – Como isso é possível? E como você sabe desse negocio?

– Pare de me fazer perguntas. – Annabeth virou o rosto olhando para o leão de Neméia e Calipso. Algo estava errado. – Agora não é o momento para perder dando respostas.

– Annabeth esta certa. – falei olhando serio para Annabeth. Eu tinha certeza que ela estava escondendo algo, mas ela tinha razão. Não temos tempo a perder com isso, mas com certeza depois eu ia fazer algumas perguntas a minha noiva. – Temos que tirar a camisa mesmo?

– Se você quiser ainda poder usar ela depois, sim. Essa “cola” é fácil de remover se usarmos o s ingredientes certos. – respondeu Annabeth e eu suspirei desanimado. Eu não podia me dar a esse luxo, não com as contas que eu tinha para pagar.

– Tudo bem. Eu gosto da minha camisa também, então nada de rasgar. – disse Nico com a voz esganiçada. Nico travou o maxilar quando tive que empurrar um pouco meu ombro esquerdo para poder tirar a camisa.

Respirei aliviado, parecia que eu tinha ficado preso a Nico por dias a fim. Fiquei de pé tirando contracorrente do bolso já a destampando. Ajudei Nico a ficar de pé.

– Pelo jeito você vai ficar na frente deles mesmo. Bom... – Calipso guardou o celular novamente no bolso e balançou a cabeça negativamente. – ... de qualquer jeito, pelo bem do Luke, que o leão acabe com o filho de Poseidon e com o filho de Hades antes assim talvez eu possa salvar a sua vida.

– Corre para o carro, Nico. – Annabeth jogou a sua copia da chave do meu carro para Nico que a pegou desajeitadamente. – Eu ativei o sistema de segurança.

– Isso explica o porquê você esta aqui.  – disse Nico tirando a sua camisa também deixando ela no chão e a minha acabou indo junto.

Se Annabeth ativou o sistema de segurança, só para informar eu sabia da existência dele – aprendi a lição e li o manual do carro –, então Nina e Damon estariam seguros já que eles queria os meus filhos vivos sendo assim não poderiam destruir o carro.

– Mas eu não vou a lugar nem um. – disse Nico serio.

Ele colocando a chave no bolso e tirou de lá um cubo de ambrosia no qual colocou na boca. Ele apertou o pingente de uma espada preso em sua cintura e em meio segundo sua espada feita de ferro estigio expandiu em volta de sua bainha.

– Nós diz o que devemos fazer, Annabeth. – continuou Nico.

– Desculpem, mas o tempo de vocês acabou. – disse Calipso. – Pode ir fazer o seu lanchinho fora de hora leão de Neméia.

No mesmo instante que Calipso terminou de falar o leão avançou em nossa direção.

– Joguem isso na boca dele para que eu posso acertar uma flecha na boca dele. – disse Annabeth apontando para algo ao lado do seu pé, era uma sacola.

– O que tem...

Não esperei Nico falar. Peguei a sacola e puxei o filho de Hades comigo bem no momento em que o leão de Neméia abocanhou o lugar em que estava segundos atrás.

Annabeth saiu correndo indo em direção até uma arvore que tinha no final do estacionamento da lanchonete. O leão virou a cara na direção dela, mas eu arrastei a ponta de contracorrente no chão chamando sua atenção.

– Eih leãozinho de estimação. – gritei tentando chamar sua atenção.

– Leãozinho de estimação? Qual é, Percy. – disse Nico de forma reprovadora.

– Ok, da próxima vez você escolhe o apelido, mas agora vamos correr porque de um jeito ou de outro isso serviu para chamar a atenção dele. – falei começando a correr.

Nico vinha atrás de mim correndo com dificuldade. Idiota, deveria ter ido para o carro ficar com as crianças teria sido muito melhor para ele e para a gente.

– Esquiva, Percy! – gritou Nico e eu pulei para o lado rolando no chão.

O leão de Neméia acabou abocanhando o chão a onde eu estava meio segundo atrás. Ele tirou a boca com tudo do chão tirando uma grande “lasca” do cimento e jogou em minha direção. Tentei me esquivar, mas fui lento de mais e o pedaço de cimento acertou meu ombro esquerdo me fazendo cair no chão.

Ele não esperou nem um segundo e avançou em minha direção pronto para me dar uma patada, porem Nico saltou perto do leão acertando sua espada perto do olho dele. A espada de Nico ricocheteou e saiu voando metros longe da gente, mas mesmo assim isso serviu para distrair o leão.

Nico não teve muito sorte e caiu no chão bem em cima do seu braço esquerdo. O filho de Hades se encolheu com a tamanha dor que estava sentindo.

– Leve-o até Annabeth e acabe logo com isso. – gemeu Nico e rolou para debaixo de um carro quando o leão tentou pisoteá-lo.

Corri até um carro que estava ao lado de onde Nico havia se escondido e usei ele para pegar impulso saltando sobre o leão de Neméia acertando minha espada bem na testa dele. E para ajudar a chamar sua atenção varias flechas acertaram o rosto do monstro.

– Ei. – gritei brandindo a espada na sua frente. O leão de Neméia se virou em minha direção e mostrou os dentes, rosnando para mim.

– Ele esta na mira. – gritou Annabeth então eu esperei ele vir em minha direção.

Quando leão saltou em minha direção joguei a sacola na boca dele e usei esse impulso para rolar para a frente desviando de suas patas e boca.

O leão tentou se afastar de mim com os olhos esbugalhados e arreganhando a boca, como ele havia feito anos atrás, e varias flechas perfuraram sua boca. Ele caiu de costas e começou a se debater violentamente me abrigando a me afastar.

Poucos segundos depois ele ficou imóvel e começou a se dissolver até que nada mais havia a não ser o reluzente casaco de pelos que tinha se encolhido do tamanho de um leão normal. Um espólio de guerra.

– Eih, alguém para me ajudar aqui? – gritou Nico ainda embaixo do carro.

Corri para ajuda-lo a sair de baixo do carro. Nico estava com o rosto todo ralado e segurava seu braço esquerdo que tinha um belo de um corte agora.

– Ela fugiu. – disse Nico apontando para onde Calipso estava minutos atrás.

– Deixa ela, conseguimos o que queríamos. – falei respirando com dificuldade.

Mas algo estava me incomodando muito e eu sentia que Annabeth saberia o que era. A questão era se Annabeth iria falar ou continuar mantendo segredo porque eu tinha certeza que tudo isso estava conectado.

– Esse leão deveria ter ficado mais tempo no tártaro. – disse Annabeth vindo correndo em nossa direção. Seu arco já tinha virado o pingente de lua e ela trazia nas mãos a minha camisa e a do Nico e o espólio de guerra.

– Concordo, mas será que poderia dar um jeito no meu braço que graças a esse nemo esta bem pior do que antes. – disse Nico irritado olhando para o seu braço esquerdo. – Agora eu tenho um belo corte nele para completar.

– Deu para me chamar disso agora? Fala serio, Caveirinha Junior. – resmunguei. – E não é culpa minha se você resolveu ficar aqui mesmo estando com o braço machucado como diz tanto estar.

– Você usa o apelido que aquela dracanae deu para mim então vou usar o que ela te deu também. – contra argumento Nico. – E também... Vai se ferrar, filho de Poseidon.

– Ok, parou vocês dois. – disse Annabeth seria. – Temos que sairmos daqui. Preciso cuidar do seu braço, Nico, antes que isso infeccione.

– Aproposito, a onde estão as pessoas daqui? – assim que fiz essa pergunta varias pessoas assustadas começaram a sair da lanchonete.

– Calipso usou um feitiço deixando todos eles fora do caminho. – respondeu Annabeth. – Agora que ela não esta mais aqui...

– O feitiço se desfez. – completou Nico e Annabeth assentiu. – Como você sabe disso?

– Agora não é o momento para isso. – mais uma vez Annabeth esta desviando as perguntas. Cara, como isso esta me deixando muito incomodado.

– Ok, você esta estranha. – disse Nico olhando atentamente para Annabeth e como resposta a ele Annabeth deu um tapa no braço esquerdo dele que se contorceu de dor. – Tendi.

– Vamos para o carro antes que você perca mais sangue Nico. – falou Annabeth autoritária.

– Estamos logo atrás de você. – falei olhando seriamente para ela. Annabeth mordeu o lábio inferior e virou as costas para mim e para Nico caminhando em direção ao carro.

– Você pode pelo menos nós dizer o que jogamos na boca do leão? – perguntou Nico por entre os dentes, coitado estava sentindo muito dor. Ouvi o som da risada de Annabeth e inevitavelmente eu sorri.

– A fralda suja da Nina. – disse ela divertida.