First Light escrita por Livy Zeklos


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês! :D
Apenas para evitar qualquer mal-entendido sobre os apelidos é o seguinte:
O apelido para "Alexandra" em russo é "Sasha", e futuramente vocês irão tambem ver o apelido americano "Alex".
"Dima" é um apelido russo mais carinhoso que "Dimka" para "Dimitri".



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Várias emoções cruzaram o seu rosto antes de ele conseguir mascará-las novamente. Apesar da expressão em branco eu podia perceber seus sentimentos altamente conturbados, e uma nostalgia profunda tomou conta de mim. Havia tanto tempo... Tanto tempo que não me sentia assim tão próxima de alguém, tão... Familiar. Depois de uma fração de segundo que pareceu uma eternidade, ele olhou bem fundo nos meus olhos e tudo ao meu redor pareceu desaparecer.

            -Hey Zaramivir! - A voz de Louis foi como um tapa na cara, me acordando do meu torpor. – Ainda por aqui? - Ao se aproximar, seu rosto se tornou preocupado. – Você está bem Alexandra? Está muito pálida...

            -Eu, eu tenho que ir. – Falei bruscamente, olhei por cima do ombro de Tommen e vi ele me olhando intensamente. Virei-me rapidamente e me segurei para não sair correndo. Fui caminhando cada vez mais rápido para qualquer lugar, qualquer lugar para longe dele. Não, não, não! Droga, não agora! Eu não estava pronta para isso ainda, não estava pronta para encarar o meu passado.      

Eu parei quando senti uma mão quente segurando meu braço. A voz que falou no meu ouvido não passava de um sussurro com um sotaque russo carregado.

            -Sasha, Sasha, há quanto tempo. - A mão que segurou meu braço, me virou e fiquei cara a cara com Dimitri Belikov.           

            Ele estava mais lindo do que nunca. Seus cabelos castanhos estavam um pouco maiores do que eu me lembrava, quase nos ombros. Uma mecha de seu cabelo insistia em cair no seu olho. Involuntariamente estendi a mão e a afastei, Deus, era tão sedosa. Fechei meus olhos enquanto lembranças me invadiam. 

-Sasha... – ele sussurrou novamente, me fazendo abrir os olhos. Dimitri puxou minha mão que estava em seu cabelo e segurou entre as suas. Eu olhei para o seu rosto, re-lembrando de cada feição. Seu maxilar forte era quase suave, agora que estava relaxado. Estendi a mão para o seu rosto, a pele macia e bronzeada queimou sob meus dedos e nossos olhares se cruzaram novamente. Seus olhos cor de chocolate eram exatamente como eu me lembrava; gentis, sinceros e ferozes.

E de repente o contato se quebrou, e me vi fora do estupor. Ele olhou para algo - ou melhor, alguém – por trás de mim e puxou bruscamente minha mão de seu rosto. Seu olhar me deixou alerta. Ele estava cauteloso, mas um leve pânico marcava sua expressão. Virei-me rapidamente esperando algum tipo de ataque, mas o que vi não me alarmou, apenas me deixou confusa. Um guardião que não passava de um garoto olhava acusadoramente para Dimitri atrás de mim. Quando me virei, ele desviou o olhar brevemente para mim com um desdém que eu não esperava. Bem, digamos que eu não recebia esse tipo de olhar com freqüência, muito menos de alguém que nunca tinha visto antes.     

Eu estava pronta para responder sua atitude com algumas palavras nada gentis, mas um leve toque no meu ombro me impediu. Vi o garoto acompanhar o movimento de Dimitri com os olhos e seu corpo ficou tenso. Ele avançou alguns passos. 

-Belikov, – Sua voz era dura. – o que você acha que est...

-Castille, – Dimitri o interrompeu. – agora não.

-Você...

-Eu disse agora não. Você não tem assuntos a tratar com Hans? É melhor não se atrasar.

            Algo em sua expressão me disse que era exatamente ali que ele queria ficar, mas cedeu, e, com uma ultima ameaça, seguiu em direção ao prédio.

            -Depois.        

Dimitri relaxou visivelmente quando ele desapareceu pela porta.

- Mas quem diabos era ele? – questionei – Não gostei da forma que ele me olhou...

            -Não importa, vou lidar com ele depois. Venha, vamos comer alguma coisa – ele segurou firmemente o meu braço e nos direcionou à uma lanchonete perto do prédio dos guardiões.

            A lanchonete estava praticamente vazia. Os dois Morois que cuidavam do caixa estavam horrivelmente com sono e entediados, afinal, era o meio da noite para nós. Dimitri me levou até uma mesa mais distante da porta e parcialmente escondida por algumas plantas altas. Eu me sentei preguiçosamente no banco. Não havia percebido o quanto estava cansada. Ele me olhou brevemente e sorriu.

            -O mesmo de sempre? – Perguntou apoiando-se na mesa e se inclinando para frente. Ele cheirava a loção pós barba e algo muito familiar que eu não conseguia identificar

            -O mesmo de sempre. – Respondi com um sorriso. - E um muffin bem grande também, estou com fome. – Completei.

Ele foi até o balcão e voltou com dois grandes copos de chocolate quente com creme e raspas de limão, e três muffins gigantes com gotas de chocolate, o meu favorito. Parecia delicioso.

            -Huhn, parece que você ainda me conhece. – Peguei o copo de sua mão e tomei um gole. Ele se sentou na minha frente e me analisou longamente.

            -Sasha, tanta coisa aconteceu desde a última vez em que nos vimos... – ele falou em russo. Descobri que também sentia falta de sua voz em sua língua nativa.

           Apesar de aquilo me desconcentrar momentaneamente, ainda sentia suas emoções. Ele parecia estar grato por eu estar viva e bem, uma sensação de conforto familiar, e um pouco de nervosismo misturado com muita apreensão.

           Eu toquei sua mão que estava estendida sobre a mesa e a segurei, fazendo movimentos circulares com o polegar.

           -Me diga o que está te incomodando. – Ele levantou a cabeça de repente, fazendo com que seu cabelo cobrisse os olhos. Dimitri os afastou com a mão livre e suspirou, organizando os pensamentos. – Sabe, acho que nunca te vi com o cabelo tão grande.

           -É, estou tentando um novo anh, estilo. – ele respondeu com uma careta e sem muita certeza.

           -Hunm, ainda continua com suas fantasias de ser cowboy? – brinquei, ele sorriu e colocou um chapéu imaginário na cabeça.

           -Tantas coisas aconteceram ultimamente, acho que só não tive tempo, ou sequer lembrei-me de cortar. – ele olhou para os meus cabelos e puxou uma mecha .– Já você cortou os seus, não? – ele perguntou ainda mexendo na mecha.

           -É, tive que cortar, uma experiência nada legal com Strigois puxando meu cabelo. Nada legal... – fiz uma careta e ele riu.

           -Bom, ainda lutando contra Strigois? Não acho que seu pai aprovaria você empalando Strigois ilegalmente por aí. – ele falou de maneira calma, mas senti uma leve pontada de desaprovação vinda dele.

-Dimitri, eu sou uma guardiã agora. – Toquei instintivamente minha marca da promessa que ainda estava coberta com o curativo.

-Mas eu pensei que seu pai nunca iria permitir isso, quer dizer, você é especial e... – Eu o interrompi. Ele realmente não sabia nada do que havia acontecido.

-Acho que meu pai não se importa muito com o que eu decido fazer agora. – disse amargurada.

-Por quê? Vocês brigaram? Não vejo como se guardiã contra a vontade do Lorde Zeklos vai ajudar em alguma coisa. – Dimitri soou duro e reprovador e, Deus, até disso eu sentia falta dele.

-Dima, meus pais morreram há quase um ano e meio. – Sorri tristemente. Ele pareceu mais chocado do que qualquer outra coisa, demorou quase um minuto para recuperar a voz.

-Sasha, como aconteceu?

- Quebraram as wards enquanto jantávamos. Dois dos nossos guardiões entraram correndo e assumiram posição de defesa. No segundo seguinte, havia cinco Strigois na sala. Foi um caos. O primeiro caiu incapacitado. O segundo teve o pescoço quebrado depois de matar um deles. Então éramos eu, minha mãe e meu pai contra os quatro. – Estremeci com a memória. – Eu e minha mãe conseguimos lidar com três deles. O mais velho e mais forte conseguiu fugir.

-Mas se vocês conseguiram matar quatro deles, por que seus pais morreram? – ele perguntou cuidadoso.

-Depois que eu minha mãe matamos os três, - Continuei. - lutamos com o último. Ele já havia matado meu pai quando nos concentramos nele. Ele não hesitou em atacar minha mãe, ela era evidentemente a mais forte entre nós. Ela lutou bravamente e conseguiu o deter por algum tempo, mas ele era muito mais forte do que qualquer Strigoi que já vi... – A tristeza me invadiu, como sempre acontece quando relembro o ataque.

-E como você sobreviveu? – Dimitri perguntou num tom estranho, um pouco acusador, mas não era desprovido de simpatia.

-Minha mãe me mandou fugir e me esconder até o amanhecer.  – Ele me encarou, e eu sabia o que ele estava pensando. Eu não deveria ter fugido, fui fraca, e agora ele esperava por uma razão. Explicação que eu não tinha, pelo menos não alguma que ele aceitaria. Seus olhos me desafiavam, e eu respondi com um olhar duro.  – Eu estava machucada, cansada e assustada, mesmo que eu quisesse ficar e lutar, eu seria morta assim como minha mãe. Eu não tinha escolha... E pare de me olhar assim, como se eu tivesse desertado. – Eu olhei para baixo, revivendo toda a tristeza e o desespero daqueles dias e disse baixinho – Você não estava lá.

Senti culpa vindo dele. Culpa e raiva, e estava se tornando algo grande. Levantei os olhos e fitei seu rosto, que estava tão contraído e tenso que senti meu coração se apertar novamente.

-Dima, está tudo bem, já passou, não há nada que possamos fazer agora para mudar o passado. – Ele segurou minha mão e viu uma grande cicatriz de batalha nela. Ele percorreu com os dedos a marca e deu um leve beijo.

-Me desculpe.

-Está tudo bem. – dei um meio sorriso.

Conversamos até o anoitecer, quando a cafeteria começou a receber mais gente para o café da manhã. Estava distraída, falando sobre os lugares que viajei até que percebi que os sentimentos de Dimitri mudaram: uma mistura de felicidade e tensão.

Seu rosto parecia com o de uma criança que foi pega pelos pais fazendo algo muito errado. Já ia perguntar o que havia de errado quando ouvi uma voz feminina cortar o ambiente, até então calmo e silencioso da cafeteria, em uma sonora ameaça.

            -Eu estou avisando Shane Rayes! Se você tocar em qualquer um desses donuts de chocolate, eu vou costurar a sua boca e colar seus dedos juntos para você aprender a nunca mais tocar no que é meu.

Levantei os olhos para a cena que se desenvolvia no outro extremo da cafeteria. Uma garota estava em uma meia posição de ataque se aproximando lentamente de um guardião que estava em uma posição mais relaxada a olhando com desdém, e segurando uma bandeja com – o que eu supunha ser – os três últimos donuts de chocolate da cafeteria.

-Ah Hathaway... Como é bom ouvir sua voz e ver seu lindo rosto logo pela manhã. Mas eu tenho uma má notícia para você: eu cheguei primeiro. Isso quer dizer que, essas belezinhas – ele pegou um dos donuts – são minhas agora. – E mordeu para finalizar seu argumento.

            -Eu te avisei Rayes, depois não venha chorar. – Ela se preparou para o ataque em uma posição mais ofensiva. Sério? Eles realmente vão lutar aqui dentro? O outro guardião logo se livrou da bandeja para ter as mãos livres. Parecia que toda a cafeteria prendeu a respiração e quando ela partiu para cima dele. Dimitri se levantou de repente e a morena parou no meio do movimento para olhar.

            -Rose. Não acho que começar uma briga na cafeteria seja uma boa forma de iniciar a semana. – O rosto da garota se iluminou em um sorriso e, deixando o guardião e os donuts de lado, se aproximou de Dima. A cafeteria inteira suspirou de alívio pela briga já esquecida.

-Onde você esteve? Não te vi durante toda a noite... – Seu rosto não era acusador, mas intrigado.

-Desculpe, tive alguns assuntos a tratar. – O rosto de Dimitri, antes contraído, agora estava apenas gentil. – E eu quero te apresentar alguém. –Seguindo a deixa, eu me levantei e contornei a mesa, ele a aproximou e continuou. – Rose, está aqui é Alexandra Zaramivir – ele se virou para mim – Sasha, essa é Rose Hathaway.

Eu olhei intrigada para a morena jovem, exótica e realmente, realmente baixa, principalmente quando estava tão perto assim de Dimitri.

            -Rose Hathaway? – a olhei com humor – Então você é a famosa regicida? Você não parece perigosa... – seu rosto antes curioso, escureceu e, meu Deus, se um olhar matasse, eu já estaria bem longe daqui. Ela o intensificou, e cada vez mais parecia com o olhar que Dima lançava para seus inimigos. Certo, ela parecia perigosa agora. Rose me lançou um ultimo olhar altivo e explodiu para fora da cafeteria, por onde havia entrado tão graciosamente antes.

Dimitri me lançou um olhar apologético e apenas levemente acusador e suspirou profundamente passando a mão nos cabelos. Ouvimos alguns gritos lá fora misturados com a voz de Rose. Ele murmurou algumas desculpas e saiu rapidamente atrás da morena.

Fiquei alguns momentos os observando através da enorme janela da cafeteria, ele se esforçava em separar a garota de um infeliz guardião que cruzou seu caminho. Quando Dima conseguiu e o guardião afastou-se, era contra o próprio Dimitri que ela estava brigando. Ouvi uma risada cheia de humor atrás de mim, e enquanto os dois se afastavam do estabelecimento, o rosto de Tommen surgiu no meu campo de visão.

-Ora, ora... Parece que Belikov terá uma tarefa disciplinar pelo resto do dia. – Soaram alguns risos dos guardiões a nossa volta que ouviram o comentário.

-O que? Ela é aluna de Belikov? – perguntei surpresa, quer dizer, essa era a única explicação que eu poderia imaginar para Dimitri estar tão próximo de alguém como ela, que certamente parece indisciplinada. Dima seria a escolha ideal para mentor, e ela definitivamente aparenta idade para ser sua aluna...

-Hunm, certamente isso um dia aconteceu. – Tommen cortou meus devaneios. - Quando ela e a menina Dragomir foram capturadas por ele depois de uma fuga de quase dois anos, e pelo que sei, Belikov foi designado como seu mentor, mas ela se formou no ultimo verão. Estreitei os olhos para ele.

– Eu não entendo, você não tinha dito que... – ele me cortou novamente.

-Sim, ela se formou, mas ele continua tentando lhe ensinar alguma disciplina, mas não como seu mentor... - Ele insinuou, mas apenas o olhei com o rosto em branco, não fazia ideia do que ele estava querendo dizer, e certamente, não estava preparada para suas próximas palavras - ...como seu amante.

- Uau, isso é... Inesperado. - Precisei de cada grama do meu autocontrole para manter a expressão em branco. Eu estava mais surpresa e chocada do que com raiva, embora houvesse um pouco disso também. Particularmente direcionada para um certo russo. Um russo bem alto.  A risada leve de Tommen me trouxe de volta.

 – Deus, você viveu debaixo de uma rocha no último ano? Hathaway foi, e ainda é, o assunto mais quente no mundo Moroi. Até seu relacionamento com Belikov obteve um destaque especial.

-É, me parece que sim. Olha, eu preciso ir, agora tenho que fazer algumas tarefas que Hans me designou.

-Tudo bem – ele sorriu sinceramente – até mais.

-Até – murmurei.

Estava cruzando a porta da cafeteria quando o vi pela primeira vez. Ele estava sentado em um banco por perto e encarando ferozmente a direção que Rose e Dimitri tinham tomado. Curiosa, abri meus sentidos para suas emoções.

 Era uma confusão de sentimentos raivosos e sombrios, mas havia ali uma energia bastante incomum. Algo “luminoso” que dominava todos os sentimentos ruins. Um usuário do espírito. Encobri rapidamente minha aura e me apressei em sair dali. Deus... Se ele não estivesse tão absorto em seus próprios sentimentos sombrios, eu poderia estar perdida. Tenho que tomar mais cuidado, a corte parece se mais perigoso do que Abe me avisou.


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Notas finais do capítulo

Não nos odeiem, muito. E nos deixem saber o que acharam!
See ya~



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