Assim que a reunião terminou todos nos olharam com cara de enterro. Fiz o possível, para não demonstrar medo, mas eu estava muita assustada. Eu também estava morrendo de curiosidade para começar a ler o livro. Comecei a folhear, enquanto eles me observavam atentamente. Eu também queria ver se havia alguma profecia que se referia a minha nova missão.

Dei o livro para Quiron.

–Olha só, têm anotações em Latim e Grego, cara isso é demais- digo apontando para uma folha aleatória.

– Hum, Penny, eu não estou vendo nada.

Olhei para ele intrigada.

–Como assim, não está vendo nada?

Quiron passou para minha mãe.

–Eu também não.

–Sério?- Perguntei começando a ficar assustada.

O Livro foi de mãos em mãos, mas nenhum deles conseguiu ler.

– Ah droga. Acho que estou ficando louca.

–Não está, geralmente quando um meio-sangue consegue ver algo que os outros não veem isso pode significar problemas- diz Quiron, tentando mais uma vez ler o livro.

–Ótimo. O que não significa problemas no mundo meio-sangue?

–Boa pergunta. Uma festa talvez seja seguro. Vamos pessoal, temos que celebrar. Penny vai ter bastante tempo para descobrir o que fazer com o livro sibilino- diz Reyna puxando Leo para festa.

-Você realmente está dizendo para bancarmos os festeiros Reyna- pergunta Leo  espantado- Não está com febre?

-Deixa de ser chato Leo. Eu sou bem divertida ás vezes se você quer saber-  diz ela empurrando o filho de Hefesto para fora da casa  grande.

Nós a seguimos. A festa parecia mais animada. Agora estava tocando “Firework” da Katy Perry. Eu deveria ter uma conversinha séria com o senhor D em relação a músicas. Vários casais estavam se divertindo enquanto um bode, que parecia ser bem velho, andava entre eles batendo com um bastão de beisebol nos que estavam se beijando.

–Nada de se divertir muito McMiram. E Killan, eu já disse para deixar essa saia um pouco acima do joelho.

–Treinador Hedge!!!- Disseram os adultos.

–Olá Cupcackes!! –Diz ele abraçando a todos.

–Treinador deixe os meninos namorarem em paz. Vá ver se não precisam do senhor na Arena- Diz Frank visivelmente tentando não rir.

–Matar coisas seria legal, mas agora preciso supervisionar meus novos cupcakes.

O treinador então olhou para Alex, Tales e eu.

–Percy e Annabeth, eu não disse para vocês se comportarem? Vejo que Jason e Piper também não se comportaram muito. O céus, Hazel até você?

–Treinador!! – Disseram os adultos exasperados.

–Hum e quanto a vocês duas? – Diz ele olhando para Mirna e Lara- Devo matá-las?

–Não treinador. Elas são amigas- diz Piper prontamente.

O bode parecia decepcionado.

–Treinador, acho que está passando seu filme favorito do Bruce Lee na televisão. Por que você não vai ver?- sugeriu Hazel, tentando segurar uma risada.

–Ótimo. Mas tomem conta desses cupcakes, não queremos mais surpresinhas.

Assim que ele saiu, nós começamos a rir da cara dos adultos.

–Ele é sempre assim? –Perguntou Alex rindo- Eu fui com a cara desse sátiro.

–Eu também. Tem garra esse ai- Falo.

–Ah nem queiram saber. Ele pode ser bem temperamental. Mas eu sempre adoro o jeito que ele chega gritando “morra” para os monstros- Diz meu pai com expressão sonhadora.

–Ah é verdade. Leo, lembra o jeito que ele nos salvou daqueles ventis no Gran Canyon? –Diz Jason sorrindo.

–Ah cara, aquilo foi o máximo. Depois de você ficar todo desesperado “minha memória, onde está minha memória”

–Não tem graça Leo- diz Jason.

Todo mundo parecia estar mais relaxado, mais tranquilo. Acho que era porque pela primeira vez estávamos todos juntos. Uma garota loira, alta aparece do nada. Ela está vestindo uma túnica no estilo romano. Seus cabelos estão trançados e ela deixou algumas flores caírem pela trança. Ela parecia aquelas pinturas de mulheres romanas.

–Alex!! Nossa que bom te encontrar. Soube que você estava Aqui, não acreditei é claro. Mas ai me disseram que você estava em uma missão. Pelos deuses Alex, você tem que me contar tudo.

– Oi Petúnia, que bom ver você também. Como andam as coisas no acampamento?

– Ah estão bem. Mas sinto sua falta, você sabe.

Não sei por que, mas assim vi que vi aquela garota, loira, confiante, super cheia de si, um alarme soou dentro da minha cabeça: “Não gosto de você, não gosto de você”

–Então, Alex não vai apresentar sua amiguinha? –Perguntei no tom mais simpático que consegui, o que não foi muita coisa.

Annabeth, Piper, Hazel e Reyna nos olhavam atentas. Parecia que elas estavam se divertindo muito. Já minhas amigas me olhavam preocupadas, o restante dos adultos parecia alheio a nossa conversa.

–Esta é Petúnia filha de Mercúrio. Uma amiga do outro acampamento.

–Ah não seja modesto Alex. Eu e ele nos conhecemos desde crianças sabe. Eu era uma das poucas amigas dele no acampamento Júpiter. É claro que eu não podia deixar esse gatinho escapar não é?

Alex sorriu com gosto para ela. Senti meu pulso ferver.

– Nossa Alex, como você não me falou dela? Ela é tão adorável- Disse no tom mais sarcástico que consegui.

Ouvi Hazel murmurar:

–Annabeth, Piper, a Penny consegue ser pior que vocês!

–Ah- disse Alex desconcertado- Estávamos ocupados e...

–Ah Alex querido, não se preocupe. Eu entendo. Você é um verdadeiro soldado romano. Venha vamos comer. Você precisa descansar.

–Ah é verdade. Penny tem razão você é adorável- diz Alex sorrindo bobo para a garota.

–É Alex. Vá descansar- digo dando um olhar mortal para a versão piriguete da Xena na minha frente.

–Viu? Até a Penny entende. Vamos- diz a garota puxando Alex que parecia muito feliz- Ah Penny querida, um dia podemos sair nós duas. Eu acho que posso te ajudar a mudar seu estilo. Gostei de você.

Assim que ela sai tenho vontade de gritar e pular no pescoço dos dois. Mas me controlo, afinal eu ainda tenho minha dignidade.

–Essa garota é irritante- diz Piper.

–Concordo em gênero, número e grau- digo enfurecida.

Todo mundo me olha confuso.

–Que tal a gente ir comer também? Eu estou morrendo de fome- diz Lara me puxando.

–Eu também – diz Mirna nos seguindo.

Assim que estamos longe de todos, elas me olham com curiosidade.

– Penny o que foi aquilo?- pergunta Mirna

–É, cara, você parecia que ia arrancar os órgãos da menina fora só de olhar- diz Lara.

–O que? Não! Ok ela é uma vadia irritante, uma daquelas garotinhas populares que eu odeio, só isso.

–Ah sei. Não tem nada haver com o fato de ela ser a quase ex-namorada super gostosa do Alex não é?

–ELA É O QUE?

–Ah eu sabia! – Diz Lara.

– Meus deuses Penny, o que aconteceu quando vocês ficaram sozinhos com Sócrates?

–Ei, espera ai, essa é uma daquelas conversas de garotas que eu nunca tive porque nunca tive amigas antes?

–Exato!- Dizem as duas.

–Ah, dá para entender porque eu não tinha amigas meninas antes.

–Não fuja do assunto Penny- Diz Lara perspicaz.

–Não aconteceu nada demais.

–Tem certeza? Porque vocês costumavam tentar se matar, depois faziam as pazes e não se desgrudavam e assim sucessivamente. Agora vocês fazem isso só que com uma intensidade muito maior.

Eu olho as duas. Nesse momento percebo que amigas às vezes podem ser muito irritantes. Mas é tão bom telas por perto.

–Ok, apenas nos beijamos.

As duas dão gritinhos.

–Querem parar. Lara eu sei que você é uma filha de Afrodite, mas isso já é demais.

–Desculpe- dizem as duas. E nós começamos a rir. Até que olho para a frente.

–Mas isso não importa mais- digo fazendo um esforço enorme para conseguir falar, sentindo que meu sangue não estava chegando corretamente no coração.

–Ué, por quê?

–Porque- digo tentando me controlar- Ele está beijando a amiga romana dele bem agora.

As duas olham para onde eu aponto. E depois me olham tentando decifrar meus pensamentos.

–Penny... -começa Mirna

–Não importa. Eu não gosto dele- digo sorrindo.

Elas me olham desconfiadas. Nem tenho tempo de falar mais nada por que uma voz que eu não ouvia há muito tempo vem até onde nós estamos.

–Então Penélope, você é uma das gregas, filha de Percy Jackson ainda por cima.

Eu viro para trás. Não consigo acreditar nisso.

–Oh deuses você não! Minha vida já não é complicada o suficiente?

Damian está me olhando com aqueles estranhos olhos dourados que um dia eu gostei tanto e que costumavam ficar escondidos por uns óculos. Ele está bem diferente do garotinho que eu costumava defender e que traiu minha amizade. Ele dá uma risadinha.

– Ah quanto tempo em? Essas são suas amigas? Sempre se aliando com o lado mais fraco não é Penny? Olá meninas. Damian, filho de Ceres, ao seu dispor.

Ele observa atentamente as garotas. Seu olhar para em Mirna por um momento que cora. Bom tenho que ir indo.

E ele sai, assim, de repente.

–Nossa, quem é esse cara?- Pergunta Lara olhando atentamente para as costas de Damian.

–Um conhecido. Éramos amigos, mas ai ele meio que passou para o lado negro da força- falo, fazendo força para não lembrar do meu antigo amigo.

–Meio que? Ele é o próprio Darth Vader – diz Mirna ainda encarando o filho de Ceres.

Eu olho para onde Alex e Petúnia estão se beijando.

–Meninas, acho que vou para o Chalé descansar. Vou estudar o livro. Ainda tenho muito trabalho.

–Não quer que fiquemos com você? Sabe como é ver o namorado se agarrando com outra...

–Alex não é meu namorado e eu não dou à mínima- digo com uma ênfase maior do que eu pretendia.

Elas me olham com pena e saio sem me importar. Como sempre, mudo de ideia e resolvo dar uma passada na praia. O dia estava lindo e a praia estava vazia. Era o lugar perfeito. Nem parecia que fazia apenas algumas horas que tínhamos chego ao Olimpo. E ali, olhando as ondas, era quase impossível de acreditar que eu iria para o mundo inferior daqui a dois dias. De repente fiquei com medo de nunca mais ver o mar.

Acho que eu já estava a mais ou menos uma meia hora ali, quase dormindo quando algo realmente estranho aconteceu. Eu olhei para o lado e percebi que tinha companhia. Uma mulher que tinha longos cabelos negros e os olhos cor de violeta estava me analisando. Ela estava vestida como uma adolescente, com uma calça jeans e uma camisa com uma estampa de Eros atirando uma de suas flechas.

–Devo supor que você é Psique?

–Sou sim. Esta vista é bonita não?- diz ela sem prestar muita atenção em mim.

–Verdade Long Island é linda. Mas ah... Lady Psique, achei que nós é que teríamos que ir atrás de você

–Ah que nada. Isso é com os deuses, eles adoram isso. Acho que eles querem se sentir importantes.

Sorrio para ela. Psique parece uma pessoa legal.

– Penny não vou dizer que você está correndo um grande risco por que isso você já sabe não é? Mas já que precisa fazer essa jornada, vou lhe dar um conselho. Você provavelmente já ouviu falar no Rio Estige.

– Um dos rios sagrados que fica no Hades?

–Exato. Você terá que pegar um pouco daquela água e entregar a Perséfone.

–Por quê? Ela não consegue pegar sozinha?- Era uma pergunta idiota eu sei, mas era válida.

–Perséfone não está autorizada. Mas quer muito essa água.

–Mas o que ela pretende com a água?

– Você faz muitas perguntas Penélope. Mas vou lhe dizer, eu mesma já pequei por curiosidade. Ela quer deixar as defesas do Hades mais fortes. Não seria nada bom se os mortos saíssem por ai não é?

–Não, não seria.

–Ela tem sentido certas deficiências e prefere acabar com elas. Acredito que vocês possam ajudá-la.

–Bom, iremos fazer isso. Se ela nos ajudar na nossa missão.

–Ah ela vai, fique tranquila.

– Eu só tenho uma pergunta Psique. Como faço para chegar no Hades?

–Ah é, você é novata. Bem o mundo inferior fica em Los Angeles.

–Los Angeles, sério?

– Sim- disse Psique calmamente

–Ok, isso explica muitas coisas.

– Mas não se preocupe, assim que chegar em Los Angeles vocês encontraram a entrada.

–Assim espero.

– Toma- diz Psique colocando um colar em volta do meu pescoço- Esse é o colar de um flautista. Representa Orfeu. Ele vai guiá-los no mundo inferior. E também vai te guiar para aquilo que mais ama Penny.

–Ah muito obrigada Lady Psique.

Pego o pingente para observar melhor. É um pequeno círculo dourado com a silueta de um homem tocando flauta.

– Penny você conhece a minha história não?

–Conheço. Afrodite se zangou porque todos estavam dizendo que você era mais bonita que ela. Então mandou Eros te punir, fazendo com que você se apaixonasse por um homem horrendo. Mas ele não conseguiu, por que se apaixonou por você. Então seu pai, que estava intrigado porque você não estava casada foi a um oráculo, que previu que você casaria com um monstro.

–Sim, minha família me deixou no penhasco e Zéfiro me levou em segurança até a Eros. Mas eu não podia vê-lo. Eu tinha tudo, essa era sua única condição. Mas, influenciada por minhas irmãs, eu comecei a duvidar do meu amor. E um dia armei para ver seu rosto. Eros ficou irado e me levou de volta para minha casa. Desesperada cumpri quatro tarefas para conseguir de volta o perdão de Eros. Eu fui parar no mundo inferior. Só não morri por causa dele.

–É eu sei. Ele te ajudou a sair de lá e obrigou Zeus a te tornar imortal.

– Sim, e você Penny, também deve confiar na sua família, nunca se esqueça disso. Um dia vou ter que cobrar esses favores. Infelizmente heroína, não sei se esse dia vai chegar.

– O que? Espera, o que você está querendo dizer com isso?

–Estou querendo dizer que espero que você sobreviva.

E assim Psique me deixa sozinha na praia. Mas eu não estava mais sozinha. Formigas gigantes, pelo menos umas oito delas, estavam vindo em minha direção.

–Myrmecos- minha voz falhou um pouco quando disse o nome das criaturas.

Eu segurei contracorrente e dei um golpe forte. As duas primeiras da fila se contorceram e desapareceram em uma nuvem de poeira. Abati mais duas, mas ainda estava difícil de abater todas. Em Pânico, percebi que elas estavam me encurralando perto da toca.

Sem saber o que fazer começo a brandir contracorrente para tudo que é lado. Também me concentro em atingir as formigas com grandes jatos de água. Eu consegui matar várias, mas parecia que quanto mais monstros eu matava mais apareciam.

Eu comecei a gritar em desespero, mas eu sabia que era inútil. Ninguém iria me ouvir com o barulho da festa. Então usei toda a minha concentração e ordenei que a água inundasse a toca dos Myrmecos.

Funcionou. Mas isso também consumiu toda a minha energia. E a última coisa que eu vi antes de desmaiar na praia foram os monstros lutando contra a água e desaparecendo, enquanto eu caia em um sono profundo.