O que posso dizer sobre Quebec? Ela era linda. Uma cidade simplesmente romântica. Parecia que a presença de Afrodite estava em todos os lugares por ali.

–Nossa, parece que minha avó andou um bocado por aqui- diz Alex lendo os meus pensamentos.

–É – Diz Lara- com certeza Afrodite ama esse lugar.

–Então que bom que não temos que seguir o rastro dela não é- falo observando cuidadosamente a cidade.

Meus amigos concordam freneticamente com a cabeça. Passamos uma boa meia hora andando pela cidade, procurando algum sinal de Atena. Eu achei melhor começarmos pelo centro.

–Outro Deus que está muito presente aqui é Ares, vocês percebem? – pergunto. – Quero dizer aqui foi um dos palcos principais da Guerra de Independência do Canadá, em 1812. É claro que os deuses não ficaram muito felizes com isso, sabe. O que acho interessante nessa guerra é que diferente das outras, ela teve três grandes personagens, entre eles uma mulher e um índio. O que é realmente legal se você pensar na época. E as armas... Ei Tales seu pai é Canadense não é? Aposto que ele sabe tudo sobre essa guerra.

– Hum Penny, eu realmente adoro esse seu lado Atena, mas eu acho que seria mais útil se você nos desse alguma pista do que estamos procurando sabe, corujas voando, sinais desse tipo- Tales fala enquanto olha atentamente para os lados.

Eu rolo os olhos. Será que eles não entendem que estamos em um lugar onde a história aconteceu? Como eles podem simplesmente não ligar para isso? Limito-me a continuar procurando. De repente Lara toca meu braço

–Ei Penny, aquele forte ali, tem uma coruja como símbolo.

Eu olho para onde ela está apontando e vejo uma construção de pedra clara, uma coruja está em cima de um letreiro que diz “Homer Sebo e Livraria”

– Uma livraria chamada Homer? – Pergunta Alex?

–É, será que lá tem cerveja Duff e rosquinhas? –Pergunta Tales observando atentamente a livraria.

Eu olho para Tales, um sorriso involuntário se forma.

–Você também gosta dos Simpsons?

Ele me olha como se eu fosse de outro planeta.

–Quem não gosta dos Simpsons?

Nós dois começamos a rir e nos dirigimos para a biblioteca. Enquanto vamos andando nós dois começamos a falar sobre o desenho. Descubro que o personagem preferido dele é o Nelson. O meu é a Lisa.

– Por que você gosta dele? Quer dizer eu gosto dele também, mas geralmente não é o primeiro personagem que vem a cabeça das pessoas.

–Bom, por que ele está sempre solitário sabe. Não sei, ele não é mal. Acho que ele parece um meio-sangue na verdade.

Eu entendo o que ele quer dizer. Se há alguém que entende de solidão sou eu. Percebo que Tales também, então apenas sorrio de volta. Ele pega minha mão para avançarmos mais rápido. Quando olho em volta vejo que já estamos na frente da livraria. O restante do grupo está bem atrás. As garotas estão conversando, ainda meio cautelosas de se aproximarem, Alex está com uma cara que deixa claro que não está de bom humor.

–O que foi? Você acha que não devemos entrar na livraria?- Pergunto preocupada.

Lara me lança um olhar que não consigo compreender. Algo como “Não é obvio o que ele tem?”. Ergo as sobrancelhas para ela.

–Nada- diz Alex- Se Atena falou que aqui teríamos abrigo, acho melhor entrarmos. E eu não estou vendo nenhuma coruja em outro lugar.

Lhe dou mais um olhar antes de apertar a campanhinha da pequena livraria. Depois de uma eternidade um senhor cego e com o cabelo meio sujo atende a porta. Suas roupas também estão meio gastas.

– Olá garotos como posso ajudá-los?

Como ele sabia que éramos adolescentes? Que éramos mais de um? Quer dizer ele é cego. Uma coisa que eu aprendi por conta própria é que, quando alguém sabe mais sobre quem você é do que você sabe sobre esse alguém, só pode significar uma coisa: Encrenca.

– Hum- digo meio desconfortável-Eu sou Penny e esses são Alex, Tales, Mirna e Lara, meus amigos. Nós só estamos dando uma passada.

–Ah sim. Ela me falou de vocês. Entrem por favor.

Se eu estava me sentindo desconfortável, o senhor só piorou a situação demonstrando que sabia porquê estávamos aqui. Olhei para Alex, ele parecia estar tendo os mesmos pensamentos que eu.

–Obrigado senhor...

–Homer, por favor.

–Nossa, o senhor tem uma linda coleção de livros aqui. Puxa cada um mais interessante que o outro.

Foi só entrar na pequena livraria para que eu me perdesse, todas as preocupações que eu tinha se foram. Meus olhos passaram pelos livros. São todos magníficos. “A Arte da Guerra”, “Tática e estratégia militares”, “Pensamento grego e sua atualidade na filosofia contemporânea” e então eu pego dois livros que praticamente sei de cor. “A odisseia” e “Troia”

–Nossa, esses são os meus favoritos. Cara eu poderia ficar aqui minha vida inteira.

–Eu sei não é? Para descendentes de Atena como você e eu isso aqui pode ser uma perdição. Aliás, obrigada por admirar meu trabalho. Eles sempre dizem “Homero você deveria ter colocado mais fatos históricos, a personagem principal deveria ser Helena e Blá Blá blá´....

Meu coração dá uma batida descompassada. Me seguro em uma das estantes para não cair. Meu amigos estão do meu lado de olhos arregalados.

–Seu, er, seu trabalho? O senhor é Homero? O Homero?

–Claro pequena heroína. E esse é meu pequeno tesouro a maioria dos livros que temos aqui são clássicos. Podem dar uma olhada.

-Santa Atena!-exclamo feliz.

Eu rapidamente comecei a vasculhar as estantes. Impressionantemente meus amigos não estavam nem ai para os livros. Eles estavam me olhando como se eu tivesse enlouquecido.

–Er seu Homero, preferíamos sei lá, comer algo antes sabe, dar uma boa descansada. A viagem não foi fácil. –Diz Alex olhando diretamente para o homem e me puxando de volta para o lado dele.

Eu lhe dou meu pior olhar assassino. Como ele pode recusar uma oferta de Homero tão generosa assim?

– Descansar? Bah. Não há melhor descanso do que ficar perto de livros e da sabedoria filho.

Eu concordo com um balanço frenético de cabeça.

–Viu? A neta de Atena sabe.

Eu sorrio feliz por Homero estar me elogiando. Ele é simplesmente meu herói.

– Huum se não se importar Penny, gostaria de conversar com você. A sós – diz ele.

– Claro- Falo sem pensar. Quem não gostaria de conversar sozinha com o próprio Homero.

–Nem pensar. Se quiser falar com ela, vai ter que falar comigo também. Ela não vai ficar sozinha com o senhor.

–Alex não seja grosseiro com Homero.

–É Alex, não seja grosseiro comigo.

–Não estou sendo grosseiro com você. Só estou dizendo que não vou deixar vocês sozinhos.

–Huum senhor Homero, Não se preocupe. Somos todos amigos aqui. Acho que não terá problema nenhum de Alex ir com o senhor - Lara intervém. Ela não para de lançar olhares preocupados para os outros dois.

– Está bem. Tudo bem. Venha Penny, temos muito o que conversar. Acredito que possa ser muito útil nessa sua missão.

–É claro senhor, o senhor é sempre útil- digo o seguindo para os fundos da loja e ignorando completamente Alex do meu lado. Ele bufa a cada comentário meu. Caramba, como esse garoto é inconveniente.

A sala dele é simplesmente maravilhosa. Há uma mesinha de centro, rodeada de puffs coloridos. Eles eram muito confortáveis. Na mesinha estavam espalhados livros de todos os tipos. E a decoração da sala não poderia ser melhor. Estantes cheias de livros. Também percebi que Homero tinha muita tecnologia. Na mesinha, além dos livros, havia dois notebooks, além de outros computadores pequenos.

– Senhor Homero- diz Alex, num tom que deixar claro que ele está tentando ser gentil- Não quero ofender nem nada mas, como um homem cego como o senhor consegue ler todos esses livros? Eles estão em Braile também?

–Alex- digo chocada.

Ele não dá bola para minha reação. Nem Homero que ri com vontade. O som da risada dele me deixou um pouco....desconfortável.

– Uma benção de Atena.

–Ah- diz Alex simplesmente.

–Então senhor Homero digo me sentando na sua frente completamente fascinada- O que o senhor queria falar comigo?

–Ah sim pequena heroína. Eu sei o que você procura. O vaso mítico de pandora. Pois bem. Como você já deve saber ele está aqui em Quebec. Há uma meio sangue guardando o vaso. Mas temo que ela, assim como sua antecessora, caia na tentação e o abra deixando que terríveis males acometam nossa civilização.

Agora eu e Alex estamos ouvindo atentamente.

– Onde eu posso encontrá-la?

– No porto da cidade. É lá que ela mora. Em um canto afastado. Numa cabana de madeira.

Uma cabana de madeira. Droga. Eu acho que já a vi nos meus sonhos.

–O que temos que fazer para recuperar o vaso?

–Como você deve imaginar não vai ser fácil. Mas eu não sei que tipo de coisas ou magia estão guardando o artefato.

–Ah -sinto o desanimo tomar conta de mim. Pelo menos já sabemos onde começar.  Então me lembro de outro assunto igualmente importante- Mas e os Menelaus? Eles têm alguma coisa haver com esse vaso?

–Ah eles também o querem. Sabe como é, para espalhar o mal. Vai ajudá-los na missão de subjulgar e separar os acampamentos. Quem sabe até iniciar uma nova guerra civil.

Ele parecia quase ... esperançoso? Mas antes que eu possa pensar sobre isso ele resolve me dar outro aviso.

–Ah Penny, e eu sei o que você procura além do vaso. Mas eu tenho que avisá-la. Resgatar Thalia Grace e Nico D’Angelo está além das suas possibilidades.

Quase escorrego do puff, com o meu estomago embrulhando.

–Como você sabe quer quero resgatá-los? Onde eles estão? Por que você acha isso?

–Bom, muito bom. Você é uma verdadeira descendente de Atena, faz as perguntas certas. Embora deva acrescentar, você tem um pouco mais da impulsividade de Poseidon do que deveria. Eles estão no Tártaro, tendo suas almas constantemente torturadas. Algo entre a vida e a morte. E você, infelizmente, é parecida demais com seus pais para deixar seus amigos para trás. E garanto minha pequena, isto está além das suas possibilidades.

Com esse pensamento agradável ele se levanta.

–Ok garotos. Hora do Chá.