POV: Zayn

                Enfim as aulas tinham começado a ter seu ritmo acelerado. Já estávamos no início do mês de novembro e as provas já estavam prestes a começar. Não era mais tão raro ver a biblioteca cheia e os campos esportivos vazios. Estávamos no nosso último ano e isso parecia ter uma importância que até então eu não tinha percebido.

                As coisas no nosso dormitório estavam mais normais que o normal. Harry estava pelado na cama de baixo, coberto por um lençol que provavelmente era de Liam, e olhava para o teto com o livro aberto ao seu lado. Ainda não tinham avisado a ele que o assunto não entrava na sua cabeça sem que ele lesse os livros. Louis estava concentrado na televisão, tinha conseguido uns dvds de aulas onde os professores faziam vários experimentos e ensinavam músicas que ajudavam a decorar o conteúdo.

                Provas, um raro momento que separasse Louis e Harry.

                - Tomlinson, abaixa o volume dessa porcaria – Niall reclamava na parte superior do dormitório. Ele pulava, andava, plantava bananeira e girava. Aquele garoto decididamente não conseguia ficar parado.

                Minha relação com Niall ainda estava bem estanha depois dos acontecimentos do mês passado. Ele ficava anormalmente quieto ao ficar ao meu lado e normalmente saía de perto sempre que tinha uma oportunidade. Os poucos momentos em que conversávamos eram os que eu estava com Liam.

                Liam tinha se tornado muito próximo a mim nesse último mês. Era algo inesperado, mas positivo. Aquele garoto que eu achava um pé no saco e que eu preferia morrer a ser visto do seu lado tinha se provado um grande amigo.

                Mesmo que o assunto do nosso beijo ainda incomodasse um pouco meus pensamentos, consegui me aproximar de Liam e ver que ele não era tão bundão quanto eu pensava. Na verdade, ele era um cara simples e prático, além de ter um estilo fraterno muito forte e um bom caráter.

                - Alguém aí quer revisar matemática? – Falando em Liam, ele vinha descabelado de uma das mesas de estudo.

                Harry deu um salto e começou a gritar “eu, eu, eu” enquanto Louis recusava por estar muito concentrado na aula de francês que passava na TV. Niall não gostava muito de estudar com outras pessoas que não fosse Liam, então, ao ver que Harry, pelado, estava agarrado com Liam e implorando por ajuda, ele franziu a testa e voltou a prestar atenção no que estava estudando.

                - Zayn? – Liam me perguntava sorrindo enquanto tentava se livrar de um Harry pelado que estava se esfregando no seu braço.

                - Acho que aceito, mas não agora. – eu estava cansado demais de estudar. Eu precisava relaxar de uma forma que eu não relaxava com frequência desde que entrei nessa escola.  – vejo vocês depois.

                Saí do quarto, assegurando-me que estava levando a carteira de cigarros contrabandeada no bolso. Era meu pior vício e eu queria me livrar disso, mas não era algo que eu conseguisse ficar tanto tempo sem. Desde que entrei nessa maldita escola, que meus pais me enviaram ao descobrir que eu estava fumando e que não era mais virgem, eu tinha que me esconder até mesmo dos outros garotos. Babaquice.

                O solário do dormitório D era perfeito.

                A visão de toda a escola era extasiante. Era um terreno enorme localizado no interior de Londres e rodeado por grandes árvores cujas folhas estavam começando a cair graças ao outono.  Era a paisagem perfeita. Acendi o primeiro cigarro e fechei os olhos.

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POV: Liam

                Zayn já devia estar no quinto cigarro consecutivo, mas eu não tinha reunido coragem suficiente para atrapalha-lo ainda. Tudo bem que esse tinha sido meu objetivo ao vir até aqui, mas mesmo assim, ele parecia intocável.

                Desde que eu descobrira que eu era gay, nunca tinha realmente me apaixonado por um homem que eu conhecia pessoalmente. Sempre tive quedas por artistas famosos e me sentia excitado ao assistir filmes para adultos, mas nunca tinha imaginado sequer beijar um amigo.

                Foi aí que Zayn mudou tudo.

                Ele era um homem de verdade. Ele não tinha nenhuma qualidade que me atraísse, mas mesmo assim eu me sentia completamente hipnotizado ao olhar para ele. Era uma figura imponente, quem sabe até mesmo celestial.

                Ele agora tinha começado a acender o sexto cigarro. Eu nem sabia há quanto tempo estava alí na escada de emergência observando-o, mas percebi que era a hora de agir. Zayn sempre fugia em alguns momentos inesperados e reaparecia com cheiros estranhos, que todos nós já tínhamos descoberto ser de cigarro, e dava uma desculpa qualquer como “fui só caminhar um pouco”. Eu, como o mais próximo dele do dormitório, me senti na obrigação de falar com ele.

                - Eu nem sabia que o pulmão humano aguentava tantos cigarros. – Minha voz tremulava, mas eu não perdia o efeito zombeteiro.

                Zayn virou-se assustado e pareceu não entender, por alguns segundos, o que tinha acabado de acontecer. Ao cair a ficha, olhou para mim com um rosto envergonhado.

                Era isso? Vergonha? Ele não me odiava por tê-lo seguido? Simplesmente sentia vergonha?

                - Sinto muito por ter me visto assim. – ele realmente parecia arrependido do que estava fazendo. Pelo visto, ele não fumava porque queria. Era um vício.

                - Acredite, você vai sentir muito no futuro. – Escolhi as palavras erradas e só notei isso ao ver que o semblante de Zayn mudara drasticamente. Ele agora me olhava incrédulo e se aproximava a passos largos de mim. Recuei um pouco o corpo. Ele me assustava.

                - Você acha que pode me dar um sermão pelo que eu faço ou deixo de fazer?

                - Zayn, olha...

                - Escute você Liam, você não é ninguém na minha vida. Eu fui expulso de casa para essa escola ridícula por causa disso. Você não tem nenhum direito de me julgar. – Ele já estava colado em mim e me segurava com força pela gola da camisa com uma mão e com a outra apertava meu braço.

                - Você tá me machucando... – tentei desviar os olhos dos olhos dele, mas não consegui. Ele parecia ver mais do que apenas meus olhos. Parecia ler meus sentimentos.

                E com essa leitura inesperada dos meus sentimentos, acho que ele viu certo. Por um segundo ele estava na minha frente com o rosto lívido em fúria e no momento seguinte seus lábios tocavam os meus.

                Ao contrário do nosso primeiro beijo, esse começou de forma selvagem e eu pude sentir que as mãos de Zayn tinham largado minha blusa e meu braço e agora estavam entrelaçadas em minhas costas. Levei uma mão até seu cabelo e comecei a puxa-lo de leve. Eu não entendia muito bem o porquê daquilo estar acontecendo. Eu esperava que ele socasse minha cara, mas ao contrário disso, tinha me beijado.

                Prolongamos aquele beijo por algo que poderia ter sido horas. As mãos de Zayn pareciam famintas por conhecer meu corpo e pude sentir que ele deslizava as palmas de suas mãos pelas minhas costas e pela minha bunda, onde ele apertou com uma força exagerada. Eu, entrando no clima do beijo, coloquei minhas duas mãos em sua barriga e em seguida passei minhas mãos por debaixo da sua camiseta e depositei-as no seu abdome. Podia sentir os músculos do seu abdome definido e isso me fazia ter algumas fantasias.

                Zayn finalmente me largou para pegar fôlego, mas em vez de voltar ao beijo, simplesmente afastou o corpo do meu e me olhou com surpresa.

                - O que foi isso? – sua voz estava sufocada pela respiração descompassada.

                - Eu não sei... mas foi bom – Eu não podia continuar mentindo meus sentimentos por ele. Eu tinha que me aproximar um pouco mais.

                Zayn recuou dois passos e balançou negativamente a cabeça.

                - Não podemos mais fazer isso. – Ele parecia constrangido.

                - Zayn, escuta... eu acho que...

                - Esquece Liam, isso foi um erro. – ele me interrompeu e foi em direção a escada de emergência que levava de volta ao dormitório, ao passar por mim, bateu seu ombro no meu, mas nem olhou para trás. Continuou seu caminho.

                Fiquei parado olhando para aquela paisagem bela que parecia zombar de mim. Por que aquilo tinha sido um erro? Por que eu não sentia isso? Eu só precisava de mais. Eu precisava de algo que me fizesse voltar a sentir o que eu sentira momentos atrás.

                Mas Zayn não parecia sentir o mesmo.

                A primeira lágrima se formou em meu rosto e deu início a minha primeira crise de choro desde que tinha chegado a essa escola. Meus soluços eram altos, mas não havia ninguém ali por mim. Só me restava chorar até que aqueles sentimentos fossem embora da minha cabeça.

                Só me restava tirar Zayn de dentro do meu coração, mesmo que eu precisasse de ainda mais lágrimas.