POV: Harry

                - Você vai falar com ele agora? – Louis me perguntava inquieto.

                - Agora não. Ele não fala com nenhum de nós há dois dias. – Contra argumentei. Eu não estava nenhum pouco a fim de levar uma belíssima patada dele.

                 Liam tinha tentado falar com ele, mas não tinha tido muito sucesso. Niall parecia chateado com o mundo e só falava com umas poucas pessoas da sala. Se ele fosse mulher, diria que estava de tpm. Graças a esse ataque do Niall, tive que dormir na cama de cima com Zayn e Liam durante esses dois dias, pois ele só queria dormir se fosse na cama de baixo com Louis.

                Louis afagava meu cabelo e eu fechei os olhos. Era incrível o laço que eu tinha criado com Louis em menos de um mês. Ele tinha sido abandonado por seus amigos e eu estava numa escola nova com apenas um amigo. Acho que fomos a combinação perfeita.

                Porém, não era só a carência que tinha nos aproximado. Louis tinha todas as qualidades que eu sempre procurava ao me relacionar com alguém. Era gentil, carinhoso e engraçado, além de cozinhar bem e ser um ótimo ouvinte. Até mesmo Josh, que era meu melhor amigo, estava começando a reclamar da minha proximidade com Louis.     

                 Acho que por isso que Josh estava tão próximo de Niall ultimamente, eles estavam formando o clube do ciúme.

                Eu estava, nesse momento, deitado na cama de baixo com a cabeça do colo de Louis enquanto falávamos sobre o mundo. Eram os melhores momentos de todos. Nós podíamos simplesmente nos deitar e relaxar, fingir que não existiam problemas e conversar sobre nossos sonhos e aspirações. Louis era rico e tinha aspirações diferentes das minhas, mas mesmo assim mostrava um grande interesse quando eu contava história sobre meus empregos ou sobre a minha família.

                Família era um assunto delicado ao conversar com ele.

                - Mas e quando nós vamos conversar com Niall? Eu não aguento mais passar tanto tempo sem falar com ele. – Louis parecia angustiado e sua mão tremia um pouco em meus cabelos. Ele realmente se importava com os amigos.

                - Acho que comecei a concordar com você – eu não estava realmente decidido, mas preferi parecer que sim. – Acho que não deveríamos nos meter nesse assunto. Ele provavelmente só ficará com raiva por algum tempo e isso decididamente é culpa de Zayn ou de Liam. Não temos nada a ver com isso.

                A porta bateu de uma vez, fazendo-me levantar de susto.

                Quem tinha saído do quarto? Será que Liam ou Zayn estava ouvindo nossa conversa?

                - Liam acabou de sair batendo a porta. – Louis revirou os olhos. – Controle o tom de voz Harry, era por isso que eu estava sussurrando.

                - O que você acha que ele vai fazer?

                - Saberemos mais tarde. – Louis deitou novamente minha cabeça em seu colo. – agora vamos rezar para que dê tudo certo e que tudo seja resolvido o mais rápido possível. Talvez com Liam indo falar com ele, tudo se acerte.

                - Liam falar com quem? – Dessa vez era a voz de Zayn que tinha me levantado de susto. – Liam foi pra onde?

                - Ele só foi falar com Niall – Eu fitei o chão. Parecia que outra confusão estava por vir. Zayn era o que mais criticava Niall por sua atitude “infantil”.

                - Ele não tem que dar explicação nenhuma para Niall. – A voz dele tinha começado a se alterar como das vezes em que tocávamos nesse assunto. – Quer dizer que eu não posso ficar amigo de vocês sem que ele dê um ataque?

                - Já ouvimos isso Zayn – Louis parecia impaciente, como se tentasse evitar ao máximo a discussão desnecessária que iria começar. Eu adicionaria “um milhão de vezes” ao comentário de Louis, mas preferi ficar calado. – Deixe que eles se resolvam.

                Zayn bateu o pé no chão e voltou a subir a escada que levava a parte superior do dormitório. Mesmo que os argumentos de Zayn não fizessem tanto sentido, era notável a mudança que tinha ocorrido na relação dele com Liam. Após o abraço que tinha gerado toda aquela confusão, Zayn parecia querer se aproximar mais de Liam. Claro que o pai do 1D estava gostando dessa aproximação, porque eles eram os únicos do dormitório que ainda agiam como completos estranhos, mas ao mesmo tempo, essa aproximação fez com que Niall ficasse vermelho sempre que os via conversando.

                E olha que isso tudo tinha acontecido há apenas dois dias.

                - Pois bem Boo bear, me conta de novo aquela história sobre sua ex... – Eu não queria perder um momento agora pensando nessa confusão que nunca saía da nossa cabeça, mas sabia que enquanto Niall não voltasse ao normal, eu ficaria inquieto. O melhor agora era aproveitar o momento e, como Louis dissera, rezar para que desse tudo certo.

POV: Niall

                A piscina do dormitório D era, de longe, a melhor da escola. Eu estava mexendo meus pés dentro da água e observando as pequenas ondas que iam até o outro lado da borda.

                Niall... o que está acontecendo com você?

                Eu queria apenas deitar ali e fingir que estava na minha casa na Irlanda, brincando na piscina com meus pais. Só Deus sabia o quanto eu estava arrependido por querer ser “independente”. Meus olhos estavam fechados e eu podia sentir a água massageando levemente meus pés.

                - Niall – enquanto aquela voz familiar soava intensamente em meus ouvidos. Senti sua mão apoiando-se em meu ombro enquanto ele sentava-se ao meu lado.

                Meu impulso inicial era me levantar e sair, mas eu não consegui fazer nem isso. A mão dele no meu ombro me confundia. Eu nem mesmo sabia o que eu queria.

                - Precisamos conversar – A voz doce de Liam invadia meus ouvidos e parecia chegar até meu coração.

                - Não temos o que conversar, temos? – Minha voz estava chorosa. Eu estava com tantas dúvidas na minha cabeça naquele momento.

                - Pelo visto não temos o que conversar há dois dias – pude sentir seu sorriso tímido em sua voz. Ainda me recusava a abrir os olhos. – ou você realmente achou que eu não ia notar que meu melhor amigo nessa escola estava sem falar comigo?

                Senti aquelas palavra me ferirem. Eu estava realmente sendo um idiota com ele sem nenhum motivo. Eu não conseguia entender o que eu sentia por ele, pois era a primeira vez que eu sentia aquilo por um garoto, mas não era culpa dele. Eu tinha usado de Zayn para ficar com raiva de Liam, porque na verdade estava com raiva de mim. Eu nunca tinha achado que era gay ou me apaixonado por outro garoto até conhecer Liam.

                - Eu sinto muito. – uma lágrima desceu minha bochecha, mas antes que ela pudesse chegar ao meu queixo, senti a mão de Liam a limpando. Ao notar seu toque, senti um arrepio pelo corpo. – Eu realmente sinto muito...

                - Então por que não fingimos que nada disso aconteceu? – Liam ainda tinha um sorriso na voz, ele parecia calmo enquanto eu me destruía em lágrimas. – Quando você estiver preparado para dizer o porquê de ter ficado assim e o que eu fiz, pode ter certeza que eu vou te escutar e tentar melhorar.

                Inclinei minha cabeça até o ombro dele. Eu podia senti-lo ao meu lado.

                Ele começou a acariciar meus cabelos e selou minha testa com um rápido beijo. Foi demais para mim. Minhas lágrimas se tornaram soluços e eu inclinei meu corpo para abraça-lo com toda a minha força. Eu não queria larga-lo até entender o que estava acontecendo comigo.

                - Ni – a voz dele era abafada pela falta de ar, mas ele pareceu preocupado comigo. – estamos bem agora, não estamos? Não precisa mais chorar. Vamos para o dormitório hoje que eu deixo você dividir a cama comigo – ele riu pelo nariz, como se esperasse que eu risse também.

                Levantei-me e o acompanhei até o quarto. Ele não tirou as mãos de meus ombros nenhuma vez. Ao chegar no dormitório, fui recebido por uma enxurrada de abraços. Harry e Louis tinham corrido até mim e me abraçado com todas as forças e, até mesmo Zayn, ao ouvir o tumulto na parte de baixo do quarto, veio me cumprimentar com um abraço rápido e um sussurro de “desculpa” no meu ouvido.

                Ele não tinha feito nada que devesse pedir desculpas, eu que tinha agido feito um idiota; mas mesmo assim eles tinham me apoiado e me acolhido como um irmão.

                Eu finalmente tinha encontrado amigos de verdade. Bastava saber agora se com Liam isso seria o suficiente.