Eu tomei um susto assim que acordei, eu estava no colo do ser que eu havia salvo de frente para ele com as mãos ao redor de seu pescoço. Levantei minha cabeça para cima, mesmo já sabendo da óbvia resposta, queria confirmar se ele estava realmente acordado.

- Ohayo! – ele se pronunciou com uma voz simpática – Foi você que salvou o Tobi?

Não respondi, apenas continuei o admirando e pelo que ele havia dito, ele se chamava Tobi. Tobi era alguns centímetros maior do que eu, possuía cabelos pretos e onde havia o buraco do olho, pude perceber um olho vermelho, o sharingan.

- Gomen! – falei saindo de meu transe, e tentei sair de cima dele, mas ele me puxou para baixo e me sentou novamente em seu colo.

- Para onde está indo? – perguntou manhoso, soltei uma risada. – Tobi não quer que você vá.

- Não se preocupe, Tobi – falei colocando a minha mão em seu cabelo e fazendo-lhe um cafuné – Não tenho nem mesmo para onde ir – abri um sorriso de tristeza.

Tobi me abraçou e eu fiquei um pouco sem graça, havia tantas emoções misturadas, e muitas delas, eu nunca havia sentido antes.

- Você pode vir morar com Tobi! – falou ele alegremente.

- Tobi... Hum... Não acho uma boa ideia.

- Você não gosta de Tobi? – falou ele novamente com a voz manhosa.

- Não é isso! – falei rapidamente o abraçando. – É que... Acho que você não gostaria muito da companhia de uma cega.

- Tobi não se importa! – ele deu uma pausa parecendo pensar e logo continuou – Você ainda não disse seu nome a Tobi.

- Kin – falei com um sorriso e estendi a mão– Prazer!

Ele repetiu o gesto e pegou minha mão. Rapidamente ele já estava de pé e me puxava para que eu ficasse junto de seu corpo, me levantou e me pôs em seus braços.

- Vamos! Tobi vai te mostrar a minha casa! – falou ele antes de começar a correr por cima das árvores.

Já haviam se passado alguns minutos e parecia que ainda iríamos demorar para chegar, então decidi conhecer mais sobre Tobi.

- Tobi – pronunciei-me atraindo a atenção de Tobi que me carregava nos braços enquanto pulava de um galho a outro. – Quantos anos você tem?

- 17, e você? – perguntou alegremente.

- 16. – respondi alegremente, me aconchegando mais em seu peito.

Senti ele formar um sorriso em seu rosto, mas era impossível comprovar já que ele usava uma máscara que cobria praticamente o rosto inteiro.

- Por que você não tem nenhum lugar para ir? – perguntou postando seus olhos sob mim e pareceu me estudar cautelosamente.

- Eu cometi um erro e... – eu afundei ainda mais o meu rosto no abdômen de Tobi e continuei – E vamos dizer que eles me expulsaram da vila da folha.

Tobi não respondeu, mas senti que ele estudava cada uma de minhas palavras procurando por alguma mentira ou alguma falha, mas acho que ele não acharia nenhuma, já que aquela era a mais pura verdade.

- Tobi não irá te fazer mal – falou ele me aconchegando ainda mais em seu colo – E Tobi também jamais deixará alguém te fazer mal – quando ele falou essa frase, senti sua expressão se tornando sombria, quem era ele afinal? – Tobi is a good boy! – cantarolou ele.

- Tobi é um bom menino– sussurrei e me concentrei somente nas sensações ao meu redor.

- Os amigos de Tobi vão gostar de você! - ele me olhou com aqueles profundos olhos vermelhos e continuou – Falarei com Pain-senpai para que ele deixe você ficar comigo!

- Amigos? – sussurrei tristemente, afinal, não eram todos que me acolheriam e me entenderiam como Tobi fazia.

- Não se preocupe Kin, os amigos de Tobi são muito legais!

Ele começou a falar de todos os membros de sua organização e de como eles eram malvados com ele e de que mesmo assim eles não deixavam de ser divertidos. Passaram-se horas e continuávamos conversando sobre várias coisas, acabei descobrindo que sua cor favorita era laranja, ele criou a máscara por que gostava muito de pirulitos e que em sua “organização”, ele não tinha uma dupla definitiva, já que não haviam membros suficientes para fazer com ele.

Lembrei-me de minha escola ninja e de como era ignorada por meus colegas de classe, passei a maior parte de minha vida treinando escondida para que algum dia me tornasse forte suficiente para que as pessoas ao meu redor me reconhecessem, mas agora, isso tudo já era um sonho perdido, claro que eu não me arrependo de ter treinado todos esses anos sozinha, afinal, se não tivesse feito, jamais teria salvado a vida de Tobi com meu jutsu médico criado por mim mesma.

- Chegamos – falou Tobi parando de correr.

Antes que eu pudesse responder ouvi duas vozes vindas da floresta logo atrás de nós.

- Que droga! Cadê aquele pirulito ambulante, un?! – indagou uma para o outro vulto que andava ao seu lado.

- Não sei e não quero saber onde ele se meteu. – o outro lhe respondeu, porém parou de andar assim que viu Tobi e eu.

- Tobi! Onde você estava?! – perguntou o loiro parecendo estressado – Estamos te procurando a horas!

Tobi se virou lentamente para as duas presenças e correu para tentar abraça-los, porém, a figura loira se esquivou e puxou algo de seu bolso, algo parecido com uma argila explosiva.

- Sai fora, Tobi! – esbravejou, transformando a argila em um passarinho branco que começou a voar atrás de Tobi.

- Deidara-seeenpaai! - gritava Tobi enquanto fugia do passarinho.

Coloquei a mão na testa e pensei em como Tobi havia mudado com a presença das duas presenças que pelo que Tobi havia me falado enquanto caminhávamos, se chamavam Deidara e Sasori.

- Quem é ela Tobi? – perguntou o ruivo para Tobi.

- Seu... – correu, subiu em uma árvore, pulou no chão de volta, cavou um buraco e apareceu ao meu lado – Nome é Kin.

- Você trouxe uma cega para a Akatsuki?! – Indagou irritado.

Akatsuki... Então ele era dessa organização. Lembrei-me de ter ouvido coisas assustadoras sobre a Akatsuki, mas na época eu nem ligava muito, agora, parecia que a única pessoa com quem eu me importava fazia parte dela. Soltei uma risadinha ao pensar como Tobi, aquele garoto bobinho poderia estar fazendo na Akatsuki, mas logo me calei quando me lembrei de sua expressão sombria.

- Realmente Tobi, dessa vez você se superou! – murmurou o ruivo – Sabe que pessoas inúteis não deveriam chegar nem perto de nós.

Eu comecei a sentir um pouco de ódio do que aquelas pessoas falavam, tudo bem que eu tinha uma faixa no meio da cara cobrindo meus olhos, mas nunca, jamais julguem um livro pela capa.

- Não falem assim dela – o tom de voz de Tobi mudou por alguns segundos, mas voltou ao normal – Ela cuidou de Tobi!

- Como assim ela cuidou de você? – perguntou Sasori.

- Tobi estava muito machucado e então Kin encontrou e cuidou de Tobi!

- Como uma cega pode cuidar das pessoas? – indagou o loiro.

- Concordo com você, Danna! Un!

Tobi ia se pronunciar mas eu fiz um movimento balançando minha cabeça levemente para os lados.

- Não se preocupe, Tobi – sorri falsamente na direção dele – Você já está entregue! Ja Ne! – falei e saí correndo em direção a floresta.

Senti meus olhos ficando marejados e coloquei a mão em cima de meu peito que doía. Eu sabia que estava sendo bom demais para ser verdade. “Não estrague a sua vida por minha causa, Tobi” – Pensei. Sabia que o mesmo iria revidar se eu continuasse ali e não queria mais brigas ou sofrimentos sendo causados por mim.

À medida que ia correndo, ia sentindo o relevo mudar, o vento mudar de direção e meu coração se apertar ainda mais.

Depois de alguns minutos correndo, sentei-me em uma colina e deitei-me sobre a grama.

Ouvi alguns movimentos, mas os ignorei achando que eram somente animais ou algo do gênero. Levantei-me calmamente e retirei a faixa que cobria meus olhos. Abri-os lentamente sentindo o vento bater sobre eles, já fazia tempo que não fazia isso. A sensação de ver era algo surpreendente, depois de tanto tempo com meus olhos fechados, havia me esquecido de como era. Soltei um sorriso de satisfação.

Há muitas coisas que vocês não sabem sobre mim. E uma delas é...:

Eu não sou cega.