LONDRES. 10hs

- Finalmente! - o jovem dizia em tom aliviado ao se jogar em uma enorme poltrona de escritório preta - Agora posso finalmente tirar um descan...

- Senhor, sua reunião com a filial de Holanda vai começar em meia hora. - disse uma voz feminina e mecânica vinda da secretária eletrônica - E depois o senhor tem que fazer a gravação do comercial para...

- Por favor, Penélope - dizia o jovem rapaz ao interfone - Desmarca tudo!

- Mas senhor - insistia a secretária - A reunião é de suma importância para o futuro da empresa!

- Manda o PJ no meu lugar me representando então! - respondeu o rapaz quase que dormindo sobre a mesa de madeira - E, por favor, me traga um chocolate quente com um pedaço de bolo de chocolate com cobertura de chocolate e um pão doce coberto e recheado de...

- Chocolate senhor? - completou a secretária que aparentava se divertir com aquilo.

- Exatamente Penélope, obrigado.

O jovem desligou o interfone, encostou-se à cadeira e suspirou aliviado, aquela vida empresarial o deixava exausto, pudera que adolescente de dezoito anos suportaria algo tão inapropriado para sua idade? Sim, este era Leonardo Yumaka, único herdeiro de toda a fortuna e empresa Yumaka, o homem atualmente mais rico do mundo, sim, do mundo, só que as revistas cansaram de sempre o colocarem no topo da lista até que eles passaram o título para o segundo colocado em diante. Mas naquele momento, o jovem não pensava nisso, ele só queria uma coisa: descanso.

- Vocês tinham que me deixar na mão né? - disse Leonardo observando um retrato de um casal segurando um bebê muito parecido com o mesmo.

- Sinto a falta de vocês...

FLASH BACK ON

- Léo! - uma mulher branca de olhos ônix chamava o pequeno garoto que brincava no quintal da mansão com uma menininha ruiva de lindos olhos verdes - Hora de lanchar!

- Ah mãe! - disse o menino de olhos iguais aos da mãe, porém o mesmo tinha um brilho especial nos olhos - Deixa a gente brincar mais um pouquinho!

- Depois do lanche! – disse meiga e serena – vai lanchar conosco, Gabriela?

- Obrigada senhora Yumaka! - disse a menina ruiva - Vamos Leozinho?

O menino estava emburrado, de braços cruzados e fazendo bico, o mesmo queria continuar a brincar.

- Olha - disse a menina um pouco menor que o garoto - Eu vou te dar uma surpresa se você vier lanchar comigo!

- Uma surpresa? - o garoto de apenas oito anos ficou animado - Que legal! Vamos lá!

Logo saiu correndo em direção a casa e puxando a menina ruiva de sete anos para a enorme mansão.

FLASH BACK OF

- Saudades daquele tempo... - disse Leonardo ainda observando a foto - Saudades dela...

Logo lágrimas de tristeza e solidão invadiram todo o rosto do jovem que permanecia sério e com o olhar fixo em uma imagem diferente, na imagem havia uma menina ruiva de olhos verdes fazendo careta ao lado do pequeno Léo.

- Vocês três me fazem falta...

- Realmente, eles fazem falta - disse um homem que devia ter seus vinte e oito anos ao entrar na sala - Mas você deve seguir em frente cara.

- PJ, quem é que te chamou aqui? - disse Léo ríspido e sério - O que você quer?

- Saber como você está, e também recebi o aviso sobre a reunião de Holanda e tomei a liberdade de remarcar a reunião para amanhã.

- E daí? - disse o jovem impaciente.

- Sem querer me intrometer na sua vida...

- Mas já se metendo... - Léo completou entediado - Diga

- Porque você não tira umas férias? - sugeriu PJ - sei lá, passar uns dias lá em Holanda mesmo...

- Bem que eu queria, mas a empresa, os negócios...

- Eu cuido de tudo pra você, amanhã partirmos para Holanda!

- Hm... Fazer o que né... - disse aceitando a proposta - Tá a fim de comer chocolate?

- Passo, queria saber como você consegue estar em forma comendo tanta besteira.

- Academia.

- Entendi.

AEROPORTO DE LONDRES, 6hs.

Os dois rapazes se encontravam no aeroporto, Leonardo estava com seus cabelos de tom azulado completamente bagunçado e com aquela famosa face mórbida de sono.

- Não vamos, no mesmo voo... - disse PJ - Então você vai primeiro...

- Ok... - disse sonolento quase fechando os olhos.

- Léo, podemos conversar? - disse PJ meio sem jeito.

- Diga.

- Você mudou muito desde a morte de seus pais e da morte da pequena Gabriela, você nunca mais sorriu se divertiu ou algo do tipo...

- Aonde você quer chegar? - disse o jovem impaciente e irritado, não gostava de falar sobre o seu passado.

- Você deveria aproveitar essa chance para mudar um pouco, tentar ser outro alguém... Sei lá...

- Como? - disse alterado - As pessoas que se aproximam de mim é só por causa do que tenho, e não pelo o que sou!

- Exatamente, seja outro Leonardo, haja diferente, não deixe que saibam que você realmente é até que esteja pronto para dizer.

- Você tem certeza? - o jovem disse cabisbaixo e fitando o chão - Será que vai dar certo?

- Se tentar, quem sabe? - disse PJ motivando o rapaz - Pense bem nisso, e boa viagem.

- Valeu.

- De nada!

O jovem entrou no avião e procurou pelo seu lugar.

- "Deve ser do lado daquele cara de cabelo branco mal encarado" - pensou consigo mesmo - "Tentar ser diferente" - sentou-se e dirigiu um leve e raro sorriso ao estranho rapaz de cabelos brancos - Bom dia.

- Bom dia - disse o albino cortando qualquer tipo de conversa possível entre os dois.

Léo notando isso, apenas se sentou, pôs seus fones de ouvido e logo adormeceu.

HOLANDA, AEROPORTO DE ROETERDAN, 9hs.

Algumas horas depois, Léo chegava a seu destino. Entrou em uma lanchonete qualquer e iniciou uma ligação.

- PJ; já cheguei e você chega quando?

- Só pela tarde... Como foi de viagem?

- Foi bem calma, dormi a viagem toda! - disse pensativo - E acho que babei em cima do cara mal encarado do meu lado...

- Já começo a notar umas mudanças em você...

- E eu começo a sentir fome, depois falo contigo!

- Ok.

Ao desligar, uma garçonete veio lhe atender, uma bela jovem de cabelos loiros e olhos verdes.

- Bom dia - disse em tom meigo e simpático - O que o senhor vai querer?

- O que você me recomenda? - disse Léo se aproveitando de seu lado adolescente que estava adormecido - Eu gosto de coisas quentes e apaixonantes...

- Seria o especial de hoje? - disse dando uma leve risadinha.

- Você se acha especial é? - disse piscando para a garçonete que logo ficou ruborizada.

- I-i-imagina! - disse envergonhada - Geralmente os caras que vem aqui ignoram nossas cantadas sabe...

- Eles deviam era ser loucos, você é uma gata! Mas o pedido pode ser o especial mesmo.

A jovem anotou o pedido e se retirou para atender outro rapaz que se sentava mais ao longe.

- Ele não me é estranho... - disse Léo fitando o rapaz de cabelos albinos - Tanto faz... Vou terminar de ler meu livro...

Neste momento, Léo retirou de sua bolsa um iPad abriu o arquivo com o título: "como ser um adolescente normal".

FLASH BACK ON

- Vou tentar.

- Ótimo - disse PJ - Vou te enviar um livro por e-mail, ele vai te ajudar.

O rapaz ao acordar durante a viagem abriu um e-mail dizendo: "leia e pratique. PJ.”.

- Como ser um adolescente normal? - leu o título pensativo - Fazer o que né?

FLASH BACK OFF

Já haviam passado algumas horas desde que Léo terminara seu livro e já se encontrava lendo outro, o título deste era "A Última Música", no exato momento em que o garoto terminara de virar uma página, o pequeno sino que havia na porta de entrada da lanchonete tocou.

- Por favor, você poderia-me dizer onde fica este lugar?

Uma garota aparentemente da faixa etária de Léo pedia a informação para a garçonete, a garota era ruiva e tinha cabelos longos, seus olhos, notavelmente esverdeados, eram um pouco escondidos, por sua longa franja ruiva. Sua formosura era tanta que desviou a atenção de Léo em relação ao livro, ela lhe era estranhamente familiar, algo na garota lhe prendia a atenção, logo a mesma notou o olhar interessado do jovem sobre si. O mesmo desviou rapidamente o olhar para o livro, sentia seu rosto queimando, provavelmente estava rubro, notou que a menina se aproximava.

- Com licença - disse a garota se aproximando - Posso me sentar aqui? É que está meio lotado...

Leonardo levantou o rosto para observar o lugar e pôde concluir que só havia eles dois ali na lanchonete.

- Hã... Claro... - disse rubro - À vontade!

- Obrigada - logo a menina direcionou o olhar para o livro que o garoto lia - Nicholas Sparks?

- É... - disse o garoto gaguejando.

- Adoro esse livro... - disse a garota com o olhar distante - Hã... Meu nome é Elena, e o seu?

- O meu não... - disse gaguejando e nervoso, a menina por outro lado parecia se divertir com o garoto - Quer dizer... Leonardo...

- Posso te chamar de Léo? - perguntou Elena com o olhar fixo nos olhos ônix de Léo.

- Pode... - disse ainda vermelho - Você... Estava procurando um endereço certo? - perguntou o garoto um pouco hesitante.

- Na verdade sim, estou vindo de Londres para morar com uma amiga minha... - disse a garota com a atenção voltada para um pedaço de papel que continha algumas informações - Parece que a Mit vai ter que esperar... Mas, desculpa a intromissão... - disse Elena sem jeito - O que você veio fazer aqui em Holanda?

- Eu vim para...

- Ai não! - disse Elena assustada para o relógio - Estou atrasada! Tenho que ir! Tchau!

- Hã... Tchau... - respondeu Léo confuso - Elena... - cochichou para si mesmo.

HOLANDA, MAIS TARDE EM UM HOTEL.

- Obrigado - dizia PJ na recepção - Mais tarde eu volto para acertar tudo.

- Sim senhor. - respondeu a balconista sorridente.

PJ se aproximou de Léo que estava distraído observando o mural do saguão.

- Você irá morar sozinho, mas a suíte que aluguei tem dois quartos, como vou embora amanhã depois da reunião, passarei essa noite com você.

- Beleza... - respondeu Léo com o olhar distante.

- O que houve? - perguntou PJ estranhando o comportamento do jovem - Você está estranho desde que chegou a Holanda... Aconteceu algo?

- Hã... Nada não... - esquivou-se da conversa - O que você sabe sobre a escola?

- Dou graças por ter saído de lá, você tem sorte por ter tido aulas particulares e... – PJ parou por um instante e olhou para o garoto com um olhar bem arregalado – Você não está pensando em...

- Ir para a escola? – disse Léo pensativo – Talvez...

- Mas por quê?

- Você disse para eu tentar ser um cara diferente... – disse Léo pensativo – E por isso eu pensei que o melhor lugar para tentar ser diferente, é na escola...

- Geralmente, os caras da sua idade estão loucos para não estarem na escola e... – PJ parou, respirou fundo e inclinou a cabeça para frente em desistência – Não vai adiantar né?

- É – disse Léo em tom vitorioso – Amanhã eu começo a estudar então.

- Ok né... – disse PJ desanimado – Hoje, depois da reunião, eu compro seu material e te envio os detalhes da escola que você será matriculado...

- Valeu!

- Tenta ensaiar um sorriso na frente do espelho...

- Hã? – o garoto ficou confuso – Para o quê?

- Acredite em mim, adolescente vivem sorrindo...

HOLANDA, 5h50min

O sol ainda não havia despertado, mas o despertador da luxuosa suíte despertava e um jovem de cabelos azulados acordava junto do mesmo.

- Só mais dez minutinhos... – Léo escondia a cabeça debaixo do travesseiro na falha tentativa de abafar o som do despertador – O sol ainda nem levantou...

Leonardo levantou em desânimo, entrou no banheiro e ligou o chuveiro no mais frio impossível, não propositalmente, afinal, ainda nem havia acordado direito.

- AAAAAHH – ele berrou ao sentir a gélida água cair no seu corpo – PJ EU TE MATO!

Alguns minutos depois de sair do banho e se arrumar, olhou-se no espelho e ajeitou a gravata do uniforme, era um terno de cor azul marinho e uma blusa social por baixo, a gravata era listrada em vermelho e um azul de mesmo tom do terno.

- Odeio listras... – disse Léo se observando no espelho – Cadê minha mochila?

A mochila era de cor parda, uma única alça atravessada em diagonal no corpo do garoto, a mesma alça era cheia dos famosos “bottons”, tematizados de vários animes (animação japonesa).

- É, acho que estou pronto...

Ao descer o elevador, foi recepcionado por um funcionário que lhe entregou uma chave.

- Que chave é essa? – perguntou confuso para o funcionário.

- É a chave do seu carro senhor, o Sr. PJ mandou entrega-lo.

- Carro? – o jovem olhou para a porta do prédio e observou que havia um belo e moderno Mustang amarelo estacionado a frente do hotel – Seria aquela belezura ali estacionada?

- Exatamente senhor.

- “Valeu PJ!” – pensou animado – Obrigado, se alguém da empresa ligar encaminhe a ligação para o telefone do PJ ok?

- Afirmativo senhor, tenha um bom dia.

- Obrigado – Léo se retirou e entrou no carro – Agora... Onde fica a escola?

Léo observou que havia um bilhete no volante. O mesmo estava escrito:

“Desculpe pelo chuveiro frio, esqueci-me de pôr no quente, espero que tenha gostado do carro, o endereço do colégio está programado no GPS, boa sorte e lembre-se, sorria.

Ass.: PJ”

- “Menos mal” – pensou o garoto ligando o carro e o GPS – “Sorrir...” – respirou fundo – “Sempre sorria”.

HOLANDA, ESCOLA PROFISSIONALIZANTE DE HOLANDA, 7h10min.

Léo já se encontrava na sala de aula quando o sinal tocara, ouvindo música para ser mais exato afinal, ele não se separava de seus fones de ouvido, observou cada aluno que entrava pela porta da enorme sala de aula em formato estádio.

- “Aquele cara de cabelo branco... Será o mesmo do aeroporto?”.

Pensava Léo ao notar que entrava um garoto sério, pálido e de cabelos brancos na sala de aula.

- “Só pode ser ele...”.

Léo agradeceu por ter um rosto conhecido, bem, só o rosto mesmo, afinal, nunca havia conversado com o mesmo.

- Ei! – Léo acenou para o garoto – Senta aqui! – indicou o lugar ao seu lado.

O garoto de cabelos albinos parecia um pouco desligado, ou simplesmente concentrado em qualquer outra coisa.

- Oi! “Aja diferente” – pensou enquanto falava com o jovem – Meu nome é Léo! – Léo parecia ter simplesmente mudado seu jeito de ser, estava estranhamente divertido e... Alegre? – Me desculpe por ter atrapalhado a sua viagem ontem... Qual é o seu nome mesmo?

Ao abrir a boca para que pronunciasse algo, Léo desviou o olhar e atenção para a porta da sala de aula e se admirou ao ver quem entrava pela mesma.

- ELENA! – uma estranha sensação tomou conta do jovem, algo que não sentia fazia um bom tempo. Alegria. Elena ao notar que Léo era o garoto que a mesma havia conhecido ao chegar à Holanda.

- AZULZINHO!

- PAREM DE GRITAR VOCÊS DOIS! – gritou o albino irritado.

- Maus aê! – sorriu o azulado sem jeito enquanto coçava a cabeça – Vou lá falar com ela!

- Melhor assim! – disse sentando no lugar ao lado do lugar do azulado – Boa sorte lá com a sua namoradinha!

- Ok... – Léo se tocou do que o albino havia dito logo em seguida – Ei! Ela não é minha namorada! – disse com o rosto avermelhado.

- Tanto faz... – disse abaixando a cabeça na mesa – Vai logo!

- Tá!