A Espada Elemental escrita por Bernardo Dias


Capítulo 3
De Volta Para Casa


Notas iniciais do capítulo

Desculpe, pessoal. Acabei não podendo postar semana passada pois estava em provas. E não é nada fácil escrever enquanto tenho que estudar muito... Mas espero que gostem do capítulo. O próximo será incrível, prometo!



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Capítulo 3


Como assim? Que sentido fazia os meus olhos estarem vermelhos e brilhantes como os de Price na noite passada? Que sentido fazia esse incêndio começar do nada? O que estava acontecendo, e o que eu poderia fazer? Não consigo mais pensar em nada, e o meu corpo fica completamente paralisado. A primeira coisa que consigo fazer é me olhar no espelho imediatamente e checar meus olhos. Totalmente normais.


– Por que... Por que você não me disse isso antes? – berro para Ethan.

– Eu... Eu achei que... – ele gagueja – Na hora eu achei que poderia ser só impressão, ou reflexo da luz. Mas mesmo depois que você me contou tudo, fiquei com medo de dar alguma afirmação equivocada.

Ethan me olha com uma expressão de medo e preocupação em seu rosto. Não posso culpá-lo de nada, mas todas essas dúvidas e mistérios na minha cabeça estão prestes a me deixar maluco. Minha tensão vai, aos poucos diminuindo, porém continuo a olhar para Ethan com um rosto perturbado, minha respiração ofegante. Tento me acalmar mais. Levo as mãos ao meu rosto, encosto-me na parede e escorrego ao longo dela, sentando-me no chão.

Não sabia o que fazer. Estava perplexo. Apenas queria cavar um buraco e esquecer tudo isso para sempre, ou que a resposta de tudo isso chegasse nesse mesmo instante. Mas era tudo em vão. Lamentar seria inútil nesse momento. Se quisesse todas as respostas deveria pensar. Quem sabe até mesmo encorajar-me a ordenar Price a esclarecer tudo. Não, impossível.

Tento me convencer de que as respostas chegariam em breve, e em pouco tempo minha respiração volta ao normal e levanto-me novamente. Ethan me olhava, parecendo sentir pena. Eu não queria preocupar a ele e nem às garotas. Deveria manter a calma e pensar em uma ligação entre tudo isso. Mas não consigo pensar em nada exceto a cor dos nossos olhos serem do tom do fogo bem na hora em que o incêndio ocorreu. Poderia de alguma forma eu e Price estarmos conectados ao incêndio? Um pensamento bizarro, porém, perto de todos os acontecimentos desses dois dias, nada anormal.

Olho para o relógio do quarto. Uma hora para nos encontrarmos com Jane e Allison novamente. Ethan provavelmente estava ansioso, porém sua informação sobre os meus olhos parece tê-lo desanimado. Dou uma leve batida em suas costas e peço para que se anime.

– Não queria que tudo isso estivesse acontecendo – ele responde.

– E acha que eu queria? Não há nada que podemos fazer senão pensar e investigar. Vem, levante essa cabeça e pense no assunto.

– Não consigo mais pensar. – Ethan já parecia estranho, mas agora estava quase deprimido.

– Bem, a matéria lecionada por Price é História. Quem sabe não consigamos descobrir alguma coisa lendo o livro didático?

Ethan balança a cabeça em afirmação, e apenas deita-se em sua cama. Eu também estava completamente desanimado. Não era momento para isso. Então resolvo cochilar. Programo meu relógio para despertar em 45 minutos. Mas até parece que eu conseguiria dormir assim. Minha cabeça não parava de doer, passaram-se 30 minutos torturantes e eu já não aguentava mais ficar tanto tempo deitado, enquanto todas as dúvidas faziam minha cabeça doer ao extremo.

Penso se não poderia simplesmente esquecer todos os problemas e passar as férias normalmente, tranquilo com a minha mãe e meus amigos. Mas minha cabeça estava atormentada. Sequer consigo relaxar por alguns minutos.

Conto os segundos para nosso encontro com Jane e Allison. Meu relógio começa a apitar no meu pulso. Levanto da cama com um salto e o barulho também faz Ethan acordar de seu rápido cochilo.

– Vamos nos livrar desse tormento – sussurro. Ethan troca de roupa rapidamente, provavelmente estava ansioso para encontrar Jane e descobrir todas as respostas.

– Quero passar as férias tranquilo – é tudo o que ele diz, um tanto desanimado. É algo deprimente ver Ethan, sempre muito bem humorado, nesse estado.

– Pense pelo lado bom – respondo – você vai ver a Jane – ele apenas ignora e continua andando. Nem mesmo sua paixão poderia deixá-lo melhor.

Seria vergonhoso encontrar as garotas sem ter pensado em praticamente nada sobre o assunto. Porém, por algum motivo, penso que a informação sobre meus olhos poderia ser útil de certa forma. Quem sabe já tenham até reparado nisso.

A noite acaba de chegar. Os ônibus estavam estacionados em frente ao campus. Também posso identificar mães e pais de alunos saindo com seus filhos. A lua estava bem cheia e brilhante, dava vontade de sentar lá e ficar admirando. O vento soprava bem forte e as árvores balançavam. Uma linda e sinistra noite. Desvio meu olhar e apenas continuo a andar com pensamentos assombrosos pairando pela minha cabeça.

Invejo Ethan por estar provavelmente conseguindo pensar em uma garota em um momento como esse. Tento fazer o mesmo, mas nem a lembrança dos lindos olhos claros de Allison me faz esquecer a preocupação e a dor no peito que me consumiam naquele momento.

– Ethan! Jaden! – ouço Jane e Allison exclamarem atrás de nós. Ethan e Jane se cumprimentam e Jane dá um beijo em seu rosto, que novamente se enrubesce de imediato. Enquanto isso eu e Allison apenas nos entreolhamos. Por algum motivo ela não parecia muito amigável comigo. Seus cachos pareciam um tanto reluzentes ao reflexo da lua cheia, e os realçavam ainda mais.

– Olá – digo, tentando transmitir um mínimo de simpatia por trás de tudo.

– Olá – Allison responde, com um sorriso forçado. Ethan e Jane pareciam alegres juntos, e ao menos isso me dava uma ponta de felicidade.

– Conseguiram chegar a uma conclusão? – pergunto desesperadamente.

– Ainda não exatamente – Allison responde rapidamente – Mas aquele homem sabe! – e aponta para Price, alguns metros atrás de nós, observando o estrelado céu noturno, como na noite anterior.

Sua aparência era sombria. Usava o mesmo casacão de ontem, que chacoalhava com o vento, suas mãos estavam protegidas nos bolsos do casaco e ele parecia satisfeito em estar novamente olhando para o céu. Penso na possiblidade de um homem tão gentil como ele ter algo a ver com tudo que havia ocorrido. Preocupante.

– O que acha sobre o incêndio de ontem, professor? – Allison pergunta com arrogância.

Reparo em um tremor passando pelo corpo grande de Price. Ele olha fixamente nos olhos de Allison e não diz nada por alguns segundos.

– Professor – Allison insiste, aumentando seu tom de voz – o que você...

– Allison, foi horrível, não quero me lembrar disso – Price responde, interrompendo – O ônibus irá sair em breve. Apenas... Tente pensar em coisas positivas.

– Price, se eu quisesse realmente pensar em coisas positivas eu não estaria te perguntando! Diga de uma vez por todas o que você tem a ver com isso! – Allison já estava praticamente gritando, algumas pessoas observavam a sua volta.

– E... Eu... Não faço a menor ideia do que você está falando – ele gagueja – Tenho que ir, Ally, adeus – ele acaricia sua cabeça e vai embora, andando calmamente.

– “Ally”... Ally é... – ela xinga em voz baixa, desapontada, balançando seu cabelo com a mão, como para tirar o toque de Price.

– Sério? Eu não sabia que Ally significava “palavras de baixo calão” – Jane brinca. Ela e Ethan começam a rir, e Allison desvia seu olhar para eles parecendo indignada.

– Estou falando sério, gente. Isso foi algo horrível. Tudo pode ter sido culpa daquele cara e vocês não estão nem aí! E pensem como isso tudo é estranho, principalmente para o Jaden. É nossa obrigação fazer isso por ele.

Todos se calam e olham para Allison, após ela ter dito tudo isso. Ela realmente se preocupava comigo por trás de sua frieza? Acho que ela realmente poderia ser nossa amiga.

– Puxa... Obrigado – consigo responder.

– De nada, mas não pense que estou estressada com isso por sua causa – ela responde. E parece que a frieza não passa tão facilmente.

Enfim, decidimos entrar de uma vez no ônibus, que sairia em alguns minutos. Lamentamos por não ter descoberto toda a verdade, porém trocamos nossos números de celulares e demos nossos endereços, e descobrimos que todos moravam no mesmo bairro, o que facilitaria nossa “investigação” mesmo fora da escola. O quanto antes resolvêssemos, mais tempo de lazer teríamos. Nosso bairro não é tão longe da escola, a distância é de cerca de uma hora de carro, porém o trânsito estava horrível nesse dia.

Penso na probabilidade de um romance entre Ethan e Jane começar durante as férias, o que me faz sentir um pouco de inveja por estar apenas encalhado, com uma mente excessivamente preocupada.

Ethan não se sentou do meu lado no ônibus, pois havia combinado de ir com a Jane. Por isso, quem sentou ao meu lado foi Allison. Quase não trocamos palavras o caminho inteiro. Apenas passamos o tempo observando as animadas conversas de Ethan e Jane.

– Acho que eles seriam um ótimo casal – diz Allison, com um risinho.

– Tenho que concordar. Os dois se dão muito bem – respondo.

Certo tempo se passa e acabo cochilando. Tenho um curto sonho. Nele, tudo o que aconteceu de ruim ao longo desses dois dias parece ser revivido exageradamente. Ethan e Jane eram um casal extremamente apaixonado, não se separavam nem por um segundo e viviam se beijando. Price parecia extremamente maligno, com camadas de chamas em sua volta sendo controladas por ele próprio, até que começam a se aproximar cada vez mais de mim e dos meus amigos. E nos queima por um longo tempo, provavelmente até a morte.

Levanto a cabeça desesperado, suando, e vejo que está tudo bem. Apenas um sonho. Jane e Ethan estavam na dupla de cadeiras ao lado. Ela havia dormido nos ombros dele. Uma cena que me deixava extremamente satisfeito. Quanto percebo que havia dormido ao lado de Allison. Bizarro.

Olho para os outros bancos a procura de Price, mas pelo visto ele não estava por lá. Mas por quê? Será que o motorista o deixou saltar antes por sua casa ser mais perto, talvez? Ele é um homem misterioso.

A maior parte das pessoas no ônibus estava dormindo, mesmo que não fosse tarde. Jane se espreguiça e abre lentamente seus olhos, quando percebe que estava dormindo com Ethan o tempo todo. Seu rosto fica vermelho. Ela olha para sua esquerda e me vê acordado.

– Ah, Jaden. Está acordado. Que horas são?

Checo meu relógio de pulso.

– São quase 20:00. Já estamos há quase duas horas nesse ônibus. Que engarrafamento.

Um homem que estava sentado ao lado do motorista do ônibus entra na parte de trás e fala bem alto de modo que todos acordem.

– Pessoal, iremos parar na praça em cerca de dez minutos. Seus familiares estarão esperando por lá para levá-los para casa. Terminem de separar suas coisas e liguem para seus responsáveis.

Pego meu celular e ligo para a minha mãe. Todos no ônibus fazem o mesmo.

– Alô, mãe? Tudo bem? É o Jaden.

– Olá, filho. Que saudade – minha mãe responde feliz – que milagre me ligar. Já está chegando à praça?

– Sim. Em cerca de dez minutos eu chegarei aí.

– Tudo bem, estarei esperando. Eu te amo.

– Hã? Ah... Eu também, mãe...

Então desligo meu celular. Pouco tempo depois, o ônibus se prepara para estacionar na praça do bairro. Eu, Ethan, Jane e Allison ficamos em pé e nos entreolhamos.

– Se cuidem – digo.

– Agora que todos nós sabemos nossos números e endereços, poderemos continuar mantendo contato.

Nos abraçamos e nos despedimos. Allison apenas aperta a minha mão. Saltamos do ônibus e vemos vários pais e mães de alunos na praça. Consigo identificar minha mãe em meio às pessoas. Quando me vê, ela me abraça com força e começa a dizer coisas melosas.

– Que saudade, meu amor. Vamos para casa, estava te esperando.

– T... Tudo bem, mãe.

Vamos para nossa casa a pé pela curta distância dela até a praça. Minha mãe não me solta nem por um segundo no caminho. Quando chegamos em frente, ela abre os portões e eu começo a percorrê-la toda, pela saudade que me acomete do lugar onde vivi desde sempre antes da academia Nables.

– Como é bom te ver aqui, filho – minha mãe diz – vou preparar um ótimo jantar para você.

Ding-dong. Ouço o som da campainha percorrer pela casa. Minha mãe insiste que ela vá atender, mas eu a sigo. Quando o portão é aberto, fico chocado com o que vejo. Dois homens olhando para mim com caras nada amigáveis. Um deles, sem dúvida...

Price. Inconfundível, a razão de muitos dos meus pesadelos. Fico extremamente nervoso e começo a suar. E o outro homem, quem poderia ser? Seus cabelos castanhos eram parecidos com os meus, porém maiores e mais longos, pareciam maltratados. Sua barba era estranha. Seus olhos negros também se assemelhavam aos meus.

Olho para a minha mãe e ela parecia tão perplexa quanto eu. Aquele homem acabado, junto a Price no meu portão. Não poderia ser... Ele era...

– Meu... Pai... – deixo as palavras escorrerem pela minha boca.

– Isso mesmo, filho. Estou morrendo de saudades. Eu e Price estamos aqui pois iremos te contar, finalmente, toda a verdade.



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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo...
O passado de Jaden e seu pai, a ligação de Price com tudo isso, a verdade sobre os olhos e o incêndio... Muitas respostas no próximo capítulo.
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