FRANK

“ – Bom dia, RAY! – Não, por favor, alguém me acorde ou me diga simplesmente que eu não ouvi a voz de Gerard três tons acima da irritação? Ouvi?”

(…)

– Bo-bo-bom dia Gerard. – Se até Ray, que estava virado de frente para Gerard, estava gaguejando, eu não queria nem mesmo ver a expressão – deveras diabólica – que meu namorado tinha estampada o rosto.

Me chame de medroso, ou qualquer outra coisa, mas posso dizer que meu sangue formigou apenas em ouvir aquele timbre tenebroso da voz de Gerard. Eu parei o que estava fazendo e antes de me virar ridiculamente na direção dele – com as pernas bambas, eu confesso –, de relance eu foquei os olhos de Helena.  Os azuis estavam arregalados e claramente assustados com a expressão do Gee, e não era para menos. Enquanto aquele brilho azulado ia gradativamente deixando minha visão, os verdes me encararam secos e rígidos.

– Oi Gee. – Eu sorri fraco para ele, que ainda tinha a testa franzida e as sobrancelhas juntas, numa carranca que por mais assustadora que fosse, estava linda nele.

“Ah, se ele soubesse que enquanto ele estava com vontade de me estrangular eu tinha outras ideias!”

– Se eu fosse você não estaria com esse sorrisinho no rosto, Iero. – Doeu escutar ele me chamando pelo sobrenome tão friamente, mas eu reconhecia o por que daquilo claramente por já saber o quão ciumento ele era. Outro fato que não surpreendeu foi que ele mal se importou em dizer aquilo na frente de Helena. Não que tivesse sido tão explícito quando ele ralhou comigo, mas nós não éramos idiotas e havia ficado claro seus ciúmes, até para a garota ao nosso lado, que não sabia de quase nada. Juntando tudo isso ficou fácil concluir que ele estava se mordendo de raiva.

– Er, ham... Entra gente! – Eu estava muito desconfortável ali, não queria ver o meu Gee com aquela cara, ainda mais por minha causa, mas não podíamos resolver tudo ali  na porta da minha casa. – Ah, oi Mikey! – Ele só sorriu para mim, junto de um aceno com a cabeça. Ok, eu tinha problemas e não tinha terminado ainda de fazer o curativo em Helena. Seria uma longa tarde...

HELENA

‘Confusa’ era apelido para como eu realmente estava com tantas informações que eu recebera em tão pouco tempo.

O efeito dos remédios que eu havia tomado quando sai de casa ainda estava ali, e em frente a meus olhos eu via apenas flashes de uma ou outra pessoa falando, ou não, comigo. Mesmo assim eu sabia onde, como e com quem estava. Foram só antidepressivos, eu acho...

Reconheci bem a minha frente os olhos de Frank brilhando bem perto dos meus. Carinhosos e cheios de atenção. Confortáveis, eu diria. Tudo aquilo me fez por segundos deixar de lado as trilhas vermelhas que o sangue do corte tinha deixado em minha mente e me sentir um pouco mais em paz.

 Segundos depois mais alguém estava li, e dessa vez não foram meus olhos conturbados que o notaram.  Meu próprio coração se encarregou disso, e acabou por precisamente reconhecer os cabelos negros e os olhos de águia de Gerard, que me encaravam intrigantemente com traços de fúria e dúvida. Eu não sabia se era o sangue ou se seus olhos pareciam mesmo estar em chamas.

Naquele momento, Gerard tinha olhos de fénix, pairando sobre as matas antes plácidas de seus olhos. Sim, eles pareciam estar queimando bem a minha frente.

Eu fiquei presa neles por um bom tempo, até que eu os vi saindo de perto de mim. Ouvi coisas confusas e eu podia quase jurar que toda aquela revolta por parte de Gerard era pura e simplesmente por minha causa. E eu mal sabia que diabos eu tinha feito para ter chamas sobre mim tão intensamente.

“Oras, de onde veio todo aquele ódio gratuito da parte dele para comigo? Estúpido...”

Depois de instantes de um mórbido silêncio pairando ali, todos entraram na casa e pelo que pude reconhecer, foi Ray quem me ajudou a entrar, antes que Mikey fechasse a porta. A nossa frente, um Way de passos firmes praticamente marchou até o que seria a sala, seguido de um confuso e relutante Frank. Senti Ray me sentar no grande sofá dali tão apreensivo em saber o que aconteceria quando eu.

Conforme os minutos foram passando, os medicamentos para aquela maldita depressão começaram a fazer mais efeito. Não que eles fossem progredir até que eu dormisse ou coisa assim – eu acho – mas pela quantidade que eu havia tomado, aquilo não era nada mais do que eu devia esperar do seu poder sedativo sobre mim nos próximos minutos. Mesmo que eu quisesse mesmo apagar  meus instintos – eu diria – lutavam contra minha mente para me manter acordada.

– Lindo você Iero... Sinceramente... – Era a voz de Gerard, mais irônica do que nunca, eu só não entendia todo aquele sentimento que havia ali junto dela. Até parecia que ele havia se chateado pelo fato de Frank estar ajudando a fazer o curativo em meu corte, que ainda estava aberto, mas ele parecia pouco se importar com isso agora.

– O que diabos eu fiz, Gee? – Achei graça do modo piedoso com que Frank se referiu ao Way, com a voz baixinha e sutil. Tentado aparentemente acalmar os ânimos de Gerard.

– Ei, dá para as duas discutirem lá em cima? – Eu ouvi Ray sussurrando. Oras, por que eles deviam ir lá para cima?

– Não Ray, eu não tenho o que discutir nada com ele. – Novamente o Way se pronunciou. – Eu vim até aqui para fazer o Trabalho de Quimica, mas parece que uma outra pessoa queria fazer era outra coisa com a “Bela dopada” ai do seu lado.

– O que? Gerard? Você tá ouvindo o que tá dizendo? – Mesmo que as vozes aumentassem e diminuíssem o tom como no balanço das ondas, eu reconheci aquilo como um grito de Frank. – ‘Tá insinuando que eu estava fazendo o que com a Hell?

– Hell? Haha, que lindo o apelidinho que você deu a ela!

– Já chega ouviu?  Eu não estava fazendo nada! – Eles estavam ficando longe e mais longe de mim – Se não reparou, eu caiu, ou sei lá o que, e rasgou a testa! E eu ‘tava só ajudando! Porra Gerard! O que você acha que eu ia fazer? Beijar ela? – Me arrepiei e tentei decifrar então o quão próxima eu devia estar de Frank na porta para ele mesmo comentar isso. – EU NUNCA IA FAZER ISSO! E SEI QUE VOCÊ TAMBÉM NÃO! SABE POR QUÊ GERARD? PORQUE EU CONFIO EM NÓS DOIS! EU TE AMO CARALHO!

 Como assim... Eu te amo?

Já de olhos fechados, sem conseguir forças para abri-los, eu só ‘ouvi’ o silencio que se formou. Só uma respiração ofegante e silêncio. Eu lutei, mas agora mal ouvia eles, conclui que – mesmo que na pior hora possível –,  os malditos remédio tinham enfim me apagado.

CONTINUA...

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NO PROXIMO CAPÍTULO

“– Eu só queria que você soubesse que eu nunca disse que amava alguém, na minha vida toda.”