Depois de muito vagar sem rumo pelo sol fraco, Jade sentou-se em um dos bancos do parque, com seu vigésimo café quente da manhã em mãos. Ela começou a olhar as pessoas que pareciam tão sem graça e tão normais. Observou as árvores ao seu redor e sabia que não deveria ter o largado assim. Ela foi uma covarde, não foi?

Odiou-se mais um pouco e tampou o rosto com uma das mãos. Não acredito. Ela murmurou.

Talvez Beck ainda confiasse nela. Só talvez.

Talvez seria bom ter contado a Liz.

Talvez seria mais fácil.

Mas ela não poderia ter certeza.

Embora Beck houvesse dito para ela seguir seus instintos. E foi isto que estava fazendo; Ela era adulta agora, não poderia brigar, se zangar e por isto fugir de casa e de sua família, ela estava errada o tempo inteiro. Jade tinha um monte de responsabilidades e ela sentia como se não aguentasse tantas coisas assim.  

Não deveria ter ficado com raiva de Beck. E ela o conhecia muito bem, ele era o único capaz de fazê-la sentir-se bem melhor. Ela precisava dele.

E para alarmar mais ainda o coração de Jade, ele apareceu do nada com o cabelo para trás por causa do vento, andando em sua direção calmamente; com um sorriso enorme no rosto e era como se ele fosse um caçador achando sua presa.

- Oh meu Deus! O que você está fazendo aqui Beck? – Jade quase gritou. – Como me achou?

Ele sorriu ainda mais. – Meu celular estava em sua bolsa.

- E? – Jade levantou uma sobrancelha, arrumando com certo meio de proteção a sua bolsa no ombro.

- Ele tem rastreamento por satélite. Só basta entrar na internet e... Pronto. – Beck colocou as mãos nos bolsos e sentou-se ao lado dela. E nunca, em um milhão de anos, Jade West iria entender como Beck Oliver poderia ser tão seguro e calmo. Era inacreditável.

- Estamos brigados. – Ela protestou. – Saia daqui!

- Não. – Beck respondeu com aquele sorriso novamente orgulhoso. – Eu não me importo se estamos brigados ou não. Tenho algo para lhe perguntar.

- Uuugh. – Jade revirou os olhos. – Onde está Lizzie? Você a deixou em casa sozinha? Seu animal insuport- Beck a interrompeu.

- Shhh...Shh... Liz está na creche, ou você se esqueceu de que teria que levá-la hoje? E de qualquer forma, eu é que faço as perguntas aqui.

Jade meio que se sentiu envergonhada por esquecer-se de suas próprias obrigações com sua filha, justo quando estava defendendo com as garras que poderia cuidar sim dela melhor do que Beck. Mas Jade estava muito ocupada sentindo raiva dele.  

- Eu odeio você. – Ela murmurou como faria no colegial. Ele nunca se sentiu tão feliz na vida.

- Eu também te amo. – Beck se inclinou no banco e a beijou na bochecha. Mas Jade só fez se afastar e fazer uma careta de nojo.

- Saia daqui, Beck! – Ela insistiu.

- Eu não vou sair. Tenho que te perguntar algo.

- Então pergunte logo, idiota! – Ela cruzou os braços sobre o peito.

- Sem palavrões, mocinha. – Ele advertiu e Jade revirou os olhos.

Beck ficou um tempo em silêncio e isto fez a paciência dela ferver.

- BECK! – Ela o tirou de sua crise silenciosa. – Você vai me perguntar o que tem que perguntar e ir embora logo daqui ou não?

- Eu vou perguntar... Calma. Mas depois você não vai querer que eu saia daqui tão cedo.  – Ele obteve um sorriso secreto e feliz no rosto. – Eu preciso que você se levante, senhorita.

- Chega de brincadeiras, tá legal? – Ela rosnou.

Beck riu. – Eu juro que não estou brincando.

- Eu não vou me levantar. – Ela olhou para qualquer outro lugar, menos para Beck. Seus braços continuavam cruzados e Jade se ajeitou no banco, tentando ficar mais longe dele o possível. Ela não suportava a maneira dele ser tão idiota e perfeito para ela ao mesmo tempo.

Beck suspirou derrotado. – Tudo bem então.

Ele se levantou e Jade o seguiu com o olhar. Beck teve espaço o suficiente para se ajoelhar no chão á frente dela. E ela estava apenas surpresa com o que ele estava fazendo.

- Eu sei que estamos brigados e que eu não sou o seu objeto de maior amor agora. Mas eu te amo, você sabe... – Ele vagueou ao olhar para Jade, ainda surpresa e paralisada, afinal, o que ele iria fazer? – Te reencontrei há dois meses e foi o dia mais feliz da minha vida em todo este tempo. E então descobri que eu tinha uma filha... Era impossível acreditar, mas eu a vi e a segurei pela primeira vez e você estava lá observando tudo. Jade... – Ele fez uma pausa, tentando decifrar o que ela estava pensando. – Eu não me arrependo de nada e nem mesmo guardo rancor de alguma coisa que aconteceu. O que importa para mim é que estamos juntos agora e que temos a nossa Liz. E que eu só quero viver o resto da minha vida ao seu lado.

A certa altura era claro que ela já imaginava o que estava por vim. Mas Jade não sabia agir nesta situação. Ela viu quando ele tirou uma caixinha de veludo azul do bolso.

- Quer se casar comigo? – Ele perguntou da maneira mais sincera que conseguiria.

Seu coração se quebrou em vários cacos quando, depois de segundos de hesitação, Jade respondeu que não.

Um silêncio pacífico atingiu os dois e veio carregado de trocas de olhares intensos. Jade se inclinou e o beijou. Beck, ainda de joelhos no chão, demorou a corresponder pelo choque que havia tomado, mas eram os lábios de Jade e então ele a beijou com todo o amor que tinha.

Ela quebrou o beijo apaixonado por falta de ar. – Eu te amo.

- Eu sei. Explique-se. – Ele não pareceu bravo. O que fez foi pegar na mão dela e se sentar ao seu lado. Beck fitava aqueles olhos brilhantes.  

Ele, atenciosamente, pegou uma mecha do cabelo dela e a pôs atrás da orelha.

- Eu não quero me casar com você.

- Por que não?

- Eu não sei te dizer o motivo. – Jade respondeu.

Os dois permaneceram em silêncio por um longo tempo. Jade sentiu o copo de café em suas mãos se esfriando cada vez mais. Ela encostou a sua cabeça no ombro dele e Beck passou um braço ao redor dela, a puxando para si. Por eles, o mundo poderia acabar, mas continuariam assim.

- Você está com raiva de mim? – Jade quebrou o silêncio depois de uma eternidade que ficaram observando as pessoas.

- Não. – Ele fez uma pausa e olhou para o seu relógio. – Eu não sei o que eu sinto também.

- Eu te entendo. – Ela pareceu mais calma do que normalmente seria. Beck adorou aquilo.

- Você quer vim buscar Liz comigo? – Ele se aproximou mais ainda dela.

- Quero. Mas estou no meu carro e você no seu.

- Não faz mal. Eu busco o seu depois. – Ele disse e Jade assentiu.

- Vamos então.

Liz havia ficado animada ao ver Jade tão cedo de novo. A garota estava se vangloriando para os pais ao ter feito o desenho mais bonito da classe. De modo que Liz quis passar a tarde inteira com Cat para as duas comemorarem com bichinhos de pelúcia e sorvete. Mais uma vez Jade e Beck estavam sozinhos em casa.

Não existia aquele clima estranho pelo pedido de casamento não aceito. Pelo contrário, nunca haviam ficado mais loucos um pelo outro na vida inteira.

Quando Beck começou a tirar a blusa dela. A porta do quarto foi aberta de uma maneira inesperada.

- Jade! O que?

O casal se separou imediatamente. Jade havia arregalado os olhos ao ver quem era.

- JONAS?

O homem parado na porta soltou suas malas no chão, com um olhar aterrorizado e uma expressão de descrença na face, ele fitou angustiadamente o cara estranho em cima de sua mulher.

- Jade... Quem é ele? – Jonas apontou para Beck. Ao mesmo tempo Jade se levantou e ela não fazia ideia do que dizer. Nunca havia imaginado que existia a possibilidade de Jonas a flagrar com Beck.

Oh droga, tudo pareceu bom demais...

Ela demorou um tempo até ter fôlego o suficiente para dizer.

- E-Ele é o meu namorado. – Ela limpou a garganta. Jonas a fitou incrédulo. – Quer dizer... Ele é o meu antigo namorado. E eu pretendo me separar de você. Eu quero o divórcio, Jonas.

- O que? – Ele ainda se encontrava em choque. Não que amasse Jade de verdade, ele a odiava. Mas ainda sim a via como sua propriedade... Era nauseante a ver com outro... O namorado antigo. Ser traído não era uma coisa que ele aceitaria. Aquele ódio que ele tinha por Jade foi crescendo em seu peito.

Jonas avançou para cima dela, xingando e gritando palavras que a machucou muito. Beck não tardou em ficar no meio dos dois, puxando Jade para trás de si.

- Não encoste um dedo nela.

Naquele momento, ao ficar frente a frente de Jonas, Beck notou algo muito familiar. Algo na cabeça dele estava trabalhando para lembrar-se de onde aquele cara vinha...

Oh sim. Agora ele sabia.

- Quem é você para me dizer o que eu devo ou não fazer? Agora saia da frente. Voce já teve o que queria desta vagabunda, saia da frente!

Esse canalha havia chamado a sua Jade de vagabunda. E ele não sairia tão fácil desta agora. Beck deu um murro no estomago de Jonas, o fazendo cair no chão com força.

Jade estremeceu e Beck sentiu. Ele achou que fosse por causa da dor que Jonas estaria sentindo. O moreno apertou com força os punhos até deixar marcas de meia-lua nas palmas da mão.

Não foi o suficiente.

Ela gosta dele. Beck pensou. Ela gosta dele! Agora fazia sentido o porquê que ela não queria se separar de Jonas tão fácil, contar a Liz sobre ele e até mesmo aceitar seu pedido de casamento!

Jonas se levantou com um salto, tudo num movimento rápido demais. Jade não pode fazer nada quando o viu dando um soco no rosto de Beck. Ela gritou e tentou parar com aquilo, mas já é bem claro o que sempre acontece em situações assim.

Os dois a ignoraram e um briga de socos e sangue começou.

Por sorte, Beck estava muito melhor do que o sedentário Jonas. Não por toda a sua força muscular, mas como a ira que tinha em seu coração por Jade gostar dele e por Jonas ser o Jonas de Tori  também. Oh, ele mal esperava até contar a ela que o seu namoradinho tinha a Vega.

Quando ele conseguiu dar o seu segundo golpe contra Beck, Jade meteu-se entre os dois, afastando Beck para trás e olhando para ele.

- Ei... Ei amor. – Ela sussurrou e isto deixou Jonas nervoso.

- Como você pode ser tão miserável? – Ele cuspiu. – Eu já desconfiava de você desde a primeira vez que te vi. Você só pensa em sexo, não é?

Beck tentou golpear Jonas de novo. Mas Jade segurou o braço dele mais rápido.

- Não Beck! – Ela estava tentando ignorar Jonas. – Não faça isto.

- É Beck. – Jonas deu ênfase no nome dele. – Não faça isto.

- Cale a sua boca! – Jade se virou para ele. – Eu sei o que você fazia toda vez que saia de casa, seu safado! Eu sei que você me traia com aquelas putas baratas todas as vezes que me embebedar para poder se aproveitar de mim não era o suficiente!

Ele riu, revirou os olhos e voltou a fitar a garota. – Você nunca foi boa de cama mesmo. Eu aposto que o seu tal de Beck irá lhe deixar logo. E você terá que cuidar de Liz sozinha, seu maior medo... Não é? Inacreditável que você só continuou comigo por causa dela.

A morena arregalou os olhos e o fitou com toda a fúria que podia. – Você mentiu para mim!

- Você também mentiu. Estamos quites agora, vadia.

- Nunca mais a chame de vadia. – Beck não estava disposto a perder qualquer oportunidade de acabar com Jonas, mas antes que ele pudesse bater naquele desgraçado, Jade o empurrou para trás.

- Isto é entre mim e ele. – Ela murmurou. Então se virou para Jonas outra vez. – Eu estou indo com Beck, Jonas. Eu quero me divorciar de você, ainda hoje se for possível. Eu vou me mudar e nunca mais você vai ter que me ver de novo. Entendeu? E eu vou levar Liz comigo.

Apenas a última frase fez algum efeito em Jonas. – Você não vai levar Liz.

- Ela é minha filha! – Jade e Beck falaram ao mesmo tempo. Jonas arregalou os olhos.

- Ela é filha dele? – Ele apontou para Beck surpreso. – Ele é ... o Beck?

- É! – Jade gritou. – E é meu direito tanto quanto dele, termos Liz. Ela é minha filha, como você mesmo disse, ela é minha obrigação. Não sua. Você só foi um namorado temporário, seu cretino!

- Eu não me importo com o que você pensa de mim. – Jonas proferiu. – Eu não me importo quem eu sou para você. Mas Elizabeth é minha por direito também. Nós estamos casados no cartório e há um papel que mostra isto. Eu tenho tanto direito de ficar com ela quanto vocês dois.

Jade nunca teve tanto nojo de Jonas em sua vida.

- Você é um monstro insuportável! Eu errei em ter me precipitado e ter achado que te amava! Era tudo um hormônio estúpido de gravidez.  – Ela disse, mas Beck sabia que Jade iria avançar em Jonas e ele também sabia que ela poderia se machucar. O moreno agarrou os braços de Jade a segurou.

- Liz é a minha filha. E você nunca vai conseguir a guarda dela, nem mesmo que qualquer juiz do mundo aprove.

- Olha só. – Jonas riu. – É o papai defenfendo seus direitos?

- É bom saber que eu já te conheço de algum lugar, Jonas. Ah... Sim... – Beck começou, com um sorriso vitorioso. – Você sabe que eu conheço Tori Vega?

Aquilo deixou Jonas terrivelmente pálido. E Jade se surpreendeu e não entendeu o porquê da reação dele ao ouvir aquele nome.

- C-Como você a conhece?

- Ela é uma velha amiga. Tanto minha quanto de Jade também. – Beck continuou a sorrir. – Já contou para Jade que a traiu e ainda trai com Tori também?

A morena arregalou os olhos, e sim, ela não também não gostava de Jonas. Está claro. Mas descobriu que ele a traia com Tori!

TORI VEGA!

- O que? Isto é verdade? – Ela perguntou perplexa. – Como você está namorando ela?

Jonas teve que revirar os olhos, ele tentou não se importar muito. – É verdade sim. Eu te traio com Tori a mais de um ano e meio, e ela é amor da minha vida.

- Ela era! – Jade gritou enfurecida.

- Ela não vai continuar com você quando souber que também estava com Jade.- Beck concluiu o que Jade disse.

- Veremos. – Jonas estava iludido com o fato de Tori ser sua cachorrinha.

- Você é insuportável, Jonas. – Ela voltou a despreza-lo ao ver o sorrisinho canalha dele.

- Eu já disse que não me importo com o que você pensa, Jade. – Jonas voltou para porta, pegando suas malas. – Eu dou duas horas para os dois tirarem todas as suas coisas daqui. Eu vou pegar Liz na creche e a partir daí, ela ficará comigo.

- Certo. – Beck concordou não tão de imediato assim. E Jade ficou angustiada ao o ver dizendo algo assim, até que se lembrou que Liz havia sido pega mais cedo por eles e que estava sob a proteção de Cat, Jonas chegaria na creche e não a encontraria. – Veremos se é isto que o juiz concordará.

- Existe um truque que tem o nome de ‘suborno’. – Ele disse antes de se virar e sair de casa.

Beck se virou para ela. – Está tudo bem com você?

Jade assentiu. – Sim, e você?

- Também. – Beck olhou ao redor. – Vamos pegar as suas coisas e as de Liz, então podemos ir para meu apartamento.

- Único lugar feliz. – Jade fechou os olhos e Beck a beijou na testa.

- Sim, único lugar feliz. Está tudo terminando agora, meu amor.

Jade sorriu com aquilo.

Os dois começaram a fazer as malas de uma maneira muito rápida para duas horas. Jade não havia se importado muito com objetos (mas todas suas tesouras, livros e filmes já estavam bem guardados) e havia pego mais roupas. E como não tinha muitas malas disponíveis em casa, Jade decidiu colocar as coisas em suas bolsas grandes ou em caixas de mudança. Eles concordaram que poderiam vim e pegar os brinquedos de Liz mais tarde.

Jade estava aliviada por estar indo embora dali.

E antes mesmo de chegarem ao apartamento de Beck e desempacotarem as coisas, foram em busca da filha.

Nada parecia tão certo a partir daí.

Ainda era a mesma noite e Jade estava esperando Jonas, a algum momento, ligar para o seu celular. Ela ficou ao lado dele o tempo inteiro, esperando-o tocar.

A televisão estava ligada, Beck estava trazendo pizza para elas e Liz estava brincando no tapete quentinho da sala com peças de letras do alfabeto.

- Liz... Eu e Beck precisamos dizer algo a você, querida. – Jade começou, dando  sinal para ele. Beck sabia que Jade não iria falar isto, ela estava muito chocada ainda e nunca foi muito boa com sentimentos de crianças.

- Ah...– Ela parou de brincar e se levantou. Beck fez um sinal para ela vim e Liz se sentou no sofá com eles. – Lembra-se da conversa de carro hoje mais cedo? – A garotinha assentiu. – Então, agora é oficial. Eu e mamãe estamos juntos.

O sorriso de Liz cresceu. Jade não imaginou que isto iria acontecer. Imaginando a inteligência da filha, apostava que ela iria ficar brava e confusa e faria um monte de perguntas sobre Jonas.

- Sério? E agora você é... – A garota olhou para Beck ansiosa.

- Só sou se você quiser. – Ele a deu um de seus melhores sorrisos.

- Eu quero! Eu quero! – Liz gritou e pulou no colo de Beck. Jade ficou mais confusa ainda e tentou pegar informações com o olhar dele.

Mas no final de contas, não foi preciso... Liz que gritou.

- Agora você é o meu papai! Mamãe, tá vendo só? Ele é o meu papai agora! – Ela continuou agitada. – E vocês são namorados também!

- É Lizzie... Ele é o meu namorado e ele é o seu papai.