Nós seguimos diretamente para uma das empresas de aluguel de carro mais baratas de New York, e alugamos um carro simples. Por sorte, Dustin e Tom tem 16 anos e carteiras de habilitação.

– Quanto tempo leva daqui até Columbus? – pergunta Tom, assim que entramos no carro.

– Dez horas – respondo imediatamente.

– Como você sabe? – Dustin pergunta.

– Sei lá, eu só sei – digo, enquanto ajusto o GPS que veio no carro para nos levar até o endereço de Tamsin.

– A 40 metros, vire à esquerda – diz a voz feminina mecânica do GPS.

– Ok, não precisamos de ajuda para sair do estacionamento – diz Tom, não para mim ou Dustin e sim para o GPS. Ele dá a partida no carro.

– Se você for tagarelar com essa voz chata o caminho inteiro eu vou pedir para algum monstro me matar – diz Dustin, também para o GPS.

– Se vocês dois pretendem ficar conversando com o GPS daqui até Columbus eu prefiro ir andando sozinha – aviso.

– É melhor você parar de falar comigo senão ela vai sair do carro – diz Dustin para o GPS. Impossível não rir.

– Não acredito que estamos conversando com um GPS – digo.

– Nem eu – diz Dustin, se esticando e deitando no banco traseiro inteiro do carro. – Me acordem quando virem a placa de bem vindos a Columbus.

– Eu acho melhor você não dormir – digo de brincadeira.

– Por que não? – ele pergunta. – São 10 horas de viagem.

– Se acontecer alguma coisa você vai morrer no carro enquanto eu e Tom vamos fugir – digo, me fingindo de séria.

– Escuta aqui, isso é um absurdo – Dustin resmunga. – Não posso nem sequer dormir sem ameaças de morrer sozinho e dormindo. Emma, você é má!

– Só às vezes – digo.

Tom ri e diz:

– Essa viagem vai ser engraçada.

Pelo visto, as ameaças de deixar Dustin morrer sozinho e dormindo não funcionaram. Em menos de uma hora de estrada,  ele abandona a conversa.

– Devemos acordá-lo? – pergunto, preocupada. Se acontecer alguma coisa e ele estiver dormindo nós com certeza estamos encrencados.

– Não – diz Tom. – Deixa ele dormir um pouco.

Eu nem pergunto mais nada. Ficamos em silêncio por um tempo, vendo a vegetação em torno da interestadual passar voando pela janela. De repente, quase me assustando ao quebrar o silêncio, Tom faz uma pergunta:

– Você está com medo, Emma?

– Medo... De que, exatamente? – pergunto de volta, confusa.

– Como assim, você não está com medo de enfrentar uma meio-sangue filha de Hécate que lutou no exército de Cronos na mesma batalha que você? E ela perdeu.

– ...enfrentar?

– É – diz Tom. Só então ele percebe minha expressão facial. – Espera... Você não tinha pensado nessa parte.

Eu quase entro em colapso. Enfrentar... Tamsin? A garota que sofria bullying na escola, e me fazia ter pena dela? Não havia pensado nisso, definitivamente.

– Obrigada por lembrar – digo. – Eu não tinha pensado que teríamos que lutar com Tamsin. Deuses, como eu sou idiota!

Ah, claro. Emma idiota. Pensei o que, que íamos chegar, convidá-la para vir conosco para o acampamento e ela ia aceitar? Fala sério.

– Não é – diz Tom. – Mas é óbvio que ela não vai ser pacífica.

– É, eu sei – concordo.

Ele me observa por alguns segundos enquanto eu penso na possível luta contra a ex garota solitária da escola.

– Você está preparada pra lutar contra ela? – pergunta Tom, delicadamente.

– Eu estou preparada pra lutar contra qualquer um – digo, confiante.

– Até contra mim? – ele pergunta, se fazendo de chocado.

– É diferente – digo. – Nunca vou precisar lutar contra você.

– Quem garante? Eu posso virar mau – diz ele. – Eu posso--

– Cala a boca, Tom.