Learning How To Breath escrita por Saáh


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Heey people, como vão?
Obrigada por todoos os reviews...mesmo *---*
Bem, vamos ao que interessa porque estou um pouco sem tempo.
Espero que gostem desse capítulo que eu, particularmente, adorei escrever hahaha'
Boa leitura :)



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3 dias. Aposto que o tempo nunca demorou tanto para passar.

Logo na primeira noite ajeitei em um lençol as poucas roupas que tinha, embolando tudo. Na verdade, não havia nada ali que eu quisesse levar de recordação, mas com certeza precisaria do que vestir. Como não tinha muitas peças mesmo, não foi difícil decidir o que levar.

As horas se arrastavam e tentava parecer normal por fora enquanto a ansiedade e adrenalina me corroíam por dentro. Sofia havia ido até a cidade junto com Katy, então já nos despedimos logo pela manhã enquanto escutava suas recomendações para que eu tomasse cuidado. A tarde tomei meu banho antes com a desculpa de que precisava ajudar Olivia mais cedo com o jantar. Nada que alguém desconfiasse.

Kyle havia me encontrado um pouco depois. Ele sempre soube tudo o que havia acontecido e talvez por isso tenha me apoiado tanto e prometido tomar conta de Sofia e Olivia enquanto eu não estivesse por lá. Não sabia explicar o quanto havia me apegado nele por esse tempo, mas sabia que sentiria sua falta.

Estava sentada me concentrando em cortar os legumes ao invés de meus dedos quando vi as primeiras velas sendo acessas. Havia chegado a hora. Olivia olhou para trás e me acompanhou enquanto ia em direção ao meu quarto. Era um simples cômodo, como de todos os outros funcionários. Só havia uma pequena cama e cômoda, que faziam com que fosse um pouco difícil até de andar. Peguei embaixo da cama o lençol com as roupas e Olivia apareceu na porta com um livro em mãos que conhecia muito bem.

– Leve, por favor.

– Mas Olivia, você ama esse romance, eu não posso..

– Leve. É meu presente a você. Quero que continue aprimorando sua leitura e vi como você sempre olhou para este livro com um carinho especial.

– Foi o primeiro que consegui ler sozinha. - Disse pegando o livro em minhas mãos e olhando para ela com os olhos já com lágrimas. - O que você me ensinou.

–Sim, e você foi minha melhor aluna. Tirando quando se irritava e fazia pedacinhos de todas as letras que não entendia.

Nós duas rimos. Luke nunca se preocupou com a minha educação e, inclusive, impediu que meu pai me levasse a escola quando era mais nova. Graças a Olivia aprendi a ler e escrever, sempre tendo aulas durante as madrugadas para que ninguém visse.

– Obrigada, por tudo Olivia. Você sabe que sempre será minha mãe. - falei enquanto a abraçava.

– E você sempre será a minha menina, minha joia rara. - Nos afastamos e ela me deu um beijo na testa - Agora vá, seu pai já deve estar esperando.

Concordei e a abracei brevemente de novo antes de sair pela porta segurando nas mãos o livro e a mala improvisada. Como já esperava e tinha observado durante esses dias, não vou difícil chegar até o estábulo sem ser percebida. A maioria dos funcionários estavam em seus próprios cômodos a essa hora e nenhum dos capangas de Luke passavam por ali.

Parei ao lado de alguns cavalos passando a mão em um deles para que não fizesse barulho. Eles já estavam acostumados com a minha presença, já que desde pequena sempre soube cavalgar e andava em alguns deles frequentemente.

Abaixei meu corpo incluindo o livro no meio das roupas e fiquei em pé novamente olhando para os lados. Era exatamente ali que deveria ficar, mas ainda não via meu pai em lugar nenhum. O tempo foi passando e comecei a ficar preocupada se teria acontecido alguma coisa com ele. Tive que me esconder duas vezes quando alguns infelizes do Luke passaram por ali. Por sorte, eles ascenderam algumas tochas deixando o local e o caminho bem iluminados.

Continuei sem saber direito se voltava ou se ainda esperava. Luke talvez já tivesse percebido que eu não estava ali para servir seu jantar, mas meu pai havia prometido e tinha certeza de que ele viria. Ele tinha que vir.

A noite começou a se tornar um pouco fria e passei os braços sobre meu peito tentando me esquentar. A todo instante meus olhos observavam qualquer movimento por perto enquanto meus ouvidos tentavam escutar algum barulho diferente. Depois de mais algum tempo, vi uma sombra se aproximando e me abaixei rapidamente atrás de uma cerca velha que estava usando como esconderijo. Entre as frestas da tábua, consegui ver quando o estranho caminhava na direção em que eu estava.

Meu coração se acelerou pensando em que encrencas eu estaria se Luke descobrisse essa tentativa de fuga, até que percebi que este homem não carregava nenhuma arma junto de si. Lentamente levantei sentindo o alívio por ver que meu pai realmente estava ali. Ele não tinha desistido de mim, ele havia mesmo vindo me salvar.

Rapidamente peguei minhas coisas do chão e pulei a cerca. Comecei a dar os primeiros passos em sua direção quando o som de um tiro interrompeu o silêncio da noite, fazendo com que alguns pássaros voassem pelas árvores e os cavalos ficassem alvoroçados no estábulo.

Parei de andar no mesmo instante que meus olhos se arregalaram vendo meu pai aos poucos perdendo as forças e levando seu corpo de encontro ao chão.

Não, não, não. Isso não estava acontecendo.

Corri em sua direção sem me importar que mais pessoas agora estivessem ali. Não me importava com nenhum deles, só precisava do meu pai. Cai de joelhos no chão ao seu lado e levantei seu corpo olhando para seu rosto. Ele estava com os olhos arregalados e os lábios trêmulos. Segurei suas mãos frias enquanto as lágrimas já escorriam pelos meus olhos. Tentei falar mas meus lábios somente se moviam sem emitir nenhum som. Senti quando seus dedos apertaram levemente a mão que eu segurava e, segundos depois, vi seus olhos se fecharem lentamente enquanto uma expressão triste permanecia em sua face.

Abracei seu corpo desejando que eu também morresse ali, junto com ele. Se alguma arma estivesse ao meu alcance, provavelmente seria isso que teria feito. Ao invés disso, senti mãos fortes agarrando meus braços e levantando meu corpo enquanto ainda observava a imagem do meu pai sem vida no chão.

– Alice.

Só depois de alguns segundos consegui focalizar Luke com uma expressão séria parado na minha frente.

– Você ultrapassou todos os limites agora. - ele disse.

Olhei em volta percebendo que haviam mais dois homens com ele, mas suas armas estavam rentes ao corpo. Somente uma pessoa segurava firmemente uma espingarda nas mãos.

– SEU MONSTRO! - Gritei com a voz rouca e fui para cima de Luke.

No momento de surpresa ele deixou que a arma caísse no chão. Minhas mãos foram em direção ao seu pescoço apertando com força enquanto sentia a raiva em cada célula do meu corpo. Por que ele havia feito isso? Por que matar meu pai?

Não demorou muito para que os outros dois me impedissem de causar algum dano maior nele. Enquanto meus pulsos eram puxados violentamente para longe de seu pescoço, estiquei minhas mãos arranhando os dois lados de sua face. Minhas unhas estavam um pouco grandes, então consegui fazer algum estrago em seu rosto.

Luke colocou a mão sobre os arranhados, vendo o sangue que começava a sair sobre eles. Já sabia o que viria em seguida, então somente fechei os olhos enquanto sentia sua mão forte dando um tapa em meu rosto.

–SUA VAGABUNDA! VOCÊ VAI TER O QUE MERECE AGORA!

Luke agarrou meus cabelos e começou a me arrastar para o lado oposto da casa enquanto os outros dois ainda seguravam meus pulsos. Não conseguia ver direito para onde íamos mas reconheci brevemente como sendo um local abandonado em que a porta era trancada com vários cadeados e todos os funcionários eram expressamente proibidos de irem até ali. A lembrança da voz de Christian me atingiu.



"- Papai diz para não chegar perto dali - ele falou enquanto apontava o lugar estranho - Será que tem algum monstro preso por lá?

– Ou uma bruxa quem sabe? - Sorri e Christian revirou os olhos.

– Alice, bruxas não existem.

– E monstros também não. Então talvez a gente encontre alguns esqueletos. - Ele riu e segurei suas mãos enquanto corríamos em direção a velha porta.

Paramos em frente, olhando para todos os cadeados.

– Estranho, muito estranho - ele disse.

– É. Será que a gente consegue a chave de...

– CRIANÇAS! O que fazem ai?

Viramos rapidamente vendo Sofia se aproximar.

– Christian, você sabe que não deve vir aqui. E você também Alice. Não fiquem procurando encrencas.

Concordamos e com um suspiro de derrota voltamos a andar de mãos dadas até a casa junto com Sofia."



Meu corpo foi jogado bruscamente no chão e finalmente consegui olhar para cima vendo como era o interior daquele lugar. Já tinha visto algumas imagens parecidas em livros que Olivia me mostrou. Parecia uma espécie de masmorra e estava dentro de algum tipo de cela, com grades em volta das paredes de pedras. Era escuro e frio ali. A pouca iluminação vinha das tochas que eles seguravam.

Luke fez um sinal e os dois homens deixaram as tochas em locais que iluminavam o pequeno espaço, vindo em minha direção e segurando meus braços. Ele se aproximou lentamente, deixando o rosto ferido próximo ao meu.

– Bem, primeiro acho que precisamos ajeitar suas unhas minha querida. Não queremos que incidentes como esse - falou apontando para o próprio rosto - se repitam.

Com isso, ele retirou de um canto um facão que já estava um pouco enferrujado mas parecia extremamente afiado. Provavelmente serviria para a poda de algumas plantas, mas nas mãos de Luke, ele tinha outra finalidade.

Esticando meus braços e deixando minhas mãos espalmadas sobre a pequena mesa que havia em um canto, senti quando a lâmina parou brevemente sobre a unha de um dedo. Logo em seguida meu grito ecoava pelas paredes enquanto podia sentir que a ponta do dedo havia sido cortada fora.

Lentamente, um por um, Luke foi fazendo os mesmos movimentos, às vezes com um pouco mais de força em alguns dedos, outras sem nenhum tipo de cerimônia. No final da última facada, meus gritos já haviam se perdido junto com a minha voz.

Senti meu corpo sendo puxado para cima novamente e fui arrastada até a outra parede, onde prenderam meus braços em algumas correntes, de uma forma que meus pés tocavam levemente o chão. Meus pulsos protestaram um pouco por sentir quase todo meu peso neles, mas tentei não me importar tanto com a dor, até que Luke apareceu com um chicote nas mãos que parecia ter algo parecido com espinhos em toda sua extensão.

– Por que? - perguntei em um sussurro e escutei a risada de Luke enquanto ele caminhava lentamente e parava atrás de mim, em um lugar que não conseguia vê-lo.

– Ora minha cara Alice, você achou mesmo que eu aguentava a toa todas as suas insolências durante esses anos? Só estava esperando o momento em que poderia fazer o que sempre quis. Você Alice, como já disse, não é só mais uma funcionária. Você agora passou a ser o meu objeto de diversão particular. E pode ter certeza que você será punida de acordo com tudo o que fez até hoje.

E foi então que senti o chicote indo de encontro com as minhas costas. E depois de novo, e de novo, ao ponto que podia jurar que os espinhos estavam grudando em minha pele e deixando marcas permanentes aonde atingiam. Meus gritos ou qualquer outro som não seriam suficientes para expressar toda a dor que sentia.

Meu corpo aos poucos foi perdendo qualquer força que ainda restava. A dor em meu pulso ou dedos já não significava nada perto do que sentia em minhas costas ou mesmo em meu peito, ainda lembrando da imagem do corpo caído em meus braços.

Quando Luke decidiu que eu havia recebido uma punição suficiente, eles pegaram suas tochas e saíram da cela, trancando ela em seguida. Vi os outros dois homens andando pelo corredor, mas Luke continuou ali parado.

–Alice? - Olhei para cima e ele sorriu - Feliz aniversário.

Luke saiu andando em seguida. Escutei quando a porta no final do corredor, que simbolizava a saída, foi trancada com todos aqueles cadeados novamente. Não conseguia enxergar nada naquela escuridão enquanto sentia o sangue escorrendo nas minhas mãos e nas costas.

Não há palavras para descrever toda a dor que estava sentindo. Talvez um pouco eram as consequências dos ferimentos, mas a dor de perder meu pai era maior que qualquer outra. Ele sempre havia sido meu ponto de equilíbrio, o lugar em que poderia buscar carinho, atenção e principalmente amor, um sentimento que só ele conseguia me passar. Nunca teve habilidades ou sequer delicadeza para fazer o papel de mãe, mas com ele me sentia quase completa, como se só sua presença já fosse o suficiente para mim. Senti um sorriso débil se espalhando por meus lábios enquanto relembrava dos momentos juntos com ele. Todo o afeto em horas inesperadas, todas as broncas que ele não teve coragem de terminar, toda a pureza e calma que só ele me transmitia. Doía pensar que não poderia abraça-lo novamente ou que não sentiria mais aquele cheiro tão próprio dele. Doía mais ainda saber que ele não era a primeira pessoa que amava e perdia assim, inesperadamente. Só que dessa vez, seria para sempre. As imagens daquela noite voltaram a passar diante dos meus olhos e aos poucos, não consegui mais diferenciar a realidade de um pesadelo, perdendo a consciência que me restava.

E fiquei ali durante 3 dias sem nenhuma luz ou qualquer outro sinal de vida. Descobri um pouco depois que seriam mais frequentes as minhas visitas aquele lugar.



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