Learning How To Breath escrita por Saáh


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Ok, eu sei, realmente demorei dessa vez. Acreditem, foi o recorde de tempo que fiquei sem postar e isso não me deixa feliz. Espero que entendam e aceitem minhas sinceras desculpas por isso, mas é que no momento realmente se tornou complicado escrever. Deixando de lado questões pessoais, o tempo que sobra para escrever não está sendo muito, e tenho que admitir que também está faltando certa motivação para isso. Mas também como leitora de outras fics, não acho justo toda essa demora, então tentarei melhorar essa parte e espero a opinião sincera de vocês sobre tudo o que está acontecendo na fic, se devo continuar assim ou não. Não pretendo parar a fic, longe disso, até porque já tenho praticamente todas as ideias formadas, mas acho que é mais a falta de tempo e motivação mesmo que estão me atrasando.
Me arrisco a dizer que esse é um dos capítulos mais aguardado. Realmente tentei fazer algo bom nele e espero que gostem. Nele também está o que foi sugerido pela Kelly Vasconcellos naquela promoção que teve há alguns capítulos atrás. Espero que tenha saído algo de acordo.
Bem, é isso, boa leitura a todos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/257692/chapter/22

Encarava os braços de Luke balançando enquanto seu corpo era carregado nos ombros de Ryan. Um pouco de sangue manchava sua blusa, mas ele não parecia estar se importando com isso. Enquanto caminhávamos, Christian me informava daquilo que eu ainda não sabia. Olivia havia escutado alguns barulhos e resolveu chamar Christian e Ryan, que estavam na sala conversando. Eles pediram para que ela voltasse ao próprio quarto e não saísse de lá enquanto não amanhecesse. De certa forma isso foi bom, assim Olivia não se envolveria com problemas também. Eles não tinham certeza de quem estava no quarto comigo, mas também foram surpreendidos por encontrar Luke, o que fez com que questionássemos como ele ficou sabendo de tudo o que havia acontecido, já que provavelmente Katy ainda deveria estar chegando naquela noite onde Luke estava.

O ar frio da noite percorreu o campo aberto fazendo com que escutássemos o barulho dos galhos das árvores balançando. Um arrepiou passou pelo meu corpo enquanto encarava a porta velha que se aproximava e era nosso destino. A princípio concordei com a ideia que Christian e Ryan tiveram de que Luke merecia o mesmo, ou pelo menos uma parte, do que havia proporcionado aos outros, inclusive comigo, e não havia melhor lugar para isso do que a masmorra. Mas o simples fato de chegar próximo e imaginar tudo o que havia ali embaixo, todas as lembranças que aquele lugar trazia e, ainda, tudo o que poderia haver ali e ainda não conhecia, trazia um sentimento gigantesco de desconforto.

Ryan parou em frente à porta e pegou a chave estendendo-a para que Christian a destranca-se, encontrando assim a escada que levava ao lugar fonte de tantos pesadelos. Christian aproveitou a tocha acessa que segurava para ascender outras duas que estavam ali antes da escada, me passando uma delas para que eu pudesse enxergar o caminho. Christian fez um sinal para que eu fosse primeiro, iluminando os degraus para Ryan. Quando estava na metade, o local se tornou ainda mais escuro, sendo iluminado somente pelas chamas das tochas enquanto ouvia o barulho da porta sendo fechada logo atrás.

Os degraus terminaram e pude perceber melhor pela primeira vez como aquele lugar realmente era. O teto era baixo trazendo certa sensação de claustrofobia. Estávamos em um espaço irregular de onde era possível ver três túneis que surgiam, um a esquerda, outro a nossa frente e outro a direita.

- E agora? - Ryan disse.

Christian desceu os últimos degraus e parou ao nosso lado, olhando em volta também.

- Bem.. que eu me lembre, sempre era levada para esse lado - disse apontando o túnel a nossa direita.

- Acho que vou levar nosso querido papai para lá então. - Ryan disse.

- E eu vou verificar o que tem nesses outros corredores. Você vem comigo Alice ou prefere ir com o Ryan? - Christian perguntou e encarei o corpo de Luke ainda desacordado sobre os ombros de Ryan. Senti a sensação ruim voltando novamente e virei na direção de Christian.

- Vou com você.

Christian entregou a terceira tocha para Ryan, que a segurou de modo desajeitado enquanto ainda tentava equilibrar o corpo de Luke sobre seu ombro, e esperamos que ele entrasse no corredor para que seguíssemos adiante. Assim que não foi mais possível ver a tocha de Ryan, senti a luz forte na mão de Christian iluminando meu rosto.

- Tudo bem? - ele perguntou.

Sem confiar se a minha voz demonstraria a confiança certa, apenas acenei e comecei a andar em direção ao corredor do meio. Conforme andava, sentia como se o túnel aumentasse tanto em sua largura como altura. Os passos de Christian atrás de mim pararam quando encontramos a primeira porta. Não havia maçaneta nela, de modo que só a empurrei e senti o ar abafado que vinha de dentro da sala. Ficamos parados enquanto as tochas iluminavam cerca de cinco prateleiras enormes, todos repletas de objetos. A princípio considerei que fossem objetos para a manutenção do lugar, mas uma segunda olhada fez com que percebesse o que eram realmente.

- Tudo isso são objetos de.. de

- De tortura - disse completando a frase que Christian parecia não conseguir terminar. Talvez só agora a dimensão de tudo aquilo estivesse surgindo.

Christian deu um passo a frente e começou a examinar melhor cada peça. Armas, chicotes, serras, correntes, entre outras coisas que talvez tivessem alguma utilidade, mas que naquele lugar o único objetivo seria causar a dor. Deixei Christian dentro da sala e caminhei em direção ao corredor encontrando outras três portas com objetos semelhantes dentro. Alguns até mesmo pareciam estar sujos, com cabelos, sangue e outras coisas que preferi não olhar tão de perto.

Voltei a sala onde havia deixado Christian e vi que ele não estava mais lá, mas pude perceber que haviam alguns espaços nas prateleiras. Preferi não saber o que estava faltando e decidi ir até o outro corredor ver se ele estava por lá ou o que encontraria por ali.

Diferente dos outros, o corredor da esquerda possuía somente uma porta maior no final. Esse corredor em particular parecia ainda mais claustrofóbico e escuro que os demais, mas não era tão comprido. Conforme ia caminhando por ele, comecei a perceber um cheiro estranho e não familiar, como se algo estivesse estragado ou ali há muito tempo. O cheiro ficou um pouco mais forte em frente à porta indicando que o quer fosse a fonte disso, estava ali dentro mesmo.

Esta porta em particular não era tão rústica ou antiga como as demais. Parecia ser feita de metal e possuía uma alavanca grande. Assim que puxei ela e empurrei a porta para o lado, o cheiro podre triplicou, fazendo com que eu colocasse a mão sobre o nariz antes de qualquer coisa. Senti meu estômago revirando quando consegui iluminar todo o local. Era uma espécie de sala de descarte, do tipo que se usa para restos de materiais que não serão mais usados e um dia irão para o lixo. Mas ali, os objetos descartados eram restos humanos. Havia desde braços decapitados a crânios em extrema decomposição junto com outros pós espalhados pelo chão que preferi não observar muito. O cheiro pareceu se tornar ainda mais insuportável, principalmente depois de descobrir que ele era referente a decomposição de corpos, e comecei a pensar no que aquelas pessoas poderiam ter passado ali dentro antes de morrerem. Talvez fosse alguém que eu conhecia. Talvez Kyle ou... meu pai.

- Alice?

Deixei a tocha cair no chão e um suspiro de alívio acabou saindo por meus lábios quando Ryan a pegou do chão e iluminou o próprio rosto.

- O que foi? - Ele se aproximou e segurou meu braço - Você está pálida.

Ele parou, parecendo se incomodar com o cheiro, e observou pela primeira vez o que estava ali. Vi sua expressão alterando e fechei os olhos tentando não pensar no que ele estava vendo, mas era impossível tirar aquelas imagens dos meus pensamentos.

- Vamos embora daqui - Ryan disse com uma voz diferente e abri os olhos deixando que ele me guiasse para longe dali.

Andamos em silêncio pelo corredor, voltando ao espaço aberto e seguindo em direção ao outro corredor, aquele em que sempre andei de olhos fechados quando era levada para a masmorra. Como já esperava, aquele era o corredor onde as celas e seus prisioneiros ficavam, mas diferente do que imaginava, só havia no máxima cerca de seis celas vazias. Todas, menos uma.

Christian estava ali parado, observando o mais novo prisioneiro. Luke estava acordado, amarrado em uma cadeira, com o rosto molhado enquanto a água e o sangue escorriam por seu pescoço. Ele parecia como alguém que havia passado um bom tempo embaixo d'água e tentava recuperar o fôlego, o que fez com que ele não percebesse imediatamente que eu também estava ali.

Escutei um barulho e olhei para o lado vendo que Christian e Ryan ajeitavam algumas coisas que haviam buscado no outro corredor, entre eles um balde com uma faixa do lado e um tipo de tampa por cima. O que quer que houvesse ali, estava fazendo o barulho que chamou minha atenção. Um gemido fez com que eu olhasse para frente novamente.

Quando olhei a cadeira, percebi que os braços e pernas de Luke estavam presos por uma corrente com uma espécie de espinhos, onde quanto mais força ele fazia para se libertar, mais os espinhos enterravam em sua pele, o que provavelmente era a fonte do sangue que começava a pingar no chão.

- Ok, acho que chegou a hora de fazermos algumas perguntinhas, papai - Christian disse de modo sarcástico.

Luke olhou para cima e abriu um dos seus sorrisos irônicos. - Resolveram inovar em como desejar boas-vindas?

Christian ignorou Luke e deu um passo a frente parando perto dele.

- O que é essa masmorra e para que ela existe?

Luke começou a olhar em volta tentando parecer confuso, mas seu sorriso denunciava a farsa - Estou tão surpreso quanto vocês. Como encontraram esse local? E onde fica?

- Ah, por favor, não se faça de desentendido. Por acaso foi na sua gaveta que encontramos a chave da porta principal, então não pense que vamos cair nessa sua conversa - Ryan disse se aproximando de onde Christian estava. - Diga, quem você traz nessa masmorra?

- Ryan, meu filho, quem eu traria aqui? Não tenho motivos. - Luke olhou para mim e sorriu.

- Para alguma finalidade isso existe. Então para que? Responda. Quem você traz aqui e por que? - Christian disse parecendo ignorar qualquer olhar de Luke.

- Não é com isso que você deveria se preocupar mais, sinceramente.

- Certo. Então talvez eu devesse mudar para outro certo fato. Por que você tem tantas propriedades em seu nome? - Christian disse depois de perceber que talvez Luke realmente não responderia a nenhuma das perguntas anteriores.

- Terras que conquistei com muito esforço, vocês sabem muito bem disso.

- Sei. Bem, vamos ver se você resolve dizer algo com um pequeno incentivo - Christian disse mostrando claramente que não estava com paciência, e se afastou indo em direção ao balde de onde havia escutado algum barulho.

Ele retirou a tampa que estava por cima, que percebi ser cheia de pequenos furos, e consegui ver o que havia feito aqueles barulhos. Dentro do balde havia cerca de 3 a 5 ratos de tamanho médio, que a julgar pelo tempo que deveriam estar ali, pareciam cheios de fome. O tamanho do balde não permitia que eles fugissem e ia questionar o que eles fariam quando Ryan se aproximou de Luke e, com uma faca, cortou a camisa que ele usava, revelando o peito cheio de pelos e a barriga já meio saliente.

- O que vocês vão fazer? - perguntei.

- Sabe Alice, quando estávamos no colégio fizemos algumas aulas militares e de combates, caso um dia haja uma guerra. Dentre essas aulas aprendemos algumas coisas como torturas de inimigos onde por acaso, uma delas, envolvia esse objeto - Ryan sorriu enquanto prendia a faixa atrás da cadeira e prensava o balde contra a barriga de Luke.

- Se vocês acham que vão conseguir me atingir com essa brincadeirinha, estão muito enganados - Luke disse, mas podia ouvir certo nervosismo em sua voz.

- Bem, acho que o enganado aqui é você - Christian disse e se aproximou com uma das tochas na mão, esquentando o fundo do balde.

Luke fez uma careta enquanto a agitação dentro do balde podia ser escutada. Christian afastou a tocha poucos segundos depois e parou em frente à cadeira de Luke.

- Agora nos diga, por que tantas propriedades? O que você, o xerife e o prefeito escondem?

- Por que tamanho interesse nisso?

- Não é você quem faz as perguntas aqui. Responda.

Luke começou a rir - Terá que fazer melhor do que isso.

 As chamas tocaram novamente o fundo do balde e pude escutar o barulho agoniado dos pobres ratos tentando escapar correndo para longe do calor e encontrando assim, como única fonte incerta de escapatória, a pele de Luke. Seu rosto cheio de caretas deixava claro que ele lutava para não gritar, mas ainda assim ele não parecia estar sofrendo tanto. Ou não tanto como eu gostaria.

Segurei o braço de Christian e ele se afastou. Fiz um leve sinal em direção a tocha e ele ergueu uma sobrancelha como se questionasse se era isso mesmo, mas não esperei que ele fizesse alguma pergunta.  Segurei a tocha mais firme em minhas mãos e parei em frente a Luke que agora sorria muito mais do que em qualquer outro momento.

- Ora ora Alice, olha só onde nos encontramos novamente. Diria que estou um pouco surpreso por estarmos em papéis inversos, mas isso é algo que pode ser mudado facilmente.

- Responda a pergunta. O que você, o xerife e o prefeito escondem?

- Sabe Alice, de todas as pessoas que fariam essa pergunta, você com certeza deveria ser a primeira a imaginar a resposta. Por acaso já não tivemos algo relacionado com favores entre eu, você e o xerife? E olha que você deve ter sido muito boa para ele vir me pedir mais e...

- Responda! Não estamos falando de mim.

- Mas você é a parte interessante da história. É por sua causa, em partes, que todo esse esquema ainda está de pé.  Que outro corpo eu negociaria para...

Os gritos de Luke ecoaram pelas paredes quando encostei a tocha no balde, deixando as chamas ainda mais próximas do que todas as outras vezes. Seu pequeno autocontrole parecia ter ido embora enquanto ele ainda gritava e o som do sofrimento dos ratos era escutado ao fundo. Luke começou a se debater na cadeira, parecendo tentar encontrar uma forma de fugir, mas isso só fez com os espinhos que o seguravam enterrassem ainda mais em suas pernas e braços.

Naquele momento, por mais que fosse errado, talvez desumano, e até meio insano, o prazer de ouvir os gritos de Luke tomou conta de mim.

- Alice, acho que chega. - ouvi Christian dizendo, mas aquilo não teve relevância.

As chamas, o suor se misturando ao sangue pelo corpo de Luke, seus gritos, tudo fazia com que eu revivesse todos os horrores que ele me fez passar, toda a humilhação, todas as dores que ele infringiu a mim e a tantos outros. Aquele era o meu pequeno momento de prazer por vê-lo sofrer, por vingar a mim e a todos que ele machucara e estavam ou não vivos. E ainda assim, aquilo não seria suficiente para esquecer todas as dores.

- Ok, ok... eu vou dizer ... só.... pare.. - Ele disse em meio aos gritos e deixei que Christian me puxasse para longe da cadeira.

Luke respirava mais uma vez com dificuldade, mas seu semblante estava mais pálido e toda a sua coragem parecia ter ido embora.

- Nós... fizemos um pacto.

- Pacto? - Ryan disse enquanto Luke ainda tentava respirar da forma correta.

- Sim. Há anos atrás resolvi investigar porque o prefeito e o xerife estavam em seus cargos há tantos anos e ninguém nunca os havia tirado deles. Pessoas morreram servindo de exemplo para suas demonstrações de poder, o que fez com que os outros temessem por suas vidas e pelo que eles poderiam fazer. Isso me instigou a procurar mais e descobri tudo de errado que eles fizeram, tudo o que os tirariam de seus postos.

- E por que não os denunciou? - Ryan perguntou.

- É óbvio. Porque eu queria ser igual a eles, ser melhor. Eu também queria ser temido, queria ter tudo e todos aos meus pés. E consegui.

- Então você simplesmente fez um pacto com eles por... poder? E todas as pessoas que moram na cidade e na região? Você não pensa neles?- Christian perguntou.

- Penso quando preciso que eles façam algo a meu favor. O poder é a melhor coisa que um homem pode ter. Não mediria esforços para conseguir isso.

 - E todos os que morreram? - perguntei - Todo esse poder vale tanto assim a morte de outras pessoas?

- Vale a de cada uma. E ainda faria tudo de novo.

Encostei a tocha no fundo do balde fazendo com que Luke gritasse. Pensava em todas as pessoas que sofreram, em todas as mortes provocadas pelo simples desejo primitivo de uma criatura, que nem deveria ser chamado de homem, para conseguir poder. Abaixei a tocha e me afastei enojada por tudo o que havia escutado e pensava. Isso pareceu um sinal para que Christian e Ryan se aproximassem e retirassem a faixa que prendia o balde na barriga de Luke, puxando ele para cima e já colocando a tampa em seguida. Ainda mais sangue escorria agora de sua barriga e parecia que parte da gordura havia ido embora junto com sua pele. O suspiro de alívio foi audível e me aproximei de Luke com um sorriso no rosto da mesma forma que ele estava minutos antes.

- Saiba que eu parei pelos ratos, não por você.

Me afastei e vi que Christian e Ryan me encaravam, não como se achassem errado o que estava fazendo, mas com pesar talvez por ter a confirmação de tudo o que o próprio pai havia feito. Percebi também que os dois não pareciam querer continuar ali, mas ainda havia algo que me intrigava e precisava saber.

- Tragam ele para outro lugar - falei e os dois me olharam com certa curiosidade, mas foram em direção a Luke, começando a retirar a corrente de espinhos que o prendia.

Segurei em minhas mãos o balde e outros objetos, deixando para trás uma sacola com o que parecia ser algumas ferramentas. Com a tocha na outra mão, caminhei em direção à outra cela e fiquei ali esperando até que Ryan e Christian apareceram segurando Luke e o levaram até aquele pequeno espaço extremamente conhecido por nós dois. Pelo leve sorriso de Luke, pude ver que ele também havia pensado nisso. Coloquei o balde, a corda de espinhos e outros objetos em um canto, deixando somente a tocha em minhas mãos, e observei enquanto eles prendiam os braços de Luke no alto com as cordas que ficavam presas no teto, fazendo com que a ponta de seus pés tocassem levemente o chão.

- Eu quero ficar a sós com ele.

- Mas Alice, acho que... - Christian começou a dizer, mas o interrompi.

- Por favor. Me dê cinco minutos.

Ryan saiu do espaço sem dizer nada, mas Christian ainda continuou me encarando por um tempo. Por fim, ele se aproximou dando um breve beijo em minha testa e se afastou dizendo: - Estaremos logo ali.

Pelo tom de voz que ele usou, a frase parecia ser dirigida mais para Luke do que para mim. Esperei até que o brilho das tochas não estivesse mais visível, e virei encarando Luke pendurado.

- É assim que você se sente Alice? Sabe, não é tão ruim. Acho que eu deveria usar outras coisas quando você estiver aqui.

Dei um passo a frente e olhei em direção ao rosto dele - Por que eu?

- O que?

- Por que eu? Não que seja justo, mas entre tantas pessoas, por que eu?

Talvez fosse o cansaço por tudo o que havia acontecido, ou todas as lembranças que haviam voltado juntas, mas não consegui segurar as lágrimas que começaram a se acumular.

- Sabe - Luke começou parecendo fazer certo esforço para não demonstrar as dores que certamente deveria estar sentido. - Não sei por que exatamente você ainda se questiona sobre isso.

- Talvez porque nunca obtive uma resposta.

Luke deu um sorriso fraco - É tão óbvio Alice. Você é bonita, sozinha no mundo depois do que podemos considerar abandono dos próprios pais - Luke disse com um sorriso ainda maior. - Por que eu não aproveitaria essa situação? Por que eu não usaria você para satisfazer qualquer desejo?

- Porque você já tem alguém para isso.

- E por acaso você deveria saber que eu gosto do que é proibido, gosto de quebrar as regras, da adrenalina de fazer coisas erradas.

- Esses não parecem ser motivos suficientes para provocar tudo o que você fez comigo. Por que as torturas? Por que me trazer para esse lugar?

- Porque é divertido, e para quem matou por tão pouco, acredite, isso não é nada.

Aquilo não era tudo. Eu podia ver em seus olhos que não era, mas ele não falaria. Todo o sofrimento, todas as dores, todo o sangue derramado.. para que? Com que finalidade? A verdade é que naquele momento comecei a desejar que Luke realmente morresse para que todos pudessem ficar livres daquele monstro. Mas eu não poderia fazer isso. Não poderia deixar que tudo acontecesse tão fácil.

- De repente eu também comecei a gostar da adrenalina, de fazer coisas erradas.

Antes que Luke respondesse, sua expressão se contorceu em extrema dor enquanto meu braço estava esticado, deixando as chamas da tocha tocarem sua pele queimando parte do braço próximo do ombro, enquanto suas mãos ainda estavam amarradas nas cordas presas no teto, e o lado esquerdo de seu rosto. Olhava para as chamas sendo refletidas nos olhos quase fechados de Luke que escorriam lágrimas, mas a única coisa que conseguia lembrar era de todos aqueles corpos na outra sala, de quantas vidas foram perdidas por atos fúteis, de quantas pessoas sofreram por isso. Aquela dor não era nada perto de tudo o que ele havia causado. E ainda assim, quando ele não conseguia aguentar mais e deixou que a dor transparecesse em gritos abafados, quando a pele de seu rosto pareceu se desfigurar como se derretesse, não pude deixar de pensar em Ryan e Christian próximos dali. Eles não mereciam o pai que tinham, mas mesmo assim, apesar de tudo, ele ainda era pai.

Dei dois passos para trás, me afastando e observando Luke parecendo tentar recuperar o controle. A pele onde as chamas haviam tocado estava extremamente estranha, o que me fez tomar a consciência de que aquilo continuaria ali por um tempo, bastante tempo. Não me sentia feliz pelo que havia feito, o que se transformou ainda mais em ódio quando Luke conseguiu me encarar novamente e começou a rir.

- Você... é fraca demais para isso Alice.

Virei as costas e me afastei, parando no caminho e pegando em minhas mãos o balde com os ratos.

- Você... ainda não tem ...sua liberdade - Luke disse com dificuldade mas ainda podia ver o sorriso em seu rosto deformado. - Nunca terá.

Parei ao lado de Luke e dei dois tapas em sua barriga, onde a pele dilacerada ainda sangrava, o que fez com que um gemido escapasse pelos seus lábios.

- Espero que aproveite a estadia. Tenho certeza que irá adorar. Aproveite o tempo para pensar em como sair dai.

Virei caminhando em direção ao corredor, e um pouco depois encontrando Christian e Ryan. O silêncio predominava enquanto caminhávamos em direção à escada, mas em minha cabeça ainda ecoava a risada de Luke. Quando saímos ao ar livre e frio da noite, os dois pararam enquanto eu abaixava e retirava a tampa do balde, libertando os ratos.

- E agora? - Christian disse depois que levantei novamente.

- Agora - encarei minhas mãos sujas de sangue e olhei para eles novamente. - Acredito que seja uma ótima hora para fugirmos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Learning How To Breath" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.