Learning How To Breath escrita por Saáh


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Heey people. Como vão?
Bem, obrigada pelos reviews no capítulo passado. E só uma pequena coisa: nem sempre tudo é exatamente como parece u.u
Espero que gostem do capítulo que eu particularmente não achei tão bom, mas enfim.

Beijoos e boa leitura



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Fugir.

Essa simples palavra se caracterizava como um sonho praticamente impossível de ser realizado, e ainda assim, ali estava ele, se tornando real. O medo ainda existia e estava presente, mas até eu tinha que admitir que o plano era bom. Acima de tudo, precisava acreditar que daria certo, pois caso contrário, estaríamos realmente com muitos outros problemas, a começar por quando Luke saísse da masmorra.

Antes que o sol terminasse de se pôr, já estava com minhas coisas prontas. Na verdade, não tinha muito o que levar, mas com certeza alguns dos vestidos esfarrapados seriam úteis. Tentava não pensar no que iria fazer enquanto esperava que Christian e Ryan aparecessem, mas isso era quase impossível. O frio na barriga não me deixava pensar direito e achei que enlouqueceria se continuasse dentro daquele quarto esperando por eles, de modo que me convenci de que ainda havia algo que precisava fazer antes de partir.

Sai para o corredor, certificando de que ninguém estava acordado ou andando por ali. Parei em frente à porta velha e conhecida que trazia um sentimento confortável de proteção. Empurrei a porta devagar e espiei pelo pequeno claro que surgiu. É claro que Olivia sabia quem era.

- Alice? O que houve?

Suspirei e passei para dentro do quarto, fechando a porta atrás de mim. Olivia acendeu uma das velas enquanto isso e pude ver que ela me analisava.

- O que aconteceu? - perguntou com aquele mesmo tom maternal de preocupação.

Havia conseguido limpar o sangue em minhas mãos e estava com um vestido diferente, mas Olivia me conhecia há muito tempo para saber quando estava com algo errado.

- Olivia eu.. vim me despedir de você.

Esperava que ela me repreendesse, que dissesse para eu não ir, que isso era besteira. Na verdade, estava com tanto medo que parecia tentar buscar uma desculpa para ficar. Mas Olivia jamais faria isso.

- Você vai fugir Alice. Finalmente - Ela disse com um sorriso no rosto.

- Sim, junto com Christian e Ryan. Não sei para onde iremos e... mesmo se soubesse acho melhor não dizer. - Olhei para Olivia vendo que ela estava realmente feliz por mim. Continuei analisando seu rosto e lembranças boas surgiram. Todas as vezes em que caía e ela me ajudava com os machucados, que tinha pesadelos e a procurava, todos os momentos em que precisei de um apoio e encontrava o amor de mãe e pai com ela. Não poderia simplesmente deixá-la ali. -Venha junto conosco Olivia. Tenho certeza que Ryan e Christian não vão se importar.

Isso parecia ter a deixado surpresa - Eu? Imagina Alice. Não posso. Esse é o seu sonho. E mesmo que eu fugisse, o que poderia fazer lá fora? Lá não passarei de uma velha idosa e não terei nenhuma serventia.

- Terá sim! E isso será o de menos. Não é justo você continuar aqui nas mãos de Luke. E bem... eu me sentiria melhor com você junto.

Olivia deu um sorriso caloroso e paciente - Querida, você está com medo do desconhecido. Sei que para você será uma grande mudança finalmente poder conhecer novos lugares, novas pessoas. Adoraria estar junto, adoraria continuar cuidando de você. Mas entenda, lá fora não é mais o meu lugar. Mas é o seu. Essa agora é a sua oportunidade, então não a desperdice!

As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e abracei Olivia o mais forte que pude sentindo que ela também retribuía.

- Sentirei sua falta Olivia. Muita! Você sempre foi como uma mãe para mim e sabe que jamais esqueceria tudo o que fez para me ajudar.

- Tudo bem Alice. Você também é como uma filha para mim. Uma filha muito querida e amada. Mas uma hora temos que deixar cada um seguir o seu caminho e ir atrás de algo melhor. Bem melhor.

Me afastei vendo que ela segurava para não deixar que as lágrimas escorressem.

- Eu prometo que volto para te buscar Olivia! Você e a Sofia. Assim que for possível eu volto.

Olivia sorriu e balançou a cabeça levemente.

-Seja feliz Alice.

Ela me puxou para um último abraço que demorou tanto quanto o outro, mas ela logo se afastou.

- Agora vá. Vá e não olhe para trás. Ficaremos bem.

Ela sorriu e me afastei dando uma última olhada para seu rosto sorridente que agora não segurava mais as lágrimas nos olhos. Fechei a porta atrás de mim com um suspiro, já imaginando o quanto sentiria falta de Olivia e pensando em voltar para pedir mais um último abraço, quando vi Ryan vindo em minha direção.

- Alice! Achamos que tivesse acontecido algo. - Ele disse se aproximando e parou me olhando com o que pareceu uma expressão preocupada - Ou... realmente aconteceu alguma coisa?

Percebi que as lágrimas ainda escorriam pelos meus olhos e sequei-as da melhor forma que pude enquanto caminhava em sua direção e íamos juntos para onde era o meu quarto - Não, só estava me despedindo de Olivia.

- Ah.. - Ryan não pareceu ser capaz de dizer mais nada e continuamos em silêncio até que vi Christian parado na porta do quarto.

Expliquei a ele onde estava e Christian, diferente de Ryan, tentou ajudar com algumas palavras de conforto dizendo que Olivia e Sofia ficariam bem e que eles dariam um jeito para que eu as encontrasse em breve. Christian disse então que havia um detalhe que ele e Ryan haviam pensado e gostariam muito que eu concordasse, só que precisaria fazer algo para isso.

- Bem, nós chegamos ao acordo que devemos tentar alcançar a cidade mais distante possível durante o dia, e então procurar um lugar onde possamos ficar a noite. O problema é que precisamos passar pelo centro da cidade, como você bem sabe. E talvez lá possa haver alguém que nos reconheça, e bem, algumas pessoas conhecem você também então achamos meio arriscado tentarmos ir com você assim..... ao natural.

- E isso significa que eu terei que fazer o que? - perguntei confusa.

Os dois se entreolharam e Ryan estendeu algumas roupas que havia pegado dentro de uma sacola. Segurei-as reparando que eram uma calça, uma blusa e um casaco masculinos.

- Isso é...

- São minhas roupas - Christian disse - Provavelmente ficarão grandes, mas dará para disfarçar que não é você.

- Mas e quanto a vocês?

- Bem, não é tão raro nos irmos para a cidade Alice, ou além dela. - Ryan disse de forma um pouco debochada e Christian o encarou.

- Ninguém desconfiará de nada se nos ver lá. Já você... - Christian disse.

- Ok, eu entendi. Vou vestir as suas roupas.

- Então...vamos ir ajeitando os cavalos enquanto você se troca. Te esperamos nos estábulos - Christian disse e saiu do quarto acompanhado de Ryan que levava a pequena trouxa com as minhas coisas.

Assim que a porta fechou, suspirei olhando para a roupa. Isso tinha que dar certo, precisava dar! Pensando no quão rápido Luke poderia talvez conseguir sair da masmorra, tirei rapidamente o meu vestido e coloquei as roupas de Christian. Elas realmente haviam ficado um pouco grandes, mas um cinto fez com que a calça ficasse onde deveria e a blusa e casaco largos ajudaram há disfarçar o pouco volume de seios existente. Calcei uma botina velha que usava quando ia andar a cavalo e que por sorte era tão masculina como as roupas. Dobrei o vestido para levar junto também e sai do quarto com ele em mãos, tentando andar o mais rápido que conseguisse. Nunca havia colocado calças antes, então não foi exatamente como se me acostumasse logo com elas.

Christian e Ryan já estavam com três cavalos fora do estábulo e acabavam de ajeitar nossas coisas sobre eles quando os alcancei.

- Bom trabalho. - Christian disse, mas foi interrompido por Ryan passando na frente dele.

- Claro, todos os homens gostam de usar cabelos grandes né? - Ele disse e me entregou um chapéu, provavelmente de algum dos cangaceiros de Luke, e uma fita. Amarrei meu cabelo no melhor coque possível e ajeitei o chapéu de modo que escondesse os fios compridos. - Bem melhor. Agora vamos antes que amanheça realmente.

Subimos os três em cada cavalo e seguimos em direção a lateral da propriedade, onde havia a floresta tão esquecida por qualquer um que morasse ali. A cerca havia sido danificada naquele local há muito tempo e jamais alguém havia se preocupado com ela. Havia sido esse mesmo lugar que usei para tentar escapar em outras duas tentativas.

Assim que a cerca ficou para trás, seguimos com os cavalos correndo o mais rápido que eles conseguiam. Logo não estávamos mais dentro da floresta, mas sim na estrada principal de terra utilizada por moradores de outras propriedades da região para chegar até a cidade. O sol começava a se pôr no horizonte mostrando os telhados escurecidos das pequenas casas da cidade que se aproximava.

Minhas mãos seguraram mais firmes as rédeas do meu cavalo quando diminuímos a velocidade. O suor fazia com que elas escorregassem, mas mantive elas ali, apertando-as e tentando aliviar a tensão que sentia no ar. Em todo o percurso não falamos nada um com o outro. Sabia que o ponto chave de nossa fuga seria passar pela cidade. Se algo acontecesse de errado ali, seria muito mais complicado seguir adiante. E ali também havia certos outros escravos de Luke, pessoas que trabalhavam para ele em outras funções.

Conforme entramos na cidade e andávamos pelas ruas de ladrilhos, podia escutar o barulho dos moradores acordando para mais um dia de trabalho. Poucos já estavam na rua, e era justamente por essas pessoas que nos viam que simplesmente não continuamos correndo com os cavalos. Isso atrairia muito mais atenção, e não era isso que queríamos.

Usei a aba do chapéu para tentar esconder meu rosto o máximo possível, olhando somente para onde deveria seguir.

Depois de algum tempo, quando achava que já deveríamos estar próximos a saída, vi Christian parando seu cavalo a minha frente e Ryan apareceu do meu lado, fazendo um sinal para que eu parasse. Ia perguntar o que era quando escutei a voz.

- Ora ora. O que fazem tão cedo por aqui? - Os passos da botina indicavam que ele se aproximava e não precisava olhar para saber que o xerife estava ali com seu sorriso estúpido na cara. Tentei manter a mesma posição, mas abaixei levemente a cabeça, tentando cobrir ainda mais meu rosto com o chapéu.  Tinha que admitir que o corpo de Ryan ao meu lado impedia que o xerife visse muita coisa além do cavalo.

- Estamos indo levar algumas coisas que nosso pai pediu - Christian respondeu.

- Para onde? Se quiser posso eu mesmo entregar para vocês terem menos trabalho.

- Não é por aqui. É em Bridge, aquela cidade próxima a propriedade do senhor Jason. Estaremos visitando alguns conhecidos por lá também. - Christian respondeu - Agora se nos der licença, temos um pouco de pressa em chegar lá para voltarmos antes do anoitecer.

- Claro Christian, mas se me permitem, não gostariam de primeiro tomar um café da manhã e deixar que seus cavalos descansem mais um pouco? Parece ser uma longa viagem.

- Não é necessário. Estamos bem assim.

- Então talvez eu possa oferecer um ou até dois dos meus capangas para acompanhá-los. Vejo que seu pai só disponibilizou um e.. sinceramente.. ele não me parece capaz de protegê-los de grande coisa - O xerife disse e tentei me manter o mais imóvel possível enquanto o tom de curiosidade era presente em sua voz.

Ryan respondeu enquanto podia ver Christian se mexendo desconfortável sobre seu cavalo - Nós é que solicitamos mais privacidade e o escolhemos. E acredito xerife que o senhor saiba que já temos idade suficiente para cuidarmos de nós mesmos. Sabemos nos defender muito bem. Agora se não se importa, já estamos indo mesmo.

- Claro, claro. Não desejo atrasá-los - O xerife disse, mas pelo seu tom duvidava que isso fosse verdade - Mandem lembranças minhas ao pai de vocês. Diga que em breve aparecerei pela propriedade. Faz muito tempo que não realizo uma visita - Sua risada ecoou e as respostas que Ryan e Christian deram se tornaram nulas enquanto sentia o calafrio percorrendo meu corpo. As visitas do xerife nunca eram boas.

Christian voltou a seguir em seu cavalo e o acompanhei, com Ryan andando calmamente ao meu lado. Passamos por mais algumas pessoas, mas nenhuma delas parece ter se importado. Podia jurar sentir o olhar do xerife nos acompanhando e justamente por isso não ousei olhar para trás e levantar mais meu rosto.

Somente quando a estrada surgiu novamente a nossa frente e Christian voltou a correr é que deixei que um suspiro de alívio saísse por meus lábios, o que foi logo seguido pela risada grave de Ryan que me acompanhava.

- Não precisa ficar tremendo assim Alice. Você é um homem. Estava parecendo mais um maricas enquanto o xerife estava ali.

Olhei para as minhas mãos que escorregavam constantemente pelas rédeas e percebi o quanto elas realmente tremiam.

- Talvez o problema seja que eu não sou um homem Ryan. E se você não percebeu, poderíamos ter sido descobertos facilmente ali. O xerife me conhece muito bem.

- Bem até demais eu diria. - Ele disse e encarei seu rosto, encontrando seu semblante pensativo, de quem sabia exatamente tudo o que havia acontecido e parecia analisar a situação.

- Tudo bem Alice? - Christian perguntou, trazendo seu cavalo para o meu outro lado.

- Sim. Estamos indo mesmo para Bridge?

- Era uma das opções - Christian respondeu - Mas agora acho melhor a descartamos e irmos pela outra estrada, além das montanhas. Para Bridge as estradas são muito amplas e sem nada em volta. Caso o xerife desconfie de algo e resolva nos procurar, ele provavelmente nos acharia facilmente.

- Concordo - Ryan disse - Mas acho que as montanhas seriam arriscadas também. A estrada margeada pela floresta é nossa melhor opção.

- Mas você sabe que não há muitas casas de hospedagem decentes por ali, onde possamos passar a noite.

- Tenho certeza de que Alice já dormiu em lugares piores. - Ryan respondeu e o encarei percebendo o que eles estavam querendo dizer.

- Tudo bem, eu realmente não me importo. Se esse for o melhor lugar para fugirmos, não me importo de dormir nem que seja no chão.

- Não deixaríamos. Você dormirá em uma cama - Christian disse.

- E de preferência continue com essas calças. - Ryan respondeu e o olhei assustada.

- Por acaso pretende tentar algo durante a noite?

- Bem, não é má ideia considerando que eu também não pretendo dormir no chão. Mas digo isso não por mim, mas pelos outros que estarão por lá. Encontrar uma mulher nesses lugares, para os outros homens que estão ali, significa diversão. E eles não irão se interessar em ajudá-la a fugir como nós, bons cavalheiros, acredite - Ryan disse.

- E nós, bons cavalheiros, faremos de tudo para que eles não percebam que existe uma dama tão linda entre eles. - Christian disse com uma voz séria, e vi seu olhar zangado em direção a Ryan. Mas então ele me encarou novamente e sorriu, puxando uma das minhas mãos e dando um beijo sobre elas - Não se preocupe. Não vamos deixar que nada de ruim aconteça.

O caminho seguiu tranquilamente. Passamos por um ou outro viajante, mas nenhum conhecido ou que nos achasse interessante. As árvores nas margens da estrada formavam uma boa sombra e proteção para o sol em nossas cabeças. Paramos apenas uma vez para nos alimentar e deixar que os cavalos descansassem um pouco. Ainda assim, nessa única vez ficamos dentro da floresta, um pouco longe da estrada, mais por precaução do que por necessidade. De lá pude observar alguns sons da natureza a nossa volta e relaxar um pouco pela tensão que sentia.

Já havia escurecido quando encontramos um local para descansar que Ryan e Christian julgaram ser seguro e não tão óbvio. Ryan ficou junto comigo mais longe do lado de fora enquanto Christian foi até o local ver se havia algum quarto disponível.

O estabelecimento não parecia estar tão cheio, mas de onde estávamos, podia escutar a música que tocava dentro de um galpão acompanhada de muitas risadas masculinas e alguns gritos femininos. Enquanto observava, vi um homem que aparentava estar muito bêbado saindo do local acompanhado de uma mulher seminua, que não parecia estar se importando com isso, e também demonstrava que havia bebido muito. Enquanto andavam, o homem deu um tampa forte na bunda dela, o que fez com que ela começasse a rir como se ele tivesse contado a piada mais engraçada do mundo. Comecei a questionar o quanto de cérebro havia dentro da cabeça daquelas pessoas. Eles andaram e entraram em uma das várias portas que havia próximas a entrada, o que julguei ser onde ficavam os quartos.

Ryan deu uma risada ou meu lado e olhei vendo que ele me observava

- Agora você com certeza entendeu o que falamos sobre esses lugares.

Desviei o olhar e olhei para frente vendo que Christian saia do local. Deixei Ryan para trás, sem qualquer resposta e fui em direção a ele.

- Deu certo?

- Sim, há alguns quartos vazios. Mas acho melhor não chamarmos tanta atenção. Vamos logo para o quarto.

Pude perceber que Ryan estava logo atrás nos seguindo enquanto caminhávamos. Deixamos os cavalos no que parecia ser um estábulo improvisado, e caminhamos em direção a uma das várias portas. A que paramos em frente ficava em um canto mais afastado, longe da estrada e do local onde os sons irritantes viam.

A porta rangeu quando Christian a forçou para abrir e quando ele iluminou o local com a tocha que carregava, pude ver que era tudo extremamente simples mesmo, mas Ryan tinha razão quando disse que eu já estive em lugares piores.  Havia duas camas de solteiro, um criado ao lado de uma delas, um pequeno armário que parecia prestes a desabar com algum peso a mais, um espelho já bem embaçado e um quadro em uma das paredes. Enquanto andava, pude ver que havia uma leve camada de poeira sobre os objetos e no chão, mas fora isso, tudo parecia bem organizado. Pelo menos os lençóis em cima das camas pareciam estar limpos.

Combinamos que seria melhor tomarmos um banho, jantar e descansar o máximo possível para o próximo dia. Christian se ofereceu para me acompanhar até o local onde podíamos nos limpar quando descobri, com horror, que alguns homens acabavam tomando banho juntos para economizar tempo. A primeira coisa que pensei foi em um homem bêbado como o que vira mais cedo aparecendo enquanto eu estivesse por ali. O nojo fez com que um calafrio percorresse meu corpo só em imaginar. 

Christian emprestou outras roupas suas para que eu pudesse colocar, já que todos concordaram que não seria bom que eu usasse vestidos ali. O lugar reservado para o banho ficava em uma área um pouco mais aberta, longe dos quartos. Possuía um pequeno cercado com pedaços de madeira ao lado de um fosso com um balde pendurado para que pudéssemos pegar a água. De longe pude perceber pela altura da madeira que o cercado provavelmente esconderia só da minha barriga para baixo.

- Acho que você pode esperar aqui. - Virei para Christian sentindo minhas bochechas corarem. Ele apenas sorriu e virou de costas, deixando que eu andasse até o local.

Confiava em Christian para que ele não olhasse para trás, mas mesmo assim preferi tomar banho de costas para onde ele estava parado.

Como não usava nenhuma tocha, o local estava escuro, sendo levemente iluminado pelo luar. Não considerei isso como algo ruim, mas sim uma ajuda para diminuir meu constrangimento. Aproveitei para lavar as roupas sujas de Christian que eu havia usado, tentando demorar o menos possível. Utilizei uma das toalhas que estava no quarto para me enxugar e vesti rapidamente a camisa larga com uma das calças, acabando molhando a barra dela no processo, e calcei meus sapatos que estavam do lado de fora, caminhando até onde Christian esperava com a tocha acessa.

Enquanto me aproximava, comecei a estranhar o formato de suas costas, até que um leve balançar de cabeça e olhar para trás me mostraram que não era ele.

- Não era o Christian que deveria estar aqui?

- E estava, mas a reserva está no nome dele então precisava que ele fosse buscar nosso jantar. - Encarei Ryan ainda desconfiada e ele sorriu - Fique tranquila, eu não vi nada demais. Apesar de que tenho que admitir que foi uma grande tentação ficar imaginando daqui, sem olhar.

O encarei incrédula - Ryan, você não está insinuando...

- Você é bonita Alice, isso não é novidade. Que mal há em um homem desejar você? Isso não tem nada de errado.

- Para mim tem.  - disse e comecei a caminhar para longe dele.

- Alice, me espere. Eu estava brincando - Ryan disse enquanto escutava seus passos mais rápidos para me alcançar. - Ei, não fique nervosa. - Ele disse já ao meu lado.

- Tudo bem Ryan, não estou nervosa, só não diga mais esse tipo de coisa. Você sabe de quem eu gosto.

- Sim, mas não vejo porque não expressar o que eu sinto e penso. Mas tudo bem, eu respeito isso.

Ele disse e percorreu o resto do caminho ao meu lado em silêncio enquanto eu pensava em suas palavras. Quando entramos no quarto, Christian já estava lá com nosso jantar. Após comer, enquanto os dois revezavam em tomar banho, acabei dormindo no meio das duas camas que havíamos juntado. Acordei somente no meio da noite, quando o silêncio predominava pelo local.

Olhei para o lado vendo as costas de Ryan enquanto sentia o calor do corpo de Christian do meu outro lado. Encarei o teto sendo iluminado pelas chamas da vela ainda acessa. Era tudo muito velho e bem sujo, com uma pintura já bem desgastada mostrando como o local realmente era precário e ainda assim, a cor não transmitia a total noção de hospitalidade com aquele tom de verde musgo. E olhando para aquele teto puído, um sorriso acabou se espalhando pelo meu rosto. Quem visse provavelmente não entenderia, mas ali, vendo um teto completamente desconhecido com duas pessoas ao meu lado que eu conhecia e começava a confiar, a verdadeira noção de tudo aquilo apareceu.

Eu finalmente havia conseguido. Finalmente estava livre. 


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