Learning How To Breath escrita por Saáh


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Olaá pessoal.
Desculpem a demora, tive alguns problemas pessoais. Agradeço imensamente todos os reviews que recebi e espero que esse capítulo esteja ao alcance do que vocês pensaram, ou não hahaha
Boa leitura :)



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– Por favor - Christian disse parando na minha frente enquanto via sua testa enrugada por qualquer coisa que ele estivesse pensando - Não me esconda mais nada.

– Tudo bem - disse com um suspiro e comecei a abotoar o vestido novamente - Eu vou contar.

– Ok.

Sentei no chão e ele fez o mesmo parando na minha frente e segurando minhas mãos. Sua camisa ainda estava ao meu lado no chão e podia escutar através do teto a força da chuva que caia. Encarei seu rosto que permanecia com uma expressão ansiosa enquanto me perguntava como contaria a ele tudo o que o próprio pai havia feito comigo. Não havia uma forma fácil de fazer isso.

– Christian eu.. não sei por onde começar, mas realmente queria que você acreditasse ou pelo menos tentasse aceitar o que vou lhe contar.

– Tudo bem Alice. Acho que você poderia começar explicando como conseguiu essas cicatrizes. Tenho certeza que você não caiu.

– Não, não cai. - Suspirei e encarei seu rosto - Lembra-se da masmorra?

– Masmorra? Uma que você citou naquela vez em que Olivia sumiu?

– Sim. Eu sei que você não acreditou naquela época, mas ela realmente existe Christian. Você se lembra daquela porta velha depois dos estábulos, que estava sempre trancada com milhões de chaves e éramos obrigados a ficar longe dela?

– Sim, lembro. Está me dizendo que ali existe uma masmorra? Não tem lógica, não há espaço.

– Ali não. A única coisa que você encontrará quando abrir a porta será uma escada que levará a masmorra que fica embaixo do solo, em uma espécie de túneis subterrâneos. Ou é isso que imagino que sejam pelo menos.

– E essas marcas aconteceram nesse lugar?

– Sim - desviei o olhar e encarei nossas mãos juntas - Por diversas vezes estive lá.

– Por que?

– Talvez por desrespeitar regras, fazer coisas inapropriadas ou simplesmente para diversão de alguns.

– Diversão de quem? Quem fez tudo isso?

Encarei seu rosto novamente - Você sabe Christian.

Ele ficou me olhando e aos poucos a compreensão foi tomando suas feições ao mesmo tempo em que uma forma de horror chegava aos seus olhos.

- Não me diga que... - ele parou de falar segurando mais firme minha mão.

– Quem sempre foi mais hostil quando eu estava por perto? Quem você viu conversando comigo de forma estranha ou mesmo diferente? Quem você encontrou no meu quarto, misteriosamente, no dia depois do baile?

Christian se afastou levantando do chão e andando para outro canto. Levantei também permanecendo aonde estava - Não, não pode ser ele.

– E por que não?

– Meu pai não faria isso.. ele...

– Mas fez. Foi seu pai Christian, ele quem fez tudo isso, ele quem provocou essas marcas e me prendeu na masmorra.

– Mas por que? Isso não justifica essas atitudes. - Ele disse virando e me encarando novamente.

– Nada justifica o que ele fez até hoje.

– Ele não faria isso. Até havia percebido a forma estranha como ele agia perto de você, mas isso... isso é demais até para ele. Não. Deve ter sido um momento de nervosismo Alice.

– Momentos de nervosismo que se repetem? Momentos em que ele ri do que está fazendo? Isso não me parece um simples ato impensado. Ele sabia muito bem Christian, tinha plena consciência de tudo. Se não soubesse não teria repetido os mesmos erros.

– Ele não é assim Alice, não o julgue.. - Christian disse de modo brusco e andei alguns passos para trás abaixando o tom da minha voz.

– Não espere que eu acredite que esteja errada com os atos de uma pessoa que abusou de mim durante todos esses anos.

Ficamos encarando um ao outro por um tempo enquanto sua expressão se tornava mais confusa e ele parecia tentar encontrar palavras para dizer.

– Abusou?

– Sim, de todas as formas que você possa imaginar. Ele me prendeu na masmorra, me deixou por lá sem comida ou água por mais de um dia. Ele torturou Olivia naquele dia em que ninguém me escutou. - Parei e encarei seu rosto inquieto - Ele matou meu pai Christian, só porque íamos fugir. Você não sabe a dor que é ver a vida de alguém que você ama indo embora bem na sua frente, enquanto você segura um corpo sem qualquer reação. - Respirei fundo tentando controlar as lágrimas que ameaçavam cair - E, principalmente, sou eu quem ele procura nas noites em que não está ao lado da sua mãe. - disse deixando transparecer todo o nojo que sentia por isso.

– Mas ... você..

–Eu não tenho escolha Christian. Digo e penso que será diferente, mas no final seu pai sempre é mais forte. Essa é a verdade. Isso para ele é só um jogo onde ele sempre vence. Sempre.

Christian ficou me encarando enquanto esperava que ele sentisse revolta pelas atitudes do pai, dissesse palavras de apoio, tomasse qualquer atitude, mas o nada foi o que tive como retorno das minhas palavras. Ele continuou ali, parado, me olhando com os mesmos olhos confusos que pareciam preferir não acreditar no que escutavam.

–Me desculpe Alice, eu..

– Tudo bem. Seu olhar já disse tudo.

Dei mais um passo para trás e abri a porta do galpão enquanto o silêncio ainda reinava, mas dessa vez não me importei. Os pingos gelados da chuva caiam sobre a minha pele fazendo com que cruzasse os braços na frente do meu próprio corpo.

Christian não acreditava em mim, ou melhor, ele preferia pensar que o pai não seria capaz de tais atos. Não sabia qual das duas partes era pior. Talvez realmente não fosse fácil aceitar isso assim, de uma hora para outra, mas esperava pelo menos uma pequena demonstração de compreensão da parte dele. A verdade era que talvez tivesse criado expectativas demais sobre alguém que não pudesse realizá-las.

Sem me importar com o fato de que deveria voltar para a casa, caminhei na direção oposta indo me refugiar no jardim afastado, na pequena cobertura da chuva que algumas árvores faziam. Não era o melhor lugar para se ficar, considerando os raios que caíam uma vez ou outra, mas ali estava longe de todos, no silêncio completo que a chuva estava proporcionando.

Olhei para o céu encarando as nuvens escuras que impediam os raios de sol de aparecerem. Alguns pingos ainda caíam sobre mim através das folhas das árvores, mas não me importei com isso, ou o fato da grama estar encharcada, e sentei encostando minhas costas em um dos troncos. Fechei os olhos sentindo o vento passando por mim e deixei que tudo o que sentia se dissolvesse em lágrimas.

Sem nenhum aviso, alguém sentou ao meu lado fazendo com que me assustasse. Olhando somente para os sapatos que usava, já tive certeza de quem era.

– O que você precisa Ryan?

Ele não respondeu, o que acabou fazendo com que depois de um tempo eu encarasse seu rosto. Seus olhos me analisavam parecendo demonstrar preocupação enquanto sua testa estava levemente enrugada. A água pingava de seu cabelo, agora completamente despenteado, e molhava o restante de seu rosto. Sua mão levantou e parou sobre meu rosto, secando as últimas lágrimas que escorriam.

– O que houve?

– Acho que isso talvez não diga respeito a você, Ryan.

–Bem, eu só quero ajudar e não vejo o mal nisso. Mas posso imaginar o que é a causa dessas lágrimas. Ele não acreditou, não é?

Encarei ele completamente confusa - Como você....

Ryan sorriu e sentou ao meu lado sem se incomodar com a grama molhada ou a falta de apoio, já que eu estava com as costas na única árvore mais próxima.

– Eu disse Alice, Christian não é a melhor pessoa para aceitar algo que ele não considera certo. E você me parece alguém que tem muitos segredos, muitos dos quais Christian não devia imaginar e parece que não aceitou muito bem, não é mesmo?

Não respondi. Desviei o olhar encarando as outras árvores ao longe e a chuva que caía sobre elas.

– Entendo que não queira conversar comigo sobre isso, afinal, todos temos nossos segredos e nós nunca fomos de conversar muito um com o outro.

– Concordo - disse o encarando novamente - O que me faz pensar o que você faz aqui ou por que parece tão preocupado comigo? Você nem me conhece direito Ryan.

– Nunca é tarde para conhecer. E apenas estava olhando a chuva pela janela da casa quando vi você correndo para esse lado e decidi ver o que estava acontecendo.

– Não achei que desse para ver de lá.

– Acredite, quando se está entediado olhando para o nada, qualquer pequeno movimento ao longe chama atenção. Mas bem, gostaria de me apresentar então. Meu nome é Ryan Williams - ele disse estendendo a mão, mas simplesmente ignorei e ele a voltou para perto do seu corpo - tenho 25 anos, dos quais grande parte passei em um colégio interno, mas agora estou de volta a propriedade dos meus pais. Então, o que você gostaria de saber?

– O que fez durante esses anos no colégio? - disse depois de algum tempo em silêncio.

– Sempre fui um amante dos livros e principalmente da ciência. Meu hobby na verdade sempre foi estar em uma biblioteca, lendo qualquer coisa mesmo que fosse algo que talvez não me interessava, mas gostava de ter um conhecimento amplo de tudo. A única pessoa que conseguia fazer com que eu saísse desse vício era Christian, que tentava me levar para suas explorações, mas sempre foi malsucedido. A única parte em que combinávamos eram nas festas, porque convenhamos, somos homens e posso dizer que chamávamos certa atenção aonde íamos. - Ele parou e me lançou um sorriso como se estivesse tendo alguma lembrança - E claro, também aprontávamos um pouco juntos. Pichar muros e acordar os supervisores eram nossos passatempos preferidos.

– E o que você fazia antes de ir para o colégio, quando ainda morava aqui... ou, quero dizer, com seus pais?

Ryan soltou uma leve risada que acabou ecoando pelo silêncio do lugar - A parte que você sabe era que eu realmente não gostava de sair andando por aí. Preferia meu quarto ou a biblioteca, local que você provavelmente não sabia que eu visitava com extrema frequência. Fora isso, gostava de acompanhar meu pai em suas reuniões algumas vezes.

– Que eu me lembre eram muitas vezes.

–Sim, talvez muitas vezes. Mas nada de interessante.

– Então por que o acompanhava tanto?

– Gostava de observar a forma como ele sempre administrava essas reuniões e o que dizia. Pensava que queria ser igual ele quando crescesse, mas isso se foi.

– Por quê?

Ryan me encarou com o semblante sério dessa vez - Por que quando passei anos isolado sem receber sequer uma visita dos meus pais, sem ter sequer um vestígio de que eles ainda se lembravam de mim, acabei percebendo que meu irmão que estava ali, sempre comigo, era mais importante que eles. Nós só tínhamos um ao outro ali.

Ryan continuou quieto encarando ao longe e me perguntei o quanto de ressentimento que ele e Christian guardavam dos pais. Sabia que eles pensaram na educação dos dois, mas talvez não precisassem terem enviado eles para tão longe.

– Mas e você?

–O que?

– Não vai se apresentar?

Revirei os olhos - Não Ryan, isso não..

– Por favor? - Ele disse quase suplicando e suspirei.

– Bem, meu nome é Alice, tenho 19 anos e ... sempre morei por aqui.

Ryan ficou me encarando como se esperasse que eu dissesse mais alguma coisa, mas não havia o que falar. Quando percebeu isso, Ryan resolveu fazer suas próprias perguntas.

– Enquanto eu estava aqui você sempre ficava com Christian, mas e depois?

– Fui uma mera empregada do seu pai, só isso.

Ryan me olhou novamente encarando meu rosto - É muito mais do que todos dizem não é mesmo? Há muitas outras coisas por trás disso.

– E você sabe que coisas são por acaso? - perguntei. Não havia porque discordar dele.

– Imagino. Meu pai te fez muito mal, não é mesmo?

Encarei o espaço na minha frente vendo que a chuva diminuía e levantei abruptamente.

– Acho melhor voltarmos.

Dei um passo para o lado mas Ryan ficou de pé e segurou meu braço.

– Qual o problema em conversar comigo sobre isso?

– O problema é que eu ainda não confio em você.

Ele me soltou e virei de costas caminhando em direção a casa tendo a leve impressão de ter escutado "Mas um dia ainda irá confiar."


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