Learning How To Breath escrita por Saáh


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Olaá..
Bem, sem muito tempo pra escrever hoje, mas agora finalmente as férias chegaram *---*
Então, talvez consiga postar com mais frequência.
Espero que gostem do capítulo e desculpem se houver algum erro.
Boa leitura!



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E quando menos espero, percebo que o tempo passou e que tudo está do jeito que sempre deveria ter acontecido. Luke me procurou e fez suas ameaças de sempre pedindo que ficasse longe de todos, só que dessa vez, para o bem de Olivia e Sofia e do pedido que havia feito a Christian, resolvi aceitar tudo calada. As semanas se passaram enquanto tentava evitar qualquer tipo de contato principalmente com Christian.

Ao longe via todos os passeios que ele fazia com Mary, a família feliz que eles imaginavam junto com Kelly e John, todos os planos para o casamento e a vida que teriam dali para frente, e aos poucos, começava a aceitar o fato de que qualquer amizade que minha tola esperança achava que ainda poderia existir não poderia ser mais recuperada. Éramos pessoas diferentes, vivendo em mundos diferentes. Não era certo imaginar que tudo seria fácil e simples como antes. As poucas vezes que considerava que poderia estar errada eram nos raros momentos em que nossos olhares se cruzavam, mas então logo via Luke ou escutava algum comentário que me faziam lembrar qual era meu verdadeiro lugar.

Enquanto isso, como punição provisória já que Luke não queria chamar ainda mais a atenção dos visitantes, minha jornada de trabalho foi dobrada fazendo com que levantasse antes do sol nascer e trabalhasse até de madrugada. Estava exausta por isso, mas ajudava a manter minha mente focada em outras coisas. Uma delas foi um novo plano para fugir que dessa vez envolvia levar Olivia e Sofia junto. A pequena lição de Luke serviu para que nos aproximássemos ainda mais e sabia que agora não poderia mais deixar as duas nesse lugar. Luke descontaria toda sua fúria nelas quando visse que eu não estava mais ali e não poderia seguir em frente sabendo disso.

Porém, isso não estava sendo tão fácil quando as mesmas não queriam ir embora. Apesar de todo o inferno que passavam ali dentro, fora era um mundo que elas desconheciam totalmente. Dizendo a verdade, eu mesma não sabia o que encontraria se um dia saísse dali. A vida inteira aquelas paredes e árvores eram os únicos locais que tinha pleno conhecimento, e ainda assim, era onde me sentia menos segura.

Todos os planos tiveram que ser deixados de lado quando foi anunciado o grande baile em comemoração ao aniversário da cidade. Era o maior evento anual e extremamente importante para Luke, onde ele conseguia novas alianças e fortalecia as que já existiam. Onde muitos iam para se divertir, ele ia a negócios. E agora o evento havia assumido uma importância ainda maior quando ele decidiu que seria ali que Christian assumiria seu noivado publicamente.

De certa forma, saber disso me incomodou mais do que esperava e tentei ignorar qualquer pensamento a respeito, algo que foi se tornando cada vez menos possível conforme a festividade se aproximava. Sofia teria que acompanhar Katy, assim como boa parte dos capangas de Luke fariam. A propriedade estaria em seu nível de segurança mínimo, mas sabia que isso não era o suficiente para escapar.

O local mais próximo que conseguiria chegar era a cidade, que estaria extremamente notável com pessoas elegantes acompanhadas de seus próprios seguranças. Alguém como eu não passaria despercebida e sabia disso por ter sido justamente nesse dia, a anos atrás, uma das vezes em que tentei fugir.

Quando o dia chegou, Katy me encontrou na cozinha logo após o almoço.

- Você irá ajudar Mary a se preparar para o baile. Quero que siga todas as instruções dela e de Kelly, as ajude e principalmente, não reclame de qualquer coisa que pedirem - Ela falou me olhando itensamente por um tempo -  Agora vá, elas já estão esperando.

Dei um leve aceno em concordância e caminhei em direção ao quarto onde Mary estava ficando. Bati na porta e esperei que respondessem para que eu entrasse. Encontrei as duas rindo de alguma coisa, mas logo que viram que era eu quem estava ali, seus sorrisos sumiram dando lugar a uma expressão de desprezo que vinha se tornando presente nos últimos dias e já estava me acostumando.

- Ah sim, a empregada. Você está atrasada. Mary já estava quase tendo que se arrumar por conta própria. - Kelly disse enquanto me olhava com um ar de superior e via que ela já estava com seu traje de gala.

- Desculpe - murmurei de cabeça baixa. - O que posso fazer para ajudar?

-Hum.. eu queria uma trança mãe? O que você acha?

- Ótimo - Kelly respondeu com um sorriso que logo foi substituído pela expressão neutra quando me olhou - Você sabe fazer tranças?

- Sei.

- Então vá. Faça uma bem bonita para deixar nossa princesa ainda mais radiante.

Segurei o impulso de revirar os olhos e caminhei lentamente até a cadeira onde ela estava sentada, agora virada de frente para o espelho. Sofia havia me ensinado como fazer tranças quando eu era pequena, então minhas mãos não tiveram nenhuma dificuldade em fazer o penteado no cabelo escuro e ondulado de Mary. O maior problema foi parecer indiferente a conversa que elas estavam tendo.

- Mas então mamãe, a senhora acha que Christian irá gostar mesmo do vestido?

-Claro, disso não tenho dúvidas.

-E.. do que usarei por baixo?

Kelly deu um riso baixo de quem aprovava - Oh sim, ele com certeza irá gostar disso.

Pelo espelho, vi Mary sorrindo timidamente enquanto suas mãos mexiam nervosamente em suas roupas.

- Ainda não sei como agir, como.. seduzir ele.

-Mas isso sinceramente não é problema. Instinto minha querida. Na hora você saberá muito bem o que fazer e Christian é um excelente rapaz que parece estar gostando mesmo de você. Então, tudo isso com certeza não será nenhum problema, ainda mais agora que o noivado será anunciado publicamente.

-Sim.. mas isso é certo?

Kelly levantou de onde estava e andou até parar de frente para Mary e se ajoelhar, ficando na altura de seu rosto.

-Pense no seu futuro, foque nisso e deixe que do resto eu cuido. - Ela sorriu e abruptamente seus olhos levantaram me encarando.

- Terminei - disse dando um passo para trás e tentando não demonstrar que estava prestando tanta atenção na conversa.

Kelly entregou algumas minúsculas presilhas para que eu as prendesse ao longo da trança enquanto ela continuava dizendo a Mary o que ela estava pensando para o casamento, a casa onde eles morariam e que já estava sendo planejada, cada mínimo detalhe do futuro dos dois. Um futuro não tão longe quanto esperava e que deixaria Christian ainda mais distante.

As intenções de Mary para aquela noite passaram novamente pela minha mente e me senti extremamente incomodada com isso. Por algum motivo, não queria que acontecesse nada que deixasse os dois ainda mais próximos um do outro. Não queria e não entendia porque.

 - Me ajude a colocar o vestido. - Mary disse levantando da cadeira e apontando uma caixa branca e grande próxima a cama.

Abri a tampa e levantei o vestido segurando o pano entre minhas mãos, um dos tecidos mais macios que já havia sentido em toda minha vida. Realmente era lindo, azul com pedras brilhantes que exalavam e tentavam indicar o poder da família.

Mary retirou o roupão que utilizava e engoli seco vendo bem na minha frente o que ela pretendia para aquela noite. Respirando fundo, ajudei a passar o pano por seu corpo, abotoando os botões em seguida e a vendo se aproximar no grande espelho que havia no quarto. As presilhas combinavam perfeitamente com o vestido, o que fazia parecer que ela brilhava enquanto se movimentava de um lado para o outro.

 - Está linda minha filha - Kelly disse com sorriso nos lábios.

- Está mesmo - falei com sinceridade tentando soar o mais amigável possível. Mary me encarou por um tempo e deu um breve sorriso antes de ir em direção ao banheiro.

Virei para trás pensando em sair do quarto quando percebi que Kelly me observava.

-Precisam de mais alguma coisa?

-Acredito que não, mas acho melhor esperar aqui. A essa hora todos devem estar indo até a sala e quero que Mary seja a primeira a aparecer. Aliás, você fez um ótimo trabalho com o cabelo dela. Christian com certeza irá gostar.

 - Obrigada - disse simplesmente e me afastei indo até a janela percebendo que o sol já estava quase se pondo e vendo alguns dos capangas puxando os cavalos que os levariam até a cidade.

- Você gosta dele.

- Como?! - falei olhando confusa para Kelly que se aproximava vagarosamente.

- Você gosta dele. E Christian também gosta de você.

- Não. Não gostamos um do outro.- disse, mas pareceu soar como se estivesse tentando provar a mim mesma isso.

Kelly sorriu enquanto suspirava logo em seguida - Oh claro, e porque será que não deixa de enganar a si mesma? - disse dando os últimos passos e parando na minha frente, segurando minhas mãos - Assim que vi você no primeiro dia soube que havia algo mais. Eu investiguei e fiquei sabendo de alguns detalhes dessa triste história de vocês dois. E se quer saber, não acho que irá acabar tão fácil uma amizade que foi interrompida bruscamente como a de vocês. Eu vejo isso, vejo a forma como ele a olha e sei que provavelmente todos esses anos longe só fizeram com que os sentimentos de um pelo outro aumentassem cada vez mais, chegando a algo que nenhum dos dois sabe identificar, mas minha querida, isso é tão simples.

- O.. o que é tão simples?

- Vocês dois. Isso é amor, o mais puro amor. Algo que nenhum dos dois experimentou e por isso desconhecem.

Kelly ficou em silêncio me encarando enquanto tentava ver o sentido em suas palavras. Eu amava Christian?! Era isso que estava acontecendo então?! Todos esses sentimentos confusos, todas as dúvidas. Era amor?

- Mary, infelizmente, acabou entrando como intrusa nessa história. Mas ela é uma boa pessoa, fará Christian feliz. - A olhei confusa e ela sorriu mais ainda - Pelo menos em algo nós duas concordamos. Vocês dois juntos.. isso nunca daria certo. Mary é a pessoa certa para Christian. Os dois se casarão e terão um futuro brilhante, algo que você não poderia dar a ele.  

 Empurrei os braços dela para longe e me afastei como se tivesse levado um choque.

- Então é isso. Você acha que sua filha seria alguém melhor para Christian do que eu?

-Isso é óbvio. Disso você não deveria ter dúvidas.

Kelly virou de costas e foi até o espelho, olhando sua própria maquiagem e cabelo.

- Se quer saber, não acho certo o que vocês duas estão planejando para hoje a noite.

- Você achar certo ou não, não mudará nada. É o que irá acontecer.

-Por que?! Por que está me dizendo tudo isso?!

Ela virou abruptamente e parou na minha frente novamente segurando meu rosto em suas mãos. Em seus olhos, podia ver a urgência carregada em suas palavras.

-Porque eu já fui você. Essa garota tola e apaixonada por alguém que não era certo amar. E te digo, isso só traz sofrimento, muito sofrimento. Não perca seu tempo.

Ela me soltou e Mary abriu a porta do banheiro nos encarando por um tempo - Vamos?

-Vamos minha querida. Você está fabulosa. - Kelly disse se aproximando e dando um beijo na testa dela, como se aquela nossa conversa nunca tivesse acontecido.

Nesse instante me lembrei de todas as vezes em que a vi junto com John. Eram um casal normal, mas agora, tinha praticamente certeza de que ela não gostava dele de verdade. Ela só estava repetindo a história com Christian e sua filha.

Mary saiu a frente do quarto e enquanto Kelly se preparava para dar os primeiros passos, me aproximei e segurei seu braço.

-Por que você não ficou junto de quem você gostava?

Em seus olhos vi as lágrimas que ela tentava esconder - Porque mortos não amam mais.

Ela soltou o braço e também saiu do quarto enquanto escutava os arquejos vindos da sala e exclamações de aprovação quanto a aparência de Mary. Sim, ela realmente estava parecendo uma princesa com todos aqueles brilhos em volta de si e percebi que a intenção de Kelly foi que justamente toda a atenção fosse direcionada a ela. Me aproximei lentamente da sala e pude ver que ela havia conseguido o que queria. Mary era elogiada e tinha todos os olhares sobre si. Todos, menos um que se desviou para onde eu estava.

Christian estava elegante, a imagem digna de um princípe impecável.  Nossos olhares se cruzaram por breves instantes como sempre acontecia, porém, dessa vez, senti algo diferente enquanto ele me encarava. Olhando para Kelly, vi que ela também havia presenciado esse olhar.

Antes de sairem, ela se aproximou e sussurrou em meu ouvido - Não se esqueça do que lhe disse.

Enquanto via todos se afastando e indo em direção aos cavalos que os esperavam, comecei a me sentir agoniada pelo sentimento que já quase me sufocava. Não quis presenciar a partida deles. Caminhei para o quarto e fiquei vários minutos parada na porta encarando cada pedaço de chão, parede e móveis, revivendo imagens que preferia esquecer. Balancei a cabeça diversas vezes tentando expulsá-las mas não conseguia dar um passo a frente. Era como se algo me impedisse de simplesmente descansar.

Tomei um banho e resolvi dar uma volta pela propriedade que estava em um silêncio reconfortante agora que todos haviam partido. Vaguei sem nem ao menos prestar atenção por onde ia, mas quando percebi, meus pés haviam me levado ao pequeno jardim cheio de flores, o mesmo local onde encontrei com Christian antes de Mary aparecer, o mesmo local onde passamos nossa infância e aonde ia quando queria simplesmente fugir dos problemas.

Considerei continuar andando mas me senti exausta e simplesmente sentei no pequeno banco, olhando para as flores que demonstravam sua beleza a luz do luar e escutando o pequeno som de alguns animais por perto. Por muitos minutos fiquei simplesmente sentada, imóvel, absorvendo a sensação do vento e da natureza em volta, até o momento em que foi impossível ignorar as palavras em minha mente.

"Porque mortos não amam mais."

 Seria esse o destino de Christian se me permitisse sentir realmente todos esses sentimentos? Em parte, as palavras de Kelly começavam a fazer sentido. Em meio a todos os pesadelos, a imagem de Christian sempre me tranquilizava e não o imaginava como o herói ou o anjo salvador, mas sim alguém que me fazia bem. Gostava de estar perto dele e sentia falta quando isso não ocorria. Mas amor?

Lembrei de todos os momentos em que Mary e ele estavam juntos, a imagem insuportável que isso me trazia, os sentimentos nada desejáveis. Mas se era amor mesmo, deveríamos ficar juntos. Aos poucos fui percebendo meu erro em tentar ficar afastada. Isso não era certo, só estava fugindo de algo que não entendia, mas agora... eu queria isso. Queria estar com Christian, mostrar que também podia fazê-lo feliz. 

Era injusto demais querer algo assim? Poderia ser impossível e era ingênuo acreditar que as coisas mudariam a esse ponto, mas se pudesse, não iria querer nada dele além de ser correspondida. Ser tão rica com tanto dinheiro, isso não importava. Sabia muito bem e tive a prova várias vezes que o dinheiro pode levantar castelos e mansões, mas causar a destruição das pessoas que o possuem.

Se pudesse, não me importaria de ter uma casinha simples, até mesmo no meio nada. O importante seria com quem estaria. E por um momento ... isso não parecia tão impossível de acontecer. Meus olhos vagaram para o céu e sorri imaginando como tudo seria diferente, como tudo seria melhor. Sonhar com isso não me levaria a lugar nenhum, mas era um lugar aonde me sentia segura e feliz. Sabia que a partir daquela noite algo havia mudado comigo, mas mais ainda, mudaria para Christian. Era como se fosse o começo e o fim de tudo.

Continuei olhando para as estrelas quando escutei o leve som de farfalhar de folhas indicando que alguém se aproximava.


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