Learning How To Breath escrita por Saáh


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Heey pessoal, como vão?
Obrigada por todos os reviews e aqui está algo que vocês tanto pediram: que a Alice seja mais feliz. Para provar o quanto eu também gosto dela ahaha..
Espero que gostem e desculpem se houver algum erro, mais uma vez '-'
Beijoos e boa leitura :)



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Por um momento senti meus músculos rígidos imaginando quem estaria se aproximando aquela hora, até que a sombra foi se materializando e se tornando alguém extremamente familiar. Alguém que até a poucos minutos estava imaginando.

O sentimento de surpresa superou qualquer outro quando Christian se aproximou e sem dizer uma palavra sentou ao meu lado no pequeno banco. Ele ainda usava as mesmas roupas do baile, roupas que brilhavam refletindo um brilho na noite escura que antes não havia. Encarei meu próprio vestido velho e esfarrapado que usava para dormir enquanto imaginava o que ele fazia ali. Pelo silêncio, podia jurar que os outros ainda não haviam voltado e isso só tornava tudo ainda mais estranho.

Não me atrevi olhar para o seu rosto, mas percebi que agora ele também encarava o céu.

–Sabe, uma professora que tive sempre dizia que quando perdemos alguém especial, podemos encontrá-lo na estrela que mais brilhar no céu. Como isso nunca havia acontecido, simplesmente ficava olhando sem rumo e tentando criar formas com elas.

–Imagino que algumas brilhem especialmente para mim então.

Senti seus dedos tocando minha mão e o encarei vendo que ele sorria - Sim, com certeza brilham.

O tempo parecia ter parado enquanto ficavamos ali, simplesmente olhando um para o outro enquanto meus pensamentos giravam, até que em certo ponto, não tive mais dúvidas do que sentia. Meus lábios se separaram enquanto tentava formular o que dizer quando Christian se levantou e estendeu a mão em minha direção.

–Você me concede a honra desta dança?

Um riso fraco escapou por meus lábios enquanto um sorriso se formava - Mas Christian, não há música.

– Para isso temos a nossa imaginação.

Christian segurou minha mão e levantou meu corpo do banco caminhando em direção ao centro do jardim. Ele parou virando de frente para mim e entrelaçou nossos dedos enquanto apoiava a outra mão em minha cintura e minha mão livre ia em direção ao seu ombro.

–Eu não sei dançar. Acho que nunca fiz isso e.. - comecei a dizer e ele me interrompeu.

–Não tem problema, tudo depende de quem a conduz.

Ele deu alguns passos para o lado e tentei acompanhar seu ritmo. No começo tudo parecia extremamente desajeitado, mas aos poucos estavámos sincronizados um com o outro e Christian sorriu em aprovação. Passamos um tempo nos mesmos passos silenciosos com a melodia muda, até que ele se afastou e fez com que eu girasse deixando um riso escapar por meus lábios. Quando virei de frente para ele novamente, Christian também sorria e me puxou de volta ao seu corpo, apertando mais minha cintura e parando seu rosto ao lado do meu.

– Não podia continuar mentindo.

– O que? - perguntei fazendo menção de me afastar, mas Christian apertou mais minha cintura fazendo com que continuasse do jeito que estava. Suspirei e acabei cedendo ao seu abraço - Por que mentindo?

– Sobre.. tudo isso. Eu estava lá no baile com Mary ao meu lado recebendo elogios de todos pela beleza dela. E realmente, ela estava muito bonita. Mas parecia que havia algo errado até que percebi que não era ela quem eu realmente queria ali. Não era a mão dela que eu queria estar segurando - ele disse apertando mais nossas mãos entrelaçadas - Não era o corpo dela que eu queria perto do meu - Senti quando ele me puxou ainda mais para si e se afastou fazendo com olhasse para seu rosto - Não é ela.

Nossas testas grudaram uma na outra enquanto percebia as respirações descompassadas. Passamos um tempo assim enquanto pensava sobre tudo o que ele disse, até que Christian se afastou fazendo com que eu rodasse novamente e voltasse de frente para ele, só que dessa vez sua mão foi em direção ao meu rosto, segurando meu queixo fracamente e levantando para que o encarasse.

– Eu não posso e não quero mais ficar longe de você. Desculpe mas é impossível seguir o que você pediu.

Engoli seco e sussurrei enquanto ele se aproximava mais - Então não siga.

Seus olhos me encarando foi o que vi por breves segundos antes que sentisse o toque de seus lábios. Talvez nenhum dos dois esperasse por isso ou entendesse de verdade o que havia ali, mas era como se finalmente algo certo estivesse acontecendo. Seus braços me envolveram enquanto me permiti sentir o que era um beijo de verdade. Pela primeira vez não havia mais dúvidas, era essa a realidade do que sentíamos um pelo outro, algo que talvez mudasse com o tempo, mas agora era apenas isso que sentíamos, uma amizade misturada com carinho e amor. Sim, talvez realmente fosse amor.

Quando nos afastamos em busca de ar, tive certeza que aquele beijo não seria um simples ato para ser esquecido. Os olhos de Christian pareciam queimar sobre mim enquanto via agora, ainda mais claro, o sorriso se espalhando por seus lábios.

Um barulho dentro da casa fez com que saíssemos do pequeno transe em que nos encontravámos.

–Acho.. acho melhor entrarmos.

– Ok - Christian disse mas antes que eu desse um passo ele me puxou novamente em um beijo calmo e cheio de afeto.

Por fim, a contragosto voltamos a caminhar pela casa de mãos dadas até onde a pouca luz permitiu. Christian me acompanhou até o pequeno quarto, mas quando entrei e vi as velhas paredes novamente, a mesma sensação de desconforto me atingiu, como se não fosse certo estar ali. O tempo que passei parada na porta encarando o nada parece ter sido maior do que imaginava.

–Alice, tudo bem?

–Sim - disse encarando Christian e vendo sua testa franzida. Tentei sorrir em resposta - Só uma sensação ruim com o quarto, mas já já passa.

– Certeza?

–Sim, vou ficar bem.

Christian ficou parado por mais um tempo mas acabou concordando - Tudo bem então. Boa noite.

– Boa noite - respondi ficando na ponta do pé e dando um breve selinho nele.

Assim que me vi sozinha novamente no quarto, as mesmas sensações voltaram junto com as imagens. Já fazia algum tempo desde que Luke resolveu fazer seus pequenos encontros. Isso simbolizava que logo haveria uma nova visita e me atormentava pensar que ele poderia aparecer a qualquer instante. Noites em claro pensando sobre isso me levavam a várias conclusões. Decidi que iria tentar dormir com Olivia, como fiz tantas outras vezes que os pesadelos me atormentavam, quando encontrei com Christian parado no corredor.

–O que foi? - perguntei.

– Só.. estava pensando. E você?

–Estava indo dormir com a Olivia.

– Por que?

– Hum.. a mesma má sensação com o meu quarto. Mas costumo fazer isso quase todas as noites, então, nada demais.

Christian me observou por um tempo e deu um passo a frente segurando minha mão - Bem, tenho um lugar melhor para você dormir então.

Ele começou a me puxar pelos corredores e reconheci quando ele passou em frente ao quarto de Mary, Luke e do seu próprio quarto. Mais ao fundo ele parou em frente uma porta que nunca havia reparado. De trás de um quadro ele retirou uma pequena chave e destrancou a porta, revelando um outro quarto como todos os outros.

Entramos no local e ele fechou a porta atrás de si.

–Então, acho que você pode passar a noite por aqui sem problemas.

Eu iria dizer que não era necessário, mas acabei considerando a oferta e julgando que não havia mal passar a noite por ali e ir embora assim que amanhecesse.

– Obrigada. Bem, acho que agora é boa noite então. - disse, porém Christian continuou parado no mesmo local.

–Sabe, se não for muito atrevimento de minha parte, gostaria de passar a noite aqui.

–Por que?

– Bem, na verdade... não sei. Mas é que parecem ser tão raros os momentos que podemos ficar a sós que gostaria de aproveitar um pouco mais. Mas não se preocupe, eu durmo aqui pelo chão mesmo sem problemas e...

– Não seja ridículo Christian, não vou deixar você dormir no chão por minha causa. Eu durmo.

–Não, você é que está sendo ridícula com isso. Se..

–Ok, dividimos a cama. Pronto!

Christian ficou parado com as mãos no ar da forma que gesticulava tentando argumentar e me encarou por um tempo.

–Ok, tudo bem.

–Tudo bem.

Caminhei em direção a cama, retirando os sapatos e deitando na mesma, mas tive uma surpresa quando olhei para frente e vi Christian retirando o casaco brilhante e a camisa social que usava por baixo, ficando somente com suas calças. Senti algo diferente e comecei a encarar o teto em uma tentativa falha de disfarçar enquanto ele deitava ao meu lado.

Passamos alguns segundos em silêncio e sem se mexer, até que lembrei de algo que estava intrigada em saber.

–O que aconteceu no baile? Você...simplesmente veio embora?

–Sim. Antes de anunciarem o noivado oficialmente, disse que precisava tomar um pouco de ar. Não tive muitas dúvidas quando encontrei um dos cavalos parado perto de um onde eu estava. Sei que provavelmente haverá muita confusão quanto a isso, mas tenho certeza de que esse não é o futuro que quero.

Christian sorriu e retribui um pouco mais aliviada quando percebi que, afinal, os planos de Kelly não haviam dado certo. Continuamos conversando por mais um tempo até que o sono se aproximou e mais uma vez acabei adormecendo em seus braços.

Acordei um pouco depois que o dia havia amanhecido, percebendo os primeiros raios de sol entrando pela janela. Christian ainda dormia e dei um breve selinho nele antes de levantar e destrancar a porta. O corredor estava silencioso e tentei caminhar a passos rápidos sem fazer muito barulho enquanto esperava que todos ainda estivessem dormindo. Tinha certeza de que conseguiria isso, quando entrei nas mesmas velhas paredes que já nem considerava mais como um quarto, e senti meu coração disparando com a sombra sentada na beirada da cama.

–Olá Alice. Você demorou. - Luke disse dando um gole em uma garrafa de bebida que estava em sua mão, praticamente vazia.

Não sei porque em algum momento considerei que algo seria diferente, mas ali estava ele novamente com o mesmo jeito despreocupado, tirando o fato de que parecia estar levemente bêbado, mas sabia muito bem quais eram suas intenções e qual seria o final desse pequeno encontro. Ele deu mais um gole quase acabando com o líquido por completo e continuou dizendo enquanto me encarava.

– Sabe, acho que no próximo baile eu deveria lhe levar. É tudo sempre tão monótomo nessas festas que até queria ter um pouco mais de emoção ou adrenalina. Claro, os ânimos andam meio exaltados ultimamente com pessoas que não sabem cuidar de suas próprias terras. Ridículos - ele fisse bufando e terminando com o que havia na garrafa - Mas enquanto estava lá, fiquei pensando tudo o que poderia fazer quando chegasse aqui e te encontrasse. Acho que ainda dá tempo de colocar em prática.

Fiz uma careta em resposta enquanto ele sorria debilmente e se levantava da cama.

–Oh vamos Alice, não me diga que não sentiu saudades?

Foi nesse momento que percebi que não havia sentido algum em seguir o que ele pedia mais uma vez. Por mais obediente que fosse, ele jamais mudaria seu jeito e tudo acabaria se repetindo. Todos os abusos, todas as agressões, tudo sempre estaria em suas mãos. Talvez não fosse capaz de impedí-lo fisicamente, mas minha mente não queria mais aceitar os fatos que poderiam vir a acontecer. Era isso que me impedia de passar algum tempo naquele cômodo e em outros lugares específicos. Todas as lembranças que por mais que quisesse ou tentasse, não conseguia esquecer. Agora estava vendo que algo que se repetiu por tanto tempo não teve reflexos somente em meu corpo, mas também no que pensava e a forma como sempre agi. Tudo o que pensei e defendi no começo simplesmente foi embora quando aceitei que não havia mais o que ser feito.

– Não, nunca senti. E acho que seria melhor se o senhor saísse daqui.

Luke parou e me encarou por um tempo - Estou admirado. Você nunca disse algo assim antes.

– Pessoas mudam.

– E resolveu mudar para virar alguém um pouco mais difícil? Tudo bem. Eu gosto desses joguinhos.

– Não é um jogo.

– Não? Bem, foi bem interessante da última vez que tentamos ver em qual versão acreditavam. Ainda não desistiu de tentar se tornar a mocinha indefesa?

– Nunca fui isso, mas de repente percebi que talvez valha a pena arriscar.

– O que? - Luke disse sério quando percebeu que não estava brincando com o que dizia.

–Sim.

–Alice.. você não...

–Alice?

Nós dois olhamos para a porta ao som da voz. Luke se afastou ao mesmo tempo em que Christian aparecia.

– Pai, o que você faz aqui?

–Eu... - Luke parou e olhou para nós dois e então estufou o peito novamente dando uma leve cambaleada - Eu é que pergunto. O que você faz aqui Christian, no quarto de uma empregada?

– Vim pedir que Alice prepare um café para mim. Aliás, ela já deveria tê-lo levado não é mesmo?

–Si.. sim. -disse tentando disfarçar minha expressão confusa até que Christian, disfarçadamente, piscou um olho enquanto Luke não via. - Já estava indo na verdade.

– Bem, então não espere mais. - ele disse

Concordei e com uma leve reverência sai em direção ao corredor, ainda me sentindo confusa com tudo aquilo. Mesmo assim, fui em direção a cozinha e preparei o café que tecnicamente Christian já havia pedido. Caminhei de volta pelo mesmo corredor e o encontrei na sala tentando convencer Luke a ir para o quarto. Ao que parece, ele estava mais bêbado do que havia percebido.

– Seu café Christian - disse e ele apontou para que eu deixasse em cima de uma mesa.

– Vamos pai, continue andando.

– Moleque.. conversaremos sério depois - Luke disse mas acabou dando alguns passos em direção ao corredor.

Girei o corpo pensando em sair da sala quando meu braço foi segurado.

–Alice?!

Virei novamente encontrando os olhos de Christian bem próximos.

–Sim?

–Você não precisa carregar sozinha o peso de salvar todos. Saiba que você pode ser salva às vezes também. - Christian disse com um sorriso e se afastou, segurando a xícara de café nas mãos e indo na mesma direção que o pai havia saído.


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