Foram os melhores meses da minha vida, os dois que eu passei com Jason.

Nos dois meses de namoro que tivemos até agora, minha vida se resumiu a beijar, treinar, beijar, estudar, beijar, amar, beijar, comer, rezar, beijar.

Nós alternávamos: ora íamos para o meu chalé e ora para o dele, já que ambos viviam vazios, sempre separados, para não levantar suspeitas. O único ser vivente que sabia sobre esse namoro era Leo Valdez, que super apoiava o nosso relacionamento. A cada dia que se passava, eu amava Jason cada vez mais, embora ainda não tivesse dito isso ainda. A única coisa que me preocupava era aquele gigante e o que ele falou. Pelos olhos verdes como os meus, eu já deveria ter percebido, mas só depois de terem me contado é que ficou claro para mim: o gigante era meu irmão. Crisaor, irmão gêmeo de Pégaso, também nasceu do sangue da Medusa, mas o que ele disse não tinha sentido nenhum pra mim. A nova profecia de Rachel não parecia me incluir, pelo menos não dessa vez, e não havia nenhum mau presságio. Fora isso, tudo ia perfeitamente bem, e parecia que um mar de rosas estava a minha frente, não fosse a conversa.

A conversa aconteceu uma semana antes do nosso aniversário de namoro. Nós íamos muito bem, faríamos dois meses de namoro, e eu estava gostando de nós do jeitinho que estávamos, mas Jason queria dar um passo adiante. Tudo começou quando estávamos sozinhos, sentados, conversando, no píer.

_E é por isso que não se deve descer de penhascos em cima de uma estrada com carros atravessando em cima de uma bandeja de metal – comentou Jason, rindo, e tudo que pude fazer foi rir também.

_Eu percebi que era má ideia, só que já era um pouco tarde...

_Você é péssimo com ideias Per, você seria uma desonra para os filhos de Atena – riu Jason. Eu também sorri, e, pela menção à Atena, percebi que mesmo depois de mais de três meses a ferida ainda era recente. Eu já estava com outra pessoa, e continuava a pensar nela.

_Perseus – chamou Jason. Virei-me imediatamente. Ninguém me chamava de Perseus, só os monstros quando percebiam minha natureza divina e queriam comer minha cabeça – tem uma coisa que eu queria falar com você.

_Pode falar Jay – eu estava dedicando minha total atenção a ele.

_Percy, tem algo que eu queria fazer com você, no nosso aniversário sabe? Algo especial – falou em tom temeroso, analisando-me completamente, como que para ver a minha reação.

_O que? – perguntei, apreensivo.

_Queria dar um passo adiante na nossa relação – mordeu o lábio. Levei um tempo para entender o que ele estava querendo dizer.

_Como assim Jay?

_Fazer... Algo mais. Ir mais longe nos nossos amassos.

_Tipo... Chupões? Eu dei um em você – por sorte a camisa de manga curta tampa o chupão que eu dei no ombro e no músculo de Jason.

_Tá bom, talvez a culpa seja minha. Vou ser bem direto. Percy nós vamos fazer dois meses de namoro e acho que já está na hora de fazermos amor – ele disse, sem mais rodeios.

_Amor tipo...

_Tipo sexo Percy, SE-XO. Você é muito lerdo.

Fiquei um minuto em silêncio. Desde que me apaixonei pelo jovem, eu temia esse dia.

_Ah... Bem... Olha Jay, pra ser sincero com você...

_...Você não quer – completou o semideus.

_Ah... Não é que eu não queira, eu só... Bem... Tem um probleminha...

_Você é virgem, não é? – disse o garoto, como que lendo meus pensamentos.

_Sim. Eu sou – admiti.

_Não fique assim Percy; não há o que temer – ele pensou por um momento – com homens é muito parecido de com mulheres.

Parecido pensei, mas não igual.

_O meu medo mesmo é cometer algum erro. Olha Jason, eu nunca dormi com a Annabeth – ele me olhou impressionado - e tenho medo de errar. Imagina se eu faço algo errado? Pronto, lá se foi a noite perfeita – suspirei.

Jason fez algo inesperado nesse momento, ele me abraçou.

No meu ouvido, disse:

_Você não vai errar. E mesmo que o faça, teremos muitas outras oportunidades. Eu não vou desistir tão cedo.

Depois de me apertar bem fundo nele, me afastei, e ele disse algo, uma coisa que principiou a conversa.

_De qualquer maneira, caso isso também o assuste, fique sabendo que eu nunca te machucaria.

_É claro que não - olhei com um olhar estranho para ele, meio sem entender – Jason, com certeza você não vai me machucar. O medo que eu talvez eu tivesse, era, na verdade, de machucar você. Afinal somos semideuses e o Leo já disse pra mim uma vez que dói.

_E porque me machucaria Percy? – ele indagou em tom de dúvida – é meio que difícil você me machucar, afinal dizem por aí que só dói em um.

_Ah, Jay, você sabe, muitas dizem que dói na hora da... da... Do negócio acontecer – falei, com certo constrangimento.

_É por isso que eu tenho medo de te machucar quando o meu negócio fizer aquilo em você.

E essa frase começou a nossa briga.

Bem, pra resumir, ambos achávamos que seríamos o ativo, ou seja, quem faz o maior trabalho. Eu fiquei injuriado. Como ele pode já ir planejando essa parte toda sem ao menos me consultar? Imagina se uma discussão dessas acontece lá na hora H? Ele é gay há mais tempo que eu, podia pelo menos levar isso em conta e ser o maldito do passivo.

Enquanto eu me afastava do idiota do meu namorado a passos largos, fui direto em direção à arena, para treinar com os bonecos de palha. Normalmente eu veria a Srt. O’ Leary na arena mastigando tais bonecos, mas infelizmente a coitada morreu tentando me salvar na Batalha dos Gigantes. Foi muito triste, e confesso que eu meio que chorei um pouco na morte dela.

Chegando à arena, onde por acaso já havia algumas pessoas treinando, puxei minha caneta esferográfica do bolso, tirei a tampa e, em pleno ar, ela se transformou em Anaklusmus, minha espada de Bronze Celestial. Comecei a bater freneticamente no boneco, arrasando-o completamente. Depois de triturar o peito, arrancar os dois braços com a espada e degolar o pobre boneco de treino, ouvi uma voz um tanto familiar, porém sumida nesses últimos dias:

_Com raiva?

A voz de Annabeth me deixou atônito.

_Ah... Oi Annie – estendi a mão

_Deixa disso Cabeça de Alga – e me deu um abraço – nós terminamos o namoro e não nossa amizade.

_Tem razão. Quanto a isso e... Quanto ao fato de eu estar com raiva. Como sabia?

_Percy, em todos esses anos você sempre vinha treinar quando ficava com raiva ou ansioso. Ou isso, ou ia para o píer. Mas eu passei pelo píer e a única coisa que eu vi foi o Jason olhando pra água e falando com ele mesmo – ou com Poseidon; vai saber.

_É, você me conhece melhor do que eu.

A loira ficou me olhando com aqueles olhos cinzas. Eu não sou exatamente gay, sou meio que bissexual, porque ainda me sinto atraído pela filha de Atena. Ainda mais com aquele shortzinho curto.

_Percy, às vezes conversar ajuda. Por que não me conta o que lhe aflige?

***

_Cala essa boca! Você? Namorando? Já?

_Annie, já se passaram quase quatro meses.

_E você já está com outra pessoa – seja lá quem for – e eu aí, a ver navios.

Tive a decência de não contar quem era que eu namorava a Annabeth.

_Ah, não é minha culpa que você não esteja namorando e eu sim.

_É, tem razão. Não é sua culpa que as filhas de Afrodite fiquem sempre pulando em cima de você e ninguém se aproxima de mim, snif – brincou Annabeth.

_Ah é mesmo? E aquele tal de Harry sei lá o que com quem você tanto tem andado? – perguntei, com um tom de acusação.

_Ah, o filho de Hécate? Ele é gay.

_Gay? GAY? Gay, tipo... GAY? – fiquei atônito. Todas as minhas críticas aquele garoto perfeito se esvaíram na hora. Não havia mas porquê criticá-lo.

_Agora você está me assustando.

_Ah, me perdoa... Mas, tipo, eu nunca adivinharia...

_E porque isso importa? – Ela disse, olhando para mim em tom acusador.

Antes que eu pudesse dar uma desculpa qualquer, para não acabar dizendo “eu nunca esqueci você” ou “eu ainda gosto de você”, adivinha só quem apareceu?

_Percy você está aí! Eu estava te procurando – e só então pareceu reparar na Annabeth – ah, oi Annabeth – e fez uma cara de quem estava morrendo de ciúme.

_Oi Jason – falou Annabeth. Ela, que como sempre sabe a hora certa de entrar e de sair, fez uma desculpa qualquer e foi pra qualquer lugar que seja.

_Jason – comecei. Annabeth me acalmou, eu já não estava com raiva.

_Per, precisamos acabar aquela conversa – sua cara demonstrava muito ciúme. Agora quem estava com raiva era ele.

_Jay, eu acho que já terminamos de conversar...

_Eu tive uma ideia Percy! – disse, deixando parte da raiva um pouco de lado.

_Melhor que a minha? – indaguei.

_Qual é a sua?

_Você ser o passivo e essa discussão acabar por aqui.

_É, a minha é melhor – comentou, e começou a contar sua ideia. Quando acabou, minha raiva toda voltou.

_VOCÊ ESTÁ QUERENDO DECIDIR COMO EU VOU PERDER A MINHA VIRGINDADE NUMA MOEDA? – eu quase berrei. Se não tivesse tanta gente em volta, talvez eu tivesse mesmo é berrado.

_Não necessariamente. Eu disse, podemos fazer pedra-papel-tesoura, ou a minha favorita, um duelo de espadas.

_Péssimo Jason. Péssimo. Quer saber? Vou embora. Levantei-me e saí a passos largos.

Ainda estava atônito. Mesmo estando em parte feliz, em parte ainda estava com raiva dele. Afinal, como Jason pode pensar que eu seria o passivo? Logo eu? Ele já é gay faz tanto tempo, e eu fiquei gay mais recentemente; é mais do que justo que ele seja o passivo. Não eu. Ainda transbordava em ira quando ouvi o idiota chamando meu nome e correndo em minha direção. Quando ele chegou perto, me virei, duro como uma pedra:

_O QUE É?

_Calma aí Per, eu tive uma ideia. Sei como resolver os nossos problemas.

_Jay, se você sugerir um troca-troca, eu acabo com a tua raça – já estava farto daquelas ideias ruins.

_Não é isso, eu... Eu tive uma ideia melhor.

_Qual?

_Pedir conselhos para alguém mais experiente no assunto. Leo Valdez. Ele com toda certeza já deve ter passado por algo assim.

***

Ok, tenho que admitir, falar com o Leo era uma boa ideia. Leo era o único que sabia do nosso relacionamento, e sempre foi ele que nos apoiou e ajudou cada um individualmente em cada um dos nossos desentendimentos. Mas, é claro, sendo Valdez, ele daria um jeito de me surpreender...

***

_Vocês ainda não transaram?

_Leo... Não foi para isso que viemos aqui – disse Jason.

_Ah, certo, quem fica por cima né – estávamos atrás das forjas, onde o barulho era alto e não dava para ouvir qualquer um de nós – eu já tive esse problema antes... Bem, quase. Na verdade a disputa era pra ver quem ficava por baixo, mas, de qualquer maneira, a solução é simples: cada um fica uma noite.

_Tipo... Um troca-troca? – perguntei.

_Claro! Simples, não?

_Jason me segura ou eu mato ele.

Jason não tardou em segurar meus braços e Leo logo se afastou com as mãos em sinal de rendição.

_Leo – disse Jason – é a primeira vez do Percy. Nós... Eu quero que seja especial... Não podemos simplesmente fazer uma coisa qualquer...

_Ah, entendo. Claro, quando eu e Theo começamos a namorar nenhum dos dois era virgem, e, bem, ele é bem melhor que os outros que eu namorei até agora – ele parou e olhou para Jason – sem ofensas.

_Não ofendeu.

_E por que ofenderia? – questionei.

Jason olhou pra mim, tenso. Ficou claro que ele não gostaria de responder essa pergunta.

_Bem, você sabe... – começou Leo, quando Jason o interrompeu.

_Não é nada. Mas Leo, precisamos da sua experiência. Tem que ter alguma coisa que dê para fazer...

_Olha cara, pela minha experiência... Percy, eu acho que você deveria aceitar ser o passivo logo de cara – respondeu Leo.

_QUE? – logo me indignei.

_O Jason é um cara legal, é forte, tenho certeza de que ele não te machucaria. A julgar pela nossa noite essa seria sua melhor opção... – Leo parou de falar quando viu minha cara.

_Como assim... Peraí... – o quebra-cabeça começou a se montar. E, de repente, tudo ficou claro – Vocês... Já namoraram! Por que nunca contou isso antes?

_Per, veja bem... Eu... Leo! Não podia ter ficado quieto? – bradou Jason.

_Hey! Cara, vocês já estão com uns dois meses de namoro, e agora querem fazer até sexo! Pensei que você já deveria ter contado!

_Não interessa! Jason, você é meu namorado, nunca pensei que diria isso, mas o Leo está certo. Você já devia ter me contado.

E saí, indignado, contrariado, ofendido, e, principalmente, triste. Meu namorado tinha escondido algo de mim, talvez por não confiar em mim. Talvez nunca mais eu fosse vê-lo de novo.