Foi tudo rápido demais. Num minuto eu estava conversando sobre séries de TV com o Jason e no outro um gigante vinha correndo na direção de alguns semideuses e um sátiro. Era normal meio-sangues chegarem no acampamento sendo perseguidos, quando atravessavam o Pinheiro de Thalia tudo estava bem; mas o monstro pegou um dos garotos antes que atravessasse. Num súbito impulso puxei minha caneta do bolso e puxei a tampa. Automaticamente ela se transformou na espada de Bronze celestial Anaklusmos, que significa contracorrente. Jason tirou do bolso uma moeda de ouro, jogou-a no ar e ela logo se transformou em Jackson, sua nova lança de Ouro Imperial, desde que a outra fora destruída.

Não tive muito tempo para ficar olhando para o monstro. Ele tinha cerca de 4 metros e meio de altura, e seus olhos eram verdes-mar como os meus. Pensando bem, acho que ele até parecia comigo. Cabelos negros como os meus, olhos verde-mar como eu já disse, uma pele um tanto bronzeada como a minha. Mas isso não importava. Ele segurava um semideus que gritava sem parar e com a outra mão tentava agarrar outro dos ali presentes. O sátiro, ao ver o futuro campista na mão do gigante, começou a entoar uma canção em sua flauta mágica. Enquanto eu e Jason corríamos brandindo nossas armas, as árvores começaram a se mover em direção ao gigante, agarrando-o com suas raízes e batendo nele com seus galhos. Enquanto as plantas o distraiam, eu e Jason chegamos perto, e Jason brandiu sua lança, atirando-a na coxa do monstro. A criatura olhou para ele e bateu nele com as costas da mão, acertando-o e jogando-o longe. Ele bateu em uma árvore e caiu colina abaixo, mas não havia tempo para isso ainda. Vi o sátiro tocando com toda sua força e gritei:

_Me jogue no peito dele!

O sátiro não pensou duas vezes. Olhou para mim e logo uma árvore me pegou com suas fortes raízes, deu impulso e me jogou sobre o peito do gigante, com a espada em punho. Cai exatamente no meio do seu peito, com a espada perfurada no coração. Ele começou a se desfazer em poeira, e o semideus em sua mão começou a cair junto comigo. Mas ele conseguiu, em seus últimos minutos, dizer:

_Um mal terrível o aguarda Perseus Jackson, ou devo dizer, irmão... - e assim se desfez completamente, sem deixar nem mesmo uma parte de si para trás.

***

Eu me recusava a sair do lado dele na enfermaria. Eu e Leo permanecíamos imóveis, sem ter o que falar um para o outro, apenas olhando para o corpo imóvel de Jason. Ele havia quebrado cinco costelas, fraturado a coluna e quando derrapou colina abaixo caiu em cima de um campista, que por azar tinha uma lança nas costas. A lança passou de raspão no corpo de Jason, cortando metade do corpo. Vim correndo para a enfermaria, e Leo apareceu aqui como um raio quando soube. Tive que contar a história toda para ele. O pobre garoto ficou em estado de choque, puxou uma cadeira e sentou ao lado do jovem loiro. Ele ficou de um lado e eu do outro. Ficamos ali, parados. Outras pessoas vieram ver ele, mas não ficaram, e eu não prestei muita atenção neles. Eles não importavam. Tudo que importava agora era a saúde de Jason. Do meu Jason. E ela não era das melhores.

Leo Valdez é o melhor amigo de Jason. E, enquanto esperava, ponderei a seguinte questão: por que não contar para o Leo? Como eu já disse, ele é o melhor amigo de Jason, e com toda certeza sabe se eu me daria bem ou não com ele. Jason pode até gostar de mim e eu não sei (tá bom, eu sei que é muita carência ficar pensando nessa possibilidade). De qualquer maneira acho que dizer isso no leito de Jason é um pouco egoísta. Acho melhor esperar a ambrosia e o néctar fazerem efeito e ele acordar antes de tentar qualquer coisa. Eu ainda estava pensando nisso, quando duas pessoas entraram na enfermaria para nos chamar para o jantar. E aquelas pessoas sim chamaram minha atenção, pois quem veio me chamar para o jantar, pensava eu, não queria me ver nem vestido de dracma.

_Percy... – disse-me Annabeth, quando entrou na enfermaria.

_Annabeth? – não fiz a menor força para esconder minha surpresa – O que você quer? – perguntei, receoso.

_Vim te chamar. O jantar está pronto. Quíron pediu pra gente vir buscar vocês.

_Não estou com fome.

Pela porta da enfermaria passava Theodore, que vinha em direção a Leo. Ele se ajoelhou e o abraçou por trás da cadeira. Beijou a bochecha de Leo, mas este nem olhou para trás. Suas lágrimas continuavam escorrendo lentamente pelo seu rosto conforme Jason continuava sem se mover. Theodore sussurrou em seu ouvido algo como “hora do jantar, venha, vamos comer”, e Leo disse bem baixinho um “estou sem fome”. Theodore deu mais um beijo em sua bochecha, levantou e foi embora. Annabeth foi mais insistente:

_Vamos Percy. Você precisa comer.

_Não quero Annabeth. Vou ficar aqui com o Leo esperando o Jason acordar. – respondi.

_Tudo bem. Eu vou embora. – finalmente ela desistiu.

***

_Ele é meu melhor amigo. Não quero que ele morra – comentou Leo, com as lágrimas correndo nos olhos.

_Ninguém quer – falei.        

_Percy, você não entende. Ele sempre foi mais que um amigo, quase um irmão pra mim. Ele não queria passar o natal próximo mês sozinho, não, não, estava doido pra arranjar um namorado e...

_NAMORADO? – o cortei. Minha surpresa me fez esquecer o tom de voz e as normas de boa educação.

_Sim Percy – disse, olhando assustado pra mim – o Jason, ele é gay.

_COMO? – por um triz não berrei – Jason é gay? – continuei, baixando o tom de voz.

_Não sabia? Ele sempre foi discreto, mas Jason nunca escondeu quando perguntavam. – Leo perguntou, meio que impressionado

_Você acha mesmo que eu perguntei algo do tipo: Ah, oi Jason! Tudo bem? A propósito, você é gay? – disse com ironia

_É eu sei, muitas pessoas ficam chocadas quando descobrem. Eu sempre soube, desde quando ele descobriu.

_Mas... Ele não parece gay, não grita igual uma garotinha, não fica por aí elogiando a beleza alheia, ele não é como...

_Eu? – Leo ergueu uma sobrancelha, e por um minuto um sorriso passou pelo seu rosto marcado por suas lágrimas.

_Eu não ia dizer isso mas... É, ele não é como você, que fica dando gritinhos e achando beleza no corpo de todos os homens do acampamento.

_Tá mas... Por que você parece tão feliz em saber que o Jason é gay? – Leo sorria.

_Ah Leo... – ponderei o assunto anterior. Nem Grover, meu melhor amigo, sabia da minha paixonite maluca pelo garoto. Mas já estava mais do que na hora de alguém saber, então, lá vai – Leo, tenho que te contar um segredo...

_Pode falar – o filho de Hefesto me olhou sério. Aqueles cabelos pretos bagunçados e aqueles olhos castanhos, Leo não era feio, e até que era um cara legal.

_Se alguém souber do que eu vou te falar morre – ameacei.

_Pode falar. Não vou contar.

_Nem pro Theodore?

_Nem pro Theodore.

_Jure pelo Estige.

_Precisa tanto?

_JURE.

_Tá booooom. Eu, Leo Valdez, juro pelo Rio Estige não contar para ninguém o segredo que irá me contar.

_Okay, lá vai – comecei, suspirando – Eu acho que sou gay.

_HEY! MAIS UM PRA TRUPE! – Leo levantou as mãos pro alto, bobalhão como sempre.

_Isso não é o pior. O problema... É... Eu estou caidinho pelo Jason.

Pela primeira vez na vida, deixei Leo sem palavras. Sua boca ficou aberta, e, depois de um tempo, ele se levantou da cadeira e disse apenas:

_Quando ele acordar, conte para ele que está apaixonado. E beije seus lábios, apenas um selinho. Ele estará completamente na sua – e então saiu, me deixando sozinho com Jason.

***

Demorou um tempo para ele acordar, mas, depois de um tempo, finalmente aconteceu. Ele abriu lentamente os olhos, olhou para um lado, olhou para o outro. E, finalmente, olhou para mim e disse apenas:

_Percy...

E decidi fazer o que o Valdez falou. Levantei, fui até a cama e sentei-me. Cheguei perto do seu rosto e disse:

_Jay, eu estou completamente apaixonado por você. Totalmente. Achava que eu era hetero, achava que eu não gostava de garotos mas você apareceu, e mudou minha percepção completamente. Eu gosto de você Sr. Grace, gosto muito.

_Per, você não sabe o quanto esperei por isso - disse o jovem, com aquele rosto lindo.

Seus lábios se abriram para um pequeno sorriso, e seus olhos brilharam. Abaixei-me sobre ele e fiz uma das melhores coisas da minha vida: selei os nossos lábios. Somente um selinho.