Acho que sou mesmo lerdo. Sabe, Annabeth tem toda razão nesse ponto, mesmo. Demoro demais não só para perceber como as pessoas se sentem em relação a mim, mas também em como eu me sinto em relação às pessoas. Isso, porque só percebi que estava tendo uma “quedinha” pelo Jason, tarde demais, quando ele voltou para o Acampamento Júpiter. Porque poderia levar até seis meses para que ele fizesse outra visitinha de duas semanas e voltasse novamente para lá.

Descobri que estava gostando de Jason pelas pistas sutis que eu deixava. Primeiro, me pegava olhando o sorriso perfeito dele, seus dentes brancos, seus olhos azuis, e sorria sempre que ele sorria. Fazia de tudo para ele rir, apenas para ver o seu sorriso. Segundo, passava todo o tempo com ele, odiava quando o Nico se intrometia no meio das nossas conversas e quando não estava com ele, pensava nele. Terceiro, senti a falta dele no exato minuto em que ele foi embora. Porém, pra falar a verdade, eu menti. Mesmo com todas essas dicas sutis não percebi que gostava dele. A verdade é que percebi que gostava dele porque assim que ele voltou para o outro Acampamento, estava com um tédio gigante, e decidi fazer a enquete da revista Chalé 10, a revista do Chalé de Afrodite, e ali havia uma enquete, cujo título era: Como saber se você está apaixonado(a). Eu estava com um tédio tremendo, como já disse, então optei por fazer a maldita enquete, que dizia cada uma das três dicas sutis. Eu estava incluído em todas as dicas, então, no final da enquete eu vi claramente “Parabéns, você está apaixonado(a)!”. Eu odiei essas palavras. Eram só mais uma lembrança de que aquele projeto de Pikachu havia me fisgado. Ah merda, aquele raio me acertou de jeito, porque até me fez fazer uma piada sobre mim mesmo – pra quem não entendeu, filho de Poseidon, ou seja, mar, peixe, fisgado, sacou?

Essa revista semanal Chalé 10 começou a ser publicada faz seis meses, o que foi logo após o término da guerra dos Gigantes versus Semideuses. Ambos os acampamentos estavam em chamas, e alguém – acho que a Annabeth – teve a ideia de colocar um templo aqui no Acampamento, e com isso vieram ainda mais ideias, principalmente a de criar uma cidade bem aqui, onde os semideuses poderiam viver em paz, com faculdades e apartamentos, como a Nova Roma. Compramos alguns sítios ao lado, os romanos nos ajudando, já que são mais experientes nesse assunto, e começamos a construir, com os filhos de Atena criando todos os projetos de arquitetura – eles queriam inclusive fazer um museu, o que eu acho muito - e para ajudar na construção ciclopes, gigantes (pacíficos é claro) e até mesmo antigos campistas. O lugar ficaria esplêndido, mas para isso precisávamos de dinheiro. Surgiram então vários projetos para arrecadar dinheiro: a venda de morangos aumentou, começou uma venda de uvas, de armas, e de souvenirs de monstros, arrecadados nas duas guerras, a dos Titãs e a dos Gigantes. Os de Deméter ficaram felizes em produzir mais morangos, os de Dionísio nunca estiveram tão felizes depois que seu pai foi privado de seu castigo levando em conta sua participação na guerra, pois agora havia parreiras de verdade em volta do Chalé, além de poderem criar suas uvas e fazer seu vinho, a verdadeira vocação deles. De vez em quando o Sr.D aparecia, e fazia as plantas ficarem completamente carregadas. O Chalé de Hefesto ficou encarregado de fazer um inventário de todo o armamento do nosso acampamento, e Leo foi o encarregado disso. Ficou mais alegre que o normal quando recebeu a tarefa, e agora, toda arma produzida era colocada no inventário. O mais legal é que para tornar isso mais fácil para Leo, este ganhou um Forja Pad (ou HPad), feito em bronze celestial pelo próprio Hefesto e com vários aplicativos que o ajudavam a controlar a venda e o estoque de armamento. Ele amava aquele Forja Pad, levava para todo lugar e não deixava nem Jake encostar o dedo nele (o que é um milagre pois ele amava Jake). No fim, como o Chalé de Afrodite foi o mais destruído durante a segunda guerra, os campistas desse chalé criaram essa revista, sobre a supervisão de Piper e a edição de Theodore Willian. Todos os campistas assinaram a revista, a maioria não porque queriam saber das fofocas do acampamento, ou como saber se maquiar direito, ou como conquistar um garoto ou garota, mas porque era quase impossível dizer não a Piper.

De qualquer maneira, eu estava muito cabisbaixo naquela segunda-feira. Leo também tinha ficado triste com a saída de Jason, mas com Theodore, ou “precioso Theo” como ele preferia chamá-lo, o filho de Hefesto estava mais ocupado beijando e se agarrando ao novo namorado (inclusive eles tinha sido a matéria de capa da revista, chamada de “novo casal no acampamento”). Nico deve ter percebido minha desanimação, pois foi quase imediatamente até o meu chalé. Eu estava na varanda – sim, varanda, todos os chalés passaram por uma pequena reforma depois de terem sido tragicamente demolidos. Nenhum ficou tão ruim como o de Afrodite, como eu já disse, quer dizer, o de Poseidon, por exemplo, só tinha quebrado um pedaço da parede da frente (acredito eu que alguém deve ter jogado algum monstro lá durante a luta), mas mesmo assim Quíron não queria que sobrasse nada da verba gorda que ele recebeu, e fez uma varanda no chalé de Poseidon e colocou um aquário com água do mar lá dentro. Eu nunca reclamaria, afinal eu não tinha do que reclamar – e ele se aproximou, com um casaco preto por cima da camisa laranja do Acampamento. O filho de Hades era legal, mas parece que tinha um radar, pois sempre que a conversa com Jason estava começando a ficar mais animada, ele chegava e “invadia”, por assim dizer, a nossa conversa. E tinha coisas que eu tinha vergonha de dizer com ele ali.

_Olá Percy – cumprimentou Nico.

_Bom dia – respondi, com um suspiro.

_Parece que alguém está apaixonado.

_Quem? – perguntei, curioso. E só aí segui o olhar dele para a revista em minhas mãos – ata. Entendi.

_Você é meio lerdo, não? – falou, brincalhão. Tudo o que eu pude fazer era rir.

_Pode ser que talvez eu seja um pouco – comentei. Já que estava tão entediado, decidi ver o mar, e para lá fui, com Nico me seguindo.

Nós conversamos muito, e temporariamente eu me esqueci do garoto por quem descobri uma recente paixão. Eu gostava muito de Nico, e ele estava me falando sobre seu possível irmão. Ele me disse que Hitler era assim tão famoso porque ele tinha um dom especial como filho de Hades: O de virar sombra. O pai de Nico tinha contado uma história meio esquisita sobre o fato de que quando Hitler foi, por assim dizer, “feito”, Hades estava usando o Elmo das Trevas (ou Elmo do Terror), o que fez com que o jovem führer tivesse a capacidade de sumir temporariamente dos olhos de todos. Mas, o ponto onde Nico realmente queria chegar, era que o criador do nazismo tinha um irmão mais novo, que tinha outras capacidades, além de sua compreensão. Esse garoto havia se perdido na adolescência, e Nico tinha esperanças que pudesse achá-lo, afinal, ele e Hazel eram provas vivas de que existem pessoas de outra época entre nós. E venhamos e convenhamos, ser o único semideus no Chalé é bem chato. Eu sei porque sou o único de Poseidon. Porém, ainda que não sejam em grande quantidade e alguns nem de qualidade, eu ainda tenho alguns irmãos, como os ciclopes, o gigante Anteu, Crisaor, Pégaso (afinal, acho que sendo ele meu irmão, Black Jack e os outros pégasos são praticamente meus sobrinhos), mas, principalmente, Tyson, que até aparece aqui de vez em quando. Ele inclusive prometeu que ia me levar na nova casa dele um dia. Fica no meio do Oceano.

Bem de qualquer maneira, tivemos uma boa conversa na ida até o píer. Quando o assunto virou o Acampamento Júpiter, Nico falou uma coisa que me deu esperanças de que talvez houvesse uma chance para eu ter o meu romano – meu? - de volta:

_Acho que deveria ter um representante romano aqui, entende? Um representante romano aqui e um grego lá, entende, para equilibrar as coisa e impedir uma nova guerra, o que praticamente aconteceu no caminho para Roma. Afinal, temos alguns romanos aqui fazendo intercâmbio para aprender nossa cultura, assim como alguns gregos lá. Nós só pegaríamos alguém e diríamos: esse é nosso representante e se algum grego der problema aí ou quiserem algo de nós é só falar com ele.

Foi uma das melhores ideias que eu já ouvi Nico dar. Era genial, e se aplicava perfeitamente na minha situação. Só havia, no entanto, um defeito: todos iriam querer que eu fosse, e aí, daria na mesmo. A não ser... Não, acho que isso seria antiético. Sim, mandar Harry com toda certeza seria antiético, até porque ninguém iria concordar. Mas que tal mandar Louis? Bem, talvez fosse uma solução. Louis era filho de Apolo, um dos mais cobiçados do Acampamento. Além de cantar muito bem (estivera até pensando em ir a uma dessas competições de canto), todos gostavam dele, ele era bem sociável, e era um dos poucos que não tinha preconceito nenhum contra os romanos. Seria a escolha perfeita. E o garoto com certeza iria aceitar. Talvez lá ele encontrasse os integrantes que faltavam para sua banda, afinal, Louis queria montar uma banda, e já tinha dois integrantes, e o mais divertido era que um deles era irlandês. Esse irlandês até me lembrava um pouco o Jason, afinal, também era loiro de olhos azuis, mas esse também era de Apolo. De qualquer maneira, já sabia o que faria no resto da tarde.

***

Black Jack pousou bem na entrada de Nova Roma, e após conversar com Términos, fui direto até o lugar onde sabia que estariam Reyna e Jason, os líderes do Acampamento Júpiter. Não vou narrar a minha conversa com ele, pois como você deve imaginar, foi um tanto desconfortável, ainda mais com Jason e Reyna brigados. Mas, assim como Quíron, os dois semideuses amaram a ideia, e eles iriam, junto com Lupa, conversar com Quíron imediatamente. Eu iria sugerir Louis para ir ao Acampamento Júpiter e eles iriam sugerir Jason para vir até aqui. Tudo estava dando certo; mas apenas por enquanto. Apenas até eu conhecer o idiota do meu irmão monstro.