E como Yukio havia imaginado, aconteceu. Shiemi não foi para a aulas da manhã. Ao receber a mensagem de confirmação do irmão no celular, Rin abriu um sorriso nervoso. Estava na hora.

Evitando encontrar-se com qualquer outra pessoa no caminho, o garoto caminhou até a casa de Shiemi. Levava sua habitual espada e mochila nas costas, além de estar vestindo o uniforme da escola – não teve tempo nem para pensar numa roupa melhor para a ocasião. Na mão esquerda, levava uma grande cesta. Quando já podia avistar a casa da garota, mandou uma mensagem para seu irmão, sentindo a própria boca secar. Aquela seria sua única chance de fazer algo certo.

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Aquela tinha sido uma noite difícil para Shiemi. Mesmo tentando convencer-se de que estava tudo bem, seu peito insistia em doer, e seus olhos, lacrimejavam como nunca. Conseguiu adormecer, mas acordou cedo graças ao seu celular com o alarme da escola, que foi prontamente ignorado. Sabia que não poderia sair de casa daquele jeito e ver Rin mais uma vez. Ainda não estava pronta.

Tentou adormecer mais uma vez, em vão. Ficou em seu futon, virando de um lado para o outro, até que seu celular fez um rápido som de alerta. Ficou nervosa ao perceber que se tratava de uma mensagem. Quem poderia ser?

“Moriyama-san, está tudo bem? Desculpe-me se for incomodá-la, mas eu poderia buscar mais folhas daquele chá para dormir? Preciso urgentemente. Yukio.”

Ela levantou-se, suspirando pesadamente. Parecia um pouco frustrada. Enviou uma resposta positiva, mesmo que não quisesse ver ninguém. Apesar de tudo, não poderia deixar de atender um pedido simples de Yukio por conta de seus próprios problemas. Olhar para o espelho e ver sua face pálida e avermelhada na região dos olhos a desagradou, mas ela tinha que parecer minimamente normal. Então, vestiu-se com um de seus quimonos e penteou seus cabelos.

Mas ao sair em direção aos jardins, algo a surpreendeu. Havia um cupcake na sua porta. De chocolate, com um singelo morango em sua superfície. Encarou-o, confusa. Pegou-o do chão, analisando-o. Parecia tão saboroso que ela não resistiu em dar-lhe uma pequena mordida.

Extremamente doce, como imaginava. Abriu um leve sorriso, imaginando de onde tinha vindo aquele pequeno, até que deparou-se com outro bolinho, mais a frente. E outro. E mais outro. Pareciam estar querendo levá-la aos jardins. Abriu um pequeno e curioso sorriso, esquecendo-se momentaneamente de sua melancolia. Pôs-se a seguir os cupcakes, recolhendo-os pelo caminho.

Quando eles acabaram, o queixo da garota pendeu. Uma toalha de piquenique estava esticada num espaço entre suas flores, com vários tipos de doces em sua superfície – a maioria deles eram seus favoritos. No centro dos doces, havia um grande bolo decorado com flores comestíveis, e algo escrito na parte de cima. A loirinha se aproximou, e um misto de vergonha e perplexidade a invadiu. Sob o desenho de um guarda-chuva de chocolate, estava escrito claramente “Shiemi e Rin”.

- Shiemi. – Ela ouviu a tão amada voz, atrás dela. – Ontem... eu entendi tudo errado, pensei que você gostava do meu irmão. Sei que você não deve estar querendo nem ao menos olhar pra mim, mas-

- Rin... – Murmurou, totalmente sem reação. Seus olhos verdes estavam arregalados como nunca.

- Eu gosto de você, Shiemi! Aliás, não só gosto, estou apaixonado! – Ele cerrou os punhos, sentindo o rosto esquentar. – Então, não importa o que você tenha para me dizer, diga agora, eu irei te escutar! – Ele calou-se finalmente, respirando forte. Não imaginava que se declarar fosse mais exaustivo do que uma batalha contra um forte inimigo.

Ela tremeu. Os bolinhos em seus braços caíram sobre os outros doces no chão, restando apenas um – o último recolhido – em sua mão direita. Ficaram um tempo sem dizer nada, Rin encarava com ansiedade a nuca branca da garota por entre os fios dourados pelo sol. Quando ela virou-se, o que o rapaz viu foi um par de bochechas infladas e as sobrancelhas franzidas naquele rosto infantil. E um bolinho de cereja indo em sua direção, o acertando em cheio no rosto.

- Rin, s-seu idiota! – Ela gritou. Ele arregalou os olhos, sentindo o impacto de outro bolinho, nos seus cabelos. O rosto dela estava vermelho de raiva e vergonha. Ele abaixou a cabeça e fechou os olhos ao vê-la se aproximar com uma das mãos levantadas, imaginando que ela lhe acertaria desta vez com o punho.

Mas não foi o que aconteceu. Ao invés de bater, Shiemi o abraçou, enlaçando-o pelo pescoço. Ele ficou sem reação, sentindo aquele corpo macio junto ao seu e os cabelos dela fazerem cócegas em seu nariz. Seus corações pareciam disputar para ver qual conseguia bater mais rápido.

- Como pôde pensar que eu gosto do Yukio quando eu só tenho olhos pra você? – Ela confessou, puxando-o mais para si. – Só pra você, Rin. – Enfatizou. Ele afundou o rosto na curva do pescoço dela, inspirando aquele cheiro agradável de flores. Suas mãos subiram, abraçando-a pela cintura.

- Então... – Ele sorriu de canto, sem jeito. – Posso considerar os doces que fiz como símbolo da comemoração do nosso primeiro dia de namoro? – Ele a escutou rir baixinho. A loira se afastou um pouco dele, revelando seus olhos marejados e seu enorme sorriso. Ele já tinha sua resposta.

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Yukio arrumou tempo para escapar de uma de suas aulas – uma raridade, diga-se de passagem –, apenas para ver como o irmão tinha se saído. Contudo, ao se aproximar dos jardins de Shiemi, ele precisou esconder-se entre as plantas rapidamente.

Rin estava sentado perto dos doces que havia feito – e que doces! -, rindo abertamente. A loira, que estava sentada entre as pernas do rapaz, tentava prender algumas flores pequenas e coloridas nos cabelos azulados.

- Rin, se você rir, eu não vou conseguir me concentrar! – Ela disse, num tom de repreensão, mas seu rosto estava radiante e sorridente.

- Mas faz cócegas! – Ele replicou, estendendo a mão e pegando uma das flores que caíram. – Além do mais, elas combinam melhor com você do que comigo. – Dito isso, ele colocou a flor sobre a orelha dela. Aproveitou a ação para segurá-la pela nuca e dar-lhe um rápido selinho nos lábios. Ela corou, tomando um dos bolinhos e enfiando-o na boca do garoto. Em seguida, levantou-se. – Por que fez isso, Shiemi? – Ele disse de boca cheia, mastigando o bolinho.

- Porque eu gosto do sabor do chocolate. – Ela abriu um sorriso, correndo entre o jardim. Rin pareceu levar um bom tempo para concluir o que aquilo significava, e quando o fez, corou imediatamente. Abriu um sorriso brincalhão e levantou-se num salto, correndo atrás dela, mas não sem antes colocar mais um pedaço de chocolate na boca.

- Olha só como esse idiota está sorridente. – Murmurou Yukio, consigo mesmo, soltando uma leve risada. – É, ele será capaz de fazê-la feliz. – Levantou-se, indo em direção à escola. Estava satisfeito por ter visto seu irmão e Shiemi daquela forma. Fitou o chão por onde andava, com seu semblante começando a se transformar, até assumir feições sérias e talvez melancólicas.

Estava satisfeito, mas ao mesmo tempo, doía-lhe o peito. Não conseguia parar de pensar em como as coisas teriam sido se o Okumura debaixo do desenho do guarda-chuva de Shiemi fosse, de fato, ele mesmo.