– Sinto-me esgotada - Disse ao sentar-me no chão, Soul que estava nas minhas mãos em forma de foice até á uns segundos atrás materializou-se na forma humana, sentando-se ao meu lado. - Estás a ficar fraquinha Maka. - Disse ele rindo ao brincar com o meu cabelo.

Estávamos a treinar á 4 horas seguidas, desde que lhe tinha ligado no dia anterior ficou super animado por ir "enfardar" almas negras. Eu não podia deixar de pensar no que Kira tinha dito, quer dizer se a alma é imortal como podem as armas come-las? Será que isso é a unica forma de as matar? Confesso que estava bastante confusa com essa situação, se ao menos eu pudesse encontra-la ai poderia irar todas aquelas duvidas e questões que me assombravam. Mas por outro lado poderia mesmo confiar nela? E para piorar a confusão que existia na minha cabeça, havia esta situação com Kid, quer dizer apesar de tudo eu ainda gosto dele, cada vez mais.

– Magricela acorda. - Ordenou Soul, enquanto me dava um pequeno murro no braço. - Tens estado muito distraída, apenas caçamos aquele estripador, em 4h já devíamos ter encontrado.. - Ele olhou para mim e para o meu ar absorto e desistiu do que quer que seja que ia dizer. - Devias ir para casa, estás um farrapo, mal te consegues concentrar.

Suspirei. - Tens razão Soul, desculpa, estou com muitas coisas na cabeça. - Disse levantando-me e olhando o sol ao longe, naquele telhado onde nos encontrava-mos tínhamos uma vista magnifica, podíamos ver aquele sol de fim de tarde banhar toda a cidade, não tarda muito ia escurecer. - É melhor irmos andando, está a ficar tarde.

– Sabes que podes confiar em mim, não sabes? - Disse Soul ao colocar-se á minha frente, forçando-me a olhar naqueles olhos vermelho sangue. - Maka porque estás assim?

– Assim como? - Perguntei fazendo-me de desentendida. - Soul eu estou óptima, já tu.. deves ter batido com a cabeça em algo pois estas a ver coisas onde não existem. - Afirmei enquanto lhe virava as costas e andava na direcção oposta. Confesso que ri internamente com a ironia do que acabara de dizer.

– Oh por favor. - Apesar de estar virada de costas para ele soube que naquele momento revirava os olhos. - Vais me dizer que não estas estranha? Que não olhas para cada sombra com medo? Que não estás mega distraida? E que o facto de tu e o Death The Kid não se falarem ser normal? - Perguntou ele gritando um pouco devido á distancia que havia entre nós. Com a ultima pergunta dele os meus passos cessaram, eu queria poder contar-lhe sobre tudo o resto, mas aquele assunto é algo que eu simplesmente não ia abordar, não nos próximos tempos.

– Não te metas onde não és chamado Soul Eater Evans. - Gritei com raiva ao me virar para ele.

– Eu não me quero meter em nada Maka, mas custa-me ver-te assim, eu sou o teu parceiro, mais importante, eu sou teu amigo. - Disse ele com um olhar triste, ao se aproximar de mim. - Era suposto tu confiares em mim. - Afirmou olhando nos meus olhos, de seguida contornou o meu corpo indo buscar a sua mochila e seguiu na direcção oposta a onde eu me encontrava. Fiquei ali um pouco parada a olhar o sol pôr-se enquanto o meu melhor amigo se afastava, olhei para trás e pude ver ao longe a sua sombra, desapareceu em poucos minutos.

Sentei-me ali no telhado á medida que todo o seu escurecia e a lua dava sinais da sua presença os pensamentos invadiam a minha cabeça. Quem era eu? O que me estava a tornar? Sinta-me a definhar, um corpo sem mente era isso que eu me estava a tornar, ou melhor um mente demasiado desgastada para habitar aquele corpo que precisava de cuidados. Eu sentia-me um robô apenas fazia as coisas por habito, sem sentir pois já tinha sentido demais. Estava em estado de choque era certos, mas não podia ficar assim por muito tempo pois não me reconhecia. Maka Albarn.. Seria mesmo esse o meu nome, seria isto que eu vivi até agora verdade? Quer dizer sim é verdadeiro mas valia a pena? afinal de contas eu estava aqui com uma missão um propósito, estava aqui apenas até ela acordar até eu não ser mais necessária. Por um lado foi bom as coisas com Kid terem acabado (sé é que houve alguma coisa verdadeira naquilo tudo) pois quando "eu" acordar talvez o meu Eu a Maka deixe de existir, quer dizer como será? Vai doer? Eu vou saber o que tenho de fazer? Eu só queria algumas respostas, um busula que me indicasse o caminho sentia-me tão perdida, o que me ia acontecer? Eu sentia-me uma aberração, pois não havia nada de normal em mim, como podiam os meus amigos olhar para mim depois disto? Se eu lhes contasse a verdade o que pensariam eles? Mas não era a opinião deles que me impedia de lhes contar, pois eu sabia que eles gostavam de mim, mas se eu lhe contar isso torna as coisas mais reais.

Enquanto eu não falar sobre isto, talvez eu esteja a endoidecer não sei. Já nem penso coisas com nexo... Suspirei rendida, o cansaço tomava completamente conta do meu corpo, já não dormia á duas noites, fechei os olhos e deixei-me levar por aquela onda que me levava para um mundo de sonhos, que ultimamente mais viravam pesadelos.

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Acordei sobressaltada com o barulho de um trovão que caíra bem perto de mim. Olhei para o céu, estava completamente escuro, era apenas iluminado pela pequena lua que estava escondida por entre toneladas de nuvens cinza de onde caiam constantemente pequenas gotas de chuva. Senti o meu corpo extremamente frio e molhado e percebi que já chovia á algum tempo, olhei antónima para as minhas mãos enquanto me perguntava a mim própria como não acordara antes. "Raios devia estar mesmo cansada". Saltei parao telhado do lado começando me a dirigir para casa onde contava tomar um banho quente. A telha onde coloquei o pé estava solta o que fez com que escorregasse, apenas consegui agarrar a beira do telhado, olhei para baixo tentando ver a melhor maneira de sair dali, estava apenas no 2º andar e havia uma varanda no meu lado direito para onde, talvez, com bastante sorte conseguiria saltar.Comecei a balançar o corpo preparando-me para o salto, quando devido á chuva os meus dedos começaram a escorregar, conseguia ver literalmente a minha vida a escorrer-me pelos dedos á medida que a minha mão molhada largava a beira do telhado. Esperei sentir o meu corpo a cair e fechei os olhos com medo do impacto no chão molhado, quando senti algo prender-me pelo pulso, quando olhei para cima vi uma grande mão branca a segurar-me, e uns lindos e conhecidos olhos dourados a olhar-me.

Marco Medeiros - Não sou de Marte

Eu não sou cruel
Nem sou coisa parecida
Sou só o exemplo
De uma causa perdida

Não sou de todas as cores
Estou pintado de branco e preto
Não faço parte do céu
Nem com o inferno me comprometo

Dizem que vejo no escuro
E que me guio pelos ventos

Se eu não sou de cá
Culpa não tenho
Também não sou de Marte
Mas é a perder que ganho
De noite guio-me pelas estrelas
Perco-me no luar
Corro mais que tu
E não alcanço o teu olhar

Sei que ninguém me entende
Por mais que tente eu não sou de cá
Sou de outro mundo
Sou de outra gente
Eu sou diferente, onde quer que vá

Dizem que vejo no escuro
Dizem que leio os pensamentos
E que me guio pelos ventos

Há planetas por escolher
Há naves para navegar
Há tanto por aprender.
Há tanto por escrever