Shannon chegou na minha casa 1 hora depois. Em vez de pipoca, trouxe um monte de vodka e alguns salgadinhos gordurosos.  Foi entrando pela casa como um furacão, por onde passava deixava uma enorme bagunça.

- Ei, Shannon, vai abrir um bar dentro da minha casa? – perguntei, até porque vindo dela isso seria totalmente possível. – Acho que isso é contra a lei, ou algo assim.

- Não, Perry. Isso tudo é para consumo próprio. – ela respondeu, dando uma piscadinha. – Vai querer?

Era uma proposta tentadora, mas precisei recusar. Se eu chegasse de ressaca na coletiva, seria mesmo uma vergonha. Então, peguei um DVD de uma comédia romântica. Shannon revirou os olhos, ignorei. Peguei alguns petiscos das sacolas dela e fiquei devorando. Aos primeiros 2 segundos de filme, Shannon murmurou:

- Oh, meu Deus, esse é mesmo muito gostoso. Dou nota 10.

Eu e Shannon tínhamos um jogo muito imaturo em que dávamos notas toda vez que víamos algum cara realmente gostoso. Mas, eu havia desistido por causa da irritante mania que ela tem de dar 10 para todos os homens de abdômen definido 

- Você sabe que não vale ficar dando nota 10 para todos os caras do planeta Terra. É simplesmente injusto com os que são realmente nota 10. – expliquei.

- Ah, foda-se. Me deixa com meus próprios requisitos de julgamento, OK? – ela disse, com uma falsa cara carrancuda, enquanto jogava uma almofada em mim, o que fez Kitty Purry dar um pulo. – Toma essa, Katheryn.

Assim nós ficamos até tarde implicando uma com a outra e tentando nos concentrar no filme. Expulsei Shannon às 23h, por causa da minha necessidade de descansar para a coletiva de imprensa. Enfiei minha amiga no primeiro táxi que arranjei, pois ela estava muito bêbada. Kitty Purry pôde, então, descansar em paz, sem ter que ouvir nossos xingamentos em relação à vadia do filme, que fez de tudo pra separar o casal bonitinho-porém-sem-sal de protagonistas.

Assim que a vaca foi embora, deitei e dormi como um gatinho.

Na tarde do dia seguinte, cheguei 5 minutos adiantada no local da coletiva. Por incrível que pareça, os voos para Miami saíram bem rápido. Sentei-me e tomei um longo gole de água, respirando fundo e tentando lembrar tudo o que eu havia ensaiado com Tamra. Odeio ser pega de surpresa.

- Ei, Katy! Em algum momento você quis evitar alguma cena do seu divórcio no filme “Part Of Me”? – ok, essa  pergunta era fácil, umas 300 pessoas me perguntavam isso todos os dias, o problema era pensar em Russell e naquelas cenas tristes.

- Bem, você não pode evitar um elefante branco no meio da sala. – respondi, fazendo uma careta – O filme foi feito para os meus fãs, e eu sinto que eles perceberiam se algo tivesse sido omitido. – pausa para um gole de água. Estou surpresa por não ter sentido aquela dor arrasadora ao pensar em meu casamento.

- Olá, Katy, sou Jeniffer do “Miami Reporter”. – gritou uma jovem morena e com o cabelo castanho-acobreado. Observei suas pernas torneadas. Ela parecia malhar bastante para alguém que era tão ocupada.  - Como você lida com os paparazzi? E como pretende se livrar deles durante suas férias?

- Veja bem, os paparazzi estão fazendo o trabalho deles, que pode ser bem irritante às vezes, mas quando se é famoso, você aprende a lidar com isso da melhor forma. Claro que há vezes em que os paparazzi passam dos limites – respondi, bufando. Refleti então sobre a segunda pergunta. – E sobre minhas férias, bem... Eu acho que vou aproveitá-las em um lugar bem distante e secreto – disse, dando uma piscadinha de leve.

Assim que acabou a coletiva, liguei para Shannon:

- Hey, senhorita Woodward! – disse, e logo depois contei a ela toda minha brilhante ideia de viajar para o interior, ao que ela respondeu com:

- SUA MALUCA! Como você vai arrumar um lugar secreto em que não te vejam com essas roupas engraçadas e esse cabelo roxo? – ela gargalhava do outro lado da linha – Não me venha com essa, Perry.

Bem, meu cabelo roxo não é tão chamativo assim. Eu ia pintá-lo antes de ir ao Rio, mas desisti porque realmente me apaixonei por essa cor. Quando mudo minha cor de cabelo, é como se eu fosse outra pessoa, nascendo novamente, sendo apresentada ao mundo...  Então eu tive uma ideia... Eu poderia me disfarçar durante as férias! Sim, eu poderia! Se eu pintasse o meu cabelo de castanho-esquilo novamente (oh, céus) e usasse uma maquiagem bem diferente, um corte de cabelo mais comum, pronto, estaria misturada na multidão!

Todas as pessoas no mundo imaginavam que eu estava planejando ir para uma casa no interior, no meio do mato. Pois bem, eu faria justamente o contrário, só que ninguém poderia saber.