- Precisamos ler o capitulo 4 para fazer o trabalho - Emily me disse, assim que eu entrei em seu quarto.
      Emily me convidara para fazer o trabalho em sua casa, mais cedo.
      - Quer ir lá em casa hoje? - Perguntara Emily enquanto pegava meu livro de matemática do armário. Fechei a porta suavemente e olhei para ela.
      - A professora passou um trabalho para semana que vem. - Ela continuou - Não sei se você ouviu. Parecia que estava dormin...
      - Eu ouvi - Interrompi, secamente - Não preciso ir à sua casa. Fazemos aqui na escola.
      A última coisa que eu queria era escrever um trabalho de biologia, sentada na cama com lençol cor-de-rosa cheia de babados de Emily, enquanto um unicórnio pastava em seu jardim, ou algo assim.
      - Não daria tempo - Emily continuou sorrindo. Eu queria mandá-lá parar de sorrir, era irritante demais. - Temos que fazer alguma parte dele, pelo menos, fora da escola.
      Não tinha o que dizer, então, suspirei.
      - Minha casa, depois da escola. Não se esqueça. - Emily disse e, em seguida, saiu andando.
      O quarto de Emily não era cor-de-rosa, como eu imaginava. Na verdade, era bem bonito e aconchegante,  com todos os móveis em um tom de bege. E ela, para minha surpresa, não tinha um unicórnio de estimação.
      Me senti desconfortável ao entrar em seu quarto, como se eu fosse algum tipo de intrusa.
      - Você lê a primeira metade do capitulo, e eu leio o resto. - Ela continuou - Depois explicamos o que lemos e tentamos fazer o trabalho. Temos até quarta da semana que vem para terminar, aí apresentamos para a classe.
      Concordei com a cabeça e sentei-me em sua cama. Peguei meu livro e comecei a ler, como Emily havia me dito para fazer. Ela fez o mesmo.
      Em determinado momento, levantei os olhos do livro e olhei para Emily. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque. Ela parecia compenetrada, sei disso porque, pela primeira vez, ela não estava sorrindo.
      Ela deve ter percebido que eu não tirava os olhos dela, pois ela levantou a cabeça e olhou para mim. Rapidamente, desviei o olhar e voltei a ler as páginas do livro. De relance, percebi que ela deu uma risada e fechou o livro.
      - Quer dar uma pausa? - Ela me perguntou - Podemos tomar um lanche, ou algo assim. Você parece entediada.
      Nervosa, fechei o livro e concordei com a cabeça. Não sabia o motivo do meu nervosismo.
      Emily saiu do quarto e eu pude ouvir o barulho de seus pés enquanto descia as escadas. Olhei à minha volta. Eu adorava seu quarto, mesmo sem saber ao certo o motivo. Sua cama era grande, e tinha pelo menos dez almofadas. Sua parede era cheia de pôsteres de bandas; algumas que eu adorava, outras que eu desprezava. Havia uma estante com o que parecia uma infinidade de livros. E, em sua escrivaninha, uma foto de uma criança sorridente. Reconheci Emily pelo sorriso.
    Senti meu celular vibrar no meu bolso, e peguei-o. Eric tinha me mandado uma mensagem.
    "Como é o quarto da garota nova?" Ele me mandara. Eu sorri.
    "Desista, Eric, apenas desista." Eu mandei de volta.
      A porta se abriu alguns minutos depois, e Emily entrou com duas taças de sorvete na mão.
      - É de morango. Espero que você goste, porque só temos esse sabor - Ela riu , e entregou uma taça para mim. Tomei uma colherada.
      - Aconteceu alguma coisa? - Emily sentou-se ao meu lado - Você parece quieta demais.
      Ela estava perto demais de mim. Perto demais para o meu gosto. E, por algum motivo, sua proximidade me deixava nervosa. Eu não queria que Emily se aproximasse de mim.
      - Eu preciso ir - Levantei-me da cama rapidamente - Lembrei que tenho um compromisso. A gente continua outro dia.
      Sem olhar para trás, peguei minhas coisas e saí de sua casa. Andei depressa pela rua, com passos largos. Até que um momento, parei de andar. Sentei na calçada e suspirei.
      Por que Emily era gentil comigo? Eu não era uma pessoa que os outros tratavam bem. Nunca fui. Mas Emily, ela parecia feliz de falar comigo, de interagir comigo, mesmo eu sendo tão antipática com ela. Eu não entendia isso. Ela parecia realmente se importar.