O Amor Em Preto E Branco escrita por Lilly C


Capítulo 22
Lembranças frustradas




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Devido aos acontecimentos, meus pais me permitiram faltar a aula na sexta-feira também. Porém, tive que retornar a escola na semana seguinte. Os dias sem Hannah eram incompletos, tristes, vazios, não faziam sentido, nossa rotina havia sido desfeita, não assistiria séries e faria brincadeiras bobas durante uma tarde inteira se não fosse com ela. Misteriosamente, a notícia da morte dela havia chegado aos ouvidos de todos os meus colegas da nova escola, o que só piorava a situação, mas eu não rejeitava os consolos, era exatamente disso que precisava, apesar de tentar negar a mim mesma. As coisas só não estavam piores porque tinha feito amigos, amigos verdadeiros, que não me julgavam e estavam lá para me ajudar em qualquer coisa.

Passara a semana que se seguiu tentando recordar a noite em que tivera aquela recaída e me entupira de remédios. As lembranças sempre se interrompiam, não me deixando ver o ocorrido até o fim. Tentavam me concentrar por vários minutos, mas chegava a certo ponto que eu desistia. Por algum motivo eu precisava me lembrar, sentia que era algo importante. Mas, simplesmente não conseguia recordar.

Continuava indo a psicóloga, uma vez por semana, era bom poder desabafar sem ter olhares de pena sobre mim. Além ser uma ótima pessoa, Samantha me dava ótimos conselhos. Eu contara a ela sobre as recordações incompletas daquela noite e ela me disse para tirar um pouco isso da cabeça, quando eu menos esperasse, eu lembraria. E foi o que. tentei fazer, porém quanto mais tentava parar de pensar nisso, mais eu pensava.

Passara a frequentar a clínica todas as tardes, não precisava mais passar a noite lá, apenas ia para conversar com Christopher e algumas outras pessoas que conhecera. Frequentemente perguntava a Christopher se ele não estava omitindo nenhum fato daquela noite, ele sempre garantia que não, mas eu ainda duvidava.

O conselho que Samantha me dera realmente funcionava. Havia esquecido, deixado de tentar me recordar daquela noite, foi então que lembrei...

Será possível?

A cena veio embaçada em minha mente. Concentrei-me, tentando rever a lembrança recém revelada novamente. A cena se repetiu, desta vez, muito nítida, finalmente a angustia de recordar havia passado, mas um novo incomodo surgira. Estava completamente chocada. Christopher e eu... nos beijamos. Seria isso realmente a lembrança ou apenas um devaneio maluco? Ele gostava de mim a esse ponto? E eu... Gostava dele dessa forma?

Pensamentos cruzavam minha mente num frenesi incontrolável, embaralhando-se, me confundindo, criando perguntas, negações. "Ele é só meu amigo. Nada além disso. Não sinto nada disso por ele." tentava me convencer insistentemente. "Ele não gosta de mim desse jeito. Devo estar imaginando coisas. Ele é só um amigo...”.

Passara a tarde repetindo minhas convicções mentalmente. "Só um amigo... Só um amigo...”.

Por mais que tentasse me convencer que não, o que sentia por Christopher mudara. Estaria eu apaixonada? Não! Mas simplesmente não conseguia ignorar a possibilidade do beijo. A cada vez que o via, meu coração acelerava, como se, a qualquer momento, ele pudesse vir até mim e me tomar em seus braços. Não sei se era impressão, mas Christopher apresentava uma angustia nos olhos toda vez que me via. Minha mente se tornara uma montanha russa, dando voltas e mais voltas, subidas, descidas...Pensamentos misturando-se, confundindo-me. Pior que não me lembrar, era não conseguir distinguir as memórias da imaginação. 

Mantinha minhas visitas vespertinas à clínica, fingindo indiferença, disfarçando o desconforto e a agonia que me assombrar todas as vezes que meus olhos iam de encontro com os dele. Maldita dúvida. Eu não poderia simplesmente perguntá-lo. "Mas então, nós nos beijamos?". Seria loucura, ele pensaria que eu voltara a fumar, se não tivesse acontecido. Mas e se realmente aconteceu? Não, não seria possível. Estava pirando, acabara de sair de uma clínica de reabilitação e agora iria para um sanatório.

Os dias pareciam arrastar-se, cada um deles parecia durar o dobro de tempo. Vivia um dia de cada vez, não pensava no amanhã. Ignorava o vazio, tentava tampar o buraco que fora aberto em mim junto da cova de Hannah. Eu ainda tinha vontade de morrer por causa disso, mas não ia abandonar a batalha, nem tentaria, não dessa vez...


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