O Amor Em Preto E Branco escrita por Lilly C


Capítulo 21
Novos eixos




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Realmente, tudo estava entrando em novos eixos e melhorando. Eu não precisava mais ficar 24 horas na prisão branca, só precisava passar a noite, provavelmente para terem certeza de que não faria nenhuma besteira. Passava bastante tempo com meus pais e com Hannah, estava frequentando uma nova escola, ia à psicóloga toda semana, conhecera pessoas novas, fizera amigos, verdadeiros dessa vez. Passara a conversar com as pessoas da clínica, principalmente com Christopher, o garoto que impedira minha fuga, ele se mostrara uma boa pessoa, que realmente queria ajudar. Bem, eu me deixei ser ajudada por ele e nos tornamos ótimos amigos. Ele tinha um passado triste, seu irmão morrera por causa das drogas, e ele sentia a vontade de ajudar os que participavam dessa realidade, por meio de trabalhos voluntários na clínica. Tudo estava se encaixando.

Todos os dias, após a escola, eu e Hannah íamos a minha casa, como sempre fizemos, somente quando começava a escurecer que nos separávamos, ela voltava para casa e eu, para a clínica. Vez ou outra, Christopher nos ajudava a estudar, ele estava no terceiro ano do ensino médio, sonhava em cursar relações internacionais e estava disposto a tentar entra em Cambridge, a Universidade Federal de San Francisco era pouco para ele.

Algumas vezes, certos acontecimentos me fizeram acreditar que deveria existir um equilíbrio entre tristeza e alegria na vida de cada um. Se tudo estava bom em minha vida era preciso que o destino, com o pior dos golpes, reequilibrasse...

Um anjo de volta ao céu

Era quarta-feira, eu e Hannah havíamos passado a tarde assistindo nossas séries preferidas e jogando vídeo games, devíamos ter estudado, mas fazia tempo que não nos divertíamos juntas. Eram quase sete horas, Hannah já deveria ter ido para casa e eu, para a clínica passar a noite, mas insistira para que ela ficasse mais um pouco e terminasse de assistir o filme que havíamos começado. Era uma comédia romântica, nosso gênero preferido. Rimos e choramos até o final. Dirigimo-nos à porta, ofereci carona a Hannah, que agradeceu e disse que iria andando, entre no carro e logo cheguei à clínica.

Dormia em meu quarto quando fui acordada pelo toque de meu celular, deviam ser umas 11 horas. 

-Alô.

-Filha... -era minha mãe, sua voz era trêmula- Aconteceu... algo terrível!

-Mãe, está chorando? -perguntei, tomada pela preocupação.

-Sua prima... -ela mal conseguia falar.

Subitamente tive a sensação de saber o que estava acontecendo. Tentei reprimir o pensamento, não era possível.

-Quando ela estava voltando para casa... ela foi assaltada, mas se recusou a entregar a bolsa, então... -minha mãe interrompeu a frase, soluçando.

-Ela... ela foi... -minhas suspeitas estavam praticamente confirmadas, só faltava uma palavra para me dar total certeza.

-Assassinada. -minha mãe completou, pude ouvir seu choro aumentar.

Lágrimas e soluços incontroláveis tomaram conta de mim. Não podia ser verdade, minha melhor amiga, quase irmã. Recusava-me a acreditar. Havia perdido meu anjo da guarda. E a culpa era minha, eu insistira para que ela ficasse, eu a fizera ir embora mais tarde, correndo riscos sozinha pelas ruas. Eu era a culpada pela morte dela, eu. 

A agonia e a tristeza da perda tornavam-se mais fortes a cada segundo, tornaram-se enlouquecedoras. Estava fora de mim, acabei perdendo a cabeça. Sai do quarto e vaguei pelos corredores da clínica, pretendia ir até a cozinha, mas encontrei algo melhor no caminho, um armário com portas de vidro onde guardavam-se vários remédios, imaginei que estaria trancado, mas não estava, abri e peguei todas as caixas e potes de remédio que consegui. Voltei para o quarto, fechei a porta, comecei a abrir as embalagens e tomar compridos que não fazia ideia da função. Isso seria suficiente para me matar? Despois de alguns muitos comecei a ter uma dor de cabeça muito forte, continuei engolindo comprimidos de dois em dois. Estava quase fora de consciência. 

Ouvi batidas na porta, seguidas pela entrada de alguém que não reconheci à primeira vista, minha visão estava muito turva.

Repentinamente, a pessoa correu em direção a mim, então, pude ver que era Christopher.

-O que você fez sua maluca? -ele perguntou, quase desesperado.

-Quero morrer! –gritei, revoltada.

-Você sabe o que esses remédios fazem?

-Não me interessa...

-Você não vai morrer tomando isso.

-Então eu pulo da janela! -disse, me levantando, mas sendo impedida por Christopher de ir até a janela.

-O que aconteceu? -ele realmente parecia preocupado- Você estava tão bem. Por que esta fazendo isso?

-Ela morreu! Por minha culpa.

-O quê? Quem morreu?

-Minha prima. E a culpa foi minha. -as lágrimas tornaram a cair.

-Como isso aconteceu?

-Ela foi assaltada e então... -as lágrimas e a dor me impediram de completar a frase.

-Como pode ter sido culpa sua? -apesar de minha visão estar embaçada, pude ver tristeza nos olhos dele.

-Quero morrer! Não tenho mais ninguém, não tenho mais motivos para viver. -voltei a dizer.

-Existem várias pessoas do seu lado que nunca vão te abandonar. Você tem a seus pais, seus amigos... Você tem a mim, e eu posso te dar vários motivos para viver. -após essas palavras, tudo aconteceu muito rápido. 

Christopher aproximou seu rosto do meu, me surpreendendo com o contato de seus lábios nos meus. No início relutei, cedendo aos poucos, até me entregar totalmente ao beijo. Senti tudo parar, como se naquele momento eu e ele estivéssemos em um mundo à parte, só nosso. Seus braços me envolveram, fechei os olhos, tudo o que importava éramos nós dois e o sentimento que eu acabara de descobrir.

Afastamos nossos rostos, olhei em seus olhos e sorri, seus braços ainda me prendiam, perdi a vontade louca e incontrolável de deixar a vida, então tudo escureceu...

Memórias incompletas

Acordei com o som estridente do despertador. Sentei-me, tentando lembrar da noite anterior. Flashes de memórias disparam em minha mente, aos poucos faziam sentido, lembrava-me de ter me enchido de remédios e do motivo que me levara a fazer aquilo, a ligação que revelara uma triste e, a partir daquele momento, eterna realidade. Não lembrava de nada além disso, mas tinha a sensação de que fora apagada uma memória importante.

Hannah partira, para sempre. Senti as lágrimas novamente, se continuasse assim, meus olhos secariam completamente. Precisava ser forte, queria ao menos parecer forte. 

A porta se abriu cautelosamente, era Christopher. Sequei as lágrimas e tentei sorrir, ele sentou-se ao meu lado, sorrindo também.

-Você sabe que não precisa provar a ninguém que é forte. -ele disse, secando as lágrimas que ainda escorriam.

-Preciso provar a mim mesma...

-Seus pais estão vindo te buscar, para irem ao... velório. -percebi um pesar na última palavra.

-Hum... -senti uma vontade quase incontrolável de chorar- Mas, mudando de assunto, o que aconteceu noite passada?

-Você não se lembra?

-Mais ou menos.

-Bom, eu não sei como, mas você descobriu que sua prima... -ele evitou dizer- Então, quando eu vim te dar aquele remédio da noite, te encontrei jogada no chão com várias caixas de remédio. Você estava meio alterada, eu tentei te acalmar e...

-E...?

-Você não lembra? -balancei a cabeça- Bom... Aí, você apagou, sei lá.

Ele pareceu meio sem jeito, tive a impressão de que escondia algo. Christopher saiu do quarto sem dizer mais nada, meio cabisbaixo, troquei de roupa e fui para a recepção da clínica a espera de meus pais.

Não haviam muitas pessoas no velório, não participei da cerimônia toda, não aguentaria. Fiquei esperando no carro, segurando lágrimas e soluços, aguardando ansiosamente minha ida para casa.

Deitada na cama, ainda tentava enfiar na cabeça que Hannah se fora, a ficha não caía, parte de mim ainda insistia que acordaria no outro dia e ela estaria comigo novamente, com sua alegria, sua luz. Não teria que ir a escola, então, por enquanto, não me preocuparia com isso. Não contara a meus pais o ocorrido da noite anterior e nem tinha intenção. Fechei os olhos, estava muito cansada, as cenas da noite se repetiram em minha mente, parando na parte em que Christopher tentava me acalmar, não conseguia lembrar o que acontecera depois disso. Tentando me concentrar, apertei os olhos, me esforçando para lembrar, várias memórias vieram a tona, exceto a que eu queria. Desisti e me rendi ao sono.


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