Um Novo Caminho Para O Pequeno Amon escrita por AnyBnight


Capítulo 5
Capítulo 5 - Conselho




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Pouca luz restava no céu, o laranja do entardecer era dominado pelo azul da noite. Ventava um pouco, mas não fazia frio.

Nos fundos da modesta fazenda, Ryan ajudava Arme com as barracas, montadas ao ar livre para garantir a segurança das hortas durante a madrugada. O pequeno Amon Negro apenas observava sentado sobre a cerca que demarcava as terras da plantação. Barracas armadas, Ryan se voltou para os canteiros. Seu poder criava totens em meio as plantas, e desses totens, uma fina luz emanava e desaparecia em ondas que cobriam toda uma área.

- O que é isso agora? - Amon perguntou quando Ryan se aproximou para admirar seu trabalho.

- Totens de proteção. Não podemos correr o risco de ameaças imperceptíveis atacarem de madrugada.

- Tinha uma dessas coisas perto de onde acordei. Voltando ao assunto, se tem totens para proteger as plantas, por que vocês dois tem que ficar aqui fora?

- Não podemos dormir na casa dos clientes assim e não tem espaço no armazém. - Dizia olhando ao redor.

- E por que duas barracas?

Ryan corou forte e não teve coragem de virar o rosto para o Amon. Em vez disso, saiu de perto. O pequeno Nephirim negro foi deixado pra trás pensando "não entendo essas criaturas".

Logo já estava completamente de noite. As únicas luzes ali eram as estrelas da noite sem lua e o fraco brilho dourado emitido pelos totens. O vento arrastava as folhas secas e o aroma proveniente das flores nortunas. O balançar dos galhos era o único som ouvido pela dupla e meia, que terminava com o que sobrou do almoço.

- Eu quero mais - Amon estendeu a tigela, autoritário.

- Não tem mais. -Disse Ryan após a última colherada - Se você não tivesse comido quase tudo hoje mais cedo ainda daria pra repetir.

- Acho que nunca comi tão pouco na minha vida. - Reclamava Arme debruçada na mesa.

- É verdade, é impossível não querer mais dos pratos do Ronan.

- Quero voltar pro QG lo -bocejo- go! Tô cansada de mais pra reclamar agora. Vou pra minha barraca. Até amanhã, meninos.

- Bons sonhos.

Arme saiu da mesa e deixou a varandinha. Ryan acenava até a garota desaparecer de sua vista. Amon só assistia tudo.

- Você é patético.

- Não preciso que você me diga isso.

- Devia ir se declarar pra ela logo.

- Mesmo que eu o faça - tombou o rosto na mesa - Arme é tão boba e ingênua. A última coisa que eu quero é ouvir dela "Eu também gosto de você Ryan, você é um grande amigo!" ou coisa assim.

- Que seja então. Quero que me mostre aquela coisa com as sementes.

- Estou cansado, então não vou detalhar tudo hoje, - ergueu o rosto - ok?

- Vamos logo.

O Amon pulou da mesa para o chão e saiu andando até poucos metros da casa, onde parou e viu Ryan ainda sentado lá. O pequeno bateu os pés no chão, o que rendeu algumas tímidas risadas do elfo que logo foi a seu encontro.

Os dois pararam diante de uma das hortas recém reconstruídas e com poucos brotos. Ryan sentou-se no chão enquanto Amon esperava as instruções.

- Primeiro, isto aqui. - Mostrou um saquinho de pano que estava pendurado em seu cinto - essas são sementes selvagens. - despejou o conteúdo na palma da mão. Pequenas sementes verdes - Os druidas anciãos me contaram que estas são sementes neutras, e delas, qualquer coisa pode brotar, desde que recebam a energia certa.

Ryan pegou uma das sementes e a pos na terra, empurrando para dentro do solo com a ponta do dedo indicador. Depois, pos a mão aberta sobre ela. Uma fraco brilho verde saiu de sua mão e quando ele a recolheu, havia um broto no lugar da semente.

- Esta aqui será uma alface quando crescer, assim como o resto deste canteiro.

- Mais cedo eu vi que as sementes saiam direto da sua mão.

- Costumo manter um estoque delas escondidas nas luvas caso vá usá-las em uma luta.

- Como consigo esse tipo de semente?

- Sementes selvagens são parte do poder dos Nephirims, é assim que eles reflorestam áreas devastadas.

- Não me lembrava mais disso... Mostre-me como criá-las.

- Lamento, eu também não sei ao certo como. Às vezes quando estou em forma de Nephirim elas simplesmente surgem presas na minha "juba".

Amon coçou a cabeça, procurando as tais sementes. Como esperado, não havia nada.

- Acho que isso é impossível para um caído.

- Calado, eu vou conseguir nem que tenha que tentar a noite inteira.

- Você quem sabe - bocejou - vou dormir. Boa noite.

~~

Eu preciso dominar esta técnica antes que o Nephirim branco tenha controle sobre ela - eu pensava enquanto o garoto se afastava. Fiquei sentado sozinho na frente daquele jovem broto, concentrado nele. Lembro-me vagamente de já ter usado poderes parecidos antes, somente imagens turvas vinham a minha mente.

"Impossível para um caído". Será esta a explicação das minhas limitações, eu fui castigado com o banimento de meus poderes por ter traído o juramento de Nephirim?

Arbustos moviam-se do outro lado da cerca, era a mesma sensação da tarde. Fiquei em alerta, mas ainda focado naquele broto. Sacudi a cabeça várias vezes com a esperança de que as tais sementes selvagens surgissem, tudo em vão.


- Arg, que idiota eu sou.

-Tudo bem aí?

Virei-me e vi a maga vindo em minha direção. Ela parou ao meu lado e se ajoelhou.

- Parece com problemas.

- Achei que já estivesse dormindo.

- Não com o cara da barraca do lado roncando feito um leão -fez uma pausa - ou lobo. - eu nem havia percebido isso - O que tá tentando fazer?

- Criar sementes selvagens, como o Nephirim Branco.

- Oh, isso vai ser difícil. Nem o Ryan domina bem isso aí.

- Eu vou dominar, vou superá-lo.

- E depois disso?

- Ham?

- Sabe, você quer superá-lo e tal. Sua vingança seria o que, derrotá-lo numa luta? - Não respondi, esperei que ela continuasse. - E depois disso, quando não houver mais um rival, o que vai fazer da vida?

Ela me pegou, eu sequer havia pensado nisso. Eu não sei, não sei o que viria depois. Até conviver com esses dois por um tempo, eu só pensava em como destruí-los sem me importar com o futuro. Dominar Ellia nunca foi meu objetivo, de fato, eu só estava louco por causa do poder me concedido.

- O Ryan é realmente uma boa pessoa. Mesmo você tendo dito desde o começo que queria acabar com ele, ele continua te ajudando.  Acho que todas essas qualidades dele o tornam forte.

- Forte?

- Pelo que eu sei, Nephirims são anjos da natureza e seu poder provém dela. Você deve estar tendo dificuldades com isso. Tudo que quer é vingança quando o objetivo dos Nephirims é proteger a paz das florestas. Já pensou que, se esquecesse essa vingança e se focasse na causa dos Nephirims, seus poderes voltariam?

Essa é a resposta? Prezar pela natureza acima de tudo? Parece tão simples, quero dizer, é uma resposta bem óbvia. Estou realmente surpreso. Não pensei que essa garotinha boba entendesse tão bem de coisas assim. Começo a ver porquê o elfo gosta tanto dela.

- Eu sou um caído, não existe volta para mim.

- Se não há para onde voltar, encontre outro caminho siga em frente.

Confuso, olhei para ela, que sorriu em resposta. Não tive tempo de perguntar o que ela quis dizer com aquilo,. Em segundos já estávamos sendo atacados. Pedras vindas da escuridão da floresta nos bombardeavam sem parar.


- Aah!

- Esses malditos voltaram!

- E-eu vou chamar o Ryan!

Ela correu. Permaneci firme lá, não me abateria por meras pedradas.

- Covardes, enfrentem-me cara a cara!

Minha provocação funcionou. Os goblins entraram em meu campo de visão. Não eram tantos como mais cedo, deveriam ser dez no máximo. Avancei contra eles atacando com arranhões e golpes com o rabo. Meus ataques não eram nada efetivos, nenhum deles recuava diante de mim, mas eu não desistia. Fui lançado contra o chão diversas vezes, sempre voltando a me erguer. Metade deles ficou para lutar comigo e a outra partia para outra série de destruições.

O segundo grupo tentava entrar no espaço protegido pelos totens e acabavam sendo empurrados na direção oposta. Os Goblins não entravam ali, mas pedras e madeira sim. Usando de galhos arrancados das árvores da floresta, eles conseguiam derrubar os totens e assim eles perdiam seu efeito.

Só de ver aqueles seres imundos aproximando-se da plantação, meu sangue ferveu. Ignorei o grupo que me atacava e corri em direção aos outros. Numa explosão de adrenalina, fui surpreendido por mim mesmo. Eu fui capaz de usar o "Impacto da Alma" para afastar as pragas, mas já não tinha forças quando o efeito passou. Caí de bruços, esperando pelo grupo qual deixara para trás vir dar um fim em mim.


"Corvo Celeste!”

"Redemoinho!”.

Vozes do elfo e da maga, respectivamente. Não consegui me levantar, mesmo assim pude ver que os dois vieram e agora eram os goblins que levavam uma surra. Respirei aliviado e deixei-me levar pelo cansaço.


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