A noite tardou a passar. Talvez porque não consegui dormir. Me levantei e fui para a cozinha. Erick devia estar dormindo no quarto e Gale estava jogado no sofá.

- Um café – sussurrei pra não acordar Gale e um copo surgiu na minha frente. A Capital podia se livrar disso pra economizar, mas eles ainda não estavam prontos pra cozinhar, de verdade... Num fogão.

Peguei meu café com muito açúcar, creme e leite e fui até o terraço. Uma das vantagens de ser amiga de Peeta Mellark. Cheguei até a beirada e estendi o braço. O vento forte bagunçava meus cabelos e eu vi o quão longe meu braço foi. O campo de força não existia mais. Finnick ia amar fazer piadas sobre aquilo.

- Que saudade de você mané – disse olhando pra cidade – isso é uma droga sem você. Já era uma droga quando você estava aqui, mas está pior. E eu ando fazendo tanta besteira...

- Besteira? – ouvi a voz de Erick, mas não havia escutado os passos. Droga! - O que você andou fazendo?

- Nós precisamos conversar – disse deixando meu café no pedestal e indo a sua direção.

- O que você fez Johanna?

- Eu... Eu beijei Gale. – disse gaguejando.

- Quando? – todo o seu jeito calmo havia sumido e eu podia ver que ele estava impaciente só de respirar o mesmo ar que eu.

- Ontem – parei por um tempo, pensando se eu precisava contar tudo – e há um tempo também.

- Antes de mim? – eu senti a tensão indo embora.

- Sim, uma vez foi antes de você.

- E você gosta dele?

- Gosto – disse me aproximando dele e mexendo em seu cabelo – mas gosto de você também. Isso me torna uma vadia né?

- Não – ele sorriu – eu só achei que essa coisa de ser dividida por dois amores era coisa da Katniss. Pelo menos foi o que Finnick me falou.

- Era. Acho que agora que ela se resolveu, eu resolvi ser uma idiota.

- Não te acho idiota Jo – ele tirou minha mão de seu cabelo e eu senti um frio na barriga, um medo de deixá-lo partir. Então ele colocou a mão em meu rosto e me puxou pra perto – você é incrível.

E então me beijou. Não como Gale. Erick era calmo e gentil. Parecia que eu estava revivendo nosso primeiro beijo. Nada diferente, mas era bom. Eu sentia as borboletas e os arrepios, coisas que não existiam com Gale. Com Gale era só o calor. Eu gostava de ambos. Eu gostava da segurança e do perigo. As mãos de Erick eram calmas, pousavam em minhas costas e não se moviam. Era como se o tempo parasse. Eu gostava da calmaria que Erick me trazia, mas não posso negar que sentia falta da emoção que Gale trazia consigo. Então ele parou e me olhou:

- Você não está presa a mim. Não agora. Vamos resolver essas coisas na Capital e depois você escolhe de quem gosta – ele soltou minha mão e saiu andando, então se virou e piscou – mas isso não quer dizer que eu vá parar de te beijar.

Sorriso. O sorriso dele era o que me deixava louca. Aquilo me fazia perder o controle. Era como se meu mundo estivesse ali e só ele pudesse segurar. Eu era apaixonada pelo sorriso dele.

Erick me deixou ali sozinha com aquele café e um milhão de pensamentos. Eu estava apaixonada por ele. E estava apaixonada pelo Gale também. De maneiras diferentes eu amava estar com os dois.

- Finn – disse aos prantos – você saberia o que fazer.