Seoul, 4 anos atrás...

–Então como foi o seu dia na escola, Mihi? – meu pai perguntou enquanto nós comíamos na grande sala de jantar.

–Bom... – falei olhando para o meu prato, um pouco nervosa. Tinha que falar para os meu pai e pra minha avó que eu tinha agendado uma audição em uma agência de K-pop, o que não era nada agradável, pois os dois eram cabeça-dura. Suspirei, revirando a comida no meu prato.

–E sua mãe? Você a viu hoje? – ele perguntou e eu olhei em seus olhos. Sempre o mesmo brilho, o brilho que nunca sumiu. Nem mesmo depois que eles se separaram. O mesmo brilho que eu desejava um dia reproduzir nos olhos de alguém.

–Sim. – falei sorrindo para ele. – Ela pediu para eu mandar parabéns pelo novo comercial. – e então ele sorriu como um bobo.

Quem não gostou muito do comentário foi minha avó, que olhou pra ele com raiva; ela odiava minha mãe. Ele suspirou, notando a cara dela para ele e ficamos em silêncio em seguida, comendo. O mesmo silêncio que reinava naquela casa desde que minha mãe foi embora, por causa da disciplina rígida e exagerada do minha avó.

Resolvi adiar um pouco o anúncio pra quando eu terminasse de comer. Por isso comecei a colocar a comida na boca e a mastigar vagarosamente, para adiar mais aquele momento, que eu sabia que não iria ser nada bom.

–O que aconteceu Mihi? – minha avó perguntou de súbito e imediatamente eu engoli a comida, quase me engasgando.

–Como assim? – perguntei me fazendo de desentendida e ela cerrou os olhos, me olhando avaliadoramente. Voltamos a comer em silêncio e a cada minuto que se passava ali eu ficava mais nervosa. Quando eu terminei de comer, eu olhei para o meu pai, que ainda dava suas últimas garfadas. –Appa, harmeoni... Hoje quando eu estava com a minha eomma, aconteceu uma coisa. – eu comecei e os dois pararam de fazer o que estavam fazendo para prestar atenção em mim.

–O que aconteceu? – minha avó perguntou com uma cara nada boa.

–Bom, como isso vai ser uma coisa que provavelmente, eu vou ter que contar a vocês dois no futuro, eu prefiro contar agora a esconder até lá. – falei e em seguida olhei pra minha avó. – Harmeoni, eu sei que a senhora quer que eu me forme em medicina, mas... – suspirei. – Pra falar a verdade não é isso que eu quero. Eu nunca desejei investigar o corpo humano, ou cuidar de doentes e necessitados. A minha vida inteira eu sonhei em ser cantora. E a eomma arranjou uma audição numa agência de talentos do marido da amiga dela.

Assim que eu terminei de falar, meu pai se engasgou e minha avó me olhava com uma cara nada boa, calada. Suspirei e decidi continuar, quando meu pai voltou ao normal:

–Minha mãe já assinou o consentimento para o teste, já que eu sou menor de idade. Daqui a dois dias, eu irei fazer um teste como trainee da PKS Entertainment.- então ela abriu um sorriso, o que me fez sorrir também aliviada.

“Ufa! Ainda bem que ela não deu um piti” – eu pensei.

–Ela tinha que fazer isso não é? Ela sabia que o que eu mais queria na vida era que você fosse uma grande médica e agora convenceu você a seguir esses sonhos estúpidos. – ela falou sarcástica e eu olhei pra ela abismada.

–Ela não me incentivou a nada. Fui eu que pedi a ela há muito tempo pra arranjar um teste de trainee pra mim e ontem ela finalmente arranjou isso! – falei olhando pra ela incrédula.

–Você não vai. Vai ficar aqui em casa, estudando. – ela falou severa.

–Harmeoni, essa não é uma decisão sua. Essa é uma decisão minha; o futuro é meu. – falei contestando a decisão dela.

–Você não vai, Kim Mi Hi. Eu não vou permitir. – ela falou insistente. – Se você for eu a deserdo. – ela falou e eu olhei pra ela incrédula. Em seguida olhei pro meu Appa, que olhava a situação com atenção, mas não falava nada.

–Appa! Me ajude! – pedi e ele me olhou um pouco severo, falando:

–Sua harmeoni está certa. Você deve optar por uma carreira mais sólida, como uma médica, e não como uma cantora. A carreira da música é instável e você não sabe se é boa o suficiente para superar outros cantores. – ele falou e na hora eu tive vontade de chorar.

Nenhum dos dois ia apoiar meu sonho, por mais que eu tentasse convencer eles e eu sabia daquilo desde o inicio. Suspirei e engoli o choro. Não ia demonstrar fraqueza na frente deles. Eu me levantei em silêncio e subi até meu quarto. Não queria mais ver a cara dos dois até me acalmar. Quando cheguei ao meu quarto, me tranquei, peguei meu celular e disquei o número da minha Omma.

–Alô? – minha omma falou.

–Omma! – eu falei feliz quando escutei a voz dela. – A senhora tinha razão. Ela não deixou. Ela disse que ia me deserdar. –falei quase chorando.

–E o seu aboji? – ela perguntou.

–O Appa sempre vai ser submisso a harmeoni, omma! Ele concordou com ela!

–Então vamos ter que fazer aquilo, não é? – ela perguntou.

–Sim. Infelizmente. Eu não queria ter de fazer isso. – falei. – Mas é meu sonho que está em jogo, e eu não quero desistir dele só por que ela tem vontade que eu seja médica.

–Então, você já está pronta? – ela perguntou.

–Sim. Já tinha arrumado minhas malas antes mesmo de falar pra eles. Eu já previa que essa iria ser a reação deles – falei.

–Tá bom. Eu já estou saindo de casa. Daqui a vinte minutos estou ai. – ela falou e desligou o telefone. Eu suspirei.

–Obrigada, Omma, por apoiar meu sonho. – falei sozinha, realmente agradecida pelo que ela estava fazendo. – A senhora é a única que me entende de verdade.

Peguei meu I-Pod e comecei a escutar música, para ver se eu me acalmava mais. Depois, fui me sentar do lado da janela do meu quarto, que tinha uma visão bem ampla da frente da mansão. Daquele lugar eu podia ver quem chegava e quem saia da mansão. Por isso fiquei lá, esperando minha mãe, escutando música.

Vinte minutos depois, eu vi o carro da minha mãe chegando e me levantei bem rápido. Abri meu armário, e peguei minha mala gigante que tinha preparado para aquilo e saí do meu quarto. Quando cheguei ao inicio da escada, vi minha avó e meu pai, na sala de estar. Meu pai estava lendo mais um dos seus inúmeros jornais e minha avó falava no telefone com um dos empregados.

–O que? Aquela bastarda está aqui? – ela perguntou se referindo a minha mãe, provavelmente. Meu pai olhou pra ela e suspirou. – Não. Ela não vai entrar. Diga a ela que ela não tem autorização mais para por os pés nessa casa.

–O que você está fazendo, Mihi? – meu pai me perguntou assustado, finalmente me notando no inicio da escada com a minha mala grande e rosa. Minha avó olhou pra mim e fez uma cara de assustada.

–O que eu deveria ter feito há muito tempo. – falei descendo a escada com a mala. E então minha avó desligou o telefone.

–Para onde você está indo Kim Mi Hi? – minha avó perguntou temerosa. – Por que está com essa mala?

–Eu estou indo pra casa da minha mãe. – falei com raiva. – Vou morar com alguém que apoia minhas decisões e que não as manipula.

–Como assim? – meu pai perguntou.

–Eu quero realizar os meus sonhos pai. E até agora o que eu fiz foi realizar os que vocês tinham em relação á mim. – falei chegando aos pés da escada. Minha avó se levantou e andou em minha direção.

–Você não vai. – ela falou.

–Eu já estou indo Harmeoni. – falei continuando a andar até a porta com minha mala. – Quer a senhora queira ou não.

–Se você passar por essa porta, eu vou fazer com que você nunca seja famosa e vou estragar a vida da sua mãe. – ela falou quando eu cheguei em frente à porta branca e aquilo pra mim foi a gota d’água.

–Se a senhora tentar estragar o meu sonho ou a vida da minha mãe... - falei me virando para olhar nos olhos dela. – Eu NUNCA mais dirijo minha palavra pra senhora e para o meu aboji e vai ser como se vocês dois tivessem morrido ou desaparecido da face da terra. – Falei e me virei pra porta, abrindo-a. - Tchau Harmeoni! Tchau Aboji! – falei fria e sai daquela mansão idiota.

***

–Está pronta, meu bem? – minha mãe perguntou enquanto estacionava o carro em frente á empresa. Olhei para o grande prédio, nervosa. Era ali que eu ia fazer o meu teste para Trainee.

–Sim... – menti sorrindo para ela.

–Pare de mentir pra mim, Mi! Eu sei que você está nervosa, eu te conheço. – ela brigou comigo.

–Ok, eu estou nervosa, omma! E se eles não gostarem da minha voz? E se eles me expulsarem de lá? – eu perguntei.

–A PKS não é a única agência de talentos da Coreia, meu bem. Se não der certo aí, pode ser que dê certo em outra. Mihi, eu não sou a única que reconhece seu talento. Sua professora desde pequena sabia o quanto você era talentosa e multidões se reuniam pra escutar você cantando nas suas apresentações na escola. – ela falou e eu suspirei. Ela tinha razão. – Vamos agora? – ela perguntou.

–Sim! – falei suspirando e então nós duas saímos do carro.

Assim que entramos na empresa, fiquei encantada com ela. Apesar de ser uma empresa nova, ela era muito bonita e luxuosa, coisa um pouquinho difícil de ver em empresas novas.

–Mãe o dono disso aqui deve ser muito rico!- sussurrei pra minha mãe. – Muito mais rico que o papai!

–Ele ganhou uma herança do avô dele. Foi uma herança bem generosa; quase todas as ações de uma empresa bem famosa. Ele vendeu todas elas e montou a PKS Entertainment – ela falou. – Investiu muita coisa nessa empresa.

–E como a senhora sabe disso tudo? – perguntei.

–Eu sou a melhor amiga da mulher dele. Ela me conta quase tudo o que acontece. – ela falou e eu sorri. Minha mãe quase não tem amigas, por que passou muito tempo trancada naquela mansão. Depois que saiu finalmente pode fazer novas amizades.

–Hyo? – nós escutamos uma voz chamar pela minha mãe, acima da gente. Quando olhamos pra cima, vimos uma mulher muito bonita olhando pra gente sorrindo. – Hyo!! Vocês chegaram!! – ela falou – Subam! Meu marido está esperando vocês!

–Ok Eun! Já estamos subindo!- minha mãe falou e nós subimos rapidamente. Quando chegamos no fim da escada, a amiga da minha mãe nos esperava sorrindo, com uma jovem bem bonita do seu lado.

–OMO, Hyo! Sua filha é linda!- ela falou enquanto abraçava minha mãe. – Parece até uma princesa! – ela falou olhando pra mim sorridente.

–A Sora também é muito linda, Eun! – minha mãe falou sorrindo. – Filha, essa é a Park Eun-Ju, a mulher de Park Kwan Shi e essa é Par So Ra, a filha dos dois. – minha mãe continuou me apresentando as duas.

– Mas pode me chamar de Eun. – a mulher complementou e eu sorri pras duas.

–Prazer em conhecer vocês duas. – falei fazendo uma pequena reverência, educadamente.

–Ai que fofa! – a mulher falou e eu corei mais ainda. – Meu marido vai adorar ela!

–Omma, o papai está perguntando se a filha da sua amiga já chegou... – um garoto chegou e assim que nos viu ele parou de falar. – Elas já chegaram então? – ele perguntou.

–Sim!- ela falou – Hyo, Mihi, esse é meu filho mais velho, Park Seong Shi. Seong, essas são Lee Hyo Hyun e Kim Mi Hi. – a amiga da minha mãe falou nos apresentando.

–Prazer!- ele falou fazendo uma pequena reverencia pra nós duas. – É melhor ela se apressar, por que daqui a pouco o Appa tem uma reunião com um novo patrocinador.

–Ok. Então vamos meninas. – ela falou e começou a andar, nos mostrando por aonde ir. – Meu marido está muito ocupado. Ele está procurando vários patrocinadores, mas até agora só achou dois. – ela falou.

–É por que é uma empresa nova. Espere até a PKS começar a fazer sucesso, que um monte de empresa vai fazer fila para patrocinar vocês. - minha mãe falou e Eun sorriu.

–Seu pai é o dono daquela empresa que faz aqueles biscoitinhos gostosos... Como é mesmo o nome deles?

–Yu!- respondi. Os biscoitos se chamam assim por que eles têm a forma da letra “Yu” (유).

–Ah! Eu adoro esses biscoitos!- Sora falou. – O meu preferido é o de leite e mel. Tão delicioso... – ela falou com uma expressão engraçada. – Adoro comer um pacote dele no fim da tarde e tomar chá!

–É bem gostoso mesmo, mas eu prefiro o de aveia. – falei e antes que a gente pudesse continuar o assunto, chegamos ao nosso destino:

–É essa sala aqui mãe. – Seong falou mostrando a sala. – Você entra por essa porta e agente por essa. – ele falou mostrando as portas e eu estremeci por dentro. Agora era a hora da verdade. – Boa Sorte. – ele falou e entrou pela outra porta.

–Boa Sorte. – Sora falou sorrindo pra mim.

–É, meu bem, Boa sorte!- Eun falou acariciando o meu rosto.

–Obrigada. – falei a eles e então minha mãe olhou pra mim sorrindo.

–Eu sei que você consegue. – ela sussurrou e me deu um beijo na testa.

–Obrigada Omma! Obrigada por acreditar em mim!- falei. Ela sorriu e então entrou pela porta com Eun e Sora, me deixando sozinha do lado de fora.

Eu respirei fundo e entrei pela outra porta, um pouco apreensiva. Era uma sala bem bonita e ampla. Provavelmente iria ser um estúdio no futuro, por que do outro lado da sala, existia uma grande janela de vidro, que mostrava a outra sala, a sala que minha mãe, a amiga dela e seus filhos estavam. Nesse mesmo canto da sala, existia uma longa mesa com dois homens e uma mulher, todos sentados. Um deles, o que estava sentado no meio era muito parecido com o Seong, por isso eu deduzi que ele era o próprio PKS.

–Annyeonghaseyo! – falei cumprimentando os três que estavam bem sérios.

–Annyeonghaseyo. – eles falaram em coro ainda sérios.

–Fale o seu nome, a sua idade e a música que vai cantar. – a mulher pediu

–Meu nome é Mihi e... – antes que eu pudesse continuar, minha avó entrou furiosa na sala em que minha mãe estava.

–Onde está ela? – ela perguntou tão alto que deu para escutar daqui. Minha mãe apontou para mim do outro lado do vidro. Quando minha avó me olhou ela falou: - Saia daí agora. Não vou deixar você estragar seu futuro!

–Não, Kim So Hyun! Já chega. – minha mãe falou irritada. – Você já destruiu o meu relacionamento com Kim Dong Hoon, por causa dessa sua maldita mania de perfeição. Não vai destruir os sonhos da MINHA filha simplesmente, por que quer que ela siga um sonho SEU. Já está na hora de parar de tentar manipular a vida das pessoas! – ela falou com raiva. - Se você não quiser apoiar ela, saia por aquela porta agora. Mas se você quiser ficar e apoiar ela, tudo bem. A escolha é sua. – minha mãe falou e minha avó olhou pra ela ainda irritada. Mas depois a harmeoni olhou pra mim ainda com um pouco de raiva e perguntou:

–Tem certeza que é isso que você quer? – e eu fiz que sim com a cabeça. – Então eu vou ficar aqui e te apoiar.

–Obrigada Harmeoni. – falei fazendo uma reverencia para ela e então Park Kwan Shi pigarreou. Eu corei e falei:- Desculpem-me. Meu nome é Kim Mihi, eu tenho 15 anos e vou cantar Listen, da Beyoncé.

– Boa escolha!! – o outro homem falou. - Quando quiser começar. Pode falar.

–Ok. – falei e então olhei pros lados, nervosa. Respirei fundo, tentando afastar o nervosismo, contei até dez, controlando minha respiração, e em seguida comecei:

–Listen to the song here in my heart

A melody I start but can't complete

Listen to the sound from deep within

It's only beginning to find release

Oh, the time has come for my dreams to be heard

They will not be pushed aside and turned

Into your own all 'cause you won't

Listen

Listen, I am alone at a crossroads

I'm not at home in my own home

And I've tried and tried to say what's on mind

You should have known

Oh, now I'm done believing you

You don't know what I'm feeling

I'm more than what you made of me

I followed the voice you gave to me

But now I've gotta find my own

I don't know where I belong

But I'll be moving on

If you don't, if you won't

Listen to the song here in my heart

A melody I start but I will complete

Oh, now I'm done believing you

You don't know what I'm feeling

I'm more than what you made of me

I followed the voice you think you gave to me

But now I've gotta find my own, my own

Quando eu terminei de cantar, todos me olhavam surpresos. Principalmente Park Kwan Shi. Em seguida todos que me assistiram começaram a aplaudir, ainda surpresos. Eu olhei pra minha avó, que me olhava com um pequeno sorriso no rosto. Será que finalmente ela tinha notado que eu tinha mais talento pra música do que pra medicina?

–Onde você estava todo esse tempo? – PKS falou se levantando. – Meu deus, eu tenho que me levantar para cumprimentar você. De todas as trainees que nós fizemos os testes até agora, você foi uma das poucas que me surpreendeu com a voz! – ele falou apertando minha mão. – Sua voz é linda! Parece com a de um anjo! E você não só cantou a música; Você a sentiu, você foi ela! - ele falou e eu corei que nem um pimentão.

–Muito obrigada Park Kwan Shi. – falei pra ele fazendo uma reverência bem grande.

–Não, Kim Mi Hi. Eu é que agradeço a você por ter essa linda voz e te parabenizo, por que, Mihi, você acaba de entrar como uma trainee para a PKS! – ele falou e eu quase gritei de alegria.

Agora eu sentia que finalmente meu sonho iria começar a se realizar.