Já era noitinha, e quando chegou em casa, Bry me ligou para avisar como foram os exames, assim como eu pedi que fizesse.

- E então, como foram os exames? - Eu o questionei.

- Normal... Quer dizer, pra mim que já estou acostumado a fazer.

- Foi tudo bem então né?

- Sim, melhor impossível.

- Que bom, Bry. Acho que nós precisamos conversar.

- Nós? O que eu fiz dessa vez? Lá vem bronca...

- Nada demais, só queria saber umas coisas. Mas amanhã eu falo com você..

- Ok então, amanhã no colégio. Beijos, amor.

- Beijos!

Passei a noite toda pensando se deveria mesmo perguntar se algo tinha acontecido entre ele e Tucker. Não sei, acho que tinha medo da resposta. "Agora que comecei a falar, terminarei." - Eu pensava. Pensei tanto, que chegou uma hora em que minha cabeça não aguentava mais. Ela queria descansar, e meu corpo também. Caí no sono, e pra minha sorte meu sonho foi muito bom, longe desses pensamentos.

De manhã, como de costume, tomei um banho rápido, me troquei, comi, peguei meu carro e fui para a infeliz aula. Cheguei mais cedo do que imaginei, e fiquei conversando com meus amigos. Há bastante tempo eu não converso com Ash como conversava antes. Ele estava meio abatido, e já reparei isso nas últimas semanas.

- E aí, Ash. - Eu o cumprimentei.

- Fala aí, Bia.

- Você não me engana... O que aconteceu?

- É o sono.

- Ah sim. E por acaso esse sono tem nome?

Ele permaneceu olhando para a mesa, mordendo a caneta. Fiou alguns segundos em silêncio, e quando notei ele começou a balançar a perna pra cima e pra baixo, mostrando todo o seu nervosismo. Ele olhou para a frente logo em seguida, sem olhar pra mim, e voltou o olhar concentrado para a mesa.

- O professor chegou.

Eu não respondi nada. Só levantei da mesa, e sentei em meu lugar. Não sei por quê, mas eu acho que já sei o nome desse 'sono'. A aula de matemática passou, e eu não prestei atenção em um sinal de multiplicação sequer.

Finalmente chegou a tão esperada hora do intervalo, e eu rapidamente falei com o Ashton, enquanto ele arrumava suas coisas para sair da sala.

- Você não me escapa.... E nem me engana.

No fundo ele sabia disso, por isso permaneceu calado.

Encontrei com o meu namorado, dei um beijo nele e nos sentamos na mesa de metal que havia no refeitório.

- Pode começar a dar o esporro. - Bry em seguida riu baixinho.

- Brian, você confia em mim?

- Que pergunta... É claro que sim. Até quem não nos conhece sabe disso.

- Então por quê diabos você continua me escondendo as coisas? - Eu alterei um pouco a voz.

- Ei, vai com calma! - ele me olho assustado - Não tô te entendendo.

- Desculpa - falei abaixando a voz. - É sobre o Tucker...

- Tinha que ser. - Ele me interrompeu, aumentando o tom de voz, dando um soco na mesa de metal.

- Posso terminar? - Fiz uns gestos com as mãos para que agora, ele abaixasse o tom da voz, e relaxasse. - O que, afinal, aconteceu entre vocês dois?

Ele abaixou a cabeça, passando a mão pelo rosto, subindo ppara os cabelos, e descendo novamente para o rosto, parando alí em seus lábios. Eu pude sentir, imaginar e ouvir o pensamento dele de longe. Ele explodia de raiva. Eram mais ou menos essas palavras, mas o que ele imaginava era exatamente isso:

- " Com tantos problemas para eu enfrentar, agora vem esse cara querendo atrapalhar minha relação com minha namorada. Só para atrapalhar mais um pouco minha vida..."

Ele queria gritar, agredir todas as pessoas que estivessem em seu caminho até ele encontrar o Tucker. Se ele pudesse, arrebentava suas próprias cordas vocais de tanto gritar, alí mesmo no refeitório.

- Fala, Brian. - Eu falei bem baixinho, colocando minha mão em cima da dele, tentando olhar em seus olhos. Eu estava com muito medo da reação dele.

- Nós brigamos. Há muito tempo atrás.

Eu olhei pra ele e fiz um sinal de quem espera mais da resposta. Eu confess, estava sendo chata. Mas minha curiosidade... Jesus.

- Nós éramos amigos.. - ele disse se acalmando mais, graças ao carinho que eu estava fazendo nele - Desde os 5 anos de idade. Estudamos juntos nesse colégio, até que eu saí. Na sétima série.

- Ué, você não saiu no segundo ano?

- A segunda vez... Eu saí na sétima, justamente por causa da nossa briga. A segunda foi por causa da doença.

- E... por quê motivo vocês brigaram? - Eu insisti.

Ele respirou fundo antes de responder. Não queria lembrar daquilo. Devia ser uma lembrança desconfortável... Mas ele continuou.

- Porquê... Na sexta-série, entrou uma menina nova no colégio. O nome dela era Louise. Ela é francesa, e veio morar aqui na época... Ela era linda, bem do jeitinho que eu me lembro... - eu olhei para ele com cara de quem prefere que essa parte seja cortada. - Ehr, bem.. então. O J-Tuck falava dela pra mim o tempo inteiro. Ele estava gostando dela, e eu sentia o mesmo. Só que não falava nada para ele. Nós éramos irmãos... não escondíamos nada um do outro, só que essa vez foi diferente. Ele começou a falar com ela, mas no fundo ela sempre lhava pra mim com outras intenções, e pra ele também. Na verdade, ela nem decidia quem queria. Teve uma festa que ele não foi, e eu acabei ficando com Louise. No dia seguinte, no colégio, o Tuck soube. E quando ele foi atrás de mim, ele nos viu juntos. Eu e Louise. Ele ficou om raiva, começou a discutir comigo no meio do colégio, e de repente todos estavam em volta. Eu me lembro muito bem... - ele deu um risinho - Eu na mesma hora me levantei, e disse: "Jay, eu gosto dela e nós vamos namorar. Desculpa, irmão." Ele nem pensou duas vezes antes de agir. Me deu um soco no meio da cara, e ainda teve a ousadia de responder: "Irmão? Depois disso, não me considere mais irmão." Louise viu aquilo, ela ficou assustada. Ela foi arrastada pela mãe dela, horas depois. E depois desse dia, eu nunca mais vi Louise, e nunca mais falei com o Tuck. Ela voltou pra França, e a mãe dela impediu qualquer tipo de comunicação entre ela, eu e Tucker.

- Meu Deus. - Eu estava pasma com aquilo tudo. - E depois disso, sua mãe te tirou do colégio... certo?

- Sim.

Eu percebi a expressão triste dele. Saí do meu lugar e sentei de lado em seu colo.

- Não fica assim, amor... - dei um beijo na sua cabeça, abraçada com ele.

- Agora ele quer se vingar. Pagar na mesma moeda. - Brian me levantou, e se levantou junto. Eu pude notar a expressão do rosto dele que agora era raivosa. Ele saiu andando.

- Não! Brian, não é nada disso!

Tocou o sinal.

Tentei ir atrás dele, mais não conseguia achá-lo. Fui puxada para dentro da sala de aula, e fiquei imaginando durante toda a aula de química o que Brian poderia fazer. Eu olhava pro relógio na esperança que o sinal tocaria horas antes da aula acabar, mas isso não aconteceu.

Assim que tocou o sinal, peguei minhas coisas e saí correndo numa velocidade que nem eu sabia que tinha. Entrei na sala dele, e nem sinal do Brian.

Fui para a entrada do colégio, e lá estava ele. Eu corri, e ao chegar nele pulei em seus braços, estava um pouco suada. Ele me olhou super espantado.

- O que aconteceu com você??

- Comigo nada, nem com você, ainda bem! não sei com outras pessoas...

- Hã?? Não entendi.

- Nada, nada.

Eu o abracei, soltei um suspiro leve, tranquilo. Ele respondeu meu abraço, e aprofundou aquela situação com um beijo longo e apaixonante.

- Tô indo embora... - Ele me disse.

- Tudo bem. Você vai na festa da Camille hoje, não é?

- Se você for eu vou, obviamente.

- Ok! - Dei um selinho nele.

Ele foi embora, e uns minutos depois veio o Tucker.

- Não falou comigo hoje... - Ele disse a mim.

- Na verdade, nem te vi hoje. - Eu retruquei.

- Pois eu te vi. Passou o intervalo inteiro no refeitório, com seu namorado.

- "Meu namorado, ainda bem que ele sabe..." - pensei. - Hm... anda me espionando? - Eu ri baixo.

- Quem sabe? - Ele riu. - Vai na festa hoje?

- Vou sim, e você?

- Também vou.

- Então nos vemos lá. Tchau, Tucker!

- Tchau, Bia.

Eu saí, fui em direção ao meu carro e acenei para ele.