Coming Wave escrita por Hi there Lívia, Licurgo Victorio


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Caaaara, não sei o porquê, mas eu curti esse capítulo! LOL
O primeiro contato de Circe e Licurgo! ENJOY



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Circe e eu trocamos olhares perdidos no Carro. Sem diálogo, sem expressão, sem um ‘Olá’. Decidimos enfaticamente esperarmos por instruções prévias de Beetee sobre o que fazer, como fazer, como agir e como reagir. O caminho até a Estação de Trem é curto, então realmente não há um tempo decente para batermos um papo sequer.

Descemos, e logo somos incomodados por uma multidão de repórteres que praticamente nos engole, como num mar de imensos insetos com suas câmeras direcionadas em nossos rostos. E eu ainda tenho que exercitar a minha expressão neutra. Ao menos, pareço tranquilo, até seguro, em relação aos Hunger Games. Os telões gigantescos e infinitos nesta área do Distrito revelam a todos o que sinto neste momento: Indiferença. É justamente isso do que nós precisamos, e Circe contribui ainda mais para a nossa situação, com o seu olhar vago e uniforme. Somos os Tributos mais controlados do Distrito 3 que já vi, até então.

Circe faz mais sucesso. Todos ficam extasiados e impressionados com sua íris cinza, e não param de paparicá-la. Ela está lidando muito bem; ereta, ágil e também sorridente. Bem, é uma novidade e tanto, o primeiro Tributo cego a participar de uma edição dos Hunger Games. Circe vai ser um estouro, se quiser jogar com este lado pessoal.

Encaramos-nos diversas vezes e ficamos muito próximos, enquanto enfrentamos hordas de câmeras e a invasão pública de privacidade. Eu adoro privacidade. E é por isso que eu odeio você, Capitol. Ainda resistimos com atrativos na entrada do Trem os repórteres, que cada vez mais e mais se chocam com a situação da pobre e cativa Circe.

No meio desta confusão, principalmente sobre Circe, tenho tempo de admirar o anel que Europa fizera para mim. Ele é diferente. Mais denso, mais escuro e mais forte que o normal. Não é um metal comum. Europa fizera anéis gêmeos de Magnetita. E ele está perfeitamente circular. Como ela construíra com tanta maestria?

Finalmente entramos no Trem e as portas se fecham automáticas. Instantaneamente, o Trem começa a aumentar a velocidade e alcançamos algo em torno de 400km. Eu estou passando um pouco mal, mas não é só pela velocidade. Eu e Circe, ainda silenciosos, trocamos espasmos embasbacados apreciando a beleza dos vagões, mais chiques que o Centro Residencial inteiro do Distrito 3. Cada um recebeu sua própria câmara, com seu quarto, seu camarim, seu closet e seu banheiro. Este Trem é o lugar mais lindo e caro em que já estive na vida. Os vagões, ornamentados e bem-arrumados, limpos e claros, ambientes saudáveis. Acho que o Distrito 12 inteiro é capaz de se alimentar com o que tem de comida neste Trem e viver sossegado. Anomália e Beetee estavam em uma das suítes, fofocando algo em bom e claro som. Resolvi esperá-los na sala de jantar, e me sentei diante da mesa rica e colorida, cheia de alimentos que nunca tinha visto na vida. Circe sentou-se ao meu lado, e finalmente decidiu me encarar compenetrada.

— Oi. - Circe diz ainda tímida.

— Oi. - Respondo com pouco vigor, e me entrego ao cansaço.

— Então.

— É. E agora?

— Não sei.

— Nem eu.

Ótimo. Nosso primeiro diálogo em anos.

— Olha, só para deixar claro, eu não quero te matar. - Circe iniciou objetiva, e eu fiquei um tanto assustado. - É claro que você já parou para pensar nesse detalhe, Licurgo, e eu sei que você também não teria coragem de me matar. Então, antes de tudo, eu acho melhor não nos unirmos. Jamais. Em hipótese alguma, só em prol da garantia que nenhum se sacrifique pelo outro se lembrando deste detalhe.

— Por que não? De um jeito ou de outro, alguém vai ter que ceder, ou morrer, tanto faz. Se ficarmos unidos, poderíamos evitar que nós dois morrêssemos, certo? - Desabafei um pouco eufórico, pois queria a companhia de Circe nesse jogo. Meu Deus, eu preciso de Circe ao meu lado! Como farei para progredir, sem instrução alguma? Eu sou incapaz demais! Eu não aguentaria sozinho.

— Licurgo, só acho que, se um acabar morrendo na frente do outro, isso será uma droga. Eu não gostaria de te ver morrendo, e muito menos de morrer na sua frente, me tornando um peso morto na sua subconsciência.

— Mas isso não vai acontecer! Dessa vez, eu te protegerei!

— E se sobrarmos só nos dois? Eu sei que é muito improvável que isso aconteça, mas já pensou nisso também? Eu prefiro a minha morte do que a sua - E eu sei que você pensa da mesma maneira. Queremos nos proteger. Por isso mesmo devemos nos afastar durante esses jogos, para focarmos apenas na nossa vitória. Afinal, de um jeito ou de outro, só um poderá sair, certo? - Circe disse diplomática e soturna, enquanto eu refletia com pesar suas palavras. Eu sei que ela tem razão. Eu sei que devemos ser racionais, e não podemos agir instintivamente, mas, quem se importa com a razão quando uma pessoa querida está diante da morte?

— Não me importo com este detalhe. Caso algo dê errado, eu me sacrificarei. - Disse com a força do momento; Eu já estava ficando histérico e suava muito.

— E Europa? - Europa. Eu não posso abandonar a Europa. A Europa é a única coisa que move minha força agora. - Eu quero deixar bem claro aqui Licurgo: Não podemos nos envolver. Eu sei que é egoísmo da minha parte, querer voltar viva dos Hunger Games, mas é o desespero que está tomando conta de mim. Estou descontrolada. Eu não aceito morrer como uma vítima inútil nos Hunger Games. Eu não quero ser a ‘Primeira Cega Assassinada nos Hunger Games’. Seria o pior dos presentes, o pior dos mártires. Quero ser reconhecida como alguém que lutou acima das suas capacidades, acima dos conceitos dos outros, acima de todos. Eu quero superar todos os Tributos, quero vencê-los. Não matá-los, mas vencê-los. - Circe suspirou e olhou com pesar para a mesa.

— Não é egoísmo seu pensar assim. Eu te entendo. Mas não importa o que aconteça: Estaremos juntos nessa. - Afirmei convicto, enquanto ela bufou irritada.

— Nem somos mais nada juntos, Licurgo. Pare de se lembrar do passado, pois isso vai te prejudicar, assim como está me prejudicando agora. - Engoli o seco, novamente.

Anomália e Beetee irromperam a sala de jantar repentinamente, enquanto conversavam animados sobre algo que eu nem entendia.

— Bem, Circe, Licurgo, primeiro desejo meus pêsames, por terem sido selecionados para um jogo tão cruel. Eu entendo muito bem a frustração e confusão em que somos envolvidos neste momento. Mas preciso que os dois mantenham sempre a calma. - Beetee explicou tranquilo e lúdico, quase me tranqüilizando. - E eu gostaria de assistir os dois lutando. Eu sei que é uma proposta repentina, mas eu preciso avaliar, primeiramente, o movimento e a habilidade espacial e marcial de cada um. A força bruta e o reflexo são, assim como visão e olfato, sentidos de suma importância. E geralmente devem ser usados em medidas extremas. Já que os dois acabaram de ser chamados como Tributos, nada melhor do que pegá-los de surpresa dessa maneira. E é apenas um teste. - Beetee entoou desafiador, e eu entrei em choque. Como assim, lutar com a Circe? Eu não posso simplesmente bater na Circe!

— Não estamos desejando violência ou sangue, apenas uma prova simples para avaliar seus pontos corporais positivos e negativos, e atitudes que devem ser corrigidas. - Anomália completou satisfeita, e eu obtive a minha intenção de parar com aquela bobagem.

— Os dois não podem estar falando sério. Vocês realmente sabem do que estão falando? - Perguntei perplexo, enquanto Beetee me encarou surpreso.

— Oras, é a primeira vez que vejo esperança em dois Tributos do Distrito 3. Eu preciso confirmar a minha expectativa. - Me senti ao mesmo tempo elogiado e ultrajado, com todo aquele papo de ‘expectativa’. Então, não passo de uma mera expectativa para o campeão dos Hunger Games, certo?

— Isso não tem sentido nenhum, é ilógico ainda mais numa hora dessas. Acabamos de chegar!

— Por isso mesmo, Licurgo. Quero saber se estão preparados. Não vou lhes forçar, óbvio, mas seria gratificante saber como vocês são. - Beetee concluiu ligeiro, e eu o matei na minha imaginação umas cinco vezes.

— Eu não vou fazer isso. Eu não vou bater numa garota, na Circe! - Exclamei ofendido, e Circe revirou os olhos de impaciência. Eu odiava quando ela fazia isso; Aliás, odeio.

— Veja bem Licurgo, tem meninas muitíssimo mais fortes sendo selecionadas como Tributos agora mesmo. Uma do Distrito 4 deve ser quatro vezes mais forte que você, e preparada. - Anomália garantiu pessimista, e eu voltei a encarar Circe, que me esnobava.

— Pare com falsos feminismos, Licurgo. É só um teste bobo para ver se nós temos qualificação para corpo-a-corpo. Ou você teme perder por uma garota cega? - Circe provocou risonha, e eu senti o sangue fluir com muita pressão sob meu corpo.

— Tudo bem. Eu não serei gentil. - Avisei preparado, enquanto Anomália e Beetee se excitavam cada vez mais com a ideia infame.

— Ótimo. Aliás, eu não farei este papel de boa cega samaritana. - Circe reclamou ríspida, e eu consegui engolir o seco novamente. Estou começando a desgostar dessa ideia. Ela levantou e me puxou para o centro da sala, espaçoso e livre de móveis. Tirou o Fone de Ecolocalização e entregou à Beetee, que se espantou. - Existe algum vagão livre?

— Mas é claro que sim, venham comigo! - Anomália exclamou feliz, e nos levou até um vagão inteiramente preenchido por um tatame. A sala era vazia e claustrofóbica, mas continha um espaço satisfatório. Ficamos frente a frente por volta de quatro metros de distância.

— Bem, lutem! - Beetee condecorou animado, enquanto Anomália batia palmas de satisfação.

Circe avançou em uma velocidade tão espetacular que eu só a vi golpeando a minha testa, e eu caindo no chão repentinamente. Todos riram. Fiquei furioso, e me levantei rápido. Senti o peso da mão de Circe, e descobri que ela é muito forte. A minha testa lateja com violência, e isso me incomoda. Circe não se intimidara e avançara sem medo, e os seus socos e golpes eram fortes e muito precisos. A minha defesa era boa, mas não tão rápida quanto a agilidade dos movimentos dos braços e pernas dela. Acabava levando duas ou três pancadas devido aos combos rápidos que ela realizava. Sua destreza é superior a minha. Assim como a habilidade corporal. Ela foi dar um soco na minha costela, mas me esquivei e acertei a barriga dela em cheio. Ela caiu e gemeu de dor, e se manteve no chão. Fiquei preocupado e fui vê-la, mas ela fez questão de puxar o meu corpo em direção ao pé dela, e eu recebi um chute nauseante na traqueia. Circe me empurrou novamente e me deu uma rasteira. Além de caído, eu estava arfando pateticamente. Ela sorriu para mim, desdenhosa, enquanto ouvia os parabéns de Anomália e Beetee. Isso não foi nada, nós nem brigamos de verdade.

— Você já está cansado? Não se passaram nem trinta segundos, Licurgo. - Circe riu desdenhosa. O cinismo dela estava me enfurecendo.

— De certa forma isso foi... - Beetee me encarava um pouco incrédulo, e a raiva só aumentava. Eu devo ser o Tributo mais fraco de todos. Como que vou sobreviver na Arena?

— Decepcionante? Frustrante? - Circe interrompeu sorrindo. Me levantei e avancei sobre ela com esgar, que recuou sinuosa.

— Interessante. Bem, perdoe-me assustá-lo Licurgo, eu tenho esta mania de aprontar provas surpresas para os Tributos do Distrito 3. Mas, não me crucifique, não é por má causa. Os Tributos do Distrito 3 são geralmente desatentos e lentos, e é por isso que os faço passar por esse tipo de situação. Vocês têm que acordar, garotos. - Beetee aconselhou com uma seriedade nunca vista, e uma coisa em mim me despertou. Talvez o medo. - Mesmo fora de perigo, vocês têm que ficar atentos. Mesmo longe da Arena, o perigo é constante. Tudo bem, que esta luta de certa forma poderia ser descartada, mas vale a pena treinar o modo de como vocês agem perante a adrenalina. Sem muita habilidade física, só lhes resta trabalhar com o raciocínio rápido e lógico. Em situações sérias, apenas um cérebro vigilante poderá lhes salvar. Aliás, Circe, você luta muito bem. E os estalos de Ecolocalização são uma forma brilhante de enxergar.

Ok, eu vejo que o julguei mal. Ele tem razão pela questão do fator surpresa. Tudo é muito novo, e não podemos desandar a partir desse ponto. É claro que a luta não era extremamente necessária, mas fez acordar instintos e percepções reacionariamente. Só não entendi um detalhe: ‘Mesmo longe da Arena, o perigo é constante’. O que ele quer dizer com isso? Não posso mais inferiorizá-lo por uma atitude aparentemente banal, já que ele deve pensar muito mais à frente do que eu. Então, no que será que ele está pensando?

— Bom, agora sim eu lhes dou a permissão para jantarem! Venham comigo.

Seguimos até o vagão com a sala de jantar, e o luxo era de revirar o estômago. Aquilo não poderia ser um jantar normal. Era grandioso, colosso, fantástico e brilhante demais para ser apenas uma mesa cheia de fartura. Tudo muito diversificado (e exagerado), pois haviam muitos tipos de pães, saladas, frutas, doces, carnes e líquidos de uma pluralidade cromática de fazer qualquer um morto de fome de Distritos pobres se empanturrar de comer. Nunca que eu conseguiria experimentar tanta coisa. Pelo menos, fomos bem educados à mesa e tínhamos etiqueta o suficiente para não sermos reprovados por Anomália e sua avaliação classicista e rude. Não via tal atitude com agrado, sabia que muitos Tributos mal tinham o que comer onde moravam e, à mesa, não sabiam como esconder a felicidade de encontrar tanta comida; Consequentemente, amordaçavam a fome e eram punidos pelos maus modos. Repugnante.

Beetee se sentou também e nós quatro comemos silenciosos. Não posso dizer que estou completamente confuso, por justamente não estar dividido no que fazer. Eu apenas não consigo encontrar um rumo para tudo daqui para frente. Eu estou completamente perdido.

É claro que eu quero sobreviver. Mas a minha atitude dramática é tão conflituosa que eu acabo me esquecendo da própria Europa e me focando em me sacrificar por quem não devo - Circe, que deve ter competência o suficiente para jogar os Hunger Games sozinha. Eu não sei o que fazer, eu não consigo me colocar diante disso.

Eu poderia tentar ganhar os Games, o que é óbvio e provável. Mas isso interfere na minha relação com a Circe. Nós já fomos amigos e namorados, e isso torna as coisas muito piores. Devo seguir sozinho, devo me preocupar com ela, devo me aliar a ela, devo matá-la para acabar com tudo isso?!

Mas, seria a fuga uma forma tão improvável de escapar? Eu poderia tentar. Fugir? Eu? E com quê competência eu poderia sobreviver nas florestas próximas? E como me localizaria, para achar outro Distrito? Fugir me separaria para sempre de Europa. Eu só quero definir uma coisa: Eu quero voltar para Europa. A pergunta mais simples e mortal é: Como? Por que logo eu tive que ser escolhido como Tributo?!

— Por hoje, vamos só assistir a Retrospectiva da Colheita e eu os deixarei descansar. Poupem as mentes cansadas e perturbadas hoje, amanhã resolvemos tudo o que deve ser resolvido, e esclarecemos tudo o que deve ser esclarecido. - Disse Beetee, e logo nos reunimos em frente a uma TV, para assistirmos a tal Retrospectiva.

No Distrito 1, um garoto se voluntariou - Que novidade. No Distrito 2, a dupla se voluntariou e eles me assustaram muito quando olhei o vigor e furor em seus olhos. Era como se estivessem sedentos por sangue. Isso é completamente doentio.

— Eles são muito fortes? Eles parecem maldosos, cruéis? Diga alguma coisa para eu imaginar, Licurgo! - Circe me pressionava nervosa, e eu ia descrevendo os Tributos em tom escrachado. Então, assisti à nossa Colheita. Circe, depois de se mostrar muito tensa e nervosa (Foi difícil vê-la tropeçando nos próprios pés novamente), aliviou e ficou relapsa e até nobre. Assisti-la foi um tranquilizante, ao saber que ela não foi considerada um peso fracassado, mas uma Tributa determinada.

— Como eu fiquei? Eu não fiquei com cara de tonta, né? Não me diga que eu fui esnobe demais. Ou então feliz demais. Ai meu Deus, eu não estive tão deplorável, né?

— Calma Circe, ficou tudo melhor do que o esperado. - Respondi convicto, e Beetee e Animália concordaram.

E então eu me assisti. Foi difícil me encarar, e ver meu rosto rígido e amargo. Pode parecer bobo, mas eu gostei de como atuei. Pareci mais controlado e superior do que sou de verdade. Mostraram Europa me puxando, chorando, e eu tentando me tornar impassível. Em um breve momento, pude perceber que Circe quebrou um pouco a sua máscara e ficou com o olhar histérico, mas resolvi revelar este detalhe.

— E você? Ficou bem? Eu não consegui definir bem sua expressão naquele momento, mas me parecia um tanto destemido. - Circe revelou entre uma risadinha.

— Bom, eu fiquei, como poderia dizer... Aceitável. É isso o que importa.

— Ok, agora continue a contar detalhes.

A dupla do Distrito 4 me deu medo. A garota, Demitra, era forte e de aparência voraz, além de bonita e com um olhar fulminante. E o menino, Finnick, apesar de ter apenas 14 anos, era ridiculamente mais atlético do que eu, e todo metido a sedutor. O problema é que estes dois tiveram um entrosamento empático, e no fim renderam só elogios e mais expectativas positivas. Analisando apenas estes seis Tributos, vejo que será impossível eu ou Circe ganharmos os Games.

Os Tributos do 5, Naara e Fiple, tinham uma expressão maquiavélica terrível. Pareciam decididos que iriam matar a todos os Tributos juntos, e o seu olhar de escárnio condenava a sua aparente superioridade lógica. Por que os Tributos do 5 são tão inteligentes?! Droga, eu vejo que não tenho habilidade nenhuma!

E por aí foram os outros Tributos, os considerados mais avulsos - Assim como os do Distrito 3. E ao ver uma garotinha de 13 anos sendo escolhida no Distrito 10, senti uma dor no peito difícil de explicar. Como será que ela pode sobreviver a algo tão desumano como a Arena com essa idade? Será que eu teria coragem de enfrentar alguém tão indefeso? Ou, ela poderia ser mais experiente que eu? Mas, nessa idade é pouco provável. E na hora da Arena, eu pensarei nesse código moralista de não assassinar ninguém? Provavelmente não.

A outra garota do Distrito 11 era, provavelmente, uma ameaça; Grande e forte.

— E o Distrito 12? - Circe perguntou preocupada.

— Bom, vamos ver agora. - Beetee disse desconfiado, mas voltamos à TV.

Nenhuma novidade no Distrito 12, mais dois Tributos avulsos como nós. O estranho foi a reação de Circe quando disse que Haymitch - Eu acho que o único vencedor dos Hunger Games de seu Distrito e também Mentor - estava alcoolizado e passando vergonha.

— Haymitch? Ele está... Bem?

— É claro que não. Você sabe que ele sempre passa por este vexame deplorável em todas as Colheitas, não sabe? - Anomália disparou ríspida, mas logo voltou ao seu normal. Por fim, só os Distritos 1, 2, 4, 5 e até o 11 se tornaram uma ameaça presencial.

— Bem, agora eu mereço um descanso. Boa noite a vocês, garotos. E saibam que a sorte esteja sempre com vocês. - Anomália disse sonolenta, e se retirou.

— Eu acho que vou também. Tenho... Muita coisa pra pensar. Boa noite. Circe, Beetee. - Os dois me cumprimentaram e eu saí do vagão, dando de cara com o corredor escuro e frio. Fechei a porta, caminhei pelo corredor e dei às caras para a incerteza, e fiquei parado, olhando para a paisagem afora que se movia em alta velocidade. Do outro lado da sala de TV, ouvi um cochicho irresistível, e não me tentei ao deixar de ouvir o que os dois conversavam.

— Fique tranquila. Haymitch sempre se mostra instável e insano, mas sabe o que faz. - Beetee falou calmo e bem baixo.

— Eu fico muito preocupada com tudo, Beetee. E se falharmos? - Circe disse melindrosa. Falharmos? Que intimidade é essa, da Circe com o Beetee? O que eu perdi nesse meio tempo?

— Entendo seu receio. Só não fique deixando tão claro, esse melindre, para os outros. Afinal, você é só uma Tributa do Distrito 3, correto? - Não estou gostando do tom dos dois.

— Ao menos, temos Plutarco lá dentro. Algo para me assegurar, graças a Deus. - Plutarco? Lá dentro? Quem é esse, dentro de onde?

— Você tem a muito mais Circe. Confie em Licurgo, ele não é má pessoa, muito pelo contrário.

— Não é tão difícil. Eu sei que ele não é má pessoa e nem Tributo. - A voz de Circe foi se dirigindo cada vez mais próxima da porta, e eu me mantive o mais imóvel possível, com mais frio e medo do que nunca. - Mas como confiar em alguém que se mantém na surdina da noite para ouvir a conversa pessoal dos outros? - Assim que ela terminou de falar, a minha espinha congelou e uma brisa quase inexistente cortou a minha alma.

 


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Notas finais do capítulo

E ENTÃO?
O QUE ESTÃO ACHANDO? Viajado demais? Retardado demais?
Eu estou achando LECAL *-*, UAHSUHSAUHS
BUT, vem mais drama e suspense por aí!
A Seguir: Cassandra!



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