Coming Wave escrita por Hi there Lívia, Licurgo Victorio


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, flores do meu jardim :)

Cassandra aqui, acabando de ser selecionada para um jogo mortal com o melhor amigo, assim, só coisa boa.



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Eu deveria saber que a sorte nunca estaria ao meu favor. Como eu poderia me sujeitar a ser uma peça do Capital de tal forma que mataria meu melhor amigo e perderia a oportunidade de ver minha família? Mas eu tampouco aceitaria morrer. O problema é que agora só tenho essas duas opções.

Finnick e eu somos levados ao Edifício da Justiça, onde seremos colocados em salas separadas e aconteceriam as despedidas. Antes que eu pudesse admirar a decoração da sala, Wellie, Kareen, Sam e nossos pais entram com expressões tão diferentes que não parecem ter presenciado os mesmos acontecimentos.

Enquanto Wellie e Kareen me abraçam, eu olho para Rendall e pergunto por Caio.

— Ele preferiu se despedir a sós, – ele responde.

Eu assinto. Já esperava por isso. Wellie me solta.

— Você vai embora, não vai? Você disse que não iria.

— Eu não queria meu bem, mas agora tenho que ir, – respondo, me abaixando para ficar na altura dela. Agora é a hora de consolá-los, confortá-los, dizer que tudo ia ficar bem e que eu voltaria, mas nem eu mesma tinha certeza. Ao invés disso puxo Sam para perto de nós.

— Cuidem uns dos outros, certo? Fiquem juntos e estarão bem. Caio cuidará de vocês.

Assim que as palavras saem da minha boca, me arrependo. Como eu poderia dizer que Caio estaria aqui? Não estava ele pronto, essa manhã mesmo, para fugir e deixá-los para trás? Eles precisam de um consolo, contudo, e sinto um aperto no coração ao perceber que não os veria mais e sequer sabia se ficariam bem.

Abraço Sam com força e depois me viro para nossos pais, me aproximando.

— Prometam deixá-los longe disso.

— Cassandra… – começa Clareff

— Pelo menos não antes dos 16. Proteja-os.

— Claro, – concorda Rendall, impassível.

— Obrigada, – digo. – por salvar minha vida e tudo mais.

— Parece que falhamos.

— Talvez ainda não, – sorrio.

Pacificadores vem levá-los embora e apenas tenho tempo de dar um beijo na testa de Kareen e Wellie antes da porta fechar atrás deles.

Caio entra logo depois e eu o abraço, sabendo que todos os pensamentos que haviam passado pela minha cabeça também já haviam passado pela dele. Acho que ele já sabia que eu não iria voltar. Ele é o único além de meus pais, que sabe sobre minha verdadeira origem.

— Diga a eles que estou bem. Diga que ainda estou viva só que em outro lugar seja convincente e não os deixe assistir, – faço uma pausa. – Você ainda vai embora?

— Vou tentar segurar as coisas o máximo que puder, – é a vez dele fazer uma pausa. – Tantos planos por água abaixo, não é mesmo?

— Quem disse que eu já desisti?

— Sabia que ia dizer isso, – ele sorri e me abraça de novo, colando a boca em meu ouvido. – Se você escapar, vou deixar meu contato no Capital te esperando, certo? Ele vai te achar. Eu queria fazer mais, mas sei que ela não vai se arriscar mais do que isso. – Ele se afasta. – Não fique assim, você irá voltar para casa.

Nós dois sabemos que estamos sendo vigiados.

— Faça amizade com os tributos do distrito 3. Eles costumam ter bons planos.

Para quem ouve parecia apenas um conselho para os Jogos, mas sei o que ele quer dizer. Um plano. É disso que preciso.

— Não se esqueça de viver também ou você vai pirar. Estou falando sério, – enfatizo quando ele começa a rir. – Ainda há esperança suficiente para que a vida seja aproveitada

— Está bem, – ele pausa. – Não vai ser o mesmo sem você aqui. 

— Não diga isso. Você estava pronto para se voluntariar essa manhã e me deixar aqui. Somos sobreviventes, vai ficar bem.

— Sim, mas eu preferia que fosse eu. Vou sentir sua falta, mais do que imaginei que iria.

Eu o encaro de volta, deixando o que ele diz vagar pela minha mente. Eu também vou sentir falta dele, mais do que consigo entender. De uma maneira estranha, ficamos muito próximos mesmo com tanto diferente. Percebo, talvez tardiamente, que ele sempre fora a outra ponta do fio que me mantinha estável.

Eu sorrio e o abraço uma última vez antes dos pacificadores levarem-no, me deixando ainda sem encontrar o que eu queria dizer.

Minha próxima visita é alguém que eu não esperava ver. Gostaria de ver, mas não esperava. Trynia entra e senta no sofá à minha frente e tem um sorriso triste no rosto. Porque Trynia era assim. Fosse o que fosse, o sorriso estava lá.

— Como você está? – Ela pergunta e depois ri. – Nossa que pergunta idiota. Finja que não escutou, certo?

Eu rio.

— Certo. E você como está?

— Eu vou ficar bem, – ela diz, dando de ombros. – E vou fazer companhia aos seus irmãos, se quiser. Eles vão precisar de alguém divertido.

— Eles tem o Caio, – respondo.

— Eu disse divertido, – ela retruca, lançando-me um olhar cético. – Ele costumava ser, mas de uns tempos pra cá ele tem se comportado de um jeito, – ela hesita, – diferente. Não é a mesma coisa.

— Não acredito. Você gosta dele!

— Mas é claro que não. Eu... Ah, deixa pra lá. Eu só queria me despedir. Deve ser irônico ter lutado tantas vezes com Finnick e agora... – ela para. – Ah, não, me desculpe. Eu só estou tornando tudo pior.

— Está tudo bem, Trynia. Só continue pegando conchas para mim.

— Claro, – ela sorri e olha para sua pulseira de conchas no braço. Eu sempre adorei aquela pulseira, mas Trynia nunca chegou a me ensinar como fazê-las. – Eu nunca cheguei a te ensinar como fazer, não é?

— Você dizia que era muito complicado para minhas pobres habilidades. Não que você estivesse errada.

— Bom, eu deixava você pegar as conchas pra mim.

Nós rimos enquanto encaro a pulseira dela e só então percebo o quanto sentiria falta de casa.

— Será que eles vão deixar eu me despedir do mar?

Os pacificadores a levam antes que ela responda.

Eu já dou as despedidas por encerradas quando a porta se abre. Meu treinador, Hugh, entra com a maior naturalidade do mundo. Ele sorri e me parabeniza como eu esperava que ele fizesse, mas o sorriso não chega aos olhos.

— Você é um dos tributos profissionais. Normalmente eles comandam os Jogos, mas perdem por falta de estratégia. Eu vi como você treina. Você pensa.

— Obrigada, – respondo, sem saber se era um elogio ou ironia.

— Olhe, não sei por que estou aqui. Eu só queria que você não desistisse por causa do Finnick.

Há tanto mais além disso, eu penso, mas não digo. Contudo estou cansada de mentir.

— Ainda não decidi o que vou fazer, – respondo finalmente, o que é verdade.

— Você vai saber quando chegar lá, tudo fica melhor quando se chega na arena. – Ele fala como alguém confiante no Capital. Eu me pergunto por quanto tempo isso durará.

— Estou confusa, mas sei que é uma grande oportunidade de orgulhar o meu distrito, – minto.

— Fico feliz que pense assim. Poucos têm a chance de arriscar a vida por seu país.

Aquilo me choca. Então é assim que eles vêem? Não tenho tempo de pensar em uma resposta, pois os pacificadores voltam e o levam.

Agora que as despedidas haviam acabado, percebo que não chorei. Era estranho. Porque eu acabara de perder tudo e ainda não tinha um plano para recuperá-los. Acho que as implicações de tudo aquilo não me atingiram ainda, não tomei consciência de tudo o que acontecera. Eu decido que isso era bom, afinal preciso manter a mente focada, o que seria difícil se estivesse entrando em colapso.

Mal percebo quando me levaram à estação de trem onde, é claro, havia mais câmeras e telas, repórteres e telas ampliando meu rosto e o de Finnick para toda Panem. Ainda não consegui falar com ele e também não sei o que falar, quer dizer, não será uma conversa muito animada. “Hey Finnick, é uma pena que você tenha sido selecionado para lutar até a morte, mas adivinhe. Eu também fui. Agora terei que te matar ou morrer”. Não é o tipo de conversa que você quer ter com seu melhor amigo. Finnick é dois anos mais novo do que eu, mas é tão inteligente e divertido que Trynia e eu logo o adotamos como parte do trio. Ensinamos a ele tudo o que sabíamos e ele logo nos ultrapassou em várias coisas. Vai ser estranho ter que pensar nessas habilidades dele, muitas ensinadas por mim, como habilidades do adversário.

Eda leva-me até meu quarto no trem e me diz para vestir a roupa que quisesse. Como gosto do vestido que estava usando, fico com ele e saio a procura de Finnick. Parte de mim não está nada ansiosa para ter essa conversa. Outra parte sabe que é melhor ser o quanto antes. E há ainda mais uma parte que quer ver como ele está, como meu melhor amigo está com tudo isso. Eu o vejo entrando em seu novo quarto e bato na porta, tendo como resposta um animado “entre”

Quando me vê, um milhão de expressões passam e sei que o mesmo deve estar acontecendo comigo.

— Prometa-me que vai ganhar, – digo.

— Eu não posso prometer isso, – é a resposta.

— Diga que vai tentar, jogar com as câmeras e patrocinadores, não fazer nada estúpido.

— E você?

— Eu vou dar meu jeito, – sorrio. – Confie em mim.

— Eu prometo, mas só se você prometer sair viva de lá também, mesmo que seja do seu jeito.

— Feito.

Nós rimos do acordo absurdo e nenhum de nós menciona a chance de um ter que matar o outro. Talvez seja melhor assim, lidar com isso apenas quando tivermos que lidar, pois agora precisamos um do outro.

— Quer comer algo? – ele pergunta.

— Por que não?

Andamos até o vagão de jantar. No distrito quatro estamos acostumados a jantares fartos e bonitos, mas aquilo é um exagero. Há tantos tipos de pães, frutas, sopas e carnes que era simplesmente impossível experimentar em uma única refeição.

Nós sentamos à mesa quando Eda chega e exclama horrorizada. Aparentemente, ela acha falta de modos se não esperássemos os outros para comer. Muito conveniente. Joguem suas crianças em uma arena até a morte, por que não? Mas comer fora de hora era imperdoável.

Nós esperamos pelos outros. Mags chega e senta-se logo, sorrindo para nós. Depois chegam outros vencedores, como Redmond, um homem robusto que já tem uns trinta anos e havia ganhado os Jogos com a minha idade, 16 anos. Myra, que vencera há três ou quatro anos e sua arena fora fácil para ela. No meio dos Jogos houve uma inundação que durou por dias e ela sobreviveu, pois construiu um barco e pescou enquanto todos se afogavam ou morriam de fome. Elora é irmã de Redmond e havia se inspirado no irmão e se voluntariado anos depois dele. E por último Grewer, um homem entre os quarenta e cinquenta anos, amigo de Mags e outro ótimo conselheiro para os novos tributos.

Finnick e eu nos apresentamos a todos com sorrisos encantadores. Finnick, mesmo com seus 14 anos, consegue ser charmoso e eu apenas espero não estar muito atrás dele. Servimos-nos de algum tipo de carne com um molho laranja claro, uns pães com geleias rosa e azuis, um suco de framboesa azul e chocolate das mais variadas formas.

A conversa leve roda pela mesa até que Redmond resolve tocar no assunto dos Jogos conosco, mas é interrompido por Grewer.

— Deixe-os comer e descansar. Eles acabaram de chegar, amanhã falaremos com eles.

Eu olho para ele, agradecida, pois, honestamente, eu ainda não havia organizado minha cabeça. Sorrio quando ele me devolve uma piscadela.

Depois, Eda nos conduz a uma sala onde assistiríamos a retrospectiva da colheita. Os dois tributos do distrito dois se voluntariaram. Nenhuma surpresa. Eu presto atenção nos tributos do três como Caio me recomendara. A garota é chamada Circe e é cega. Imaginei como seriam os Jogos para ela. O garoto se chamava Licurgo e possuía um olhar inteligente, mas pouca força física. Calculei que seria força suficiente considerando que eu precisava do cérebro dele. Eu me espanto pela maneira que penso. Não faz nem um dia que fui selecionada e já estou com um pensamento frio assim. Me pergunto quanto tempo minha sanidade vai durar.

Depois vejo Finnick e eu sermos selecionados e me surpreendo. Nós dois estávamos lindos e impassíveis. Naquele momento eu não me sentia nem de longe do jeito que aparentava nas telas, parecíamos saídos de um filme ou algo assim.

Os tributos do cinco também chamam minha atenção por terem um olhar não só inteligente, mas esperto de um jeito quase cruel. Eles eram Naara e Fiple. No distrito seis eles pareciam apenas assustados e um pensamento chega a minha mente antes que eu permitisse. Sendo uma carreirista, seria tão fácil matá-los. Pensar nisso me faz sentir ainda pior. No distrito dez um garoto de 12 anos foi selecionado e não precisei ver seu rosto para perceber seu medo. A garota do onze tinha 18 anos e era muito forte e alta e parecia ser um desafio.

Então, como acontecia todo ano, eu me abraço para esperar a imagem de meu tio aparecer na tela, nenhum ano sendo mais fácil do que o anterior. Eu vejo seu estado bêbado e o quanto ele se deteriorou. Será que não havia ninguém com ele? Como pude deixá-lo sozinho quando ele precisava de mim?

A recapitulação da colheita acabara.

Ao me dirigir a minha cabine, sinto a presença de Grewer me acompanhando e lhe dirijo um sorriso fraco.

— Cuidado com Myra, você e o garoto. Ela pode ser meio instável às vezes. Você está bem, querida? Apreensiva?

— Estou bem, – a pergunta me pega tão de surpresa que é tudo que pude responder.

— Não fique assim, – ele continua apesar da minha resposta. – Seu tio está melhor e mais são do que você pensa.

Ele sorri e vai embora, me deixando sozinha em frente a porta da minha cabine encarando o vazio, enquanto eu espero tudo fazer sentido.

 


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Notas finais do capítulo

Pois é, como saber se ele sabe ou não sobre o tio dela? A propósito, acharam muita viagem minha colocar o Haymitch como tio dela?



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