Sunshine. escrita por NZombie


Capítulo 3
Capítulo Dois.


Notas iniciais do capítulo

Lynn, Jootes e Bellatrix: obrigada. ♥



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Passava das seis da tarde quando a equipe técnica do Rock In Rio chegara enfim à Cidade Maravilhosa. O festival custara muitos meses de trabalho intenso e muita dedicação daquela gente. Disponibilização de espaço hábil para a realização de um evento tão grandioso, regularização de licenças e alvarás para a realização dos shows, assim como para todas as demais atrações que seriam oferecidas durante aquela tão esperada semana. Lista de bandas, inúmeros contatos com as mesmas, horas e mais horas intermináveis de negociações e muita paciência até que estivesse tudo pronto. Shows agendados, hospedagens acertadas, cachês pagos, divulgação sem trégua. Tudo aquilo custara muitas noites de sono de todos aqueles que abraçaram a equipe e o projeto desde o começo e também daqueles que foram sendo agregados para fortalecer o time ao longo dos dias.

Nathallie era uma das últimas aquisições. Trabalharia como braço direito de Julie - uma das coordenadoras gerais da equipe -, na parte técnica de som, e a ajudaria também na parte burocrática do evento. Afinal, não passara cinco anos enfiada em uma faculdade à toa, de algo o Direito teria de lhe servir.

Enquanto alguns já estavam no saguão do hotel fazendo o check-in, outros ainda não haviam se afastado do ônibus. Era uma equipe grande e uma pequena confusão acabou se formando na hora do resgate das bagagens. Alguns ficavam de fora, conversando e dando risadas, alheios ao restante do bando, enquanto outros discutiam a vez de procurar seus pertences no bagageiro, uma vez que o motorista havia desistido de auxiliar aquele bando de loucos.

O fato era que todos estavam muito cansados. Tudo bem, haviam chegado à véspera do início do festival mais esperado e mais importante no país, o trabalho todo havia valido a pena e até então tudo havia dado certo. No entanto, a proximidade do desfecho daquela jornada tão árdua não os consolava; depois de quase doze horas de viagem, todos aqueles corpos imploravam por cama. Nathallie havia desistido de acotovelar-se entre os homens – nada cavalheiros, diga-se de passagem – à procura de sua mala e procurou a parede mais próxima para encostar-se e esperar uma brecha.

- Hey, essa mochila carrega coisas de primeira necessidade, certo? – Julie a abordou um tanto esbaforida.

- Claro. – a ruiva respondeu, retirando um maço de cigarros de dentro da mochila. – Quer? – inclinou o maço na direção da mais velha, enquanto prendia um cigarro entre os lábios.

- Eu falava dos seus documentos, mas tudo bem. – ela bufou, mas não pôde deixar de rir, fazendo com que Nat risse também.

- Segura aí. – a menor entregou o maço de cigarros à Julie, que enquanto também prendia um entre os lábios e procurava um isqueiro para acendê-lo, aguardava que Nat providenciasse seu RG e CPF. – Espera. Vai fazer o que com isso? – a ruiva questionou-a com a carteira em mãos.

- Fugir pro México. – ela ironizou, arrancando a carteira da mão da amiga e rindo logo após. – Vou adiantar nosso check-in. Fica de olho nas malas. – explicou antes de devolver-lhe o maço e adentrar o hotel com o cigarro ainda apagado atrás da orelha.

Nathallie enfim acedeu o cigarro que escolhera para si e o tragou fundo, inclinando a cabeça para trás, ao mesmo tempo em que fechava os olhos para soltar a fumaça. Por Deus, precisava daquilo. Teve tempo de fumar apenas até a metade e foi novamente interrompida, porém, diferente da primeira, aquela não era uma interrupção agradável.

- Hey ruiva, acho que isso lhe pertence! – um homem alto, de porte forte lhe abordava em um tom provocativo. Tinha nos lábios um sorriso cínico e nas mãos uma mala de tamanho médio estampada de onça.

- Marcelo! Oh shit, me dá isso aqui! – ela esbravejou, jogando o cigarro no chão e investindo contra ele. Era o que faltava realmente.

- Ah não, assim não. Peça com jeitinho, vá. – tornou a provocá-la, desviando a mala de todos os jeitos possíveis do alcance de sua dona que àquela altura espumava de ódio, o que o divertia ainda mais.

- Você é burro ou o que? Não dá pra perceber que você não vai conseguir nada de mim? – desabafou, esticando-se inutilmente para tentar pegar sua mala de volta. A estatura de Nathallie era baixa, principalmente comparada com a de Marcelo, o que tornava a disputa absolutamente desleal. – Pára com isso, que inferno!

- Que porra é essa? – Julie surgira de surpresa atrás do homem e lhe tomara a mala das mãos. – Você não tem vergonha, Marcelo? Deixe de ser criança, por Deus. – a loira bufou e entregou a mala junto das chaves do quarto à sua amiga, deixando o homem com os olhos em chamas, tamanha raiva que sentia.

Não bastava ter cortado sua brincadeira de mal gosto, tivera de arrancar gargalhadas do restante da equipe às suas custas. Ele bufou, e deu as costas, infiltrando-se à força entre as pessoas para pegar a própria mala, enquanto Nathallie dirigia-se nervosa ao balcão da recepção a fim de assinar seu check-in.

- Obrigada, Julie. Vou subir e tentar dormir um pouco. – ela suspirou.

Estava visivelmente irritada, mas continha-se; não iria descontar em ninguém, conhecia a amiga e isso a preocupava. Às vezes preferia que as duas brigassem por causa de um rompante de raiva de Nathallie do que a postura que ela sempre tinha de guardar tudo para si. Mas não havia o que fazer ou dizer naquelas circunstâncias, então ela apenas assentiu.

- Passo no seu quarto às dez. Esteja pronta! – ela sorriu, referindo-se à recepção que haveria naquela noite para os artistas que se apresentariam durante a semana do festival. Qualquer pessoa estaria histérica no lugar dela, mas ela não conseguia sentir nada além de tédio, sono e raiva. Sua cabeça latejava em fúria e aquela multidão toda falando ao mesmo tempo não estava lhe ajudando em nada.

- Tudo bem. – limitou-se a responder. – Nos vemos mais tarde. – finalizou, dando as costas, a fim de dirigir-se ao seu quarto.

Um funcionário do hotel ofereceu-se cordialmente para carregar sua bagagem e acompanhá-la ao elevador. A mulher aceitou em silêncio, sumindo do raio de visão de todos ali com o fechar de portas do elevador. Finalmente teria algumas horas de silêncio e paz.


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Notas finais do capítulo

:)