Levantei com certa dificuldade devido à dor, que passava como uma descarga elétrica por toda a minha face. 

Meus olhos foram de encontro aos de Sasuke, que agora mantinha uma expressão aterrorizada. Ele não se movia, apenas seus lábios tremiam levemente.

Rapidamente, levei meu olhar em direção à Itachi que sorria vitorioso encostado em sua mesa.  Não entendia o por que daquilo. Um dia estava tudo bem, Sasuke ao meu lado dizendo que amava. No outro, parecia que meu mundo havia virado de cabeça para baixo. Sasuke me mantendo longe, Itachi me agredindo. O que eu havia feito para merecer isso? Eu realmente havia abandonado Sasuke antes? Mas, como? Quando?

De repente, imagens voltaram à minha mente. Imagens de um passado distante.

“-Mamãe, nós não iremos ao parque hoje?

-Hoje não filha. Temos que ir ao enterro da vovó.-

-Tudo bem, então.”

“-Eu prometo que sempre ficarei com você, Sasu..sempre..”

Eu estava muito confusa, precisava pensar. Saí correndo da diretoria antes que um deles falasse algo, ou fizesse coisa pior, como me agredir novamente.

Corri o máximo que pude, fazendo o possível para me afastar dali. Quem me visse correndo daquela maneira, pensaria que estava fugindo de alguém, o que era de certa forma verdade. Minhas pernas doíam, mas eu não podia parar de correr, sentia que se eu parasse não conseguiria fugir novamente.

Fugir.

De quem eu estava fugindo?

De Itachi? De Sasuke? Não. Eu estava fugindo de mim mesma, do meu passado esquecido.

Parei em meio ao jardim dos fundos, que estava vazio àquela hora. As folhas marrons e secas espalhadas pelo chão indicavam que o Outono havia começado. Soprava um forte vento vindo do Oeste e as nuvens cinza cobriam todo céu. Para onde havia ido aquele belo Sol da manhã?

Outono. A estação que eu mais odiava. A estação que havia levado minha família, assim como as folhas secas, ao vento.

Sentei-me no gramado desgastado tentando organizar minha mente. Tentando entender o que havia acontecido.

-Hina-chan, porque está tão triste?

-Quem...quem disse isso? – perguntei tentando identificar quem era.

A voz não me era estranha. Parecia tão próxima, mas ao mesmo tempo tão distante.

-Eu sua bobinha. Parece até que não reconhece mais sua irmã?

-H-hanabi? – falei suavemente enquanto observava uma figura sair de trás de uma árvore

Ela apenas consentiu com a cabeça enquanto sorria docemente.

As lembranças do que havia acontecido naquele dia voltavam rapidamente à minha mente, lembranças que tanto me torturavam.

Flash Back On

Eu estava sentada na varanda enquanto lia um livro. Era uma chuvosa manhã de Outono.

Mamãe, papai e Hanabi haviam ido fazer a viagem tão desejada.

Eu deveria estar feliz, mas algo dentro de mim dizia que as coisas não estavam bem. Ignorei aqueles pensamentos fúteis e foquei-me na felicidade de Hanabi ao acordar aquela manhã. Estava tão feliz, tão cheia de vida como nunca. Ela finalmente poderia realizar seu sonho, e isso me deixava feliz.

Papai e mamãe também estavam felizes.

 Despedimo-nos, e eles partiram. Não seria uma viagem longa, pois seria cansativo para Hanabi.

Eles disseram que ligariam assim que chegassem ao aeroporto de lá. O tempo foi passando, a hora de duração prevista da viagem já havia passado, e cada vez mais eu ficava apreensiva. Haveria acontecido alguma coisa?

A ansiedade por notícias deles crescia dentro de mim. Eu rondava a casa de cima a baixo na esperança de que o telefone ou o celular tocassem, mas nada.

Já haviam se passado seis horas desde a partida deles. Já não havia mais unhas em minhas mãos. Decidi ligar a televisão para ver se me tranquilizava. Passava uma notícia urgente de um acidente de avião. Havia muitos feridos no local.

-Que triste, tantas pessoas feridas. – falei

-E agora confirmaremos a lista de mortos....- anunciou a repórter

Subitamente, meu tio entrou correndo pela porta da sala. Ele parecia cansado, em sua face havia indícios de lágrimas.

-Hinata...seus pais, Hanabi...eles... –disse meu tio

-Familía Hyuuga. Foi confirmado agora a identidade dos últimos corpos a serem retirados das ferragens. – anunciou a repórter

Entrei em estado de choque ao ouvir aquilo. Imediatamente me virei em direção à televisão para ver se é verdade, me deparei com as imagens deles na tela. Aquilo não podia ser verdade!

-N-não pode ser....mãe...pai...Hanabi... – tentei falar – Não....não...NÃO! MAMÃE! PAPAI! HANABI!

Desabei no chão chorando compulsivamente. Aquilo não podia ter acontecido! Se eles não tivessem me escutado, e feito a viagem não estariam mortos.

-Calma Hinata. Vai ficar tudo bem. – disse Neji que havia entrado logo após meu tio, e que agora me abraçava ainda no chão.

-É-é tudo culpa minha! – falei em meio ao choro

As lágrimas saíam ardidas de meus olhos, queimando minha pele.

Eu só queria morrer e acabar com tudo aquilo. Se era para alguém morrer, que fosse eu, e não eles.

Eu me mataria e acabaria com aquilo....

Flash Back Off

-Me...me desculpe...eu..eu podia ter impedido...vocês...-falei sentindo lágrimas surgirem em meus olhos.

-Não. Você não podia.

-A ideia da viagem foi minha, se vocês não tivessem ido....talvez....talvez ainda estivessem aqui. – respondi

-Quem sabe...mas, o que tanto lhe atormenta Hina-chan?

-Meu mundo virou de cabeça para baixo. Tudo estava indo bem, eu me apaixonei e estava começando a pensar que havia superado a morte de vocês. Mas, subitamente as coisas mudaram. Sasuke me quer longe, como se ele sentisse repulsa de mim. – respondi

As lágrimas, que antes estavam presas em meus olhos, agora rolavam rapidamente por minha face. Lágrimas pesadas e cansadas, como se estivessem sido tanto tempo seguradas que agora doíam, trazendo junto com si as mágoas e tristezas do passado. Um passado perdido no tempo.

-Porque choras tão pensadamente?

-Eu pensei ter conseguido superar a morte de vocês, mas isso ainda me ronda. Eu pensei ter encontrado alguém que me amasse, mas isso não passou de engano do destino. Tudo mudou. A ilusão criada pelo destino finalmente acabou, mostrando-me que a realidade não é perfeita. Ninguém pode ter tudo que quer. – respondi

-Hina-chan, você precisa descontar esta mágoa, esta angústia, este sofrimento em algo. Faça algo que você sente que melhorará esta dor.

-Algo que melhorará a dor? – perguntei tentando pensar em algo – Hanabi...

Ela havia sumido, e com certeza não voltaria tão cedo.

O que fazer? Para onde ir? Um lugar calmo e silencioso. A biblioteca.

Corri desesperadamente até a biblioteca, que para a minha surpresa estava fechada, coisa que só acontecia aos domingos. Pude ver que uma janela estava aberta, entrei pela mesma fechando-a em seguida. Queria ficar ali sozinha, em meio aos livros. Necessitava pensar, minha mente estava conturbada.

Direcionei-me ao fundo da biblioteca em busca de algum lugar em que me sentisse à vontade, em busca da escuridão. A única que podia me confortar naquele momento de dor e desespero.