Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 18
Capítulo 17




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Nunca pensei que Chip fosse ser tão teimoso. Mesmo depois de ter falado um milhão de vezes que não havia necessidade alguma de ele ficar me fazendo companhia enquanto Aaron não chegava, ele continuou insistindo. Ele deu meia-volta no meio do caminho e veio andando na minha direção. “Chip, sério. Você está cansado. Vá para casa. Eu tenho certeza que o Aaron deve estar chegando.”- eu continuei insistindo enquanto ele tirava as chaves do Poison de dentro do bolso de sua jaqueta. “Eve, está tarde. Você não sabe o quanto mais ele pode demorar.”- ele insistiu mais um pouco delicadamente. “Vem, vou abrir o Poison para esperarmos lá dentro.”- ele disse. Ele passou por mim e antes mesmo que ele pudesse girar a chave, eu o impedi. “Não. Não precisa.”- eu disse o segurando pelo braço. “Eu aceito a carona.”

Se eu achava que passar um tempo com Chip no Poioson ou na rua ia ser desconfortável, era porque não fazia ideia de como seria ficar com ele dentro de seu carro. Depois que ele começou a dirigir, ficamos em silêncio por um bom tempo. Ele dirigia muito bem, sempre atento à rua e respeitando todas as leis de trânsito. Seu carro não era muito grande, mas era confortável. E, diferente do de Jerry, não tinha embalagens de pizza ou um violão largado no banco de trás.

Continuamos em silêncio até que ele resolveu ligar o rádio. “Se quiser mudar de estação, fique à vontade.” – ele disse, me olhando. Eu sorri timidamente e dei ombros. “Não essa está boa.”- eu disse me voltando para a janela. Ele continuava a me olhar. Eu podia sentir e estava ficando um pouco desconfortável com aquilo. Tentando ignorar aquele olhar, comecei a me distrair com meu novo cordão, rezando para que aquele percurso não demorasse. “É novo?”- ele perguntou parando o carro num sinal fechado. “Hãn?”- eu respondi me voltando para ele. “O cordão. Eu nunca te vi com ele antes.”- ele disse timidamente. “Sim.”- eu respondi me animando um pouco. “Aaron me deu hoje.”- eu terminei. “Ah, sim.”- ele suspirou se virando para o outro lado. Dessa vez, eu que continuei a olhá-lo. Observei sua expressão mudar quando o nome de Aaron saiu de minha boca. Provavelmente, ele deveria estar ecoando dentro dele agora.

O sinal abriu logo antes que eu pudesse falar algo e Chip acelerou o carro, ultrapassando alguns motoristas lentos que nos atrasavam. Eu continuei a olhar para ele por um tempo. Ele mantinha no rosto uma expressão séria, quase raivosa. Depois de um tempo, passei a ignorá-lo. Não sei por que estava me importando com isso. Eu não havia razão para me importar com aquele ciúme bobo dele. Foi ele que quis as coisas desse jeito. Não fui eu quem rejeitou ele. Ele havia me deixado ir, ele havia me dito para seguir em frente e eu segui. Eu estava com Aaron e, apesar de nossas brigas, eu gostava muito dele e estava feliz com nossa relação.

Depois de um tempo, a música que estava tocando chegou ao fim. Foi então que outra música começou. Dessa vez, era uma lenta. Começava apenas com o som do violão, tocando uma melodia doce e calma. Eu tinha a impressão que já havia ouvido aquele dedilhado antes. Tentei puxar na memória antes que o cantor começasse a cantar, mas não me veio nada à cabeça. Pensei que talvez pudesse ter ouvido Aaron tocá-la alguma vez, mas não. Foi então que os primeiros versos foram cantados e minhas dúvidas sumiram. Sim, eu já havia ouvido essa música antes. Mais do que isso, eu havia dançado essa música. Como podia me esquecer daquela noite? Daquela sala, de tudo ao meu redor e, principalmente, dele? Daquele toque delicado e aveludado que só ele tinha. Daquele toque que me puxou para dançar ao som daquela mesma música que tocava. Daquele toque que eu tanto sentia falta e que eu daria tudo para sentir novamente.

Virei meu rosto para Chip lentamente, tentando disfarçar o que estava sentindo enquanto a música ainda tocava. Será que ele estava pensando no mesmo que eu? Será que aquelas lembranças que vinham à minha mente eram as mesmas que estavam tomando conta de sua cabeça? Eu fui tentando encontrar seu olhar de alguma forma, mas ele continuava desviando de mim, também tentando esconder tudo àquilo que estava sentindo. Eu não o conhecia tão bem assim, mas sabia dizer perfeitamente bem quando ele se sentia desconfortável. E ele estava.

À medida que a música ia se aproximando do fim, eu ia começando a reconhecer aquela área. Estávamos chegando ao galpão. E eu não sabia se queria que chegássemos logo. O carro continuou se movimentando lentamente e o silêncio cada vez mais reinava sobre nós. Chip tentava esconder que estava tenso, mas era evidente que ele estava. Eu tentava com todas as minhas forças esquecer todas aquelas memórias que aos poucos voltavam a minha mente. Foi então que o carro parou. Havíamos chegado enfim. “Pronto.”- ele disse um tanto aliviado. “São 25 pratas.”- ele disse rindo. “O que?”- eu perguntei. “25 dólares. Mas pra você eu faço por 20.”- ele continuou. “Chip!”- eu disse. “Obrigada pela carona.”- eu continuei, soltando o cinto de segurança. “Sem problemas.”- ele disse. Eu levantei minha cabeça e, então, pude finalmente encontrar aquele olhar. Ele não fugiu como havia feito antes e eu continuei olhando fundo em seus olhos. O velho desconforto entre nós reapareceu. “Boa noite, Eve.”- ele gaguejou. Eu saí do transe e sorri. “Boa noite. Mais uma vez, obrigada.”

Sai do carro com a imagem dele me observando grudada na minha mente. Ouvir o som do motor sendo ligado e ver seu carro desaparecendo na escuridão fez meu coração palpitar. Como eu não queria vê-lo partindo, como eu queria que as coisas tivessem sido diferentes entre nós. Por um minuto, antes de sair do carro, tive certeza de que Chip queria me beijar. A forma como nos olhávamos e a maneira como ele se despediu fez com que eu tivesse certeza disso. Ele queria sim me beijar naquele momento e eu queria que ele fizesse isso. Mas algo dentro dele o impediu. Apesar de tudo, ele era o Chip. E podia-se dizer que ele era politicamente correto. Ou seja, jamais beijaria uma menina comprometida. Mesmo que ela estivesse implorando mentalmente por seu beijo ou mesmo que ela fosse aquela menina que ele tanto lutava para não amar.

Meus pensamentos foram interrompidos pelos risos estridentes vindos do galpão. Andei em direção à porta dos fundos, que era a única que ficava aberta e entrei.  Aquela cena já era mais do que familiar para mim. Estavam os quatro lá, jogados no chão, com seus violões e garrafas de cerveja vazias espalhadas pelo chão. Lee, como sempre, aparentava ser o mais alterado. “Estou interrompendo alguma coisa?”- eu disse sarcasticamente. Aaron, ao ouvir minha voz, deu um pulo e correu em minha direção. “Baby! O que faz aqui?”- ele perguntou largando sua garrafa pelo caminho. “O que você faz aqui? Nós tínhamos combinado um encontro hoje, lembra?”- eu disse. Ele se aproximou de mim e tentou me abraçar, mas eu recuei. “Ih, relaxa, Yoko. Ele teve um bom motivo para isso.”- Lee disse, rindo e se intrometendo. “Eu espero mesmo, Aaron.”- eu disse enfatizando seu nome. “Baby, você conhece o Bourbon Room, né?”- ele começou. Eu o olhei com uma cara confusa e ele logo deduziu que eu não fazia ideia do que ele estava falando. “É aquele bar que eu te levei uma vez. Onde só as melhores bandas tocam.”- ele continuou.  “Ah, sim.”- eu disse me lembrando da vez que fui arrastada por ele pra lá para ser esmagada por uma multidão suada e bêbada durante um show de sua banda favorita, a Arsenal. “Então, o dono do lugar estava naquele dia em que tocamos na praia e advinha só?”- ele perguntou todo entusiasmado. “A Blood Stain é uma das atrações principais do Bourbon na próxima sexta!” – Lee gritou erguendo sua cerveja, nos interrompendo mais uma vez. “Sério?”- eu perguntei não muito animada. “Sim! Baby, isso vai ser épico. Você sabe que eu sempre sonhei em tocar lá.”- ele disse colocando as mãos no meu rosto. “Sim, mas você podia ter me avisado que queria comemorar. Eu podia ter vindo mais cedo.”- eu disse. “Ah, mas eu queria primeiro comemorar com eles. Você entende né? Eles são minha banda.”- ele continuou. Eu respirei fundo e tentei me controlar para não começar mais uma briga. Eu estava cansada disso já. “Sim, Aaron. Eu entendo. E estou muito feliz por você.”

Depois de me explicar tudo, Aaron e Lee saíram para comprar mais bebidas. Segundo Lee, começaria agora a segunda parte da comemoração. Eu bebi pouco. Primeiro porque não estava com cabeça para isso e segundo porque não tive chance. Lee bebia cerveja como um atleta maratonista bebia água depois de correr. Aaron percebeu que eu estava me sentindo desconfortável e chateada e veio ficar comigo um pouco. “Ei, você fica tão linda com esse colar novo.”- ele disse pegando o pingente. “Obrigada. Meu namorado me deu.”- eu disse sorrindo timidamente. “Ele deve ser um cara de sorte.”- ele chegou mais perto de mim e tentou me beijar, mas eu virei o rosto. “Que foi, Eve? Você não está chateada porque eu te dei um bolo, né?”- ele perguntou. Eu olhei para ele com raiva e ele entendeu tudo em segundos. “Eu já disse. Eu queria comemorar com eles. Eles são a minha banda e acabamos de conseguir algo que queríamos muito.”- ele se explicou. “Sim, mas eu sou sua namorada. Eu faço parte da sua vida. Não acha que eu mereço compartilhar esse momento também? Ou pelo menos não mereço ser avisada antes de ser esquecida numa lanchonete?”- eu disse tentando controlar meu tom. “Eu estou cansada disso, Aaron. Você mal passa tempo comigo, só pensa na sua banda, me troca por ensaios. Você se cansou de mim, é isso? Por que se for, é mais fácil terminarmos logo tudo.”- eu continuei. “Não, não. Eve, você sabe que eu te amo. É só que eu sempre quis ter uma banda e viver disso. E nunca foi fácil. Mas agora parece que as coisas estão indo bem e eu preciso, mais do que nunca, trabalhar duro pra fazer isso acontecer, você entende?”- ele disse pegando minha mão. “E agora mais do que nunca, preciso de você ao meu lado. Pra me apoiar. Por favor, me perdoe. Eu sei que não tenho sido o namorado que você merece, mas eu vou me esforçar. Prometo. Só não me abandone agora.”- ele disse. Eu olhei em seus olhos e vi que dessa vez ele parecia estar sendo 100% verdadeiro. Assim, balance a cabeça concordando e sorrindo. Ele sorriu de volta e me puxou para um beijo. “Desculpa, de verdade. Mas é como diz a música: toda rosa tem seu espinho.”- ele terminou. “Como?”- eu gaguejei. “Você sabe, aquela  música que toca em tudo que é rádio. Toda rosa tem seu espinho. Tudo tem seu lado ruim.”- ele explicou. “Não, eu entendi. É só que...”- eu me interrompi. “Você nunca a ouviu?”- ele perguntou. “Sim sim. Eu já ouvi.”


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