Após esperar Aaron ir embora, entrei no prédio e subi as escadas. Sem dúvidas aquele encontro havia superado qualquer expectativa que eu pudesse ter criado nos dias que o antecederam. Eu tinha imaginado que ele me levaria ao cinema ou para comer alguma coisa, algo que fosse típico de um encontro. E o próprio Aaron me surpreendeu. Eu sempre pensei que ele fosse um cara completamente diferente daquele que ele mostrou ser hoje à noite. É claro que podia ser tudo um teatro ensaiado para me conquistar, mas tudo me pareceu tão sincero e verdadeiro que eu comecei a achar que eu talvez eu pudesse sim desenvolver sentimentos mais fortes por ele.

Quando entrei em casa, Bonnie estava jogada no sofá vendo televisão. Ela já estava de pijamas e estava penteando seus cabelos que um dia foram tão loiros quanto os meus. “Então, como foi sua noite?”- ela perguntou virando-se para mim. “Foi ótima.”- eu disse sendo verdadeira em cada sílaba e em cada letra. “E quem era aquele na moto?”- ela perguntou largando a escova na mesinha ao lado do sofá. “Você sabe muito bem. Você o cumprimentou.”- eu respondi largando minha bolsa na maçaneta e andando em direção ao banheiro. “Sim, mas eu quero que você confirme pra mim quem era.”- ela disse parando na porta do banheiro e cruzando os braços. “O nome dele é Aaron, Aaron Carpey. E ele é muito gentil.”- eu disse parando na frente dela. “Gentil? Irmãzinha, eu conheço aquele lá e ele pode ser muitas coisas menos gentil.”- ela disse. “Você por acaso já saiu com ele?”- eu disse passando por ela como um raio. “Não, mas ele é famoso por aqui. E não é por seu talento musical.”- ela começou o sermão tentando me acompanhar.

“Olha, você acabou de chegar aqui em Los Angeles e não sabe ainda como as pessoas são aqui. Não saia logo de cara com o primeiro que aparecer. Os caras por aqui só pensam em uma só coisa.”- ela disse. “Eu sou sua irmã, quero seu bem. Por isso eu te digo, se afaste desse Aaron.”- ela terminou pegando no meu braço e me olhando com um olhar triste. “Bonnie, eu agradeço sua preocupação, mas o Aaron parece realmente gostar de mim. Ele foi bem sincero comigo e eu gostaria de sair com ele mais vezes. Quem sabe se você o conhecer melhor vai perceber isso.”- eu disse. “Eve, esse Aaron não passa de mais um babaca que usa seu charme e seu “talento” pra sair por aí pegando todas as meninas. Você é mais uma irmãzinha.”- ela disse. “Bonnie, isso é o que você pensa.”- eu disse. “Não, isso é o que todo mundo sabe. Sai dessa, Eve.”- ela me pediu. “Você ainda não sabe como as coisas funcionam na vida.”- ela disse com um tom que só minha mãe usaria. “Bem, então eu acho que está na hora de eu aprender.”

Os dias se passaram e eu e Aaron continuávamos a nos ver. Ele ainda ia todo dia ao Poison, só pra me ver e tentar me tirar do trabalho mais cedo. Mas nunca dava certo. Havia dias que ele passava lá em casa e me pegava mais cedo, antes de eu ir trabalhar, e me levava à praia ou apenas pra dar uma volta. E sempre que dava eu ia para o galpão onde ele ensaiava com a banda só pra o ouvir tocar um show particular pra mim. Ele estava provando que o que sentia por mim era real, que eu não era mais uma das meninas que ele arrumava por ser líder de uma banda. Ele gostava mesmo de mim e queria mesmo ficar comigo. Eu, apesar de sentir meus sentimentos por ele crescendo, ainda pensava em Chip. Todas as vezes que íamos fazer alguma coisa juntos, eu não conseguia evitar me imaginar fazendo aquela mesma coisa com Chip. Como será que ele agiria se estivesse comigo em tal lugar, o que ele me diria naquele momento, como ele me faria me sentir, se estaríamos fazendo aquilo. Tudo, tudo mesmo, me levava a essa estúpida e inevitável comparação.

Quem não estava gostando nada dessa história era Bonnie. Ela viva me dizendo que um dia, Aaron ia cansar de brincar de casinha e ia soltar o espírito de rockstar que ele tinha dentro dele e ia voltar à caça, me deixando apenas com um coração partido e com a dor de uma traição. Eu entendia que ela não gostava dele, mas não entendia o porquê. Ambos já haviam me garantido que nunca tiveram nenhum envolvimento amoroso ou qualquer coisa do tipo. Não havia outra razão para ela não gostar dele. Ele não aparentava sentir o mesmo em relação a ela. Para ele, ela era só mais uma pessoa no mundo que não alterava nem fazia falta em sua vida.

“Eu não consigo mais olhar pra eles. Está me dando nojo.”- Bonnie estava sentada com Chip uma tarde no Poison. Ela estava almoçando e era o horário de trabalho dele, mas ele decidiu parar e conversar com ela um pouco. Era meu horário de almoço e eu estava com Aaron comendo fritas no balcão e namorando um pouco. “Ah, você não sabe reclamar de outra coisa não?”- Chip retrucou com um tom arrastado. “Ultimamente não.”- ela disse mordendo seu hambúrguer. “Isso tudo é culpa sua né?”- ela o perguntou com um tom irritado. “Minha? O que eu fiz?”- ele disse apontando para ele mesmo. “Chip, eu te conheço. Você deve ter feito o que você sempre faz.”- ela disse. “Olha, eu sei que você não gosta de compromisso e isso te assusta um pouco, mas pelo amor de Deus, quando você vai parar de ser um medroso e começar a ouvir seu coração?”- ela o encarava com um olhar desafiador. “Bonnie, você não sabe do que está falando.”- ele disse abaixando a cabeça se escondendo dela. “Claro que sei! Você sempre faz isso! Você conhece uma menina e antes de ter algo sério com ela, foge e dá um fora nela.”- ela aumentou o tom de voz e se segurou para não levantar. “Bonnie, você não sabe do que está falando.”- ele começou a se defender. “Eu amo a Eve, ok? É a primeira vez que eu sinto isso por alguém. Quando percebi isso fiquei com medo de não saber lidar com isso, medo de não saber amá-la da forma como ela merece.”- ele disse. “Sua irmã merece o melhor, Bonnie. E eu receio que não posso oferecer isso a ela.”- ele concluiu. “E você acha que aquele magrelo metido a Axl Rose pode? Chip, tenha dó. Você está redondamente enganando. Se tem alguém que pode amá-la da maneira que ela merece é você. Eu sinto isso.”- ela pegou sua mão e passou a olhá-lo com um olhar mais pacífico.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo. Chip não sabia o que dizer e Bonnie esperava que ele dissesse algo a mais a meu respeito, mas nada saía. “Olha, eu entendo que você está com medo, mas eu sei que seu amor por ela é maior que essa fobia idiota.”- ela começou. “Por isso, eu estou aqui me colocando a sua disposição. Eu quero te ajudar, vamos bolar algo e separá-los.”- ela disse rindo. “Bonnie, Bonie, Para. Não quero nada disso. Não quero separá-los.” – ele respondeu. “Mas, se você não separá-los como vai ficar com ela?”- ela perguntou. “Eu não quero ficar com ela. Quero dizer, eu quero, mas eu não posso. Eu tomei minha decisão; eu a deixei ir. E agora eu tenho que viver com isso.”- ele disse. “Mas isso não está certo, Chip.”- ela insistiu. “Você a ama.”- ela disse. “Sim, eu a amo. E por isso quero vê-la feliz, mesmo que eu não seja a razão dessa felicidade nem aquele pode proporcioná-la.”

Alguns minutos depois, meu horário de almoço acabou e tive que voltar ao trabalho. Enquanto isso, Bonnie terminou seu almoço e seu assunto com Chip, mas ele continuava com ela. “Chip querido, eu não te pago pra conversar.”- Ramona apareceu no salão e foi logo andando em direção à mesa de Bonnie. “Sim, sim. Eu só estava conferindo se a nossa cliente estava satisfeita.”- ele disse se afastando e voltando para o caixa. “Garanto que está, não é Bonnie?”- ela tomou o lugar de Chip e ficou conversando com Bonnie. Elas conversaram um pouco até a hora que Bonnie se levantou para sair. “Aquela é a Eve?”- Ramona perguntou apontando para mim e Aaron. Eu estava na porta com ele, me despedindo. Bonnie olhou rapidamente e concordou. “Não sabia que ela estava namorando.”- ela disse. “Sim, ela está.”- Bonnie disse contra sua vontade. “E aquele é o...”- Ramona não conseguiu terminar sua frase já que Bonnie já confirmava suas suspeitas sobre meu namorado sem mesmo mencionar um nome. “Não sabia disso também.”- ela disse. “Bem, que bom para eles.” – ela disse um pouco triste. “Sim, que bom para eles.”