Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 15
Capítulo 14




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A Blood Stain já tinha quarto anos de existência. Desde que Aaron tocou numa guitarra pela primeira vez, ele sabia que era isso que ele queria fazer: montar uma banda, tocar guitarra e sair pelo mundo tocando suas próprias canções. A banda era realmente muito talentosa e era composta por quatro integrantes. O pequeno repertório que tinham fora sido todo composto por Aaron e por Lee, o baixista da banda e a pessoa que mais bêbada que eu já vi na vida. Eles se conheceram cinco anos atrás numa loja de discos quando eles brigaram por o último exemplar de um disco do Jimi Hendrix. E quando eu digo “brigaram”, eu quero dizer que eles brigaram mesmo, de trocar socos e pontapés. No fim das contas, nenhum saiu da loja com o disco, apenas com um olho roxo, um braço quebrado e uma amizade.

Os dois outros integrantes da banda eram Izzy, o baterista, e Seth, o outro guitarrista. Depois que viraram amigos e decidiram montar uma banda, Aaron e Lee saíram por Los Angeles à procura de alguém que pudesse se juntar a eles, mas nenhum dos vários candidatos que viram se adequavam ao perfil da banda. Até que um dia, eles entraram numa lavanderia e ouviram um magrelo de cabelos pretos batucando numa máquina de lavar. Ele tinha um ritmo perfeito e parecia maluco suficiente para entrar nessa. Mais tarde, Lee arrumou uma namorada que tinha um irmão gêmeo que tocava guitarra e teclado. O namoro terminou, mas o cunhado continuou na banda.

Desde a primeira vez que fui a um ensaio da Blood Stain, percebi que eles eram ótimos. As letras de Aaron e de Lee eram simplesmente perfeitas. Lee diz que a única condição para que suas letras saiam desse jeito é nada mais nada menos que uma garrafa de vodca e uma cerveja quente. Sim, ela precisa estar quente, se não ele não sentia a vibração perfeita. A minha preferida dentre todas era a que Lee tinha composto com Aaron na noite de ano novo do ano passado. Eles estavam completamente chapados e haviam acabado de sair de péssimos relacionamentos. Então, subiram no telhado da casa de Lee com seus violões e escreveram “A Bottle of Freedom”, que falava apenas sobre o desejo que ambos tinham de se libertarem no ano que estava por vir. Talvez essa pudesse ser a minha trilha sonora.

Nas incontáveis vezes que fui vê-los ensaiar, sempre quis pegar o telefone e ligar para meu pai para ele pegar um avião correndo e vir vê-los. Meu pai adorava bandas assim, a gravadora não parava de assinar com bandas de rock da Califórnia e eu queria muito que ele os visse tocando. Certamente, se isso acontecesse em menos de dois dias ele já teria um contrato assinado e todos os cinco estariam rindo num avião particular indo para Santa Barbara começar a gravar. O problema era que Aaron não sabia que eu era a filha de Arthur Griffin. Bonnie havia me aconselhado a nunca dizer meu sobrenome por aqui, afinal todos queriam cinco minutos com esse magnata musical custe o que custasse. E, para ser honesta, eu tinha muito medo do que Aaron faria se descobrisse isso agora. Eu sabia que ele gostava de mim de verdade, mas contar isso poderia mudar tudo. E eu não queria isso. Não queira perde-lo assim. Então, achei melhor esquecer meu pai e continuar ajudando e apoiando-o como eu podia.

Era sexta à noite e a primeira vez que eu iria ver Aaron em cima de um palco. A Blood Stain tocaria numa boate pequena perto da praia que eu estava no dia que nos conhecemos. Além dela, outras cinco bandas tocariam até o sol raiar, mas a Blood Stain seria a terceira a tocar. Aaron me pegou horas antes do show no Poison e fomos direto pra lá. Quando chegamos Izzy, Lee e Seth já estavam lá com os equipamentos, instrumentos e, é claro, bebida. Lee já estava cambaleando quando chegamos e trocando as palavras e letras. “Ora, ora se não é a nossa Yoko.”- ele disse vindo me abraçar e soltando aquele bafo de álcool na minha cara. “Ah, oi Lee. Como assim a nossa Yoko?”- eu disse abanando aquele cheiro horroroso da minha cara. “Ué, você sabe... você namora o nosso Aaron que é como o John. Então você é meio que a Yoko.”- ele disse mexendo os dedos que nem um idiota e se segurando pra não cair. “É, mas a Yoko não separou os Beatles?”- eu perguntei. “É, tem razão. Aaron, cuidado, ela quer nos separar.”- ele disse apontando para Aaron. “Calma, Lee. Nada nem ninguém vai nos separar ok? Agora que tal nós entrarmos e tentarmos te dar um jeito?”- Aaron o segurou com os braços e foi andando na frente com o baixista de sua banda praticamente inconsciente. Sinceramente, não entendia como alguém naquele estado conseguia escrever e tocar tão bem.

Depois de ficar um pouco com os meninos no camarim, fui obrigada a me retirar para eles poderem se preparar para o show. Lee já estava um pouco melhor e os outros, incluindo Aaron, estavam se arrumando. Enquanto isso, decidi dar uma volta pelo lugar. A boate estava lotada. Havia uma grande multidão em frente ao palco onde era praticamente impossível de passar e nas laterais havia grades que também estavam tomadas pelo público. Por sorte, consegui um lugar em uma delas, perto de algumas garotas estranhas. Fiquei lá esperando pela banda de Aaron que seria a próxima a tomar conta do palco. Enquanto nada começava a multidão vaiava e começava a gritar pela próxima atração. Alguns jogavam latas e copos no palco como se fosse adiantar. Ao invés de ajudar, isso só acabou atrasando tudo, fazendo com que funcionários tivessem que limpar o palco antes da Blood Stain subir nele.

Depois de muitos minutos e muitas vaias, um dos donos da boate subiu no palco e anunciou sem mais delongas a Blood Stain. A banda toda entrou primeiro e se ajeitou no palco. Lee aparentava estar bem melhor, apesar de ter um copo de cerveja apoiado numa caixa de som perto dele. Com certeza, era só uma medida para evitar sua desidratação e sua sobriedade. Por fim, Aaron entrou no palco. Ele vestia um colete preto aberto, jeans velhos, seu par de Converse preto e sua guitarra pendurada nas costas. Assim que ele se posicionou em frente ao microfone, seus olhos se fixaram na minha direção e ele deu um sorriso malicioso, como se fosse um sinal para a banda começar a tocar. E de fato era.

Eles abriram o show tocando a minha preferida. Nunca vi Aaron tão vivo na minha vida. Ele tocava sua guitarra como se aquela fosse a última vez que ele poderia tocar uma música na vida e cantava como se quisesse que todos do mundo parassem para o ouvi-lo. Enquanto isso, os outros integrantes da banda tentavam acompanhá-lo. Lee parecia estar ligado numa tomada e pelo visto a bebida realmente tinha um efeito louco nele. Ele estava tocando melhor que em qualquer ensaio que eu tenha visto. Izzy também estava inovando com batidas e solos de arrepiar os cabelos e de hora em hora, ele jogava suas baquetas para o alto fazendo pequenos malabarismos com elas. E Seth, diferente dos ensaios, estava pulando e completamente solto. Eu sempre achei que para um guitarrista ele não era muito animado, mas naquela noite ele estava provando o contrário.

Depois de dez músicas e de incontáveis solos, o show da Blood Stain acabou. Assim que eles deixaram o palco, sai correndo e fui em direção à entrada dos camarins. Como tinha um crachá que me dava livre acesso a qualquer lugar, passei pelos seguranças gigantescos facilmente. Quando entrei no camarim, algumas meninas já estavam penduradas em Izzy, Seth e, é claro, Lee. Aaron estava sentado numa penteadeira secando o rosto com uma toalha branca. Assim que viu meu reflexo no espelho, ele se levantou e correu em minha direção. “Parabéns!”- eu gritei quando ele me pegou nos braços e me girou no ar, não reparando que eu estava de vestido. “Então, o que achou?”- ele perguntou ansioso.  “Vocês foram ótimos! Nunca vi ninguém tocar assim!”- eu disse. De certa forma, eu estava falando a verdade. Meu pai sempre me mandava ingressos dos shows de suas bandas para fingir que era um pai presente e que queria passar um tempo comigo. “Sério mesmo?”- ele insistiu. “Claro, por que eu mentiria pra você?”- eu disse. Ele sorriu e me puxou para um beijo, fazendo com que todos do camarim criassem um alvoroço desnecessário.

Logo depois que os meninos terminaram de arrumar as coisas, fomos embora. Ninguém queria ficar para assistir os outros shows. Izzy, Lee e Seth queriam sair para beber com suas "fãs" que não desgrudavam deles desde que deixamos o camarim. “Ah, qual é Aaron! Temos que comemorar! O show hoje foi épico! Você ouviu a Yoko.”- Lee insistia para que ele saísse com eles depois do show, mas Aaron queira apenas sair comigo. “Eu sei, mas vão vocês. Eu quero comemorar com a Eve.”- ele disse pegando minha mão. “A gente pode ir com eles, eu não me importo.”- eu sussurrei no ouvido dele. Ele olhou pra mim e sorriu, em seguida beijou minha mão e balançou a cabeça mostrando que não estava mesmo a fim. “Então? Vamos?”- Lee perguntou colocando uma das meninas nas suas costas e liderando o grupo. “Não, hoje não. Mas amanhã prometo pagar uma rodada como forma de pagamento.”- Aaron disse apontando para os três que já estavam andando. “Só uma? Eu diria no mínimo três!”- Lee gritou e continuou seu caminho em direção à praia, sendo seguido pelos outros.

“Você não precisava fazer isso.”- eu disse. “Você poderia ter ido com eles, eu iria junto sem problemas.”- estávamos parados em frente à moto, ele sentado no banco e eu em pé brincando com o colarinho da sua jaqueta. “Eu sei, mas eu queria passar a noite com você. com você.”- ele disse tocando meus lábios mais uma vez. “Tudo bem então. Não reclamo mais.”- eu disse sorrindo. “Só espero que você saiba que eu tenho toque de recolher. Minha irmã me mata se eu aparecer em casa muito tarde.”- eu disse colocando os braços em volta de seu pescoço. Ele agora estava em pé, me segurando pela cintura. “E se você chegasse pela manhã?”- ele perguntou num tom baixo, quase sussurrando. “Como assim?”- eu perguntei afastando meu rosto do dele e o encarando com uma expressão assustada. “Eu ia te pedir pra passar a noite comigo hoje.”- ele disse calmamente. “Como assim? Tipo, dormir? Tipo, na sua casa? Com você?”- eu gaguejei nervosa. “É, mas se você não quiser tudo bem. A gente pode dar uma volta e depois eu te levo pra casa.”- ele disse parecendo um pouco decepcionado. “Não é que eu não queira. É só que...”- eu disse sendo interrompida pelos meus próprios pensamentos. Se eu aceitasse seu convite, nós dois saberíamos o que aconteceria. E seria a primeira vez que aquilo aconteceria para mim. “Eu acho que entendi.”- ele disse calmamente. “Olha, eu não vou te pressionar a fazer nada, ok? Eu só achei que talvez pudesse ser um bom momento; nós já estamos juntos há um tempo, nos divertimos juntos, eu adoro ficar com você. Mas se você não quiser tudo bem. Eu espero o tempo que for. Eu te amo.”- ele disse calmamente. Foi então que suas últimas palavras se fixaram na minha cabeça, como uma música. Ele me amava? Ele nunca tinha me dito isso antes, nem ele e nem ninguém. Eu olhei para ele e deixei um sorriso aparecer no meu rosto e, por um segundo, deixei-me levar pelo impulso e o beijei.  “Eu te amo também.”


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