Blackbird, Fly. escrita por JohannaD7


Capítulo 2
Strawberry Fields Forever


Notas iniciais do capítulo

Então, faz um tempão que eu não apareço por aqui. Na verdade, eu tinha desistido da fanfic por falta de leitores, e acabei postando-a no tumblr e enviando pra alguns amigos que queriam ler, apenas. Mas então, eu entrei aqui no Nyah! pra me atualizar nas fanfics que acompanho e vi reviews, fiquei muito feliz e decidi postar os outros capítulos!!! Enfim, espero que gostem ♥ Aqui está o link do tumblr: http://rollingstoning.tumblr.com/post/33251168169/blackbird-fly
Música: http://www.youtube.com/watch?v=n79B3FHi0Fs



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Ouvi dizer que vemos toda nossa vida antes de morrer.

Primeiro vieram os campos de morango.

O vento chicoteava meu rosto e restos de uma canção sobrevivente de uma cultura há muito morta soprava em meus ouvidos: Let me take you down ‘cause I’m going to strawberry fields, nothing is real and nothing to get hung about... Strawberry fields forever...

Os pais dos pais dos pais dos pais dos pais dos meus pais cantavam essa música para eles antes de Todo O Mal começar. Papai disse que nossa família sempre cuidou de plantações de morango e os mais novos costumavam a usar substâncias ilegais e correr nus pela plantação. Ri muito quando ouvi essa história, mas papai fez uma cara séria:

- O faziam para fugir da realidade. Dor demais, florzinha.

E logo depois caiu na gargalhada. Minutos depois eu já sabia toda a canção e os jovens nus correndo pelos campos de morango se isolaram em uma parte muito distante de minha mente. Agora entendo. Dor demais, florzinha. Mas não há lugar nenhum pra correr.

Começamos a trabalhar muito novos no distrito 11. Primeiro com coisas pequenas, como segurar cestas ou regadores. Depois já passamos o dia todo nas plantações debaixo do sol quente com nossos pais. Eu trepava nas árvores mais altas e avisava os trabalhadores sobre os horários de intervalo e saída. Aí sentávamos juntos e comíamos nossas rações. Nunca frutas. Vi muitas pessoas morrerem por comerem frutas no serviço.

Gantz nunca foi pego. Ele era mais esperto que todos os pacificadores. Roubava dois morangos todos os dias e os saboreávamos no topo da árvore dos tordos – como chamavam meu “local de trabalho”. Ele sempre colocava o morango inteiro na boca enquanto eu dava pequenas mordidinhas pra durar mais tempo. Gantz ria de mim. Não via sentido em prolongar nada. “A vida é curta demais.” Ele é dois anos mais velho que eu e somos amigos desde sempre. Ele diz que sou muito esperta para a minha idade. Também penso que ele é muito esperto pra idade dele, mas não digo isso. Da única vez que disse ele me respondeu que eu nunca tive 14 anos para saber como crianças de 14 pensam e apesar de acreditar que isso não faz o menor sentido, concordei. Não queria perder sua companhia.

No meu aniversário de 12 anos, Gantz me deu dois morangos. “É um dia especial”, ele disse. E era verdade. Foi o dia mais feliz da minha vida. Voltávamos pra casa caminhando devagar e chutando pedregulhos. Falávamos sobre meus irmãos e sobre ausência de irmãos dele, sobre o trabalho, sobre a escola e as outras crianças. Tudo para evitar um assunto que nenhum de nós queria discutir.

- Rue... Ele começou e eu soube que era a hora.

Parei abruptamente, com os olhos cheios de lágrimas que eu odiaria se caíssem.

- Eu sei. Estou com medo.

Nos encaramos em silêncio por um tempo. Ele engoliu muito ar antes de começar a falar.

- Olha, muitas pessoas colocam o nome na colheita a vida inteira e nunca são sorteadas. Normalmente são os mais velhos. Que colocam os nomes várias vezes. Não vai ser você. É sério.

Meus olhos transbordaram um pouquinho e eu encarava meus sapatos quando gaguejei:

- E se for você?

As palavras saltaram de meus lábios e pairaram no ar por um longo momento antes de o silêncio ser quebrado pelo sussurro lotado de raiva que emitiam os punhos fechados de Gantz.

- Somos só peças do jogo deles.

Sobressaltei-me.

- Não fale assim! Podem te ouvir.

Enxuguei as bochechas com as palmas das mãos e voltava a olhá-lo, preocupada. Até mesmo Gantz parecia assustado ao olhar ao redor em busca de pacificadores. Mas eles normalmente não rondavam naquela parte da cidade esse horário. Suspiramos, de alívio ou medo.

- Vai ficar tudo bem, Rue.

As lágrimas transbordaram mais uma vez e ele esticou as mãos para secá-las.

- Você promete?

Perguntei, estúpida. Não havia nada no mundo que pudesse me garantir que Gantz cumpriria tal promessa feita em um momento de desespero juvenil.

- Prometo.

Ele respondeu, com meu rosto em suas mãos e inclinou para mais perto de mim.

Só fui entender o que estava fazendo quando seus lábios tocaram levemente os meus e quando fechei os olhos era quase tarde demais. Eu havia sido beijada. Via o reflexo de meu sorriso no dele e notei vagamente que parecíamos dois imbecis se encarando sorrindo no meio na rua ao por do sol.


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Notas finais do capítulo

Escolhi a versão do filme Across The Universe porque o ritmo é um pouquinho mais lento e porque o clipe carrega mais a verdadeira mensagem por trás da música. =]



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