Pov: Narradora. 


     Tem dias em que o céu parece estar especialmente cinza. O cinza não é lá uma cor muito animadora quando encontra-se no céu, geralmente trás a quem a vê a certeza de que haverá uma intensa tempestade. Porém, naquele dia, a coloração acinzentada do céu matinal trazia para Percy a estranha sensação de nostalgia. Sim, a coloração do céu lembrava-lhe os olhos dela, brilhantes e, por sua causa, agora tristonhos. Sentia-se um verdadeiro mostro por ter feito o que fez com a mulher que ama. Talvez o que mais lhe doesse fosse o fato dela justamente ter acreditado em sua estúpida mentira, devia ter interpretado muito bem seu papel... era a única resposta plausível que tinha para explicar o por quê dela acreditar tão rápido que ele era realmente aquele tipo de monstro. Será que a convivência entre eles já não bastava para que ela confiasse um pouco mais nele? Mesmo assim sabia que não podia culpá-la, ele fora mesmo um verdadeiro "monstro" com ela. Não podia querer que, depois de tudo o que disse e da forma que disse, ela pudesse simplesmente manter a calma e perdoá-lo.

Ao final de contas, o que mais lhe incomodava era a cena que tinha visto pela amanhã, assim que viu a loira sair de sua cabine. Sabia que o próximo porto estava longe, pelo menos algumas horas. Não sabia como teria de encarar Annabeth andando pelo navio e fuzilando-o com os olhos durante esse tempo, não aguentava ver a Princesa Chase sofrendo. Apesar de saber que ela o mataria se ele se aproximasse dela mais uma vez, resolveu correr o risco. Precisava saber se ela estava bem, na medida do possível, claro. Resolveu que iria começar procurando-a lá em cima, na proa do navio. Sabia que ela gostava de ficar lá um tempo para pensar e refletir sobre o que lhe acontecia.

Assim que a vistou Annabeth, o ciúme quase o consumiu.     Annabeth estava ao lado de Nico, sentados no chão encostados em uma das torres de comando. Ela estava com a cabeça encostada em seu ombro, enquanto ele segurava uma de suas mãos, fazendo leves movimentos com seu polegar acariciando-a. Ele parecia lhe dizer alguma coisa importante, enquanto ela simplesmente encarava o céu nublado. Em um momento, Percy pode observar Annabeth tentar dar um sorriso e abraçar Nico com força, provavelmente agradecendo-lhe por tudo, seja lá pelo que. Percy sentiu um profundo ódio do amigo meio-sangue por estar com sua garota, ao mesmo tempo que estava, até certo ponto, feliz por ver que alguém estava apoiando-a, quando ele mesmo não podia fazer tal coisa. Annabeth estava precisando mesmo de um amigo, queria muito que ele pudesse fazer esse papel, mas naquele momento, não podia... estava sendo o cara "mal" da história, mas... machucava-lhe muito saber que não podia consolá-la em um dos momentos que mais precisava! Nico era um cara legal, um bom homem, mas Percy tinha certeza que não exitaria em dar sua carne aos monstros marinhos se ele ousasse chegar mais perto da loira. 

 -O que você fez? -perguntou uma voz vinda do lado de Percy. 

 -Como assim? -ele perguntou confuso para Thalia, não tinha notado a presença da filha de Zeus antes, nem sabia a quanto tempo ela estava li parada. 

 -O que você fez para Annabeth? Eu a ouvi chegar aqui mais cedo chorando um pouco e depois... vi Nico aqui com ela... -ela disse um pouco irritada com a situação, como se algo na proximidade dos dois lhe incomodasse.

 -Eu... não... -tentei falar, mas lembrou que talvez não fosse correto comentar o que estava acontecendo com Thalia.   -Você pode me contar? -ela perguntou calmamente.

 -Acho que não. -ele disse. 

 -Bom... seja lá o que tiver feito... deve ter sido ruim ara ela. 

 -Eu a magoei, muito. -ele respondeu colocando as mãos na cabeça. -O que quer dizer com todas essas perguntas? 

 -Que agora ela e Nico não têm nada que os separe. -ela disse ficando vermelha. 

 -Você acha que eles querem ficar juntos? -perguntou ele desconfiado. 

 -Não sei. Só acho que quando sofremos bastante, há uma hora que cansamos de tudo e partimos para outra.

-ela disse respirando fundo. 

 -... o que está falando? 

 -Eles até que formam um belo casal. -disse Thalia. 

 -Você gosta dele, não é? -disse Percy encarando a face corada da filha de Zeus. 

 -O quê? Eu... eu não... isso... isso é... coisa da sua cabeça... por que acha isso? -ela disse ao mesmo tempo que dava uma risada nervosa. -Está tão na cara assim? -ela perguntou depois de notar o quanto estava parecendo boba. 

 -Um pouco. -ele respondeu sorrindo.

-Ele sabe o que sente? -Percy perguntou um pouco mais calmo por conversar com ela. 

 -Claro que não. -ela respondeu rápido. 

 -Por que não?. -ele contestou.   -Percy... eu sou filha de Zeus e ele... é filho de Hades. 

 -E qual o problema? -ele perguntou rindo um pouco. 

 -Isso nunca daria certo, nunca mesmo! -disse ela como se fosse óbvio.

   -Eu estou perdidamente apaixonado pela filha da maior inimiga declarada de meu pai e, por mais que eu não queira, vivo magoando-a e nem ao menos posso lutar contra isso. -Percy suspirando.- E eu aprendi que quando gostamos de alguém, a coisa mais importante e mais especial que podemos fazer é contar isso para quem amamos. Contar o que estamos sentindo... -ele disse depois de respirar fundo.

   -Qual o nosso problema? -Thalia perguntou. -Por que não podemos simplesmente escolher pessoas que possamos gostar facilmente? -ela perguntou mais para si mesma do que para Percy. 

 -Talvez seja porque Afrodite está simplesmente querendo dar mais emoção... as coisas simples são sem graça. -disse Percy tentando sorrir. 

 -Não me parece justo. 

 -O que nesse mundo parece justo? -ele disse tocando o ombro da garota. 

 -Você devia falar com Annabeth. -ela disse mudando de assunto. -devia tentar explicar o que está acontecendo, seja lá o que for. Ela precisa saber, você mesmo disse que a coisa mais importante é contar o que estamos sentindo! -disse Thalia. 

 -Eu não posso... não posso fazer mais nada para arrumar o que fiz. -disse Percy triste. -Tenho que protegê-la agora, tenho que arriscar tudo para mantê-la segura agora. É só o que me importa nesse momento. 

 -Mesmo que isso separe vocês? 

 -Eu aprendi que quando agente ama alguém... fazemos de tudo, de tudo mesmo, para proteger essa pessoa, mesmo que isso nos machuque fortemente. 

 -Desde quando você é tão romântico? -ela perguntou rindo. 

 -Desde que aquela loira entrou no meu caminho. -ele respondeu apontando para Annabeth. -Ela mudou tudo.