Parei em frente à porta da cozinha. Não queria entrar, mas entrei. Encontrei meu pai sentado em frente à mesa, me esperando.

- Tá, o que foi aquilo ontem? - Foi direto ao assunto. Sentou e esperou uma resposta.

- Hm, é que... - Travei.

- Estou começando a achar que você tem alguma coisa contra a Laura. Então, por favor, me diga o que é.

- Tá, eu vou dizer. O problema, em sí, não foi ela. Foi você. - Ele pareceu surpreso.

- O que isso quer dizer? Eu estou te incomodando? Eu?

- Não é isso, é só que... Você ficava dando toda aquela atenção à ela, porque minha mãe não pôde receber nem uma lasquinha disso?!

- Ah! Então é isso. Filha, você não tem que descontar na Laura só porque o meu casamento com a sua mãe não deu certo. Sua mãe e eu nos separamos por motivos que você não entende.

- Eu não desconto na Laura por causa disso, eu desconto na Laura porque ela me irrita. - Depois disso comecei a gritar. - E eu entendo sim! Eu sei que por falta de atenção sua, ela te trocou por outro! - Ele pareceu espantado. - É, eu sei disso, e eu entendo.

- Não sei como descobriu isso, mas a informação não está completa - disse calmamente. - Eu só comecei a negligênciar nossa relação APÓS ela ter começado a me trair -suspirou. - Olha minha filha, eu sei que você tem uma visão perfeita de sua mãe, mas já está bem grandinha para saber a verdade. E mais uma coisa: A Laura tá vindo para cá hoje, dia de mudança lembra?

Eu não tinha resposta para isso, então simplesmente me retirei para meu quarto.

Estava com tanta raiva. Porque essa mulher nojenta tem que morar aqui? Se meu pai acha que eu vou simplesmente sorrir e ser simpática quando ela chegar, ele está enganado. E essa coisa que ele disse sobre minha mãe, será que é verdade? Na noite que ela foi embora ele não tentou se defender ou nada parecido. Será que ele já estava cansado dela? Ou simplesmente está mentindo para mim agora? Melhor esquecer isso por agora.

Depois de mais ou menos uma hora da discussão, Laura chegou. Não saí do meu quarto para falar com ela. Não saí do meu quarto para ajudar ninguém. Se eles que querem morar juntos, eles que arrumem as coisas.  Perto da hora do jantar, enquanto eu estava sentada desenhando, alguém bateu na porta. Eu ignorei, mas a pessoa bateu de novo. Escutei meu pai gritando “se ela não quer responder abre a porta assim mesmo”. Ótimo, a doce Laura está vindo ter uma conversa comigo. Ela deu mais uma batida na porta, que eu ignorei de novo, e disse: “Alice, estou abrindo, ok?”. Não, não está ok, nada disso está ok. Ela abriu a porta e disse:

- Vamos jantar? - Não tirei o olhar do papel.

- Estou ocupada.

- É rapido, vem comer só um pouco. - Ela estava tentando me animar.

- Não tô com fome - respondi, ainda sem parar de desenhar.

- Vamos Alice, estou preocupada com você, não saiu daqui desde que cheguei. - Levantei o rosto,olhei para ela, abri um sorriso, e disse:

- Será que é só coincidência? - Me voltei para a folha novamente.

Depois disso ela saiu e eu não fui mais perturbada a noite toda.

Acordei com uma fome de Monstro, resulatdo de minha pirraça da noite anterior. Levantei e fui direto para o banho. Quando terminei meu banho peguei minhas coisas e fui para a cozinha morrendo de fome. Mas assim que cheguei lá minha fome sumiu, Laura estava arrumando a mesa do café. E provavelmente estava fazendo isso para me agradar, pois meu pai já tinha saído ( geralmente saímos juntos, mas eu estava atrasada). Pensar nisso me deu repulsa. Simplesmente ignorei ela e a linda mesa cheia de comida, e saí.

Ok, sei que tenho agido como um grande bebê, mas essa mulher me irrita demais! Ela é perfeita em tudo! Linda, alta, loira, simpática, prestativa. Fala sério, quem consegue ser tudo isso ao mesmo tempo? De acordo com meu pai, minha mãe não conseguia!

A aula foi normal, e chata. No intervalo contei tudo para Carol, e ele concordou comigo. Inclusive a parte que eu estava sendo um grande bebê. O resto da aula foi pior que o começo. Agradeci quando acabou e fui feliz para minha casa, que, por algumas horas, seria só minha.