Catch Me Before I Hit The Ground escrita por Danika


Capítulo 3
Get real




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– Au! Foda-se! - Guinchei.

Nota para mim mesma: não corras para a sala sem ver por onde andas, vais acabar por bater com o dedo do pé na porra da mesa.

– Ariadne! - Ralhou a minha mãe.

– Desculpaaaaaaa! - Redimi-me.

Se fosse ela a sofrer aquela dor insuportável, queria ver! Merda, que dor! E tudo porque estava a dar o filme Pearl Harbor - a.k.a o meu filme preferido - na televisão. Ainda por cima perdi a melhor parte, que era o atentado a Pearl Harbor em si. Raios partam.

Fiquei sentada no sofá em posição lótus (N//A: para quem não sabe, posição lótus é a posição em que o Buda aparece sentado) a comer pipocas até ao filme acabar. Quando acabou, eu adormeci quase instantaneamente. Por mais cansada que estivesse, se estivesse a ver o Pearl Harbor, nunca adormecia até chegar ao final. Chamem-me maluca à vontade mas, sei lá, eu gostava do filme!

Acordei ao som de "Nothing Good About Goodbye - Hinder". A Daika estava a ligar-me.

– É bom que seja importante porque acabaste de me acordar. - Disse eu mal-humorada, ao atender.

– MUUUUUUUUUUITO importante! - Disse ela animada do outro lado. Se ela não estivesse animada é que era de admirar. - Estás a ver os bonzões do Eric e do James?! Eles vão dar uma festa em casa do James e estamos todos convidados. Vens, não vens? Claro que vens! Eu e o pessoal passamos aí às 20:00 para te ir buscar. A tua mãe deixa, já falámos com ela, beijinho! - E com isto desligou sem me deixar sequer recusar.

Mas que porra?! a minha mãe tinha-me autorizado a ir a uma festa sem saber sequer se eu queria?! e agora que desculpa é que eu tinha para não ir? Eu nem gosto de festas. Aff, matem-me logo, por amor da deusa Vénus.

Desde que conhecera os rapazes há uma semana que eles não me deixavam em paz. Quero dizer, eles andavam sempre colados ao meu grupo e teimavam em socializar comigo apesar de eu deixar bem claro que não queria sequer olhar para a cara deles. Especialmente daquele Eric que ainda estava com a Cassidy. Vá se lá perceber o que é que os rapazes giros vêem naquela desgraçada. Espera. Giro? O Eric? Ok, Ariadne, vais direta para o hospício. Ele é tudo menos giro, okay?

– MÃÃÃÃE! - Gritei.

– No quarto! - Gritou de volta.

Fui até ao quarto dela, onde a encontrei a fazer a sua cama.

– Eu não acredito que disseste à Daika que eu podia ir a uma festa quando sabes que eu detesto festas. - Disse aborrecida.

– Oh, mas querida, vai fazer-te bem... Estás sempre fechada em casa, parece que voltámos a Portugal de novo. Estamos em Inglaterra, tens de te divertir! E, além disso, tens todos aqueles vestidos lindos no roupeiro que nunca mais vestiste e qualquer dia ganham pó. Vá, deixa de ser chata e vai arranjar-te. Vais ver que te vais divertir. - E, com isto, expulsou-me do seu quarto.

Bufei. Não queria ir àquela maldita festa. Ia haver bebida por todo o lado e isso iria levar a que houvesse putaria por tudo quanto era sítio. Se eu, ao menos, pudesse fugir daquilo de alguma maneira... mas sabia que nem o pessoal nem a minha mãe me iriam deixar, portanto, desisti dessa idéia e fui tomar banho. Saí de toalha da casa de banho e fui até ao meu pequeno quarto, colocando-me à frente do roupeiro, ponderando qual seria o vestido que eu iria escolher para aquela festa. Se tinha mesmo de ir, mais valia ir bonita... minimamente... até porque eu não sou bonita. Acabei por me decidir e vesti-me. Sabem, nunca me senti muito bonita, especialmente depois de ser vitima de bullying em Portugal - e não, a minha mãe não sabe de tal coisa - mas, ao ver-me assim, ficava espantada com a beleza que eu parecia ter. Parecia uma deusa grega. A minha mãe tinha razão, o azul faz mesmo um belo contraste com a minha pele morena.

– ARIADNE, OS TEUS AMIGOS CHEGARAM! - Gritou a minha mãe do andar debaixo.

– ESTOU A IR! - Gritei de volta.

Desci as escadas e à porta estava o Richie à minha espera.

– Uau! - Disse ele, olhando-me de cima a baixo, coisa que me fez revirar os olhos.

– Mexe-te lá, Richie. - Disse-lhe, passando à sua frente em direção ao carro depois de me despedir da minha mãe com um beijinho.

Entrámos no seu carro, onde se encontrava a Daika e o Alex. O resto do pessoal encontrar-se-ia connosco na casa do James. Bah, não me apetecia nada, MESMO NADA, ir àquela festa. Afinal, quem é que dava uma festa com pessoal que só conhecia há uma semana? Tem paciência, Deusa da Lua. E, para ajudar na coisa, o Alex não parava de babar pra cima de mim.

– A sério, Alex, dá pra conter? Se quiseres arranjo-te a taça das pipocas. - Resmunguei, um pouco farta daquela atitude. Quer dizer, daqui a nada só faltava estar a saltar-me pra cima, coisa que, pelo seu olhar, não devia faltar muito.

– Desculpa, mas estás mesmo bonita hoje... - Disse ele, atrapalhado.

– Pois. - Respondi, seca.

Odiava ser o centro das atenções. Quero dizer, gostava até, mas não daquela maneira. Ele estava a olhar pra mim como se eu fosse um bocado de carne e, puta que pariu, aquilo dava-me um medo do caralho.

Quando finalmente chegámos, deparei-me com uma enorme mansão à minha frente. Mas quê? O miúdo era rico ou quê? A sério... Estão a ver as mansões dos filmes? Igualzinha! Era linda. A arquitetura gótica dava-lhe um aspeto de palácio de conto de fadas e o tom bege das paredes tornava-a esplendorosa aos olhos de qualquer um que a visse. Nunca na minha vida imaginei pousar os olhos em tamanha magnificiência.

– Uau. - Disse o Richie.

– O teu vocabulário, hoje, está reduzido a essa palavra? - Brinquei.

– Epá, só me aparecem coisas lindas à frente, queres fazer o quê? - Riu-se.

– Estás saído da casca, Mr Calado. - Ri-me.

Caminhámos para a entrada da mansão e a uns bons cinco metros já conseguíamos sentir o chão vibrar debaixo dos nossos pés com a potência da música. Apesar de não gostar de festas, tenho de admitir que adorava sentir as ondas sonoras percorrerem o ar daquela maneira. É, eu sou louca por música, é o meu refúgio, sempre foi... Então acho que a festa não seria tão má assim desde que ninguém falasse comigo e eu pudesse só sentir e ouvir a música. E sem ver putaria, se fosse possível.

Ao entrarmos, fomos recebidos por um James "alegre". Aparentemente, a festa já durava há um bocado e o James já tinha atacado o stock de bebidas. Uau, que surpresa.

– BEM VINDOSSSSSSSSSS - Disse ele, enrolando a língua no S, tal não era a bebedeira. - Entrem e divirtam-sssssse!

Revirei os olhos e entrámos. Lá dentro encontrámos a Ashley e a Christie agarradas a uns tipos quaisquer que eu me lembro de ver na escola. Bem, parece que a noite delas já estava mais que animada e, honestamente, eu não me queria nem aproximar daquela animação toda. Fui até à mesa onde continha a comida e as bebidas e peguei numas batatas fritas e num ice tea de pêssego. Havia vodka, a minha bebida preferida a seguir à cerveja - que também lá estava -, mas eu não queria acabar bêbeda. Queria apenas ouvir a música, sem bebidas, sem ninguém a chatear-me. só ouvir e sentir as ondas sónicas libertadas pelas colunas no centro da casa.

– Oi! - Disse alguém ao pé de mim, obrigando-me a abrir os olhos, que tinha fechado como se isso me fosse ajudar a sentir melhor a música, para ver quem era. Eric. Podre de bebedo. Olha que bonito, agora tinha de aturar babuseiras de um pegador bebedo. Tem paciência. Voltei a fechar os olhos, ignorando-o.

– HEEEEEEEEEY! Fala comigo, princesa!! - Disse ele, com voz de quem estava mais pra lá do que pra cá.

– Eric, desapega. - Disse-lhe.

Não queria nada, mas nada mesmo, aturar o Eric bebado. Nesta semana conheci o miúdo mais ou menos bem e, daquilo que vi, era alguém de quem eu só queria distância. vivia e comportava-se como se fosse o rei do mundo, o miúdo mais giro da escola. Sim, era giro, mas nem tanto. Qualquer um era bem mais giro que ele, como o James. E desde que ele se começara a enrolar com a Cassidy então, só queria milhas de distância dele. Ela era a miúda mais nojenta da escola inteira. Quero dizer, se ela não tinha sida era por sorte. Pergunto-me se os clientes dela se queixavam de herpes ou assim depois de terem passado a noite com ela... sim, ela era assim tão nojenta. Já para não falar que já tinha dormido com mais de metade da escola, mais ao raio que a parta. Qualquer dia, tinha de virar lésbica já que por este andar ia rodar todos os rapazes dali e só sobrariam as miúdas. Credo, ela que se mantivesse longe de mim nessa altura, que a deusa me livre!

Ao abrir os olhos de novo, reparei que o Eric ainda ali estava. Tinha-se encostado à parede mesmo ao meu lado e mantinha-se de olhos fechados. Se calhar tinha adormecido. OOOOOOps, não, mudança de ideias, ele não adormeceu. Pessoas a dormir não vomitam. É isso mesmo, o Eric estava a vomitar. Não, não vomitou pra cima de mim mas sim pra cima de um vaso de plantas. Pobrezinhas, tiveram de levar com aquele fluído mal-cheiroso vindo do maior esgoto do mundo; o Eric.

– Aria... - Chamou ele, numa voz rouca, depois de ter vomitado tudo.

– Que foi? - respondi com maus modos.

– Podes ajudar-me a subir as escadas até ao meu quarto? - Pediu.

– Teu quarto?

– Sim... Eu vivo aqui com o James... Somos primos... Podes ajudar-me ou não? Não te peço mais nada...

Assenti, ajudando-o a subir as escadas até um quarto acolhedor. Se ele não me pediria mais nada, isso significava que não me ia pedir mais para ficar ao meu lado nas aulas de ciências e que não ia pedir para se juntar ao nosso grupo depois de se fartar da Cassidy, portanto, valia a pena o esforço. Ajudei-o a deitar-se e comecei a sair do quarto mas, ao afastar-me da cama, ele prendeu-me o pulso.

– Fica comigo... - Pediu, parecendo, subitamente, uma criança.

– Eric, estás bebado. Dorme e deixa-me sair. - Ralhei, tentando parecer má apesar daqueles seus olhos cinzentos estarem a deixar-me toda derretida. O que raio se passava comigo? Tudo bem que eu era louca por olhos cinzentos e que os olhos dele eram os mais bonitos que eu já vira mas, por amor da deusa, aquele era o Eric!

– Está bem... - Murmurou, triste. Segundos depois, já dormia.

Aproveitei para sair dali e disse ao Richie que ia apanhar um táxi para casa. Ele, que não tinha bebido nada - é, o Richie é contra as bebidas alcóolicas - ofereceu-se para me levar a casa e eu acabei por aceitar quando vi que não tinha dinheiro comigo. Entrámos no carro e os meus ouvidos começaram a zumbir quando a música deixou de soar tão alta. ele deixou-me em casa e deu-me um beijinho na testa como sempre fazia quando se despedia de mim. Era o meu irmão mais velho.

– Boa noite. - Disse-me.

– Boa noite.

E fui para casa, entrando sem fazer barulho para não acordar a minha mãe nem o meu padrasto que já dormiam. Por mais que eu não o demonstrasse, eu amava-os e estava-lhes grata por tudo o que tinham vindo a fazer por mim, especialmente ao Paul que não tinha qualquer obrigação para comigo e, mesmo assim, tratava-me como uma filha.

Acabei por adormecer depois de imensas voltas na cama. Os olhos do Eric não me saíam da cabeça. Mas porquê?

...

...

– EU VOU TER UM QUÊ?! - Guinchei, quase cospindo os meus cereais.

– Um irmão... O Paul já foi casado e desse casamento surgiu um filho. O Paul tem lutado pela custódia dele e, pronto, basicamente ele conseguiu ganhá-la... O rapaz vem viver connosco pra semana. - Anunciou a minha mãe com um sorriso.

– Idade? - Perguntei, de sobrolho franzido.

– 17. São da mesma idade, querida! Vais ver que vais gostar dele! - Disse ela animada.

Bonito, agora ia ter um miúdo qualquer com as hormonas aos saltos em minha casa. Porque é que eu nunca tinha ouvido falar dele? E porque é que ele tinha de vir viver connosco agora? E quem disse que eu queria um irmão? Quero dizer, eu adorava o Paul e tudo o mais, mas eu não queria um irmão!

– Filha, está aqui um rapaz à porta a querer falar contigo! - Anunciou o Paul, gritando da entrada.

Quem seria que me estava a chatear numa manhã de Sábado? Se era algum do pessoal do meu grupo, ia matá-los. Sábado é para descansar quer da escola, quer dos amigos. Já para não falar que ainda na noite anterior tiveramos numa festa. Eles deviam estar de ressaca na cama e deixar-me sossegada a deprimir. Caminhei até à porta e o meu queixo caíu ao ver a última pessoa que alguma vez esperei ver à porta da minha casa.


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