Era dia de ensaio, estavam no palco improvisado no salão onde acontecia a aula de educação física. Os alunos não poderiam entrar de jeito nenhum, somente Bruce conseguiu convencer Fox a deixa-lo passar.

Jonathan tinha feito com que Alfred comprasse uma roupa de Romeu pra ele, e essa pelo menos tinha entrado em seu corpo.

Eles resolveram começar a peça com os respectivos personagens, separando os grupos.

Miranda estava fabulosa, animada e andava de um lado para o outro. Tinha se preparado muitas horas antes.

– Ok, vamos começar pela cena 4, quando Romeu declara amor eterno para Julieta. – Fox bateu palmas e cada um moveu-se a seu lugar. Miranda subiu em uma classe e Jonathan olhou para arquibancada, encontrando o olhar de Bruce, virou o rosto no mesmo momento.

– Tudo bem, Johnny? Lembra-se das falas?

É claro que lembrava.

“O que mata é amor que sinto por ti...”.

Sentiu um frio na barriga. Posicionou-se no lugar combinado e começaram.

– Aqui estou como combinado. Aquela é Julieta?

Miranda desceu da classe – fingindo que era uma escada – e andou um pouco, ela tinha que fingir não ver Jonathan.

– Romeu! Romeu! – As meninas que eram as Amas começaram a rir – Ah! Por que és um Montecchio? Mas como estou apaixonada... – Ela olhou para Jonathan, tinha visto Romeu agora – Como conseguiste entrar?

– Pulei o muro. – Jonathan deu de ombros e recebeu um tapa de Miranda para interpretar direito – Pulei o muro. Está escuro e teus parentes não poderiam me ver.

– Se te pegam, podem te matar! – Jonathan engoliu em seco.

– O que mata é o amor que sinto por ti.

– Crane, interpreta direito! Finja estar apaixonado! – Mais risos. Até Bruce estava rindo dele. Cerrou os punhos e se concentrou.

– O que mata é o amor que sinto por ti!

– Tu me amas de verdade?

– Juro pela lua! – Jonathan se engasgou e começou a rir, Miranda bateu-lhe de novo.

– A lua? A lua muda de fases todas as semanas. Não jures pela lua, não jures por nada; só por ti mesmo.

– Então juro pelo meu coração... – Jonathan segurou para não começar a rir de novo.

– Para! Não jures!

– Então saio daqui sem um beijinho?

O salão se rompeu em risadas, até Miranda começou a rir. Os únicos que não achavam graça era Ra’s e Bane, que pareciam duas estátuas de cera.

– Só depois de casada! – Miranda disse depois que o silêncio reinou.

Quem diabos iria beijar pela primeira vez só depois de casada?

– Então vamos casar. – Jonathan pensou um pouco – Amanhã mesmo falaremos com Frei Lourenço e vamos nos casar!

– Sim, eu aceito – Ela segurou as mãos dele de uma forma teatral – Amanhã nos encontraremos por volta das dez da manhã.

Uma das meninas que interpretava a ama chamou-a.

– Estão me chamando, Romeu. Adeus!

– Oh, que noite abençoada – Jonathan começou a rir enquanto interpretava – Tenho medo! Esse sonho é bom demais para ser realidade.

– Fim da cena quatro.

Todos caíram na gargalhada, Jonathan caminhou até a escadaria e sentou do lado de Selina. Bruce estava do outro lado dela. Ela os encarou.

Jonathan não se arrependia de tê-lo beijado, e ele parecia indiferente.

– Muito bem Romeu. – Selina o abraçou, enterrando sua cabeça no peito dele – Você é só meu Romeu.

Aquelas palavras mexeram com Bruce, ele percebera, mas não disse nada, apenas sorriu para Selina. Estaria a gatuna apaixonada por ele, de verdade?

– Vem dar uma volta comigo, Romeu?

– Claro.

*

Não acreditava nos próprios sentimentos. Não acreditava mesmo. Até ontem era tudo um plano infalível para chamar atenção de todos, agora estava morrendo ciúmes por que Jonathan estava declarando amor eterno para Julieta/Miranda Tate.

E quando o chamou de seu Romeu, não o fez somente para atiçar os ciúmes de Bruce. Fez por que estava orgulhosa do namorado.

Quando pegava na mão dele, tinha mil e umas sensações, ele era perfeito. Ele era perfeito pra ela. Era como um herói, literalmente.

Resolveu fazer uma pergunta que não teria coragem de fazer nem pra si mesma.

– Johnny, você me ama?

Jonathan engasgou e começou a tossir. Ela bateu nas costas dele, até ele se recuperar.

– O que você me perguntou?

– Você me ama?

Jonathan olhou em volta, como se procurasse alguém específico. Ela esperou pela resposta.

– De onde tirou isso agora? Não estava namorando comigo só para ter atenção?

– É que... Eu acho que gosto de você. De verdade.

Jonathan estava perplexo. Ela via nos olhos dele o temor. Qual é, não precisava temer ela, somente o amor dela. Ela era ciumenta. Muito ciumenta.

– Não vai me responder? – Perguntou manhosa, percebendo que ele estava enrolando.

Jonathan não disse nada.

Estava na cara.

Ele não gostava dela.

Jonathan Crane não gostava de ninguém.

Ela deu-lhe as costas e saiu pisando forte, com os punhos cerrados. Entrou em seu quarto, onde Rachel lia um livro. Ou fingia, pelo menos. Selina se atirou no colo dela e ali ficou.

– O que aconteceu? – Ela perguntou.

– Lembra quando eu te disse que se eu algum dia me apaixonasse por alguém eu ia cortar meu cabelo bem curtinho?

Rachel olhou assustada pra ela.

– Ficou louca?

– Não, só me apaixonei.

– Por quem?!

– Relaxa, não foi pelo Bruce.

Ela pode ver nos olhos da amiga o alívio, ela sorriu. Talvez ficasse legal se cortasse o cabelo.

– E lembra também que seria você a cortar meu cabelo?

– Não! Eu não quero ser a vilã da história!

Selina revirou os olhos, e pegou uma tesoura na gaveta e a entregou para Rachel.

– Vai, pode cortar.

– Só se você me contar por quem você se apaixonou.

– Me apaixonei pelo meu namorado. – As duas riram.

– Tem certeza de que vai fazer isso?

– Promessa é promessa!

*

– Oi Bruce. – John sentou-se do lado dele. O menino tinha em mãos um pacote de salgadinho. – O que está fazendo.

– Pensando.

– Bem que eu estava sentindo um cheiro de queimado!

Bruce atirou um travesseiro no amigo e voltou a pensar. Não sabia no que estava pensando, somente estava ali, boiando. Mas John parecia curioso, ficava encarando ele.

– Escute, eu estava aqui pensando, que tal se você viesse ter aulas de jiu-jitsu comigo?

John deu de ombros, com a boca cheia. Será que ele não sabia que a gula era um dos sete pecados capitais?!

– Você já se acertou com Jonathan? – John perguntou, cuspindo metade do salgadinho.

– Não. – Ele respondeu secamente, não queria falar sobre isso. Mentira. Queria muito falar sobre isso – Mas descobri que ele gosta de mim. Ele me...

Bruce tapou a boca, não era pra contar.

– Não!

– Não é isso que você tá pensando!

– Não acredito! – John abriu um sorrisão, jogando o pacote do salgadinho em Bruce- Depois você limpa isso – disse referindo ao salgadinho que sujara todo o chão – Ele te beijou?! Me conta, como foi?!

– Como foi? Como assim? Que raio de pergunta é essa?!

– Santa misericórdia, você é beijado por Jonathan Crane e eu só fico sabendo disso agora! – Ele ria descontroladamente, Bruce não entendia por que. Ok, ele entendia por que. Sabia que Bruce gostava de Jonathan, embora tivesse dito o contrário para o menino, desencadeando aquelas ações inusitadas da parte dele – Foi beijo de língua? Ele beija bem? Ele tem pegada?!

–Beija ele para descobrir. –

– Ah, Bruce! Eu sou seu amigo, não esconda isso de mim, por favor!

– Robin, chega!

John tirou o sorriso do rosto e atirou um travesseiro em Bruce, sabia que o menino odiava esse apelido. Na verdade não era um apelido, era o nome do meio dele, que ele nunca usava.

– Tudo bem se você não quiser me contar, amanhã eu pergunto para ele. – Ele se virou para o lado e apagou a luz. De repente ouviu alguém gritando no corredor, e a pessoa entrou justo no quarto deles. John acendeu a luz, apavorado.

– Que é isso? Quem morreu?!

– MEU CABELO, AAAAAAH!

Bruce não reconheceu a menina, ela estava desesperada.

Espera, era Selina?!

– Selina o que você fez com seu cabelo?! – Bruce perguntou, lá fora se ouvia os gritos de Rachel pedindo desculpa.

– É tudo culpa do Jonathan! – Ela soluçava e fungava tudo ao mesmo tempo, se jogava contra o chão e batia a cabeça na parede, ela estava apavorada.

– Por que, o que ele te fez? – Bruce não entendeu o que o cabelo tinha a ver com o garoto.

– Eu me apaixonei por ele! – Ela sussurrou bem baixinho, somente para Bruce ouvir. John os encarou, ele também tinha ouvido.

– E o que o seu cabelo tinha a ver com a história? Você tinha um cabelo lindo!

– É uma longa história... – Ela começou a soluçar.

- Selina, volte para o seu quarto!

Era a tia da revista. Ela arrastou Selina de volta para o quarto. John e Bruce riram da situação dela. Ainda bem que não tinha feito nenhum tipo de promessa desse tipo.

Espera. Ela estava apaixonada por Jonathan?

Ai... Não...