Perdida Em Seu Olhar - (Finalizada) escrita por Eu-Pamy


Capítulo 9
Capítulo 8 - O primeiro dia do resto da minha vida


Notas iniciais do capítulo

Oi. Eu demorei para postar esse capítulo porque estou lendo um livro...
Se alguém quiser ler aqui está o link do site: http://veterinariosnodiva.com.br/books/marley-e-eu.pdf
É o livro/filme Marley e Eu. E a melhor parte: É online! Eu ri muito assistindo o filme, e estou rindo ainda mais lendo o livro. Só estou com medo de terminar a leitura, porque eu sempre choro no final do filme... Sim, eu sou uma doida sentimental! (risos)
Beijos!



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Capitulo oito – O primeiro dia do resto da minha vida.

Eu nem conseguia acreditar que já era quarta-feira. Passei o dia inteiro morrendo de ansiedade, sentindo o meu coração disparar sempre que olhava para o relógio.

Acordei ás seis da manhã, depois de dormir por longas duas horas, mas não conseguia me sentir cansada. Eu estava radiante, como alguém que acabara de ganhar na loteria. Quando cheguei no trabalho, foi inevitável que todos reparassem na minha repentina mudança de humor.

- Você fez alguma coisa no seu cabelo? Está mais bonito. – Comentou Vanessa, assim que a cumprimentei. Ela também estava muito bonita. Na verdade, eu não conseguia ver feiúra em lugar nenhum. Tudo me parecia emanar calor e beleza. O mundo estava bonito naquele dia. E eu? Bom, eu era a mais radiante entre todos. Era inevitável chamar atenção.

Na minha hora de almoço, atravessei a rua e andei até a pizzaria ali perto. Naturalmente, eu não me permitia comer gordura durante o dia, mas aquela era uma exceção.

- Nossa loirinha... Que saúde, hem! – Gritou um homem dentro do seu carro, quando eu passei na frente. Eu costumava achar isso uma falta de educação e sentir nojo desse tipo de coisa, mas naquele dia, entendi como sendo um elogio. Com um sorriso ainda maior, entrei na pizzaria e pedi um pedaço grande da portuguesa. Comprei uma garrafinha de coca-cola e então me esbanjei. Era ótimo não ter que ficar me preocupando com peso ou dieta, pelo menos, não hoje.

Passei todo o dia sorrindo para todos ao meu redor e logo senti que o clima havia mudado, como se eu tivesse trazido alegria para aquele ambiente.            

- Boa tarde minha querida! Como posso te ajudar? – Perguntei da forma mais graciosa que era capaz, para a cliente que tinha acabado de entrar. Ela pareceu surpresa.

- Bo-bom, eu estou procurando uma tinta para pintar a parede do meu apartamento...

- E a senhorita tem alguma preferência?

- Na verdade, não... – Murmurou.

- Que ótimo! Por favor, me acompanhe. Eu irei te mostrar as tintas perfeitas para você! E não se preocupe, o preço está ótimo! Tenho certeza que você vai adorar! – Disse sorridente, vendendo simpatia. Eu nunca tinha vendido tanto como naquele dia.

- Nossa, eu não sei o que te deu hoje, mas espero que você continue assim! – Disse Helena, a minha patroa, quando eu estava indo embora.

Antes de ir para casa, passei em uma loja de roupas e comprei um vestido novo para mim. Aquele foi o primeiro vestido florido que eu comprei em toda a minha vida. E fiquei surpresa quando constatei que ele realmente me valorizava.

Cheguei em casa, estacionei o carro, fechei a garagem e fui correndo para o meu quarto. Tomei um banho demorado e então passei hidratante pelo meu corpo. Vesti um sutiã branco e uma calcinha da mesma cor. Coloquei o vestido por cima e prestei atenção se não dava para ver as minhas peças intimas por debaixo do tecido. Mas como a vendedora havia me garantido, aquele tecido não era transparente. Penteei os cabelos, coloquei desodorante e depois passei perfume pelo meu corpo. Calcei uma sandália lilás, percebendo que deveria ter pintado as unhas antes, mas agora já era tarde demais. Admirei o meu reflexo no espelho. Eu estava bonita, sim, muito bonita, como há muito tempo não ficava. Havia algo de diferente na minha pele, ela parecia muito mais macia do que o normal. Sorri para mim mesma, admirando os meus grandes olhos verdes.

Desci as escadas e fui para a cozinha. Na noite anterior eu havia preparado algumas sobrimesa. Abri a geladeira e antão olhei para o pudim e a gelatina, eles pareciam muito saborosos. Fitei o bolo de chocolate no fundo da geladeira, eu o havia comprado no super mercado, ele também estava com uma cara boa. Prendi os meus cabelos e sorrindo, peguei o alface e o levei até a pia. Lavei algumas folhas e depois coloquei em uma bandeja. Peguei os tomates e depois de lavá-los bem, cortei em finas fatias. Juntei tudo e comecei a temperar. Ralei algumas cenouras e então juntei. Eu não era boa em fazer saladas, mas torcia para que aquela ficasse boa. Quando terminei, coloquei tudo na geladeira.

Depois peguei algumas batatas, descasquei tudo, lavei, cortei em pequeno cubinhos e coloquei para cozinhar. Enquanto cozinhava, comecei a separar o restante dos ingredientes. Uma lata de milho verde... Azeitonas... Maionese... Tempero... Ervilhas... Orégano? Será que vai orégano? Bom, o máximo que pode acontecer é alguém sentir dor de estomago depois...

Peguei alguns ovos e coloquei para cozinhar. Esperei dez minutos e então retirei os ovos. Tirei as cascas e coloquei dentro de uma vasilha. Olhei as batatas, elas ainda não estavam no ponto. Então decidi começar a fazer o arroz. Coloquei a água para esquentar e comecei a lavar o arroz, depois coloquei um pouco de óleo dentro de uma panela. Peguei a cebola e o alho que já estavam descascados e coloquei junto com o óleo. Esperei até que começassem a dorar e coloquei um pouco de sal. Esperei mais trinta segundos e acrescentei o arroz. Mexi com uma colher de pau o arroz, até que começasse a grudar.  Acrescentei um tablete de tempero para arroz, e coloquei a água quente. Mexi bem e então provei com uma colher o gosto da água. Acrescentei mais uma pitada de sal e então coloquei a tampa em cima da panela.

Com um garfo, vi se as batatas já estavam moles. Desliguei o fogo. Retirei as batatas da panela e então coloquei em uma bandeja e comecei a amassá-las. Depois que já estavam bem amassadas coloquei a maionese e os ovos, em seguida coloquei o restante dos ingredientes. Mexi bem e então coloquei na geladeira.

Abri a tampa do arroz, vendo que ainda iria demorar um pouco para ficar pronto. Andei até a geladeira, abri o frízer e peguei um pote com feijão já cozido. Depositei o feijão dentro de uma panela e acrescentei um pouco de água, liguei o fogo e coloquei uma tampa em cima.

Enquanto esperava o arroz e o feijão ficarem prontos, lavei a louça, depois sequei tudo e guardei dentro do armário. Abri novamente o frízer e peguei o pote com os bifes. Coloquei a carne em um prato e levei para o microondas. Esperei um minuto e então retirei. Pequei a taboa de cortar carne e coloquei em cima da pia. Estiquei os bifes em cima dela e comecei a temperar. Liguei o fogo, peguei uma frigideira grande, coloquei óleo e pequenos pedaços de cebola, e coloquei com cuidado os bifes. Abri a tampa do arroz, ainda não estava no ponto. Abri a tampa do feijão, mexi um pouco com uma colher e então desliguei o fogo. Temperei o feijão até achar que já estava bom. Com um garfo, virei os bifes. Eu fazia tudo ao mesmo tempo. Lavei as mãos, e então peguei o liquidificador, o coloquei em cima da pia. Coloquei quatro copos de leite gelado, três colheres de açúcar e cinco bananas. Bati tudo por dois minutos. Retirei a tampa e com uma colher limpa, experimentei para ver se já estava bom de açúcar. Satisfeita, coloquei tudo dentro de uma jarra grande e guardei na geladeira.  Lavei o liquidificador e guardei. Peguei um prato limpo de dentro do armário e com um garfo, coloquei os três grandes pedaços de bife. Depois desliguei o fogo do arroz. Lavei a louça. Peguei um saquinho de suco, coloquei água gelada dentro de uma jarra e acrescentei açúcar, mexi bem e também a guardei dentro da geladeira.

- Finalmente... – Sussurrei, tampando todas as panelas e cobrindo o bife. Andei até a sala de estar e me sentei no sofá, liguei a TV e coloquei no jornal. Olhei o relógio no meu pulso, eram 18h40min.

Senti a ansiedade me tomar á cada minuto. Meu estômago revirando de fome e nervosismo. Depois do que me pareceu uma eternidade, escutei a campainha tocar. Levantei em um pulo, soltei os meus cabelos e tentei ajeitar o meu vestido. Andei até a porta e tomando coragem, eu abri.

Meu coração falhou quando encontrei os seus olhos.

- Oi! – Falei meio hipnotizada.

- Boa noite, senhorita Cllaus. – Disse educadamente a inspetora.

Continuei fitando seus lindos olhos negros, percebendo que nunca vi algo tão bonito quanto. Ele não respondeu, mas tampouco precisava.

- Entrem, por favor. – Falei, dando passagem. A inspetora estava carregando uma pequena bagagem em uma das mãos, enquanto a outra estava pousada no ombro do jovem menino, como se estivesse o encorajando. Ele também trazia uma mochila nas costas. – Como foi a viagem? – Perguntei por educação.

- Boa.

- Pegaram transito?

- Não, acho que tivemos sorte. – Falou Teodora.

- Sentem-se, por favor. – Disse, apontando para os sofás. Percebi que ele não tirava os olhos de mim, do mesmo jeito que eu também não tirava os olhos dele. – Vocês estão com sede? Eu acabei de preparar o jantar, querem comer? – Perguntei.

- Eu gostaria muito de dizer que sim, mas não posso, mesmo assim obrigado. – Disse.

- Tudo bem, eu entendo. Mas e você Lucas? – Ele negou com a cabeça. Eu sabia que ele estava envergonhado, como também sabia que á noite, provavelmente ele estará com fome. Mas enquanto ela estivesse aqui, eu não iria insistir. – Tudo bem. – Falei simplesmente. Olhei para a inspetora. – Tem certeza que não quer nem um copo de suco?

- Não... Eu tenho mesmo que ir. – Disse. – Bom... – Ela sorriu para o Lucas. – Gostei muito de conhecê-lo, rapazinho. Você é um encanto. Eu te deixarei agora aos cuidados da ‘tia’ Susan, ta bom? Ela é uma boa pessoa, não precisa se preocupar, você vai ficar bem. Semana que vem eu voltarei para saber se você está bem, ta bom Lucas? – Ele não respondeu. – Não fique com vergonha de ligar para mim, está bem? Se precisar, ligue para o número que eu te entreguei, tudo bem? – Ela levou a mão até a bochecha dele e então a acariciou levemente. – Estou torcendo por você, querido. – Seus olhos brilharam com ternura, fiquei comovida com a cena. – Vou sentir saudade... Mas eu vou voltar semana que vem. – Repetiu. Seus olhos voltaram para mim. – Será que podemos conversar por um minuto lá fora? – Eu assenti. – Até semana que vem, meu anjo. Fica com Deus. Cuide-se.

Segui ela até o quintal.

- Está tudo bem? – Perguntei preocupada.

- Está sim. – Falou. E então me entregou uma pasta. – Aqui estão todos os documentos do menino. Certidão de nascimento, RG, carteirinha do hospital, enfim, todos os documentos dele.

Eu abri a pasta e comecei a olhar os papéis.

- Tudo bem. – Falei.

- Bom, os documentos da casa e do banco também estão ai. – Falou.

- Ótimo. – Sorri.

- Essa é a chave da casa dele. – Falou, me entregando uma pequena chave.

- Tudo bem...

Ela suspirou.

- Ele é um bom menino, por favor, cuide bem dele.

- Eu vou cuidar. – Falei com sinceridade.

- Voltarei no sábado que vem. – Informou. – Eu irei ligar para dizer a hora.

- Ta bom.

- Eu te desejo sorte, querida. Espero que vocês se dêem bem. Espero de coração.

- Eu agradeço a preocupação.

- Você tem o meu telefone, não é mesmo?

- Sim.

- Ótimo. Eu gostaria de ficar um pouco mais, mas não posso...

- Tudo bem, você já fez o bastante, agora é comigo! – Falei animada.

- Isso mesmo. – Sorriu. – O teu advogado te explicou tudo o que você tem que fazer, não é mesmo?

- Sim.

- Perfeito. Te vejo sábado, então. Tchau querida.

- Tchau.

A levei até o portão e então esperei ela entrar no carro.

- Qualquer coisa me ligue. – Falou antes de entrar no carro.

Acenei para ela, e quando o carro virou a esquina, eu voltei para dentro de casa. Minhas mãos estavam tremendo. “Agora é só ele e eu” pensei quando dei o primeiro passo para dentro de casa.

- Eu não sei você, Lucas, mas eu estou morrendo de fome! – Falei quando me aproximei. Ele estava encarando a televisão. – Que tal você trocar de roupa e me ajudar a devorar o bolo de chocolate que eu comprei no mercado, hem? – Ele olhou para mim.

- Tudo bem. – Murmurou.

- Ótimo! – Falei alegremente. – Mas só tem uma condição, antes do bolo, você vai ter que ser forte e comer a minha comida! – Sorri.

- Tudo bem. – Repetiu. Olhei para as duas bagagens em cima do sofá.

- Bom... Eu vou te mostrar onde é o seu novo quarto. Lá você poderá vestir uma roupa mais fresca. – Ele se levantou e então colocou a mochila nas costas. – Eu levo essa daqui. – Disse, pegando a outra mala. Ele não se opôs. Subi as escadas e entrei no segundo quarto. – Bom, espero que você goste... Eu sei que é simples, mas eu fiz de cora... – Comecei.

- Está perfeito, obrigado. – Ele me olhou com sinceridade. Eu quase chorei de felicidade.

- Que bom. – Foi tudo o que consegui dizer. – E-eu comprei alguns quadros para você... Já que você disse que gosta de pinturas... – Eu me sentia muito envergonhada. – Também comprei esses livros... Eu não sei se você gosta de ler, mas eu pensei que talvez... – Parei. Ele andou até a cama e segurou os livros nas mãos, lendo com atenção os títulos. Em seguida andou até as paredes, onde os quadros estavam pendurados. Vi seus lábios se mexerem, mas não escutei o que ele dizia. – O que você disse? – Perguntei, não contendo a curiosidade.

- Nada... eu só estava falando o nome dos artistas... – Ele apontou para o primeiro quadro. – Por exemplo, esse daqui se chama “O grito”, foi pintada em 1893, pelo pintor norueguês Edvard Munch. A obra representa uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero existencial. Essa pintura tornou-se a pintura mais cara da história a ser arrematada, num leilão, por 119,9 milhões de dólares. – Ele dizia com profunda admiração, como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo. Fiquei impressionada, jamais tinha visto alguém falar de uma pintura daquele jeito, mas ele parecia não conseguir evitar, aquilo fazia parte dele.

- Nossa. – Exclamei - Você gosta mesmo de quadros, não é mesmo? – Ele olhou para mim e então pela primeira vez, sorriu. Fiquei paralisada.

Aquele sorriso... Não é possível! Não é possível... Ele tinha o mesmo sorriso da mãe dele... Senti meu coração palpitar descontroladamente, querendo sair para fora do meu peito. Minhas pernas ficaram fracas, enquanto sentia meu corpo ficar mil vezes mais pesado. Eu achei que iria desmaiar... Mas não. Eu simplesmente sorri, como se por instinto.

- Acho que sim. – Falou, me tirando do meu transe. – Obrigado pelo quarto, eu adorei.

- E-eu... Não foi nada, Lucas. – Fiz uma pausa. – Eu vou descer para... para deixar você mais a vontade, ta bom? Quando você estiver pronto, desça para jantarmos.

- Tudo bem.

Encostei a porta com cuidado, mas não consegui sair dali. Era como se eu não conseguisse me afastar. Odiei essa sensação, e com muita dificuldade, forcei meu corpo para longe. Desci as escadas com cuidado e fui até a cozinha. Peguei um copo do armário e o enchi com água. Engoli tudo de uma só vez.

“O que foi isso?” perguntei para mim mesma. Levei minha mão até meu peito, meu coração estava batendo em um ritmo absurdo. Tentando ignorar aquela sensação estranha que começava a tomar meu corpo, tentei me distrair. Peguei dois pratos do armário e levei para á mesa. Depois peguei dois garfos e duas colheres. Peguei as jarras de dentro da geladeira e dois copos. Com cuidado, também levei a salada e a maionese para á mesa. Arrumei tudo. Depois de alguns minutos, Lucas apareceu. Olhei para ele. Ele havia trocado a calça jeans por um short’s e o tênis por um chinelo. Parecia bem mais confortável.

- Hum, assim é bem melhor, não é mesmo? – Falei bem humorada. Ele assentiu. – Bom, Lucas, pegue um prato e sirva-se. Espero que você goste da minha comida, mas se não gostar, tudo bem, pois não são todos que gostam. – Sorri. – Eu fiz arroz, feijão e bife. Nada demais. Também fiz salada de maionese e salada normal. Espero que você não tenha frescuras com comida, quero dizer, espero que você esteja acostumado a comer de tudo. As panelas estão em cima do fogão, toma o prato. – Eu o entreguei para ele. Observei ele andar até o fogão. – As colheres de pegar a comida estão dentro dessa gaveta, ta? – Falei. Ele abriu e então se serviu, fiquei contente ao ver que ele não comia pouco. Depois que ele se serviu, eu também coloquei a minha comida. – Você quer farinha? Essa é a temperada. – Perguntei, me sentando à mesa.

- Quero sim, obrigado. – Passei o pote para ele.

- Você não quer maionese? – Perguntei.

- Eu gosto de comer separado do arroz. – Explicou.

- Ah. Tudo bem então. Quer suco? – Perguntei, enchendo o meu copo. – Eu fiz suco de abacaxi, mas também fiz vitamina de banana. Eu não sei se você gosta desse tipo de vitamina, mas eu adoro! – Falei.

- Eu gosto de vitamina sim, mas quero suco. – Disse. Passei o copo cheio para ele. – Obrigado.

- Você prefere comer de garfo ou de colher?

- De colher. – Passei uma colher para ele.

- Bem...? – Comecei, prestando atenção nos seus movimentos. Eu queria ver a reação dele quando comesse a primeira colherada.

- O que foi? – Perguntou confuso.

- Eu quero saber o que você acha da minha comida. – Expliquei.

- Ah... – Ele riu. Sua risada era muito bonita. Com delicadeza, encheu a colher com arroz e feijão. Levou até a boca e mastigou calmamente. – Muito gostoso. – Falou assim que engoliu.

- Que maravilha! – Exclamei feliz. – Agora sim eu posso comer sossegada. – E foi exatamente o que eu fiz.

Comemos em silêncio. Depois de alguns minutos ele terminou.

- Você vai comer a maionese, não vai? – Perguntei preocupada. Ele sorriu, o que fez meu coração disparar.

- Vou sim, não se preocupe. – Eu ri do modo como ele falou. – Está deliciosa. – Falou quando engoliu a primeira colherada de maionese, parecendo saber que eu iria perguntar. Eu sorri novamente.

- Você deve ser a única pessoa do planeta que gosta da minha comida. Às vezes até eu mesma não gosto... – Falei, levando meu prato vazio até a pia. Ele riu.

- Eu não sei por quê. Você cozinha bem. Na verdade, você cozinha igual a minha mãe. – O encarei na hora. Como ele podia falar da própria mãe morta com um tom de voz tão calmo como aquele, sendo que até eu me arrepio sempre que escuto alguém falar sobre ela? Quantos anos esse menino tem mesmo? Quarenta?

- Jura? – Perguntei chocada.

- Sim. – Ele sorriu. Eu também sorri.

- Bom, obrigado. – Falei sincera. Ele voltou a comer.

Sentei-me novamente à mesa. Quando ele também terminou de comer, levou o prato até a pia. Pensei que ele iria voltar para a mesa, mas para a minha surpresa ele começou a lavar a louça.

- Hey! Não precisa fazer isso! – Falei, me levantando da cadeira. Ele me ignorou. – Lucas, é sério, deixa que eu...

- Eu gosto de lavar a louça. – Falou. Fiquei surpresa.

- O que você disse? Você gosta do quê?

- De lavar a louça.

Fiquei desconfiada.

- Sei... Agora você também vai me dizer que gosta de lavar o banheiro.

Ele riu.

- Não exagera. – Eu não agüentei e ri.

Fiquei ô vendo lavar a louça com um cuidado assustador. Ele realmente parecia ter muita experiência com aquilo. Em questão de minutos, já havia terminado de lavar todos os potes e todas as panelas.

- Bom, então me deixe pelo menos secar a louça, se não vou parecer uma encostada. – Falei, pegando o pano de prato.

Ele continuou lavando as colheres e os copos.

- Você quer bolo? – Perguntei, quando ambos terminamos.

- Só um pedaço pequeno. – Falou.

Abri a geladeira.

- Ah, eu fiz um pudim também. Você prefere bolo ou pudim?

- O bolo.

- Ta bom, mas eu vou querem pudim. – Coloquei as duas sobremesas em cima da mesa e cortei os nossos pedaços, mas antes que eu pudesse pegar os pratos no armário, o Lucas já tinha pedado. – Nossa, como você é eficiente. – Brinquei. – Vamos assistir televisão? – Perguntei quando devolvi as sobremesas para a geladeira.

- Tudo bem. – Disse simplesmente.

Caminhamos até a sala. Eu não conseguia esconder a minha felicidade ao perceber que nós dois nos dávamos muito bem. Era incrível. Eu parecia conhecê-lo há séculos. Eu não conseguia vê-lo como um desconhecido, para mim, ele estava mais para um velho amigo. Do mesmo modo como não conseguia vê-lo como uma criança. Ele era muito maduro. Na verdade, muito mais maduro do que muito marmanjo que eu já conheci.

- O que você quer assistir? – Perguntei assim que sentamos no sofá.

- Ah... O que você quiser está bom para mim. – Murmurou.

- Ok, mas depois não venha dizer que eu escolhi um programa insuportável... – Provoquei. Ele riu.

- Sabe... – Começou a dizer, enquanto eu trocava de canais compulsivamente – Estou feliz pela minha mãe ter te escolhido como a minha tutora. Acho que ela não podia ter escolhido alguém melhor.

Parei imediatamente de trocar de canal quando ouvi aquelas palavras.

- “E agora com vocês, os números da tele sena: 11, 14, 21 e...” – Disse o apresentador na televisão.

Ficamos em silêncio.

Ele continuava comendo o seu pedaço de bolo como se nada tivesse acontecido.        


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Notas finais do capítulo

E então gostaram? (principalmente: Lana, você gostou? rs)



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