Perdida Em Seu Olhar - (Finalizada) escrita por Eu-Pamy


Capítulo 28
Capítulo vinte e sete - Tic-tac.


Notas iniciais do capítulo

Para variar, eu não li o que eu escrevi, então... se preparem para o erros. (risos)



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Capítulo vinte e sete. – Tic-tac.

Eu estava cansada de tudo aquilo. Estava cansada daquela vida, daqueles joguinhos e ilusões... A única coisa que eu desejava era ser feliz, mas nem isso eu conseguia. Em trinta e seis anos, eu não havia conseguido nada. Idaí se o meu livro está fazendo sucesso? Idaí que eu estou trabalhando no cargo que sempre sonhei? O que isso tem haver com a minha felicidade? Eu só queria ter paz de espírito, isso é tão impossível assim? Porque eu não posso ser como as outras pessoas, com pais legais, irmãos ciumentos, morando em uma casa simples mais cheia de lembranças? Porque eu não sou como o resto dos seres humanos que aos trinta e seis, estão casados e tem filhos? Porque eu tenho que ser diferente? Eu só queria uma vida como a de qualquer outra pessoa. Eu queria chegar do serviço cansada, brigar com o meu marido por causa de uma besteira, xingar o meu cachorro por ter mastigado o meu sapato, falar mau dos visinhos e ajudar os meus filhos com os deveres de casa, como qualquer outra mulher da minha idade. Isso é pedir demais? Sei que estamos vivendo uma nova Era e que o mundo está mudando, mas custa a minha vida não ser tão moderna assim?

Ás vezes eu sinto falta de algumas tradições. Sinto falta do romantismo nos homens, da insegurança das mulheres, dos jantares à luz de velas, dos buquês de rosas, de andar de mãos dadas, de namorar no carro... Eu sinto falta da ansiedade antes de um encontro, dos beijos roubados, dos galanteios... Hoje tudo é tão rápido e insensível... Tudo tão prático. Se você quer beijar alguém, é só ir para uma balada, mas se você também não quer conversar antes do beijo, tudo bem, fica mais fácil assim, é só escolher alguém bonito, puxá-lo para um canto qualquer da boate e aproveitar, ele não vai se importar; e quando vocês se sentirem satisfeitos, viram de costas e vão embora, sem nem se despedir, porque essa é a graça do jogo de sedução: “Você não precisa seduzir ninguém, só precisa saber beijar”. Mas se você está interessado em uma noite selvagem com um amante sensual disposto a realizar todos os seus fetiches, é ainda mais fácil de conseguir, basta um telefonema e uma nota de cem reais.

O mundo está virado de cabeça para baixo. Os homens não respeitam mais as mulheres, e as próprias mulheres não se dão ao respeito. Para se conseguir um namorado, você não precisa nem sair de casa, não precisa nem conhecê-lo, basta ter internet. E se você está curioso e quer ver corpos despidos, é fácil também, existem muitos sites a sua disposição. E a melhor parte, não importa se você tem cinco ou dez anos, se é casado ou simplesmente tarado, se é um maníaco ou não paga os impostos, não, ninguém vai te pedir nenhuma informação, eles só querem te ver satisfeito. O mundo está perdido e as novas gerações estão surgindo e o romantismo está morrendo. Ninguém mais se preocupa com ninguém, as pessoas não ligam mais para a beleza da amizade, afinal, elas têm “420” amigos no facebook, qual a diferença se tiver uma á mais ou um á menos? O importante mesmo, é que as pessoas “curtam” as suas fotos, sigam as suas comunidades e comentem as suas frases, que foram malandramente surrupiadas de um site e escolhidas a dedo para que as pessoas (os supostos ‘amigos’) gostassem. Crianças estão passando infâncias inteiras na frente de computadores, alguns nunca leram um livro na vida, garotas e garotos namoram virtualmente durante meses sem nunca se conhecer pessoalmente... A internet é fabulosa, útil e essencial, mas as pessoas passam tanto tempo usufruindo das suas ferramentas, que esquecem de viver o mundo real. Mas o que é mais importante, viver à realidade ou virar um famoso da internet? Claro que é virar um famoso.

Talvez seja por isso que tantas pessoas procuram as drogas como um “Escape” da própria vida: Ninguém quer mais viver em mundo onde a felicidade e conquistas de um ser humano se resumem á quantidade de seguidores que ele tem no twitter.

No ano 2000, na virada do milênio, eu me sentia esperançosa e cheia de expectativas. Aquele seria o meu recomeço, mas o que eu não compreendia, era que aquele também seria o inicio de uma nova Era. A Era dos computadores e da tecnologia. É uma pena que as novas gerações vivam em um tempo em que a família não têm tanto significado e importância, que elas cresçam em um mundo violento, poluído e vaidoso. Estamos perdendo os nossos valores, o nosso orgulho, a nossa moralidade. Hoje em dia, a vida inteira de uma pessoa é resumida em 250 caracteres. Agora o que precisamos nos perguntar é: Se o fim não estiver próximo, onde é que vamos parar?

Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac...

Eu escutava aquele barulho irritante do relógio. Eram quase três horas da tarde. O tempo parecia não passar, como se as horas estivessem brincando comigo. Brincando de me envenenar aos poucos. Aquela era a sinfonia da minha perdição, da minha ruína. Olhei para os lados, o dia já havia clareado, mas eu ainda estava sozinha. Recostei-me ao sofá, encarando o teto com um ar quase misterioso. Pensei no que aconteceria se houvesse um terremoto e a casa desabasse em cima de mim. Eu não costumava ter esse tipo de pensamento, mas viver estava tão difícil, que eu acabava me reconfortando ao pensar que de um jeito ou de outro, todos iriam morrer um dia. Essa era a única certeza que eu tinha.

Eu estava assustada, confusa... Meu corpo doía e em meus pés havia calos e bolhas de tanto andar. Minha testa estava descascando por causa do Sol e eu temia ficar com insolação. Meus olhos estavam vermelhos e inchados, e eu não sabia mais se eles poderiam formar lágrimas algum dia, talvez eu houvesse usado todas durante a noite. Eu estava cansada, mas em momento algum consegui dormir. Eu precisava saber onde ele estava.

Escutei um barulho. Sentei-me ereta e automaticamente olhei para a porta. Um segundo depois ele entrou. Ele aparentava estar mais calmo. Encarou-me nos olhos, sem demonstrar hesitação, e eu retribuí como pude o seu olhar. Ele se aproximou e se sentou no sofá à minha frente. Continuamos nos encarando. Não era preciso palavras para que entendêssemos o que o outro sentia. Porque sentíamos o mesmo.

– Você está com fome? – Perguntei com a voz rouca, depois de alguns minutos. Ele negou com a cabeça. Eu sentia os batimentos do meu coração acelerados, palpitantes. Declinei a minha cabeça, observando um pequeno corte em sua orelha. – Você caiu? – Questionei. Ele negou. Torci os lábios, odiava aquele tratamento de silêncio.

Ele se levantou.

– Eu vou para o meu quarto. – Informou. Eu assenti.

Levantei-me também, ficando um de frente para o outro.

– Eu vou preparar o almoço, se você mudar de idéia...

– Tudo bem. – Caminhou até as escadas e depois subiu, deixando a sala em silêncio novamente, com exceção do tic-tac do relógio.

Fiquei alguns segundos fitando as escadas, até que decidi ir para a cozinha.

Alguns dias de passaram, e decerto não voltamos a tocar mais no assunto. Nenhum de nós dois queria relembrar o ocorrido. Então aquele seria o nosso segredo, o segredo que iríamos levar para o túmulo. Seria melhor assim, ao menos ninguém sairia machucado. Tentei voltar a rotina lentamente, mas era impossível não me sentir estranha com aquela situação, com TUDO aquilo. Ás vezes, sentados à mesa para jantarmos, eu percebia ele me olhar de uma maneira estranha, e outras vezes, era eu que ficava envergonhada quando ele me descobria encarando-o. Ainda assim, agíamos como se nada tivesse acontecido, evitando sempre assuntos delicados que podiam ser mal-compreendidos. Entretanto, era visível a tensão ao nosso redor, e aos poucos, algumas pessoas começaram a perceber.

– Você e o Lucas estão brigados? – Perguntou certa vez a Karol, depois de visitar a minha casa.

– Não. Por quê? – Perguntei, tentando disfarçar o nervosismo na minha voz.

Ela deu de ombros e sorriu.

– Nada não, deve ser só minha impressão.

No dia quinze de junho de 2009, eu o esperei na sala. Ele tinha ido à casa de um amigo para se distrair. Quando ele chegou, tentei soar o mais natural que conseguia.

– Eu... Comprei o pássaro. – Falei sorrindo.

– Ah... Tudo bem. Quer fazer isso agora?

– Você que sabe...

Caminhamos até o quintal dos fundos. Coloquei a gaiola em cima de uma caixa de madeira, ele se agachou e abriu a gaiola, depois com cuidado segurou o pássaro e suavemente o levou para fora da gaiola.

– Ele é lindo. – Ele falou, encarando o passarinho.

– Na verdade, é “ela”. Foi o que disse a vendedora.

– Hn.

– É uma calopsita adulta. – Falei distraída, olhando para a cor das penas do pássaro.

– É muito bonita. – Ele me encarou, e como idiota que sou, corei. – Bom, acho que já está na hora dessa belezinha descobrir o que é ser livre... – Assenti. Ele abriu a palma da mão com cuidado, o pássaro pareceu desconfiar de inicio, mas quando percebeu que não tinha perigo, voou para longe, até que eu não conseguisse mais vê-lo.

– Hm... Será que um dia ela vai voltar? – Perguntei com a voz baixa.

– A maioria volta... Ainda mais quando o pé de goiaba está carregado.

– Verdade. – Suspirei. – Bem, Feliz Aniversário.

– Obrigado.

Voltamos para dentro de casa. Guardei a gaiola na lavanderia, para que no próximo ano eu pudesse usá-la outra vez. Caminhei até a cozinha e comecei a preparar o jantar, enquanto o Lucas foi tomar um banho.

– Sabe o que seria legal? – Eu perguntei quando terminamos de jantar. Levei os pratos até a pia.

– O que? – Ele caminhou até a pia, lavou a mão e depois começou a lavar os pratos.

– Se inventassem uma pizza metade chocolate e metade portuguesa. – Procurei pelo pano de prato e comecei a secar a louça que ele estava lavando.

Ele gargalhou.

– Isso seria nojento.

– Não. Seria maravilhoso. Pensa só, juntar duas maravilhas e torná-las em uma coisa só. Seria demais. Por exemplo, uma pessoa está distraída, assistindo televisão, quando percebe: “Oh, estou com vontade de comer algo doce e salgado ao mesmo tempo”.

Ele riu.

– Que tipo de pessoa tem vontade de comer uma monstruosidade doce e salgada enquanto está assistindo televisão? – Questionou.

– Ah, usa a imaginação, eu só dei um exemplo. Tudo bem, que seja, ele está estão... Em um parque—

– Em um parque? – Ele me encarou.

– É, “em um parque”, sabe aqueles lugares com árvores e brinquedos para as crianças...? – Falei irônica.

– Eu sei o que é um parque. – Ele me cortou.

– Então porque você perguntou?

– Porque eu não vejo a lógica de uma pessoa ir ao parque para comer pizza de chocolate e queijo.

– Como não? Isso é tão normal!

Ele riu.

– Não. Isso não é normal. Só no seu mundo isso é normal.

Sorri.

– Porque você tem que ser tão estraga prazeres? Eu estava tão feliz imaginando a minha pizza de dois sabores...

– Essa pizza seria uma bomba diabética e gordurosa!

– Viu! É o que estou querendo dizer! Não seria perfeito? – Ele me encarou e começou a gargalhar. Eu também ri.

– Você é maluca mesmo... – Disse rindo, jogando sabão no meu nariz.

Aquele era um dos poucos momentos de descontração que compartilhávamos, onde eu me sentia relaxada e despreocupada. E era por momentos como esse que eu vivia todos os dias. E mesmo nos piores momentos, eu sabia que tudo ficaria bem, e que um dia nós dois voltaríamos a rir. Porque a vida é assim mesmo, um dia brigamos por bobagens, achamos que o mundo vai acabar, e em outros, rimos sem parar, até sentirmos dor de barriga; e no final do dia, saberemos que tudo valeu a pena, e se tivéssemos que passar por todos os momentos ruins novamente, passaríamos, só para redescobrir que no final do túnel existe uma luz nos esperando.

Eu mal conseguia dormir à noite pensando nisso. Estava me sentindo muito desconfortável, como se algo estivesse errado, fora do lugar. Era mais de duas horas da manhã quando eu me levantei da cama, escutando o barulho da chuva sobre a cidade, e caminhei até o seu quarto. Eu não tinha certeza de nada, só agia por impulso, seguindo o meu coração. Adentrei o seu quarto e caminhei em silêncio até sua cama, pensei em acordá-lo mais achei melhor não, então simplesmente forcei meu corpo para debaixo do seu edredom, me deitando ao seu lado naquela apertada cama de solteiro. Fechei os olhos, sentindo o calor que emanava do seu corpo aquecer o meu.

– Eu falei que você deveria comprar uma cama de casal para mim... Mas você não quis me escutar. – Ele resmungou baixinho, se virando de lado e me abraçando. Eu não abri os olhos para ver se ele esperava uma resposta, apenas me recostei melhor em seu corpo e dormi.

Quando acordei, estava me sentindo quente e bem-disposta.

– O que você está fazendo? – Perguntei injuriada, o observando trocar de roupa.

– Hoje é quarta-feira... Eu vou trabalhar.

Espreguicei-me.

– Que horas são? – Falei bocejando.

– Seis e meia. Eu vou mais cedo porque o Sidnei pediu para eu abrir a loja hoje...

Fiz uma careta.

– Esse cara está te escravizando...

Ele riu.

– Não, ele só pediu para eu abrir a loja porque a irmã dele está tendo um bebe.

– Ah. – Falei envergonhada. Ele sorriu. – Mas não tem ninguém que possa fazer isso por você?

– Por quê? Por acaso você quer que eu fique em casa? – Ele se virou para mim.

– Não seja prepotente. Eu só te fiz uma pergunta. – Ele sorriu, e voltou a casar os botões da camisa nos buracos.

– Na verdade eu sou o único que tem a chave, então... É. – Deu de ombros - Só eu posso fazer isso.

Sentei-me na cama, olhando para os novos quadros que ele havia pintado.

– Essa aqui é a coisi... quer dizer, a Raquel? – Indaguei, apontando para o quadro de uma mulher de costas. Ele olhou para onde eu estava apontando.

– Não.

– Hn. – Uma pausa – E como ela está? Faz tempo que eu não a vejo... – Eu não conseguia esconder a minha curiosidade. – Vocês brigaram?

– Não. – Ele não me olhou. Mordi os lábios, tentando esconder a decepção. – Terminamos. – Completou.

– Vocês o que?

– Nós dois terminamos. Já faz algumas semanas. Acho que eu esqueci de te contar.

– E por quê? Aconteceu alguma coisa? – Era evidente a minha preocupação. Eu não queria acreditar que ele tinha feito isso por mim. – Ela gostava tanto de você... – Era revoltante perceber que aquilo era verdade. – Foi você que terminou com ela? – Sussurrei, fitando suas costas. Ele se virou e se aproximou de mim.

– Não foi culpa sua. – Olhou para o chão. – Quer dizer, não foi “só” por isso. Já fazia um tempo que nós não estávamos bem, então achei melhor terminar, antes que eu pudesse machucá-la.

– E para não machucá-la você deu um “chute” nela? – Questionei, não vendo a lógica nisso.

– Sim... E também para não me machucar. – Ele bagunçou os próprios cabelos, de um jeito que me fez sorrir. – Ela não era mulher para mim. A verdade é que você estava certa, ela é só uma garotinha... – Seus olhos me avaliaram com luxuria, fazendo minhas bochechas queimarem. Levantei-me rápido da cama, seguindo até a porta.

– Eu... Eu vou tomar o meu banho, também tenho que ir trabalhar. – Sorri sem graça – Eu devo estar péssima, toda despenteada e amassada...

– Você está ótima. – A sua sinceridade fazia meu estomago borbulhar.

Assenti constrangida.

– Te vejo mais tarde então. – E saí, fechando a porta rápido para que ele não tivesse tempo de falar nada.

“Você está agindo como uma adolescente de treze anos” – pensei comigo mesma, enquanto seguia para o banheiro.

Na hora do almoço, desci até a recepção para tomar café.

– Hey, cá entre nós, se eu não fosse gay, juro que estaria babando por você neste exato momento. – Falou o editor chefe do jornal, Vitor, se aproximando de mim com um sorrisinho atrevido no rosto.

– É, sei. O que você quer? – Tomei um gole do meu café.

Ele se fingiu de ofendido.

– Como você pode achar que eu só te elogiaria – Ele pegou o copo da minha mão e tomou um gole. Franzi o cenho, irritada – se tivesse segundas intenções?

– Vitor, porque você sempre toma do meu café? Tem uma cafeteira a um metro e meio da onde você está, custa caminhar até lá e pegar o seu?

– Porque eu caminharia até lá se posso tomar do seu?

– Você está pensando igual a um político corrupto.

Ele riu.

– É verdade... Agora que você disse, posso até me imaginar em cima de um palanque discursan-...

– Ok, ok. Chega de enrolar, “tempo é dinheiro”. O que você quer?

– Bom... Eu estava pensando, você é uma mulher tão bonita e legal... Não acho que você merece ficar sozinha.

– Eu não estou sozinha.

Ele me olhou como quem diz “se você me interromper novamente, juro que te mato”.

– Eu só quero dizer que-...

– Que você está se sentindo culpado por eu e o seu irmão termos terminado, e agora está se sentindo no dever de encontrar outro partido para mim?

– Sim, basicamente é isso.

Revirei os olhos.

– Vitor, relaxa, eu estou bem, é sério, eu nunca me senti tão bem.

Ele segurou as minhas mãos e me olhou no fundo dos olhos.

– Sei que você está querendo ser forte, e eu te admiro por isso, mas não é vergonha você está triste pelo fim de um namoro.

– Vitor, já faz mais de um ano que isso aconteceu... Eu já superei.

Ele bufou.

– E é por isso que eu estou preocupado. Faz um ano e eu nunca te vi sair com ninguém, só pensa em trabalho o tempo todo... Sabe, isso não é vida. Você é jovem, bonita, precisa seguir em frente e esquecer o passado.

– Mas eu já esqueci, eu juro.

– Ah, é? Então me diz, quando foi a última vez que você saiu com um cara?

– Eu. Não. Sei. Vitor. E isso também não é dá sua conta... Eu fico feliz que você está preocupado, mas relaxa, eu não estou morta, sei me virar sozinha, não preciso de um cúpido.

Ele sorriu.

– Tudo bem, mas se mudar de idéia, eu tenho o telefone de um japonês que vai mudar a sua vida!

– Não, obrigado. – Murmurei me afastando.

*

O dia pareceu demorar uma eternidade para passar. Fiquei contando os minutos no relógio até que finalmente estava na hora de voltar para casa. O transito estava um verdadeiro pandemônio para variar, mas nem isso foi capaz de tirar o meu bom-humor. Quando cheguei em casa, o Lucas estava na garagem, consertando a moto.

À noite, depois do banho, eu estava me perguntando o que ia acontecer conosco enquanto caminhava até a minha cama. Sentia algum tipo estranho de euforia crescer dentro de mim à medida que as horas passavam. Às dez horas, quando escutei o barulho do chuveiro ligado, levantei da cama e caminhei até a porta, depois a deixei aberta e voltei a me deitar, esperando que ele entendesse o recado. Eu nem ousava pensar no que estava fazendo, apenas agia por instinto.

Assim como eu havia imaginado, depois de se vestir ele veio até o meu quarto, fazendo igual como eu havia feito na noite anterior. Ele parou no batente da porta e ficou me encarando com atenção, como uma criança que pedi permissão aos pais para se deitar com eles depois de ter um pesadelo. As luzes do quarto estavam apagadas, e a televisão desligada, entretanto, a luz da lua era suficiente para iluminar todo o cômodo. Levantei-me da cama com cuidado, caminhei até o guarda-roupa e peguei um travesseiro, depois voltei para cama e coloquei o travesseiro do lado direito da cama de casal. Aquilo o fez entender. Virei-me de lado e fechei os olhos, alguns segundos depois ele se deitou ao meu lado, fazendo a cama ranger com o seu peso. Senti seu corpo colar-se ao meu e ele me abraçar por trás.

– Boa noite Susan. – Ele sussurrou, fazendo os pelos da minha nuca arrepiar.

– Boa noite Lucas. – Foi a última coisa que me lembro de ter dito antes de dormir.

(...)

Uma semana se passou e com ela uma nova Susan nasceu. Uma Susan vaidosa, sorridente, que não tinha medo de falar alto na frente de outras pessoas e pagar micos, uma Susan aventureira que só queria ser feliz, uma Susan melhor. Eu não era mais a mulher egocêntrica que costumava virar o rosto para pessoas na rua se não gostasse dos sapatos que elas estavam usando, eu não era mais egoísta e superficial com as pessoas. A nova Susan era uma mulher fascinante, com milhares de defeitos, mas que não escondia suas qualidades quando embalava uma conversa com alguém. Uma mulher sedutora, que não tinha vergonha de usar batom vermelho e vestidos curtos quando a ocasião permitia. Eu me sentia quinze anos mais nova; meu corpo estava ótimo e minha alto-estima nas alturas. Finalmente, estava dando valor as minhas curvas e a minha beleza exótica que herdará dos meus pais. Por anos, ignorei a reação que eu provocava nos homens, ignorava o meu poder de sedução, mas isso era passado. Eu não tinha mais vergonha de ser o centro das atenções, de todos olharem para mim quando eu adentrava algum estabelecimento. Eu não tinha mais vergonha de ser eu mesma na frente de desconhecidos, porque era assim que a nova Susan era: Destemida e Verdadeira.

Mas ainda assim, eu continuava a ser mulher. Uma mulher com inseguranças e anseios, que já estava há muito tempo neste mundo para saber distinguir o certo do errado. Mas era difícil seguir a razão quando eu estava com ele. Era complicado trair meu coração para continuar seguindo o “correto”. E a cada dia, o meu desejo por ele só aumentava, se tornando quase insuportável. Eu jamais me sentira assim. Jamais cobicei tanto alguém como o cobiçava. Todas as noites nós dormíamos juntos, e todas as noites eu tinha que mover céus e terras para permanecer pura, renegando o desejo que possuía pelo seu corpo e alma. Sentia minha pele arder de desejo sempre que o via, minha bochechas queimarem e o alto-controle parecer fraco para conter-me. Era tudo tão forte, tão intenso, tão único. E eu sabia que a atração era recíproca. Ele também estava tentando ser forte para não ultrapassar os limites. Mas aquela parecia ser uma guerra perdida. Nossos corpos ansiavam pelo toque, pela entrega, fazendo-nos quase perder a razão. Era insano lutar contra isso.

– Você quer assistir outra coisa? – Perguntei, quando o filme que estávamos assistindo acabou. Estávamos no meu quarto, eu estava deitada na cama e ele estava olhando algo pela janela.

– Você que sabe. – Murmurou, sem me dar muita atenção. O fitei por longos minutos, ele estava apenas com a calça do moletom, distraído e desprotegido dos meus olhares avaliadores, absurtos na sua beleza. Meus pensamentos não eram puros, não íntegros. Ele era o único capaz de deixar-me assim, tão sensível e zonza.

– O que você tanto vê ai fora? – Questionei com curiosidade.

– A Lua está cheia. – Aquela não foi uma resposta, fora uma constatação. Ele fechou a cortina e caminhou até a cama, depois se deitou ao meu lado.

Troquei de canal algumas vezes.

– Não está passando nada descente... – Resmunguei. Ficamos alguns minutos em silêncio. – Você vai à casa da Karol amanhã? – Perguntei.

– Vou.

– Pode me fazer um favor? – Não esperei ele responder – Pede para ela me dar o cartão do oculista dela, eu quero marcar uma consulta com ele.

– Peço. – Uma pausa – Mas você está tendo alguma dificuldade para enxergar?

Dei de ombros.

– Não, mas eu preciso medir a pressão dos meus olhos, faz tempo que eu não faço isso. Você poderia ir junto comigo, assim já resolvemos dois problemas de uma só vez.

– Tudo bem, você só precisa me dizer o dia.

Ajeitei-me melhor na cama, apoiando a minha cabeça no seu braço. Com a ponta do dedo indicador, comecei a desenhar pequenos círculos imaginários na sua barriga. Ele deixou eu fazer isso por alguns minutos, até que colocou a mão em cima da minha, me fazendo parar.

– Faz cócegas. – Explicou, sem soltar a minha mão. Olhei para nossas mãos entrelaçadas, depois encarei os seus olhos, ele também me olhou.

Não foi preciso nenhuma palavra.

Senti uma de suas mãos deslizar pela lateral do meu rosto, em seguida ele se colocou sobre o meu corpo, entre as minhas pernas. Ficamos nos encarando, até que seus lábios encontraram os meus, em um beijo calmo e lento. Meus olhos se fecharam à medida que as sensações tomavam o controle dos meus movimentos. Tudo era novo e silencioso, tudo era bom, relaxante. Ele me beijava como se temesse me quebrar de alguma forma, acariciava os meus braços e suspirava entre os meus lábios, quando sentia falta de ar, e eu apenas tentava corresponder como podia. Beijá-lo não era uma experiência comum, ele não era agressivo como a maioria seria, ele era cavalheiro e sensível, quase tímido às vezes. Senti o choque quando nossas línguas se encontraram, brincando de se enrolar uma na outra, como duas serpentes acasalando. Eu sorria em meio ao beijo, me entregando ao momento. Tinha consciência de cada movimento seu, de cada caricia e de cada sensação que elas me provocavam. Sentia o prazer em tê-lo perto, se entregando ao meu corpo, como quem assina uma rendição. Rendição que eu também farei questão de assinar depois.

Ele depositou vários beijos na curva do meu pescoço, me fazendo sentir mais quente a cada beijo, depois voltou a tomar os meus lábios para si, de uma forma possessiva, mostrando-me que eu era dele, só dele. Suas mãos desceram até a base da minha camisola, a levantando, depois foram para a minha calcinha. Abri os olhos assustada, minhas mãos subiram até seus ombros e então eu o empurrei para longe, ele não mostrou desistência.

– Não! – Arfei. – Isso não! - Ele se sentou na cama, me encarando atordoado. – Me desculpa... Mas eu não consigo fazer isso. Você... Você... É só um menino, eu não posso. Não estou pronto. – Tentei sorrir, mas fracassei. – Me desculpe.

Ele umedecer os próprios lábios, depois sorriu.

– Tudo bem, eu espero. – Se levantou da cama.

– Aonde você vai? – Perguntei assustada, temendo que ele tivesse se ofendido.

Ele não me encarou para responder, parecendo com pressa.

– Vou tomar um banho gelado. – Disse saindo do quarto.

Sorri aliviada. Joguei-me na cama, me permitindo relaxar. Levei minha mão até a boca, acariciando com cuidado os lábios dormentes, sem desfazer o sorriso.

(...)

Conforme os dias passavam e o inverno agitava a cidade, Lucas e eu aproveitamos para nos conhecer melhor. Quando eu comecei a namorar o Daniel, mal tinha tempo para ficar com ele, e o mesmo vale para ele em relação à Raquel. Durante anos, mesmo morando na mesma casa, acabamos nos distanciando um do outro, e passamos a viver em mundos completamente diferentes. Mas isso havia mudado e finalmente tínhamos tempo para dedicar ao outro. Seguindo esse conceito, voltamos a sair juntos, visitando lugares ou simplesmente passando o tempo em companhia do outro. Passamos meses a fins visitando museus, fabricas de chocolates, parques, exposições de arte, zoológicos e fazendo tudo aquilo que tínhamos vontade. Como andar de Jet Ski no mar, ir a um circo para ver trapezistas, ver um documentário sobre patos ás quatro da manhã, e até mesmo ir a uma pizzaria e pedi uma pizza meio chocolate e mussarela, que, aliás, foi uma péssima idéia. Era difícil explicar como eu me sentia quando estava com ele. Tudo era tão simples, tão fácil, que era esquisito imaginar que estávamos cometendo algo errado em estarmos juntos.

Era sobre isso que eu estava pensando no avião para São Paulo, em agosto de 2009. Estávamos indo visitar a minha mãe, para comemorarmos o seu aniversário de 2.050 anos, na verdade, eu só estava indo mesmo porque o Lucas insistira e enquanto eu via aquele avião decolar, já me sentia arrependida de ter concordado com aquela maluquice. Desnecessário dizer que o final de semana não poderia ter sido pior.

– “Hn, querida, você precisa parar de comer tanto carboidrato, está tudo indo para o seu traseiro” – Ela dizia sorrindo, como se estivesse me elogiando, o que eu sabia bem não ser verdade. - “Ah, sim, nós recebemos o livro que você mandou pelo correio. Achei maravilhoso. Muito útil para servir como peso de porta, assim eu não tenho mais que ficar escutando ala abrir e fechar toda hora por causa do vento”. – Foi a respondeu que ela me deu quando eu perguntei sobre o livro que eu havia escrito.

Mas esse tipo de comentário não era a pior parte, o pior era ter que ficar agüentando minha mãe apresentar dezenas de garotas para o Lucas, dizendo para ele que já estava na hora dele namorar outra vez.

– Você lembra da moreninha alta que veio aqui ontem? Ela não é uma graça? Pensa só, ela é uma boa menina, educada, vai para igreja toda semana, estudiosa... E está caidinha por você, e não pense que eu não percebi a maneira como você olhou para ela... – Dizia toda alegre. Segurei a respiração, saindo da casa para tomar um pouco de ar limpo. Alguns minutos depois ele apareceu para conversar comigo.

– Você sabe que aquilo que a sua mãe falou não tem nenhum fundamento, não é? – Ele perguntou. Eu assenti.

– Eu sei... Só é estranho ter que escutar tudo calada. – Sorri triste – Eu odeio ter que esconder coisas.

– Eu também. – Falou, chegando mais perto e segurando a minha mão, como se fossemos dois namorados.

E eu odiava mesmo. Odiava estar feliz e ter que fingir que estava triste, só para as pessoas não desconfiarem. Odiava ter que mentir, enganar aqueles que se importavam comigo e queriam o meu bem. Todos estavam preocupados, todos queriam ver-me recomeçando, e quando eu finalmente consigo, sou obrigada a omitir essa felicidade, como se fosse um crime, porque ninguém entenderia.

– Você não está saindo com ninguém? – Perguntou a minha amiga Débora, certa vez, enquanto caminhávamos pelo Shopping.

– Eu não tenho tempo. Estou muito ocupada pensando nos meus livros. Os editores estão querendo que eu escreva outro, uma continuação do primeiro... Então não tenho tempo. – Desconversei.

– É uma pena, você é jovem... Podia encontrar um cara legal que se importe com você...

O que ela não sabia, era que eu já havia encontrado essa pessoa.

(...)

O tempo passava e eu me proibia pensar no que estávamos fazendo. Dormíamos e acordávamos juntos, mas nada acontecia além de beijos. Eu não permitia que acontecesse mais do que isso. Entretanto, eu sabia que era só uma questão de tempo.

Olhei para a caixinha de anticoncepcionais em cima da estante, eu estava no meu quarto, sentada da cama, sozinha. Respirei fundo, abri a caixa e peguei um comprimido. Fazia meses que eu não tomava. Levei o comprimido à boca e o engoli, depois tomei uma gole de água. Encarei o teto por alguns minutos, até que escutei a porta se abrir – imediatamente coloquei a caixa com os remédios debaixo de um travesseiro - e o vi adentrar o cômodo.

– Ah, então você está ai? – Se aproximou. – O que foi? – Me olhou.

– Nada... Só estou um pouco zonza. Deve ser a euforia, sabe, com todas essas novidades... Eu tendo que sair do jornal para me dedicar a “carreira” de escritora – Ri -, os editores querendo pagar por uma continuação de “A Cadelinha Cici”, e ainda tem essas pessoas me procurando para fazer um desenho animado baseado no meu livro... É tanta novidade... – sorri sem graça, dando de ombros – que eu acabo ficando sem ar.

Ele se sentou ao meu lado e segurou as minhas mãos.

– Eu estou feliz por você.

– Eu sei. – O abracei.

(...)

Era sexta-feira, dia sete de setembro de 2009, feriado nacional da Independência do Brasil, o dia estava bonito e eu estava animada por não ter que ir trabalhar.

– E então aonde vamos hoje? – Perguntei, saindo do banheiro.

– Eu não sei. – Ele entrou no banheiro, eu fiquei do lado de fora o observando.

– Que tal um parque? – Ele abriu o armário, pegou a escova de dentes e colocou a pasta.

– Pode ser. – Começou a escovar os dentes.

– Ótimo. Eu vou preparar uma cesta com comida, para fazermos um piquenique. – Desci as escadas e fui para a cozinha.

Como esperado, o parque estava cheio por causa do feriado. Procuramos por um lugar livre perto da sombra das árvores e lá nos acomodamos.

– Está quente, né? – Comentei, passando protetor no rosto.

– É. – Concordou.

– Passa protetor também, eu não quero ouvir você reclamando depois que está queimado. – Provoquei, entregando o protetor para ele.

Ficamos a tarde inteira ali, comendo e conversando, ás vezes rindo de alguma bobagem. Eu aproveitei para ler um pouco, enquanto ele ouvia músicas. Não éramos de falar muito, só a companhia do outro bastava.

Eu gostava de estar em um ambiente cheio de pessoas, era relaxante ver a alegria em todos ao meu redor. Adorava ficar vendo as famílias, ver suas expressões e características faciais semelhantes; tentava brincar de adivinhar quem eram os pais, quem eram os filhos e quem era os amigos, gostava de tentar adivinhar em que área eles trabalhavam e se eram felizes. Isso era bom para desenvolver a minha criatividade além de ser muito divertido, como um jogo mental com apenas um jogador, eu mesma. Podia passar horas ali, apenas olhando aqueles desconhecidos, avaliando-os, tentando torná-los parte de mim, parte do meu mundo acinzentado. Eu achava natural esse meu interesse por pessoas, sempre fui assim, desde pequena gostei de ajudar os outros, de conhecê-los, fazer amigos, sempre fui muito sociável; e talvez por isso, escrever livros se torne tão fácil, afinal, naturalmente eu já sou uma admiradora e amante convicta da vida, sempre observando e prestando atenção nos detalhes; é fácil escrever um mundo no papel, se esse mundo for baseado em fatos que vejo por ai, é simples passar os detalhes para o papel. Como também é fácil lembrar de rostos, traços característicos de uma pessoa que a torna feia ou bonita, é simples imaginá-los vivendo aventuras, romances, sendo felizes ou tristes, porque eu sempre fiz isso. Para mim, criar histórias nada mais é do que um jogo, um jogo de observação e adivinhação. Um jogo divertido, que você pode praticar em qualquer lugar, a qualquer hora, basta não se prender a bobagens carnais e deixar o seu lado criança fluir. Costumo brincar que crianças são os melhores escritores que existe, pois são os mais criativos, e suas histórias nunca se basearão no certo ou no errado, verdadeiro ou falso, possível ou impossível, porque quando se é criança tudo é possível.

Talvez seja isso que eu tanto sinta falta em mim: A esperança para acreditar que nada é impossível.

– O que você acha? – Ele me entregou um caderno, e nele havia um desenho de uma mulher encarando o céu, aquela mulher era eu, e o desenho havia sido todo feito a lápis, com muita delicadeza e precisão assustadora.

Senti meus olhos se umedecerem. Sorri.

– Quando foi que você fez isso? – Perguntei.

– Acabei de terminar... – Ele se sentou ao meu lado. – Você gostou?

– Claro que eu gostei. – Voltei a encarar o desenho - Não sabia que você desenhava tão bem...

– Nem eu. – Nossos olhares se encontram, e em seguida, nossos lábios.

Foi então que escutei um barulho, o som de uma tosse, que fez nós dois afastarmos um do outro. Olhei para a direção do som. Havia um homem ali, um homem nos encarando com uma expressão estranha. Mas aquele não era um homem qualquer.

– Rogério? – Perguntei chocada, me levantando do chão. Ele sorriu meio de lado, olhando de mim para o Lucas.

– Faz tempo não é? – O Lucas se levantou, como um cão de guarda. – Eu estava por perto e vi... vocês dois e pensei em cumprimentá-los, desculpe, não queria interrompe-los. – Ele franziu o nariz, como costumava fazer quando se sentia enojado.

– É faz muito tempo mesmo. – Concordei séria. – Da última vez que nos vimos... você não se despediu. – Disse irônica. Ele cruzou os braços e olhou para trás, como se procurasse alguém. – Mas como você está? – Questionei.

– Estou bem. – Ele encarou o Lucas. – Você cresceu rapaz.

– E você não mudou em nada. – Respondeu ríspido.

– Então você lembra do Lucas, não é? – Indaguei envergonhada.

– Claro, ele é o garotinho temperamental. – Riu. – Espero que o seu temperamento tenha melhorado.

– Não, ele continua o mesmo. – Falou em tom ameaçador. Rogério riu, fingindo não ter entendido.

– Então vocês... então juntos? – Aquilo pareceu diverti-lo. Finalmente ele tinha algo contra mim.

– E você está sozinho? – Perguntei, sendo evasiva.

Ele negou com a cabeça.

– Não, estou noivo. – Ele coçou a nuca, constrangido. – Bom, acho melhor eu ir, não quero atrapalhar. – Seu tom era de malicia e deboche – Só vim para dizer um “oi” mesmo...

– Tudo bem.

– Nossa, você realmente cresceu menino. – Ele sorriu, e esticou a mão para cumprimentá-lo. Lucas apertou sua mão. – E tem um belo aperto. – Elogiou. – A propósito, quantos anos você tem mesmo?

– Dezenove. – Disse rouco.

Rogério ergueu as sobrancelhas, surpreso, depois me encarou.

– Uau. Pois é, quem diria Susan, logo você que era tão quietinha... – Cerrei os olhos discretamente, depois suspirei – Acho melhor eu ir embo...

– Querido! – Gritou alguém, caminhando na nossa direção. Era uma mulher adulta, morena e alta. Ela sorria para o Rogério, ao que ele parecia desconfortável. – São seus amigos? – Perguntou quando se aproximou o suficiente, sorrindo para mim e ficando vermelha ao encarar o Lucas.

Ele contornou o braço na sua cintura.

– São sim querida. – Me olhou – Bem, Susan, Lucas, essa é a Jéssica, a minha noiva. Querida, esses são os meus velhos conhecidos.

– Ah! Prazer em conhecê-los. – Ela sorriu.

– Sabe Susan, a Jéssica tem trinta anos. Nem parece né? – Ela bateu no ombro dele sem força. – Que foi?

– Isso é coisa que se diz? Está querendo me envergonhar? – Falou nervosa.

– Não, só estava comentando. É que é impressionante querida; você parece ter muito menos... Qualquer um te daria uns dezenove. – Disse com deboche. – Não é mesmo Susan?

– É. – Concordei irritada. – Você está ótima.

Ela sorriu.

– Obrigada, isso é muito gentil. – Riu. – Sabe, é muito legal conhecer velhos amigos do Rogério, com ele viajando toda semana, quase não temos tempo para criar laços com as pessoas... – Ela mordeu o lábio, sorrindo para o Lucas.

– E vocês vão passar bastante tempo na cidade? – Perguntei sem muito interesse.

– Não, vamos embora amanhã. – Ele respondeu rápido.

– Hn.

– É. – Ela falou desanimada – Bom... – Seus olhos se arregalaram, e ela sorriu. “Ótimo. Ela é bipolar” – Querido! Tive uma grande idéia! Que tal convidarmos os seus amigos para jantarem na nossa casa hoje anoi... (?)

– Amor, acho melhor não. Hoje é feriado, eles já devem ter compromisso. – Ele a cortou. Ela me encarou, esperando uma resposta.

– É, é verdade, nós temos um compromisso, me desculpe. – Dei de ombros.

– Numa próxima vez quem sabe. – Complementou o Lucas, disfarçando.

– Ta... Ta bem então.

O Rogério riu.

– Bem, então vamos indo... Foi bom reencontrá-los. – Disse.

– É, foi. – Minha voz não era sincera.

– Tchau. – Disse a sua noiva.

– Nos vemos por ai, Lucas. – Ele riu, dando as costas e saindo.

– Eu não acredito que isso aconteceu... Só pode ser piada. – Falei quando eles já estavam longe, levando minha mão até a testa para secar o suor. Suspirei, havia acabado de perder todo o meu animo. – Você viu como ele nos olhou? Foi tão... – Franzi o cenho, querendo chorar. Engoli em seco. – O pior era que ele estava se divertindo. – O Lucas se aproximou e me abraçou.

– Hey, relaxa, não deixa esse idiota acabar com o nosso dia.

– Mas ele já acabou. – As lágrimas borraram a minha visão. – Eu não acredito nisso. – Afundei meu rosto no seu peito.

– Não fica assim. – Tentou me acalmar. – Você quer ir para casa? – Assenti, secando os meus olhos com as mãos. – Tudo bem...

Quando chegamos em casa, fui direto para o sofá, onde passei algumas horas deitada, sem pensar em nada, estava me sentindo um lixo humano, e toda vez que fechava os olhos, só conseguia ver o sorriso cínico do meu ex. O Lucas se sentou perto de mim, eu coloquei a cabeça nas suas pernas e ele me fez cafuné até que eu dormisse por causa do cansaço.

Acordei de madrugada, estava deitada na minha cama e ele estava dormindo ao meu lado. Fiquei observando-o por minutos eternos, até que decidi agir. Aproximei meu rosto do seu e então juntei nossos lábios, senti sua boca se entreabrir quando ele acordou.

– O que aconteceu? – Perguntou, quando nos separamos.

Retirei o seu edredom, jogando-o para fora da cama e então me sentei em suas pernas, me inclinando para beijá-lo outra vez. Ele segurou minha cintura.

– O que foi? – Disse contra meus lábios.

– Eu quero. – Encarei seus olhos.

– Você quer o que? – Perguntou confuso, ainda com sono.

– Eu quero você.



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Notas finais do capítulo

Capítulo grandinho, né? De agora em diante, todos vão ser assim.
.
Faltam três capítulos. Beijos.



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