Perdida Em Seu Olhar - (Finalizada) escrita por Eu-Pamy


Capítulo 13
Capítulo dose - Um capítulo sem título


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar ontem, mas o site não estava abrindo...



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Capítulo dose. – Um capítulo sem título.


É inacreditável a cara-de-pau de algumas pessoas. É insuportável como algumas pessoas realmente acreditam que somente com um pedido de desculpas tudo ficará bem. Este tipo de pessoa é tão egoísta, que mesmo estando errado, afirma com toda a franqueza do mundo que está certo, só para ter o gostinho de discordar de você. Eles não sentem culpa e jamais se colocam no lugar do outro, porque se sentem superiores demais para tais comparações. São dissimulados e manipuladores. Amam a si mesmo antes de qualquer outra coisa. São apaixonados pelo próprio reflexo do espelho e se importam apenas com o próprio bem estar. Calculam cada palavra antes de dizê-las, assim como calculam a reação de quem irá escutá-la. Para essas pessoas, nada é tão importante quanto sentir-se grandioso. Elas precisam do poder, pois sem ele, seriam tão normais quanto o resto da humanidade. E Deus sabe que isso não pode acontecer. O mundo precisa desta linha invisível que separa as pessoas boas e fracas, das evoluídas. Essa é uma regra lógica da sobrevivência: No mundo, somente os que são capazes sobrevivem. Essa é a lei da selva. Ou você mata, ou você morre. Não há uma terceira opção. Ou você é a caça, ou é o caçador. Essa é a vida real, e quem não se adapta á ela? Serve de comida para os jacarés!

Era quarta-feira. Eu estava deitada na minha cama assistindo televisão quando ouvi o telefone tocar. Arrastei-me até o outro lado da cama de casal e peguei o celular de cima da escrivaninha. Nem olhei o número e já atendi.

– Alô? – Minha voz estava fraca. – Alô? – Repeti impaciente, depois de alguns segundos. Eu não escutei nada do outro lado da linha. Provavelmente alguém havia ligado errado. – Tem alguém ai? – Perguntei. Eu já ia desligar quando escutei uma voz.

– Olá Susan. – Disse uma voz masculina, que logo reconheci. Meu coração bateu mais forte, senti a raiva começar a enrolar-se em volta da minha alma como uma cobra venenosa. Minha mão apertou o celular com força, querendo quebrá-lo em mil pedaços.

– Eu não acredito que você teve a audácia de me ligar. – Nem eu reconheci a voz que saia pela minha boca. A raiva me transformava em outra pessoa.

Houve segundos de silêncio, até que ele respondeu.

– Por favor, querida, me escuta. – A sua voz machucava os meus ouvidos. – Nós precisamos conversar.

– Eu não tenho nada para conversar com você. – Soltei cada palavra como uma maldição. Do outro lado da linha, escutei ele suspirar. Pensei em desligar o telefone, se não fosse ele dizer aquelas palavras.

– Eu te amo, Susan. Por favor, me escuta. Eu... Eu sei que eu errei, mas todo mundo erra, essa é uma característica do ser humano! E-eu não... Por favor, querida, eu amo você... – Ele parou de falar quando escutou eu gargalhar. Um riso venenoso e doentio. Ele sempre me fez sentir assim: Doente. – Susan...

– Você deve achar que eu sou uma idiota, não é? Você deve achar que eu sou uma palhaça mesmo, dessas que você está acostumado a pegar no meio da rua! Eu sei que... Que por muito tempo eu agi como uma, mas essa Susan morreu Rogério, ela morreu no dia que eu te vi com aquela vagabunda na nossa cama! – uma pausa - Como você teve coragem de fazer isso comigo? – Lágrimas rolaram de meus olhos. – E como você tem coragem de me ligar depois de tudo isso?! Como?! – Gritei contra o telefone.

– Susan, por favor, deixa eu explicar...

– Explicar o que? Não tem nada para explicar! – Limpei as lágrimas dos meus olhos. Ele não merecia que eu chorasse por ele – Eu te amava e você me traiu. É simples. Você não tem que me explicar nada. Eu não sou idiota, sei que aquela não foi a primeira vez que você me traiu e se eu não tivesse te flagrado com aquela piranha, provavelmente também não seria a última.

– Você sabe que eu não queria-...

Fiquei perplexa.

– Não queria o que? Não queria transar com aquela garota na minha cama ou não queria que eu tivesse te flagrado? Em? O que você não queria Rogério?

– E-eu... – Suspirou. – Susan, aquela menina não significou nada para mim. Eu te amo. Você é a mulher da minha vida... Eu...

– Rogério.

– Sim?

– Vai de ferrar. – E desliguei o telefone.

Joguei o aparelho no chão e tentei controlar o impulso de chorar que começava a tomar conta dos meus pensamentos. Porque eu tinha que ser tão fraca? Porque ele tinha que mexer comigo desta maneira?

– Eu não o amo... – Falei em voz alta para mim mesma, como se achasse que somente falando, isso irá se tornar verdade. – Eu não posso amá-lo... Ele não merece o meu amor. – Uma lágrima rolou dos meus olhos.

Então escutei um barulho. Um rangido de porta se abrindo. Sequei meus olhos e me ajeitei na cama.

– Susan...? – Perguntou uma voz infantil. Era o Lucas. Ele não entrou, mas eu vi suas mãos segurando a porta. – Eu posso entrar?

– Po-pode. É claro que pode. – Respirei fundo. Ele pareceu hesitar por um momento, mas acabou abrindo a porta. A luz da televisão iluminou seu rosto. Ele estava com uma cara de sono, provavelmente eu o havia acordado com meus gritos.

– Está tudo bem? – Perguntou ainda encostado na porta. Ele nunca havia entrado no meu quarto, talvez estivesse estranhando a bagunça ou estivesse com medo. “Porque essa maluca está gritando?” ele deve estar se perguntando.

– Não, não está. – Eu não queria mentir para ele, na verdade, algo dentro de mim me impedia de mentir para ele. Encarei os seus olhos, admirando o brilho presente neles. – Mas vai ficar. Eu só preciso descansar um pouco...

– É que eu escutei gritos...

– Você ficou com medo? – A pergunta saiu sem eu conseguir impedir.

– Não. Só fiquei preocupado com você. – Falou calmamente. Ele levou as costas de sua mão até o olho e esfregou, bocejando ao mesmo tempo.

– Não fique. Eu estou bem. Pode voltar a dormir.

– Eu posso dormir aqui?

– O que? – Eu não deveria ter escutado direito.

– Eu posso dormir aqui? – Sim, eu tinha escutado direito.

Fiquei em dúvida, mas acabei cedendo.

– Tudo bem. – Dei espaço para ele se deitar. Ele se aproximou e se acomodou debaixo do meu edredom. Ficamos em silêncio por um tempo.

– Você... – Disse sonolento. – Você vai me buscar amanhã na escola de novo? – Ele perguntou.

Fazia dois dias que ele começara a ir para a escola. No primeiro dia, quando eu perguntei o que ele tinha achado, ele não respondeu nada além de um simples “Foi bom”. Mas já no segundo, a resposta foi diferente. “Eu fiz um amigo” ele havia me dito mais sedo naquele dia.

– Sim.

– E você pode ir me buscar a pé, se não estiver chovendo?

– Claro. Mas por quê?

– Eu quero aprender a ir sozinho e a voltar sozinho do colégio.

– Entendi. Mas você é muito novo para isso. Além disso, eu não ligo em te buscar de carro.

– Mesmo assim, é bom eu aprender.

– Tudo bem.

Ele se virou para o lado, ficando de costas para mim. Pensei que ele já estava dormindo, quando ele disse:

– Esse Rogério deve ser um idiota...

– E ele é mesmo. – Falei automaticamente.

Ele fez uma pausa.

– Boa noite Susan.

Sorri.

– Boa noite Lucas.

Naquela noite, não tive pesadelos.

(...)

Os dias se passaram sem eu perceber, e quando dei por mim, já era sábado. Acordei sedo naquela manhã ensolarada. Vesti uma calça leguem e uma regata e desci as escadas. O Lucas ainda dormia. Peguei o meu pequeno, porém, potente rádio e liguei, colocando em uma estação de músicas. Enquanto dançava alegremente e cantarolava, fiz tapiocas e vitamina. Depois de tomar café sozinha, fui para a sala e comecei a minha faxina semanal. Estava animada e bem disposta, era como se a minha adolescência tivesse voltado. Arrumei os móveis, varri o chão, tirei o pó das prateleiras e troquei algumas coisas de lugar. Assim que terminei, não me dei por vencida, e fui para a cozinha, começando novamente o processo de limpeza. O Lucas desceu pouco depois de eu terminar a arrumação. Ele entrou na cozinha com o seu cabelo todo desarrumado e sua típica cara de sono.

– Uau. – Disse, olhando ao seu redor.

– Pois é. De vez em quando, até que eu me dou ao trabalho de arrumar as coisas. – Ele sorriu.

Eu estava sentada na cadeira, ele se aproximou.

– Se você tivesse me acordado, eu teria te ajudado. – Falou.

– Não se preocupe quanto a isso. O seu quarto é você quem arruma. – Ele riu.

– Eu arrumei ontem antes de dormir.

Não fiquei surpresa. Depois de uma semana convivendo com ele, esse tipo de coisa não me espantava mais.

– Eu fiz tapioca. Você gosta?

– Adoro.

– A vitamina está na geladeira.

Ele foi até lá e pegou a jarra.

– Você já tomou café?

– Sim.

Ele se sentou e encheu o copo com vitamina.

– Susan...

– Sim?

– Você pode comprar um despertador para mim?

– Sim. Mas para que você quer um? – Perguntei, percebendo que a pergunta era obvia demais.

– É que eu acho errado ficar dormindo até tarde enquanto você acorda tão sedo...

Ele mordeu um pedaço da tapioca.

– Lucas, ainda são dez horas.

– E você deve ter acordado seis.

– Mas na sua idade, eu acordava meio dia. – Eu me sentia muito estúpida, sentada ali, tentando convencer um menino de nove anos a dormir um pouco mais ao invés de levantar sedo para me ajudar nas tarefas de casa. Eu deveria ser a pior tutora do mundo.

– Mas quando você tinha a minha idade, você ia dormir de madrugada. – Ele falou, tomando um gole de vitamina.

– Como é que você sabe disso?

– A minha mãe me contou. – Ele deu de ombros. – Ela me disse que vocês duas ficavam competindo sobre quem conseguia ficar até mais tarde acordada. E ela me disse que você sempre ganhava.

Eu ri.

– É. Bons tempos...

Ficamos em silêncio por alguns minutos.

– E então, você vai comprar um despertador para mim? – Perguntou quando terminou de comer. Ele se levando e levou o copo até a pia. Depois lavou.

Suspirei.

– Tudo bem. – Levantei da cadeira. Já havia descansado o suficiente. – Bom, eu vou arrumar o meu quarto... – E sai da cozinha, mas antes de subir as escadas, caminhei até o rádio e desliguei.

– Que horas a senhora Teodora vai vir para cá? – Perguntou, entrando na sala.

Teodora era o nome da advogada responsável pelo caso do Lucas. Ela havia me ligado na quinta-feira, marcando a visita.

– Duas horas.

– Hn.

Ele se sentou no sofá, estava segurando alguns cadernos.

– Você vai fazer a sua lição?

– Vou.

– Ta bom. – Subi as escadas e fui para o meu esconderijo, o meu quarto. Quando terminei de arrumá-lo, já eram onze horas e meia.

Sai do meu quarto e fui para o banheiro tomar um banho. Fiquei cerca de quinze minutos debaixo da água quente. Vesti uma bermuda jeans que ia até os joelhos e uma camiseta bege. Deixei os meus cabelos soltos, para que secassem mais rápido, notando que já estava na hora de cortá-los.

Desci as escadas e fui para a cozinha. O Lucas não estava mais na sala, imaginei que tivesse ido para o próprio quarto. Preparei o almoço. Arroz carreteiro, feijão, lingüiça assada e uma salada de cenoura.

– Lucas, vem comer. – Gritei da escada. Minutos depois, ele estava entrando na cozinha.

Ele havia trocado de roupa. Estava vestindo uma calça jeans e uma blusa que eu logo reconheci.

– Essa é a blusa que eu comprei para você? – Perguntei.

– É sim.

– Nossa, ela ficou certinha para você! – Falei sorrindo de tanta felicidade. – Acho que é a primeira vez que eu acerto na roupa de alguém!

Ele sorriu.

– Eu não sei se eu agradeci naquele dia, então-...

– Relaxa. – Eu o interrompi. – Eu não comprei para receber um agradecimento, só queria te fazer um agrado. – Sentei-me à mesa. – Pega a jarra com suco na geladeira fazendo favor, Lucas. – Ele obedeceu, e depois colocou a sua comida.

Comemos em silêncio e quando terminamos, ele me ajudou a lavar a louça.

– Quer bolo de laranja? Eu comprei no Super Mercado... – Falei.

– Quero sim.

Cortei um pedaço para nós dois e coloquei cada um em um prato. Comemos o bolo na sala.

– O que está passando na Globo? – Perguntei, pois era ele quem estava com o controle. Ele trocou de canal. Estava passando o jornal.

Assistimos por cerca de meia hora, até que eu decidi colocar a roupa suja na máquina.

– Lucas, a sua roupa suja está no cesto?

– Está sim. Quer que eu pegue?

Me levantei.

– Não precisa não.

Subi as escadas e entrei no quarto dele. Peguei o cesto e depois fui para o meu quarto. Eu já havia lavado a metade das minhas roupas na noite anterior. Coloquei as minhas roupas no cesto dele e então desci as escadas. Passei pela porta e fui até a lavanderia. Separei as roupas brancas e as roupas frágeis, depois coloquei as que sobraram dentro da máquina. Coloquei sabão em pó e amaciante de roupa na máquina e liguei. Esperando primeiro ela encher de água.

Depois peguei a vassoura no canto do quintal e comecei a varrer as folhas que caiam da árvore do vizinho. Quando terminei, voltei para dentro de casa. O Lucas ainda assistia a televisão.

– O que você acha de depois da visita da inspetora nós dois sairmos?

Ele me encarou. Eu me sentei no braço do sofá.

– Para onde? – Perguntou animado.

– Não sei. Tem muitos lugares. Podemos ir para a praia, para um parque... Enfim, tem muitos lugares. Temos que aproveitar que está Sol.

– Para a praia? – Seus olhos brilharam. Eu sorri.

– Sim, para a praia. Por quê? Você nunca foi para a praia?

– Não... A minha mãe nunca teve tempo...

– Bom, então está decidido: Nós vamos para a praia. – ele sorriu, mas depois pareceu preocupado.

– Mas eu não tenho roupa de praia...

Franzi o cenho.

– Roupa de praia? Ah, sim, você está falando de sunga? – Ele assentiu - Não tem problema, você pode entrar de shorts mesmo.

Ficamos conversando sobre isso por um bom tempo, até que a campainha tocou. Levantei-me em um pulo, olhei para o Lucas e depois caminhei até a porta. Respirei fundo e abri a porta. A imagem da Teodora, a senhora doce e amável, veio na minha cabeça, mas só na minha cabeça, pois não era ela quem estava na minha frente.

– Mamãe? – Perguntei chocada.

Ela me olhou raivosa.

– E quem mais seria?

E neste momento, eu soube que não iríamos mais para a praia.

“Este tipo de pessoa é tão egoísta, que mesmo estando errado, afirma com toda a franqueza do mundo que está certo, só para ter o gostinho de discordar de você. Eles não sentem culpa e jamais se colocam no lugar do outro, porque se sentem superiores demais para tais comparações. São dissimulados e manipuladores. Amam a si mesmo antes de qualquer outra coisa. São apaixonados pelo próprio reflexo do espelho e se importam apenas com o próprio bem estar. Calculam cada palavra antes de dizê-las, assim como calculam a reação de quem irá escutá-la. Para essas pessoas, nada é tão importante quanto sentir-se grandioso”.

Na vida, nem tudo é o que parece.



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