Living Dead - EM HIATUS escrita por lolita


Capítulo 12
XI - Russian Roulette


Notas iniciais do capítulo

OLHA QUEM TÁ VIVA, EU! :OOOOOOOOO SD~ÇLKFÇASLKJFLKNSAJÇKFNKJNSÇLFND~LKG´PSKDMGLN CALMA, GENTE, NÃO ME MATEM, PFVR, HOJE É MEU ANIVERSÁRIO, UHU, UHU, HAPPY BIRTHDAY PRA MIM, 16 ANINHOS, WEEE O/ Okay.
Rihanna - Russian Roulette



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"E você pode ver meu coração batendo, você pode ver através do meu peito

Estou apavorada, mas eu não vou desistir."

Annabeth fitou a rosa negra em sua mão. Em dois dias, ela não murchara nem mesmo um pouco. Aquela com certeza não era uma flor comum.

Fechou os olhos e sacudiu a cabeça. O que teria de anormal em uma simples flor? Ela simplesmente colocara em um vaso com água e deixara tomar um pouco de sol. A garota desencostou-se dos vários travesseiros em sua cama e voltou a colocá-la no vaso de cristal em cima da pequena mesa ao lado da cama.

Desde o acontecido no cemitério, tem se sentido desconfortável e estado inquieta. Começara a imaginar coisas, achava que estava delirando. Ficava presa em seu quarto e, quando não estava dormindo, sua mente ficava uma loucura. Começou a achar que estava doente.

Queria falar com Rachel, mas a mesma se mostrava diferente e distante. Quase nunca falava, e todos achavam que era a tristeza pela perda de seu não mais futuro marido, mas Annabeth duvidava que fosse isso. Do mesmo jeito vinha agindo Silena. Distante. Percy? Ela quase não o vira, a família Jackson se encontrava em sua mansão, e estranhariam muito se Annabeth fosse visitá-los.

Ela queria confrontá-lo. Perguntar sobre a tal prima. Ela nunca o ouvira falar sobre nenhuma noiva. E também porque pensara no que Thalia lhe dissera, sobre mostrar que poderia ser a escolha certa para ele. Mas Annabeth tinha suas dúvidas. Estaria ela disposta a passar o resto de sua vida com Percy? E mesmo que sim, como poderia provar algo estando distante deles?

Poderia ela contar com alguém para ajudá-la nisso?

Mas poderia Annabeth fazer algo quando a mesma se encontrava em um pesadelo interior? Desde que vislumbrara seu nome na lápide, tem sentido medo. Não fazia nenhum sentido ela estar morta todo esse tempo. Não, não mesmo. Porque ela sentia seu coração batendo e seu sangue correndo pelas suas veias, sentia medo, sentia amor, tudo que passara até ali, tudo aquilo era real.

Colocou as mãos pequenas na testa.

- Pare, pare. - Murmurou para si mesma, sacudindo a cabeça para frente e para trás enquanto tentava evitar que seus pensamentos corressem tão rapidamente. Viu imagens coloridas e sem sentido sobre o breu de suas pálpebras e abriu os olhos repentinamente.

Ela não se encontrava em sua cama há pouco tempo atrás? O que estava fazendo sentada no chão, encostada na parede do outro lado do cômodo? Não percebeu que fora parar ali.

Levantou-se frustrada e caminhou até a janela, abrindo-a e respirando fundo o ar frio do final da tarde. Então avistou a carruagem à frente do jardim, onde apenas Percy e Paul desembarcaram. Graças aos deuses, eles estavam de volta!

Esperou que eles cruzassem toda a frente do palácio para então sair de seu quarto e, se escondendo atrás de uma pilastra no alto da escada, os observou chegando. Frederick logo estava ali no salão de entrada e os recebeu. Trocou algumas palavras com ele e, enquanto falava, Percy deu uma discreta olhada para cima e a avistou. Ambos trocaram sorrisos mínimos. Finalmente, Frederick e Paul se retiraram, provavelmente para a sala de reuniões, e Percy subiu as escadas.

Annabeth lhe agarrou a mão direita e o puxou para seu quarto, onde tinham privacidade. Com o fechar da porta, finalmente pôde sentir os lábios de Percy nos seus. Desde o dia do suposto noivado de Rachel, eles não haviam mais trocado beijos, nem mesmo se falaram direito, de modo que, tendo-o para si novamente, lhe fez sentir um calor no peito e cócegas no estômago.

Ela se sentiu viva.

- Percy - ela disse, interrompendo-o. - Olhe para mim.

Ele fez o que pediu.

- Você pode me ver? - Ele franziu o cenho com a pergunta. - Quero dizer, você sente isso? Você pode me sentir, certo? - Ela colocou uma de suas mãos sobre seu peito. - Vê? Isto é real, não é?

Ele provavelmente a acharia louca, já que nada do que ela dizia fazia sentido, mas Annabeth estava desesperada, precisava ter certeza de que não estava vivendo morta.

Para seu alívio, Percy sorriu. - Francamente, se isso não for real, então não sei o que é viver. É bom demais para não ser verdade.

- Ou então para estarmos vivos. - Murmurou.

- Como? - Percy perguntou confuso. - Annie?

Ele levantou seu queixo com o dedo. - Nós estamos aqui. Isso é real!

Dessa vez, ele pegou sua mão e a colocou sobre seu peito. - Vê? Meu coração está batendo, assim como o seu. E, sinceramente, se isso não for estar vivo, devemos estar no céu, porque a morte nunca me pareceu tão gratificante!

Annabeth soltou um riso. Aquilo era tão incomum, diferente e restaurador! Nunca imaginou que algum dia se sentiria tão feliz como se sentia naquele momento. No momento em que Percy voltou a encaixar seus lábios nos dela, dessa vez explorando lhe a boca com a língua, e toda a confusão e transtorno que sentira mais cedo sumira.

Quando lhe faltou ar, Percy desceu seus lábios pelo seu pescoço e tudo o que ela quis foi ficar em seus braços para sempre e ter aquela sensação de que estava viva, que estava segura, que estava bem. Mas percebeu que era mais do que isso quando, depois de um tempo, ele delicadamente a deitou em sua cama e beijou seu busto, ou então quando ele colocou suas mãos por debaixo da saia de seu vestido vinho escuro e lhe acariciou as pernas.

Desejo.

O que ela sentia era desejo. E era ainda mais forte e devastador, que a fez deslizar o paletó dele e puxá-lo para mais perto. Percy deu um puxão em algo nas suas costas e de repente seu vestido estava mais frouxo. Ele colocou suas pernas em volta de seus quadris e encostou mais seus corpos, descendo seus beijos até seus seios.

E aquilo a fez congelar.

O puxão em seu vestido, suas pernas sendo encaixadas nos quadris, os beijos em seus seios... Luke. Foi inevitável impedir que a lembrança da floresta fria e cinzenta lhe viesse à sua mente, e Luke em cima dela, prendendo-a e fazendo tudo aquilo que Percy estava fazendo. A dor. A agonia. O medo. Tudo isso lhe impulsionou a dar-lhe um forte empurrão, para se livrar de tudo aquilo.

- O quê...? - Ele perguntou assustado.

Annabeth sentou-se e colocou as mãos na cabeça, respirando fundo várias vezes e tentando voltar para a realidade.

- Percy... desculpe, eu... - ela tentou dizer algo que fizesse sentido, mas suas mãos tremiam e seus olhos já estavam molhados.

Com raiva, limpou as lágrimas que insistiam descer pelo seu rosto.

- Ei, ei. - Percy falou, se aproximando ao lado dela na cama e acariciando lhe o rosto. - Shh, me desculpe, eu...

- Não, não é sua culpa. - Annabeth disse.

- É minha culpa sim. Desculpe-me se eu fiz algo, fui muito impulsivo... - Percy tentou desculpar-se, mas ela colocou um dedo sobre seus lábios.

- É que eu... e-eu fiquei com medo. - Ela murmurou com a cabeça baixa.

Percy assentiu. - Eu sei. Eu não deveria ter feito isso.

Annabeth mordeu os lábios. Percy se colocou atrás dela e começou a prender novamente seu vestido. Quando terminou, nenhum dos dois conseguiu dizer algo, ou sequer falar algo. Então delicadamente a puxou e a aninhou em seus braços, acariciando seus cabelos.

- Eu sou um idiota. - Murmurou.

- Então somos dois idiotas. - Ela murmurou em resposta.

Percy sorriu. - Por quê? - Mas ela apenas sacudiu a cabeça.

Ficaram ali, apenas ouvindo a respiração um do outro. Annabeth lembrou-se de sua conversa com Thalia e, depois de um tempo, reuniu coragem e o fitou, soltando um suspiro.

- Percy, você... hãn, você e sua família tem andado bem ocupados ultimamente.

Era para ser uma pergunta. Ele ficou inquieto.

- É, hum, nós estamos resolvendo algumas coisas.

- Essas coisas teriam a ver com seu noivado? - Perguntou a loira, sem conseguir fitá-lo dessa vez.

Percy a olhou por um segundo.

- Como sabe disso?

- Eu tenho minhas fontes - disse sorrindo fraco.

- Rachel. - Ele murmurou para si mesmo, mas Annabeth ouviu e o encarou, séria e confusa.

- Rachel sabe?

Percy assentiu envergonhado.

- Ela não se incomodaria de saber que meus pais estão a me procurar uma noiva.

Annabeth engoliu em seco. Ele tinha razão. Percy sabia que se contasse para ela, ficaria magoada, embora soubesse que aquilo era contra sua vontade.

- Ei... - ele murmurou, acariciando lhe o rosto. - Ao menos sabes que você é uma das opções? Quero dizer, estou tentando convencer meus pais de que você é a escolha certa, mas, existem alguns problemas...

Ela assentiu. Não entendia como isso era possível ela ser apenas uma das opções, porque, pelos deuses, ela era a filha do Rei! Uma princesa! O que era tão ruim que o impedia de pedi-la em casamento?

Annabeth teve uma breve vontade de rir. Veja só para ela! Há algum tempo atrás detestava a ideia de se casar por obrigação só por causa de posições sociais, detestava a ideia de ter que se comprometer tão nova. Mas ali estava ela, desejando que Percy, seu amigo de infância, que conhecia desde seus primeiros passos, lhe pedisse a mão!

Mas dessa vez era diferente. Agora, ela queria se casar. Com Percy ela aceitaria.

- Percy? Seria esse tal problema a sobrinha de seu pai? Sua prima? - Ela questionou temerosa.

- Suas fontes vêm deixando-a bem informada. - Ele disse com um sorriso triste.

Ela deu de ombros. Mal sabia ele que era tudo por um acaso.

- Sim, é minha prima. Calipso. A posição social dela é boa, embora não tão boa como a sua, mas não é por isso que meus pais estão indecisos. Bem, é irmão do meu pai. Você o conhece, estamos falando de Atlas.

Annabeth levantou as sobrancelhas, surpresa. Com frequência, ela via Sir Atlas ali no palácio, para as reuniões com seu pai. Ele era o General do Exército de Bridgeport. Homem grande, robusto e que estava sempre com uma carranca no rosto. Annabeth percebeu naquele momento que deveria prestar mais atenção nas pessoas que frequentavam sua casa e passar a saber quem são elas porque, deuses, nunca percebera que Atlas era tio de Percy! Que tipo de princesa Annabeth era?

- Acho que devo parar de ignorar alguns dos nobres que aqui frequentam, são pessoas importantes e que preciso conhecer melhor. - Ela disse, ainda com a expressão de surpresa.

Percy riu, então continuou. - Desde que Calipso nascera, ele vem mantendo claro para meus pais que pretende uni-la comigo. E, para falar a verdade, já era decidido. Até que você cresceu e, bem... - ele a indicou com as mãos.

Ela deu um sorriso de soslaio.

- Além do fato de eu passar mais tempo com você. Sabe... - ele murmurou. - A mãe me disse que, se dependesse apenas dela, você já teria sido escolhida.

Ambos sorriram. Então Percy fez uma careta.

- Mas meu pai prefere Calipso, não sei por quê. Acho que ele apenas não quer deixar meu tio, hum, chateado.

- Chateado? - Ela perguntou sarcástica.

Percy bufou. - Tudo bem. Ele ficaria bastante furioso.

Então Annabeth lembrou-se porque ignorava tantas pessoas. Atlas era apenas outro que não lhe tratava nada cordialmente. Desde pequena, ele lhe passava medo com aquela sua carranca e a cicatriz horrenda no lado esquerdo do rosto, que descia desde a testa até o maxilar

Ela pensou em como normalmente não o teria evitado ou ignorado, nem mais ninguém, mas eram as pessoas que a ignoravam primeiro. Ficavam desconfortáveis em sua presença, nervosas ou furiosas, e então a evitavam. Aquilo a fazia se sentir mal, e com o tempo, passou a não dar a mínima para isso. Esse era o motivo.

Por quê?, perguntou-se pela milésima vez em sua vida. Por que as pessoas não gostavam dela? O que ela fizera? O que eles viam nela que tanto... os repeliam? Perguntou-se isso em todo o tempo em que vivera.

Mas Percy não a evitava. Nem Rachel ou Silena. Ou até mesmo Thalia. Na verdade, as pessoas que costumavam evitar Thalia. Será que ela tinha consciência disso? Será que ela tinha o mesmo problema de Annabeth? Poderia ela saber o motivo de tudo isso e lhe dar respostas?

- Eu estou sendo tão egoísta. - Percy murmurou, arrancando-lhe de suas dúvidas internas. Ele estava cabisbaixo e parecia chateado. Annabeth ficara tão absorta em seus pensamentos, que nem percebeu a mudança de humor.

- O quê? Por quê? - Perguntou.

- Olhe só para você, Annie. - Ele disse. - Tem quase quinze anos, mas é muito jovem ainda. Não tem nada que se casar agora, não tem que ficar presa nessa vida. A partir do momento em que se casar, estará sobre pressão para ter um filho, e eu detesto a ideia de fazê-la conceber um filho sendo tão jovem, de ter que cria-lo... sem falar que colocaria sua vida em risco...

- Shh. - Ela colocou os dedos sobre seus lábios novamente. - Percy, se eu estou aqui, se... se estou lhe perguntando é porque eu quero estar com você. - Ela mordeu os lábios e confessou baixo. - Sabe... eu não me importaria de me casar nesta idade desde que fosse com você.

Ele riu um pouco. - Onde está aquela garota que odiava tanto a ideia de se casar?

Annabeth franziu o cenho. - Eu odiava a ideia de me casar obrigatoriamente, essa daí é a Rachel.

Eles riram bobos e então seus sorrisos foram sumindo aos poucos ao se lembrarem do que acontecera.

- Acho que ela deu sorte, hum?! Por Luke ter, hãn, morrido.

Ela franziu o cenho. - Sorte para ela. Pergunto-me quem fez isso, Percy. Eu não era a maior fã dele, mas ele foi envenenado, a pessoa que fez isso... bem, ou é completamente louca ou, não sei, ficou furiosa com a ideia de Luke pedir Rachel em casamento e ficou fora de si.

- Talvez os dois. - Ele deu de ombros.

- Talvez, mas isso é preocupante. Porque com esse ocorrido, sabemos que é uma pessoa que tem acesso aos domínios reais e que provavelmente é de confiança de Frederick ou de Luke, pois só assim teria descoberto sobre o que iria acontecer para ter tempo de envenenar sua bebida.

Ele assentiu pensativo. - Eu não tinha pensado dessa forma, você tem razão. Isso significa que...

- Que não podemos confiar em mais ninguém. - Annabeth completou. - Como se eu precisasse de mais pessoas para desconfiar.

Ficaram ali por um tempo, ambos imersos em seus pensamentos, até que Percy disse:

- Annie, eu preciso ir antes que sintam minha falta e venham me procurar. E se me pegarem aqui... - ele fez um gesto de quem tem a garganta cortada. Annabeth riu, então suspirou novamente.

- Tudo bem. Vocês já vão voltar, não é? - Questionou chateada.

- Sim - ele disse também demonstrando certa infelicidade. - Meu pai só veio porque Frederick chamou, e eu aproveitei para vir junto para poder vê-la. Mas logo teremos que voltar.

Annabeth franziu os lábios.

- E você não sabe quando poderá vir novamente. - A pergunta acabou saindo como uma afirmação, mas mesmo assim ele respondeu.

- Não... - murmurou.

- Então me prometa uma coisa - ela aproximou-se dele. - Prometa que em meu aniversário, você estará aqui. Provavelmente não acontecerá nada muito empolgante, então me prometa que me dará este presente.

Ele sorriu e a beijou por algum tempo.

- Eu prometo.

Então se levantou, ajeitou a roupa amassada e vestiu seu paletó azul escuro. Com um beijo carinhoso na testa de Annabeth, retirou-se do quarto, tendo o cuidado de não ser visto por ninguém.

– Ele estará aqui. – Annabeth sussurrou, quase como para convencer a si mesma. Deixou-se cair nos travesseiros e suspirou.

Uma dica: caso você seja uma pessoa perturbada, que é desprezada e ignorada por muitos, mas tem alguns poucos amigos, jamais fique muito tempo longe deles.

Dois dias após a última visita de Percy pareceram dois longos meses sem ele ou a companhia de suas irmãs. Ela quase desejou que Frederick voltasse a importuná-la só para sentir que ainda existia, mas depois achou que era melhor deixar quieto. Ao acordar no dia do seu aniversário, Annabeth já não esperava mais nada.

Entretanto, uma notícia de sua Aia ao amanhecer veio a lhe deixar surpresa e um tanto eufórica. Iriam fazer uma curta viagem para a casa de praia que tinham fora de Bridgeport, logo depois de cruzar a ponte a oeste.

Annabeth amava aquele lugar. Lembranças do sol batendo nas águas que quebravam na areia e de sorrisos e brincadeiras ao lado de suas irmãs lhe invadiram a mente, dando-lhe um breve sentimento de esperança. Talvez nem tudo estivesse perdido naquele dia.

Rapidamente lhe vestiram em roupas confortáveis para viagem. Iriam voltar naquele mesmo dia, ao anoitecer, então não levaria tanta bagagem. Após seu desjejum, logo estava na carruagem, ente Rachel e Silena, que conversavam avidamente.

Logo alcançaram os limites da cidade e não tardaram a chegar ao seu destino. Normalmente, iam ali durante semanas de verão, mesmo que não tão quentes. Aquela certamente não era a época certa para visitar a praia, pois o inverno acabara de chegar e já deixava seus rastros. O céu estava escuro e fechado, e uma brisa congelante vinha do mar, o que fez Annabeth apertar mais a manta cinza com fios de ouro em volta de si. Ainda não nevava, mas duvidava que demorasse muito para chegar.

Entrar no mar estava fora de cogitação. Mesmo assim, ela estava feliz por estar em um lugar que guardava boas memórias de sua infância. Estava mais feliz ainda porque Frederick não as acompanhara. Eram apenas Elizabeth, Silena, Rachel e ela. Acompanhadas de algumas criadas, é claro, cujas rapidamente adentraram a casa para deixar tudo em ordem.

Annabeth correu para o segundo andar e adentrou o quarto que dividia com as garotas. Parou na porta por um segundo para admirar o quarto simples que lhe encheu de nostalgia. Primeiro seguiu para a janela e com um esforço, a abriu, deixando que o vento frio adentrasse o quarto abafado, sacudindo levemente as cortinas brancas.

Só então foi até a estante onde vários livros velhos estavam empoleirados. Passou a mão levemente pela madeira empoeirada e pelas capas de couro envelhecidas. Ali, entre eles, estava escondido algo que lhe era muito valioso. Deu uma olhada ao redor para checar se ninguém estava olhando, e retirou um livro fino que se disfarçava entre os outros, mas na verdade, dentro dele, estavam papéis amarelados vazios. Ou pelo menos, alguns vazios.

Sentou-se em sua cama e fitou os desenhos que fazia sempre que ia ali. Por um motivo desconhecido, nunca quis levá-lo para o castelo, onde realmente vivia. Preferia deixá-lo escondido ali. Seus desenhos, cheios de traços infantis e desajeitados, não eram nada felizes. Aquilo era como um diário, onde ela despejava toda sua dor e frustração, como um desabafo em forma de desenho. As imagens iam desde pesadelos até memórias ruins.

A sua paixão pelo desenho não era um segredo para ninguém. O que ninguém realmente sabia era da existência daquele bloco, de toda aquela angústia rabiscada. O que ela deixava que os outros vissem eram as imagens de construções que criava: casas, palácios, monumentos e afins. Não que ela não gostasse de desenhá-los.

Annabeth pegara o hábito de desabafar através do desenho de Rachel. Desde que se entendia por gente, a ruiva mostrava imensa paixão pela arte, mas principalmente pela da pintura. Certa vez, Annabeth a perguntou por que ela gostava tanto daquilo e ela respondeu: "É a minha forma de relaxar, de expor meus pensamentos e meus sentimentos".

Então, ela tentou fazer o mesmo e entendeu o que Rachel dizia. Quando estava triste e amargurada, simplesmente pegava um papel e começava a rabiscar, às vezes não saindo nada compreensível, às vezes resultando em uma imagem que a deixava surpresa, mas que lhe ajudava a entender com o que estava triste.

Annabeth logo soube o que fazer. Ela não estava triste, e queria registrar aquela nova fase da sua vida; queria registrar que apesar das complicações que passara nos últimos dias, a felicidade entrara um pouco na sua vida. Ela encontrara alguém. Arranjou um grafite bem afinado e seguiu até o lado de fora no quintal.

Colocou uma manta pesada sobre a areia e deitou-se de bruços, então se pôs a observar a paisagem, o mar gelado batendo não muito longe, o gramado amplo à sua trás, encontrando-se com a areia escura. Então uma imagem veio à sua mente e ela começou seu trabalho. Suas mãos moviam-se rapidamente, rabiscando traços e mais traços no papel grosso.

Depois de um bom tempo, ela parou e avaliou sua arte. Era uma casa de campo. Bem, não uma casa exatamente. Era mais como um chalé. Pequeno, simples e humilde, mas que tinha uma beleza rústica. Não estava muito detalhado, já que o chalé estava um pouco distante. À volta dele estendiam-se várias flores que subiam levemente em um vale, e foi o que mais tomou tempo no desenho. E, apesar de estar em preto e branco, Annabeth podia imaginar o céu azul, o sol leve e brilhante batendo na janela da casinha e deixando a paisagem mais viva com as cores das flores.

Ela tentou se imaginar ali. Annabeth bem que queria fugir para um lugar como aquele, calmo e distante. Distante de tudo que a chateava, de regras, de pressão, da sociedade que tanto se preocupava em manter uma imagem. Mas ela gostaria de viver com alguém. Imaginou ela, já adulta, com um marido e filhos, estes correndo e brincando pelo jardim. Ela quase podia ouvir o som de risadas infantis...

Aquilo a fez pensar em Percy. Ele certamente seria um bom pai. Mas a fez lembrar-se da promessa que ele havia feito para ela. De que ele estaria ali naquele dia especial para ela. Sua presença o faria mais especial ainda. Mas como ele iria cumprir sua promessa se ela não estava em casa? Aquilo não fizera parte de seus planos. Tentou não se preocupar com isto, ainda estava na metade do dia. Avaliou seu desenho mais uma vez.

Acho que vou pedir para Rachel colorir isto, ela pensou. Rachel com certeza saberia as cores certas a se usar, como colorir o céu e deixá-lo quase brilhante. Virou a página e começou a rabiscar novamente. Ela estava pensando em Percy, de forma que logo seus rabiscos tomou a forma de um rosto masculino. Ela não era muito boa para desenhar pessoas, mas a imagem de Percy era viva em sua memória, de seu sorriso.

O que ela desenhou, não era nada que ela alguma vez vira antes. Percy estava sorrindo abertamente... Bem, não que ela nunca o tivesse visto sorrir. Ele estava com alguns traços mais adultos, mas ainda era o mesmo Percy. Não estava vestindo nenhum de seus paletós que era forçado a usar diariamente. Estava com algo parecido com um casaco, dobrado até os cotovelos. Ele tinha os braços erguidos para cima, segurando uma criança. A criança... Annabeth com certeza tinha inventado, pois nunca conhecera. Era um lindo menininho - embora não desse para ver seu rosto direito, já que estava de perfil - com cabelos escuros e incrivelmente parecidos com o de Percy. Ele também ria, com os olhos fechados.

Subitamente, ela teve uma imensa vontade de conhecer aquela criança. Ou que ela existisse. Ela queria pegá-la no colo também e abraçá-la. Ela quase podia se ver no desenho, ao lado deles. Pensou em desenhá-la ali, mas se auto desenhar era algo que ela certamente não conseguiria fazer - embora ela meio que já o fizera uma vez -, além de não caber na folha. Então ela avaliou novamente o desenho anterior, do chalé no campo, e uma ideia louca passou por sua cabeça.

Horas depois, Annabeth finalmente terminara mais um dos vários desenhos que fez a tarde inteira. Eram diferentes de todos que vinha fazendo nos últimos dias, pois eram bonitos e vivos e emanava felicidade. Era quase como se toda a felicidade que Annabeth procurava em sua vida, estivesse dentro daqueles papéis, naquelas imagens que fizera durante aquela tarde, naqueles lugares que ela estava imaginando.

Ela refez o desenho da casa de campo, mas adicionou Percy, dessa vez de corpo inteiro, mas na mesma posição da figura com a criança; sorrindo e erguendo-o no alto. Ela se colocou no desenho, afinal, mas apenas de costas, com um vestido que ia até o meio das canelas. Ela segurava um cesto ao lado do corpo, seus cachos iam até a cintura. Mesmo de costas, ela sabia que a Annabeth adulta do desenho sorria, olhando para Percy e o menininho.

Ela fez uma versão mais perto e mais detalhada do chalé. Depois de terminar as belas imagens que ela inventara, registrou algumas memórias de quando estava fugindo da floresta. Ela não queria colocar memórias ruins depois de fazer tantos desenhos bonitos, mas achou necessário. Largou a grafite, deitou a cabeça em cima de seu caderno e fechou os olhos, imaginando como seria se ela pudesse entrar no caderno e viver em seu próprio mundo, até que uma voz lhe chamou.

- Annabeth?

Ela sentou-se subitamente e encontrou Rachel

- Qual o problema? - Annabeth perguntou.

- Nenhum – ela disse. – Mamãe está chamando.

Annabeth a seguiu até um gazebo de colunas brancas no jardim. Ela pôde ver que não só sua mãe estava ali, mas também Silena e as criadas. Ficou ainda mais curiosa até que subiu a escada e foi recebida por um forte abraço de Silena.

- Feliz aniversário, Annabeth! - Ela exclamou, o que a deixou completamente surpresa.

- Ah, deuses, vocês se lembraram!

- O quê? - Rachel disse. - É claro que nos lembramos, acha mesmo que eu esqueceria seu aniversário, irmã?

A loira soltou um suspiro aliviado e sorriu, então as duas lhe esmagaram em um abraço triplo.

- Eu amo tanto vocês. – Ela disse e as meninas lhe responderam com o mesmo.

Assim que ela a soltou, Silena lhe entregou um pacote retangular azul com uma fita rosa. Annabeth ficou surpresa e, com cuidado, abriu o presente. Era um livro com a capa azul clara e o título em letras cursivas prateadas.

– É lindo! - Sussurrou Annabeth, passando os dedos pela capa dura.

– A história também, eu te garanto. – Silena disse, sorrindo.

– Eu adorei, obrigada, Lena! – A loira respondeu e a abraçou novamente.

Elizabeth aproximou-se, colocando uma mão sobre o rosto da jovem. Ela tinha lágrimas nos olhos.

– Ah, minha querida. Nem acredito que já faz 15 anos, olhe para você. Tornou-se uma moça tão bonita.

Annabeth sorriu. Era muito raro receber elogios de sua mãe. Elas não se desentendiam, exatamente, apenas não eram muito próximas.

– Tanta coisa mudou quando você nasceu, mas mesmo assim, eu tenho muito orgulho de você, querida... – ela ia dizendo, mas Rachel pigarreou atrás de Annabeth.

– Bem, vamos nos sentar. – Elizabeth convidou.

A mesa estava posta com talheres de prata, conjuntos de xícaras e pratos de porcelana, inclusive a chaleira. Havia travessas que cintilavam à luz do sol com biscoitos de açúcar, bolinhos de sabores e recheios diferentes, doces, uma terrina de frutas sobre um leito de gelo para manter a temperatura e, para a surpresa de Annabeth, um grande bolo coberto com um creme clarinho.

– Isso não é de... – ela perguntou apontando para o bolo.

– Uhum, creme de limão. – Elizabeth respondeu sorrindo.

– Ah, deuses – ela disse, sentando-se na cadeira à cabeceira da mesa. –, faz tanto tempo que não como um desses.

– Sabe, eu bem que pedi para seu pai dar uma festa de debutante para você, assim como as de suas irmãs. Porém, ele negou, não sei por que – é claro que ela sabia. – De qualquer forma, isso não me impediu de preparar algo para você.

– Obrigada, mamãe – Annabeth sorriu enquanto colocava o guardanapo sobre seu colo. – Eu gostei, de verdade.

 Elizabeth riu e pediu para que as Aias sentassem. Elas recusaram educadamente, pois os criados não deveriam comer junto de seus patrões.

– Ah, não – Annabeth disse. – Por favor, eu insisto. Ninguém vai se importar com isso. Não aqui.

Elas se entreolharam, mas então assentiram e sentaram-se, comendo juntos. Annabeth deliciou-se com duas fatias do bolo de baunilha com cobertura de creme de limão. Depois, ficou beliscando os doces e biscoitos enquanto conversava.

Quando todas finalmente se satisfizeram, Annabeth deu mais um abraço em sua mãe e agradeceu a surpresa, que embora simples, realmente significara algo para ela.

Annabeth guardou seu presente em seu quarto e acompanhou as irmãs até a praia. Divertiram-se correndo para lá e para cá sem motivo algum, jogando areia uma na outra e às vezes até jogando água. Fazia tempo que não ficavam com a barriga doendo de tanto rir das palhaçadas que faziam. Encontraram perto dali, um velho carvalho com um balanço simples de madeira onde costumavam brincar quando pequenas.

Abriram uma toalha na grama abaixo do carvalho e espalharam o que sobrara das guloseimas de mais cedo. Ali, naquele lugar jogando conversa fora, Annabeth se esquecia de que fazia parte da realeza e tinha momentos reais de felicidade. Logo o sol se pôs e uma das criadas foi lhes chamar. Deveriam estar de volta antes de escurecer completamente.

Todas tomaram um banho quente para se aquecerem e tirarem os resquícios de areia. Estavam finalmente dentro da carruagem quando Annabeth percebeu sua mãe inquieta.

– O que há mamãe? – Perguntou, pegando em sua mãe que estava suada.

– Nada, querida. É só que... – ela hesitou.

– É só que...?

– E-eu estou com um mau pressentimento. – Elizabeth travou o queixo.

– Mau pressentimento? – Annabeth indagou confusa. – Imagine mamãe. Estamos bem, vai ficar tudo bem.

A mãe hesitou mais um pouco, mas por fim deu um leve sorriso e acariciou os cachos sedosos da filha.

– Sim, querida. Eu espero que sim.

Ela fez Annabeth deitar-se em seu colo e ficou ali acariciando sua cabeça até que a jovem caiu no sono.

Poucos minutos mais tarde, sentiu um movimento brusco da carruagem parando e Annabeth ergueu a cabeça grogue. Caíra no sono pesadamente e surpreendeu-se com isso.

– Já chegamos?

– Shhh... – alguém disse por perto.

Annabeth esfregou os olhos tentando enxergar, mas seus olhos não se acostumavam à escuridão. Deu uma olhada pela janela e pôde ver o céu ainda um pouco claro, mas as árvores em volta da estrada a deixava escura. Ouviu vozes vindo da frente da carruagem, alguém falava com o cocheiro. Um baque. Silêncio.

Sua mãe ofegava pesadamente ao seu lado.

– Mamãe?

– Annie... – ela sussurrou apertando suas mãos. Aquilo a surpreendeu. Apenas Percy a chamava de Annie. – Me desculpe...

– O quê...? – ela ia perguntando, mas a porta abriu-se ruidosamente.

– Todas para fora agora. – uma voz grave mandou.

Annabeth viu um homem grande e robusto, mas não pôde identificá-lo, pois estava protegido por uma capa negra. Ela apenas franziu o cenho e afastou a cabeça levemente para trás.

– Quem é você? – Ela não iria fazer nada que ele mandasse enquanto este não se identificasse. Isto até ele a puxar com violência para fora.

– Hey! – Ouviu Rachel exclamar e avançar automaticamente em proteção à sua irmã. No entanto, outros homens com as faces escondidas por capuzes negros surgiram sabe-se lá de onde e a segurou. Outros tiraram Elizabeth e Silena do interior da carruagem e Annabeth gritou em protesto.

– Calada! – o tal homem mandou. Annabeth cuspiu no breu no meio do capuz antes que pudesse mudar de ideia. Tarde demais, recebeu uma bofetada na cara.

– Ah não, Annabeth – o cara falou, tapando a boca dela com a mão. – Eu achei que você fosse do tipo que obedecia. Sabe, me disseram que da última que lhe mandaram não gritar, você obedeceu.

O homem soltou uma risada baixa e rouca, mas o que lhe fez subir um frio na espinha foi o que ele disse. Porque a última pessoa que a mandara não gritar fora Luke Castellan, e ela pateticamente obedeceu. O pior de tudo era que ela conhecia aquela risada. Aquela voz principalmente, mas não conseguia se lembrar de quem era, porque estava um pouco diferente. Tinha a terrível sensação de que aquela pessoa era bastante familiar.

A bofetada que Annabeth recebera resultou no avanço revoltado de Rachel. Annabeth e Silena lutaram para se soltaram, mas o homem que segurava Rachel a agarrou novamente e passou uma faca pelo seu pescoço.

Não! – Annabeth mordeu a mão que abafara seu grito e avançou de impulso. Ela não sabia o que exatamente iria fazer, mas estava a um passo de Rachel quando sentiu algo forte bater na lateral da sua cabeça.

“Você não vai fazer nada?” Annabeth pôde identificar a voz de Rachel gritando. Um choro baixinho e mais gritos e então de repente tudo sumiu.

A lateral de sua cabeça latejava dolorosamente e ela sentia algo se balançando em baixo de si. Não. Ela balançava junto também. Baques rítmicos seguidos um atrás do outro. Abriu os olhos e sua visão estava turva. Não pôde ver nada além de breu. Ela percebeu que os baques rítmicos e o balanço se tratavam de um cavalgar. Ela estava em cima de um corcel negro e alguém montado atrás dela o guiava.

Antes que pudesse perguntar quem era e onde estava, o cavalo parou. Ela abriu os olhos e desta vez pôde distinguir a floresta negra. Sacudiu a cabeça tentando entender e uma imagem a fez se sentir como se sua alma tivesse fugido do corpo.

O poço.

Mais uma vez, aquele simples poço cinzento a incomodou de uma forma profunda e inevitável. A verdade é que ela realmente não queria vê-lo novamente. Não queria voltar ali. Não queria estar na floresta novamente. Ela levantou-se bruscamente em surpresa e acabou caindo.

– Tola! – o homem gritou furioso. Ele a puxou violentamente em direção ao poço e lhe jogou contra a pedra plana e fria. Ali, prostrando-se acima dela, ela temeu o que ele faria e não conseguiu pensar em mais nada a não ser no fato de que não queria passar por aquilo novamente.

Ora, parece que não é assim tão bravia como se mostrou lá atrás, hum? – ele disse passando uma mão nas lágrimas que escorriam do lado esquerdo.

– Não, por favor! – Annabeth choramingou.

– Não se preocupe, eu não sou Luke Castellan – ele disse e desembainhou uma adaga. – Eu estou apenas fazendo o meu trabalho.

Merda! – ela gritou e o empurrou, tentando correr.

É claro que não conseguiu. Algo a agarrou pelo tornozelo e a puxou de volta, fazendo-a cair de cara no chão. Foi jogada de volta na pedra, soltando um ganido de dor. Ela usava as mãos e os pés e fazia o que podia para tentar fugir. Sentiu algumas áreas de seus braços serem cortados acidentalmente pela adaga enquanto lutava contra ele, mas não ligou.

No entanto, cada vez mais cortes iam surgindo por seu corpo, cada vez mais longos e profundos, e depois de um tempo, não conseguia simplesmente tentar afastar aquele homem, só tentava sem sucesso se proteger, porque era como se várias mãos estivessem lhe espancando. Imaginou que os outros homens houvessem chegado para lhe maltratar, mas quando abriu os olhos, surpreendeu-se com o que viu.

Eram sombras. Demônios em forma de grandes pássaros fumacentos lhe cercavam e lhe batiam. Já era inevitável gritar de dor e perdera a conta de quantos lugares em seu corpo doíam horrivelmente. Aquilo não podia ser real. Aquilo só podia ser um pesadelo. Mas como era possível um pesadelo causar tanta dor e sofrimento?

Foi quando sentiu apenas um par de mãos frias e habilidosas lhe apertarem o pescoço. Annabeth tentou desesperadamente retirar as mãos dele dali, tentou afastá-lo, mas ele conseguia manter-se longe de suas mãos e ao mesmo tempo enforcá-la com agilidade, e logo seu oxigênio foi se esgotando...

Ar.

Algo tão normal e automático no dia-a-dia, que você nem sequer dava a mínima até sentir sua falta.

Oxigênio.

Algo tão crucial e importante para o ser humano, inalado automaticamente, igualmente despercebido no dia-a-dia como o ar até você precisá-lo urgentemente.

Annabeth nunca sentiu tanto a falta daquele elemento até aquele momento. Nunca imaginara como seria doloroso e incômodo ficar tanto tempo sem ele. Sua visão ficou turva, ouviu um leve zumbido e seus pulmões queimavam. Quando por fim suas mãos caíram moles ao seu lado e soube que iria morrer, ele a soltou.

Annabeth inspirou uma lufada de ar e tossiu em meio às lágrimas. Por fim, o homem em seu capuz negro, exatamente como ela imaginava ser a Morte, ergueu sua adaga prateada no alto. E ela enfim lembrou-se. Reconheceria aquela adaga em qualquer lugar, e Annabeth não se surpreenderia se ele fosse a própria Morte.

Jovem alma, que acabas de vir ao mundo – ele falou em sua voz rouca. – Pelo ódio do pai, condenada estás.

Imagens novamente vieram à mente de Annabeth. Ouviu aquele choro de bebê e soube, ela era a jovem alma que acabara de vir ao mundo, ela fora aquele bebê.

Teu espírito eu prendo neste lugar sem rumo.

Lugar sem rumo. Mas é claro. O poço. Aquele mau pressentimento. Caminhara sem rumo quando acordou após a noite em que fora violentada por Luke e o encontrou. Ela viu novamente Frederick e Thalia, erguendo-se bem acima dela, exatamente ali onde estava deitado seu corpo ensanguentado e inerte naquele momento.

E quando aos 15 chegar, para cá ele voltará – ele dizia.

Mais claro impossível. Acabara de fazer 15 anos. E ali estava ela novamente. A data que tanto esperava, que tanto ansiava, era, no fim, o dia de seu maior pesadelo. O problema é que dessa vez não era apenas um pesadelo.

Mas lembro aos deuses, em segredo profundo: – ele segurou novamente o pescoço de Annabeth, mas dessa vez, ele o esticou, levantando o queixo dela para que a pele branca sobre a garganta ficasse bem exposta. – Pelo sangue do pai esta alma amaldiçoada está; e somente pelo sangue do pai, libertada ela será.

E em um movimento rápido e certeiro, fez um talho profundo sobre a artéria , fazendo o sangue de Annabeth que corria para bombear seu coração, espirrar pelas árvores.

"Enquanto a minha vida passa diante dos meus olhos

Pergunto-me: verei outro nascer do sol?

Muitos não têm a chance de dizer adeus

Mas é tarde demais pra pensar no valor da minha vida”


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Notas finais do capítulo

ACHO QUE TO COM MEDO DE MIM MESMA T.T
EU QUERO MEUS PARABÉNS/FELIZ ANIVERSÁRIO, OK? OK T.T ALKDJÇASLKJFKÇJDSKJNLKHNLK AHFA E MUITO OBRIGADA PELAS RECOMENDAÇÕES, GENTE, EU AMEI ♥33333