Outlying. escrita por LittleBitOfSemi


Capítulo 2
Capítulo 1: The bayadere and the singer.




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New York, segunda-feira,6:00 AM. Selena.

O verão é a estação mais difícil do ano para uma bailarina.
O collant nunca desliza com a mesma facilidade, o cabelo nunca fica 100% até o fim de uma aula, isso sem contar os pés, que escorregam com muita facilidade dentro da sapatilha. A foto de Maria Alexandrova em minha cabeceira de cama parecia repreender-me por minhas observações tolas e foi em meio a um suspiro que me levantei para tomar um banho rápido. Vesti o collant que descansava sob a cômoda, analisei meus pés antes de calçar a sapatilha, prendi o cabelo em um rabo mal feito e desci. Minha mãe cumprimentou-me com um sorriso amargo enquanto atravessei a cozinha e retirei o leite da geladeira, enchendo um copo com o mesmo antes de guardá-lo. O achocolatado foi estendido em minha direção
pelo meu irmão, que tomava seu café antes de ir trabalhar.

- Bom dia, Sel. – passou a mão rapidamente em meu braço –

- Bom dia, Sam.

Terminei o leite sem pressa alguma e coloquei o copo dentro
da pia, seguindo para o banheiro do meu quarto para escovar os dentes. Encarei o espelho para conseguir fazer o coque no cabelo com mais facilidade. Meu iPhone acendeu, denunciando uma nova mensagem. Peguei o aparelho sob a pia de mármore, coloquei minha bolsa já arrumada no ombro e desci as escadas novamente, depositando um beijo rápido na face da minha mãe antes de correr para fora de casa, onde o BMW Cábrio prateado estava estacionado e a garota dentro dele aguardava paciente. 

- Bom dia, Tay. – sorri e joguei minha bolsa para trás ao
lado da de Taylor –

- Nada bom. A professora me ligou hoje e exigiu que estivéssemos
lá as oito em ponto, pois ela tem “um comunicado importante a fazer para a turma.” – revirou os olhos antes de dar partida no veículo –

- Eu acho que ela anda estressada demais por esses dias,
talvez isso se deva ao fato de Miley ter decidido sair. – dei de ombros e
chequei meu celular – Eu amo a forma como você me trata. – afirmei ao constatar que a mensagem era de Taylor e dizia “Estou te esperando, corra e quebre as pernas para eu pegar seu lugar. Xoxo.” –

- Isso não tem nada haver com Miley. Agatha está com garotas
ruins trabalhando com ela, e não tem uma equipe preparada o suficiente para a apresentação em Los  Angeles na semana que vem, por isso está irritada. – Taylor passou a mão no cabelo loiro contido em um coque e suspirou – Tomara que esse comunicado importante não seja a desistência dela, é uma apresentação importante para a academia e nenhuma outra professora conseguiria entrar em sincronia com a turma em uma semana.

- Ela não vai desistir, nós estamos falando da Agatha. – ri
alto e Taylor me acompanhou – Temos sorte por sermos boas e as preferidas dela.

Taylor estacionou o veículo e pegamos nossas devidas bolsas,
caminhando descontraidamente até a enorme sala espelhada onde nossa professora e colegas de classe faziam um circulo e mantinham o mais absoluto silencio, provavelmente aguardando nossa chegada. Sentamo-nos no espaço que foi aberto e então Agatha levantou-se da cadeira e sentou-se no centro do círculo. Cumprimentei Ashley do outro lado da roda com um sorriso rápido antes de ter minha atenção voltada para a mulher que olhava de uma aluna para a outra parecendo procurar as palavras certas para começar.

- Bom, em primeiro lugar eu gostaria de dizer que tirando
Taylor, Selena e Naya, vocês parecem elefantes belgas sentados. Tratem de endireitar essas posturas, e isso inclui você, Benson. – apontou para a loira, que abriu ainda mais os olhos azuis e retomou sua postura ereta – Muito bem. Vocês estão cansadas de saber que a apresentação da semana que vem é de suma importância para a nossa academia, pois ela será acompanhada de perto pelos melhores críticos do balé contemporâneo, e se nós nos sairmos bem teremos a chance de entrar para as seletivas e quem sabe até mesmo para as nacionais. –
deu uma pausa e suspirou, abaixando a cabeça brevemente – Mas isso é um projeto futuro, o que importa hoje é que eu tenho uma amiga que foi aluna de Irina Baronova-

- Não acredito nisso! – exclamei com a respiração
entrecortada – Uma das baby bailarinas!

- Sem interrupções. – repreendeu-me – Tenho uma amiga que
foi aluna de Irina Baronova em 1994 e prometeu me ajudar com vocês, que vão passar do estágio de elefantes para garças graciosas. – sorriu vitoriosa – Só tem um problema, ela não pode sair de Los Angeles porque ela acabou de ganhar uma linda princesa que futuramente irá tomar o lugar de vocês na Broadway. – colocou-se de pé – Então se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai a Maomé.

- Espera, deixa eu ver se entendi. – Taylor franziu o cenho
– Nós vamos a Los Angeles?

- Sim! Nós não vamos apenas a Los Angeles, nós vamos
passar uma semana em Los Angeles e vocês vão treinar com uma aluna de Irina Baronova. Agora comecem a mexer esses esqueletos desengonçados e arrumem suas malas, preciso de confirmações até hoje a noite para saber quantas passagens compro e quantos quartos de hotel reservarei.

As autorizações foram distribuídas entre as alunas e precisei esperar até sair do estúdio para ter o meu pequeno momento diva, onde
eu gritei e pulei abraçada em  Taylor. Passar uma semana em um estúdio em Los Angeles tendo aulas com uma das alunas da rainha do Balé clássico era algo que não fazia parte dos meus planos nem mesmo em meus sonhos. Cheguei em casa e não precisei pedir duas vezes para que minha mãe assinasse o pequeno papel autorizando a viagem e minha estadia em um hotel por uma semana sob os cuidados da tão temida
Agatha Balakrishnan. Taylor e eu nos encontramos no dia seguinte e a mesma passou na casa de Naya e Ashley para só então seguirmos direto até o aeroporto, onde Agatha e mais algumas alunas já esperavam. Despachamos nossas bagagens e seguimos até a sala de embarque para esperar as poucas garotas que faltavam, e quando o grupo já estava completo nós entramos no avião. Minha ansiedade havia me tirado o sono durante a noite então perdi a viagem inteira dormindo e fui acordada com os dedos delicados de Taylor retirando uma parte da franja que caía sob meus olhos. Agatha fez seu pequeno espetáculo sobre como burocracias
são chatas quando chegamos ao hotel e levou um bom tempo até estarmos todas devidamente alocadas nos quartos, onde ficamos em duplas. Eu dormiria com Taylor, é claro. No mesmo dia havia uma reunião marcada com Mrs. Satterhwaite, a aluna da aclamada, adorada e idolatrada Irina Baronova. Uma van contratada pela própria Mrs. Satterhwaite nos levou até o estúdio onde passaríamos a semana
treinando e sentamos como de costume, em círculo, conversando em voz baixa até que a porta abriu-se e todos os olhos daquela sala voltaram-se para a esguia mulher que seguiu em passos tão delicados que seus pés definitivamente não poderiam estar tocando o chão. Naya deu espaço para que a mulher adentrasse a roda e quando achou um lugar estável sentou-se no chão exatamente no meio, deixando um suspiro pesado sair de seus lábios.

- Olá meninas, boa tarde. – cumprimentou com um aceno de
cabeça – Meu nome é Nicol Satterhwaite, mas vocês podem simplesmente me chamar de Mrs. Satterhwaite ou Nicol, o que eu prefiro. Vou deixar algumas coisas claras para vocês, Agatha me corrija se eu estiver errada. – sorriu para a nossa professora, que sorriu de volta – Vocês tem uma apresentação no sábado, certo? – a resposta positiva foi em uníssono – E minha querida amiga acha que talvez vocês precisem de alguma ajuda com alguns passos... Bom, eu dispensei minha turma essa semana para me dedicar única e exclusivamente a vocês, e eu sei que cada garota que está aqui tem o potencial para executar todos os movimentos com perfeição. Eu não faço milagres, vocês fazem. – algumas garotas
balançaram a cabeça em tom positivo – Dentro de cada uma aqui existe a força para ser mais, ir além, dentro de cada uma existe o equilíbrio, a beleza da dança. Saibam que eu não trabalho com derrotadas. – colocou-se de pé antes de sair da roda e começar a andar lentamente por trás de nós – Eu não trabalho com garotas que se dão por vencidas no primeiro erro. Se alguém aqui achar que não é capaz eu peço que levante e saia dessa roda imediatamente.

Nesse momento Nicol parou e analisou cada expressão facial
antes de bater palmas uma vez e dar passos angelicais até o aparelho de som.

- Muito bem, vejo que só temos vencedoras aqui. Podemos
começar.

Los Angeles, terça-feira, 10:24 AM. Demetria.

A claridade que invadia o quarto incomodou meus olhos e
girei na cama na esperança de que o sono não fosse embora, porém mesmo depois de passar certo tempo nessa posição percebi que era a hora de acordar. Estiquei-me preguiçosamente na cama e sentei-me, bocejando brevemente antes de levantar e seguir até o banheiro, onde tomei um banho demorado e vesti um short jeans e uma camiseta branca. Antes de descer coloquei meu celular no bolso, arrastei-me através das escadas e fui até a cozinha onde minha mãe já começava a preparar o almoço.

- Bom dia bela adormecida. – virou-se para mim e sorriu –

- Bom dia mãe. – respondi com a voz levemente rouca –

- Tem pão dentro do microondas, mas acho que deveria esperar
e almoçar de uma vez.

- Vou almoçar com o Joe hoje. – dei de ombros ao pegar o pão
de sal e dar uma mordida –

- Você vai comer pão puro menina? – repreendeu-me com o
semblante sério –

- Ah mãe... Preguiça.

- Sempre com essa preguiça. Não sei a quem você puxou,
menina.

Ignorei os resmungos que ela continuou a proferir e fui até a
sala, ligando a TV e deitando-me no sofá de frente para a mesma. Zapeei os canais até encontrar um onde passava Bob Esponja e deixei por lá mesmo. Senti algo vibrar em meu bolso e retirei meu celular, tocando a tela para desbloqueá-lo. Cliquei no aplicativo do twitter e esperei mais alguns segundos até que ele carregasse a página por completo antes de exibir minha nova mention.  “@ddlovato    o que vai fazer depois do almoço?”   Era Nick. Nós nos conhecíamos desde pequenos
e fomos praticamente criados juntos, o que acabou gerando uma aproximação com os irmãos dele, Kevin e Joe, o segundo meu atual namorado. “@nickjonas    vou dormir, algo em mente?”   Nick e eu tínhamos um tipo de contrato fixo com um bar na beira da praia, onde fazíamos shows praticamente todas as noites, o que não era exatamente ruim tendo em vista que ambos recebíamos um salário ótimo para dois iniciantes no mundo da música. É claro que eu não poderia desvalorizar o nosso trabalho, ele é ótimo com o violão e eu sou ótima com a voz/interpretação, entretanto, para ser honesta, R$3,000.00 é demais para duas crianças com 18 anos.    “@ddlovato      preciso de você aqui, recebi por e-mail a lista das músicas do repertório dessa semana e tem uma música nova...”        Revirei os olhos para a nova informação
e suspirei, bloqueando o teclado e voltando a concentrar-me na televisão. Durante uma parte do desenho, peguei meu celular e selecionei o teclado para digitar um novo tweet.  “O amor é entregar a alguém uma arma e deixá-lo apontar para a sua cabeça, acreditando que ele não vai
puxar o gatilho.” É por isso que gosto do Bob Esponja.

- Está falando com quem? – questionou minha mãe ao
aproximar-se de mim –

- Com ninguém mãe, estava no twitter.

Ignorei o olhar que me foi lançado e voltei a assistir desenhos até a hora de ir trocar de roupa para almoçar com Joe. Substitui a camiseta branca por uma verde lisa, coloquei um short um pouco maior e calcei
meu all star branco, limitando-me a colocar um óculos para não precisar passar maquiagem àquela hora do dia. Não que eu seja o tipo de garota que não se cuida, muito pelo contrário, mas eu estava tão habituada com Joe que eu poderia simplesmente sair de pijama e ele não se importaria nem um pouco, uma das vantagens de namorar seu melhor amigo. Esperei deitada na cama trocando alguns tweets com amigos virtuais até que ouvi a batida leve na porta do quarto e sorri, pulando da cama diretamente para os braços fortes e receptivos do meu namorado.

- Que felicidade toda é essa? Não trouxe presente para você
hoje, Demi. – ele riu baixo e selou nossos lábios demoradamente – O que estava fazendo?

- Twittando! – afirmei animada –

- Você e esse celular. – revirou os olhos antes de abraçar-me pela cintura – Nick quer te ver hoje, ele disse que precisa encaixar a sua voz em I will, dos Beatles, e que vocês precisam estar brilhantes todos
os dias como se fossem astros da Broadway.

- Eu já te disse antes que o Nick tem sérios indícios gays não é? – dei uma risada baixa ao abraçar o pescoço de Joe – Eu preferia passar
a tarde com você...

- Hmmmm... Fazendo sexo? – questionou com ar divertido –

- Joe!

Soquei os ombros dele antes de afastar-me para rir. Peguei
meu celular sob a cama levando o aparelho diretamente ao bolso, ouvimos alguns conselhos da minha mãe e caminhamos distraidamente para um restaurante de comida caseira não muito distante dali. Joe era um ótimo namorado, era divertido, bonito, atencioso, carinhoso e além de tudo nutria um sentimento por mim que eu secretamente não conseguia retribuir. É claro que eu o amava, não havia dúvida disso, porém sempre existe aquela história de que em um relacionamento sempre tem um que se entrega mais, certo? E naquele caso era ele. Meu pai saiu de casa quando eu tinha apenas 12 anos, minha mãe desde então se preocupa mais com ele do que consigo mesma e praticamente deixou-me de lado minha adolescência inteira, o que acabou gerando certa frieza de minha parte
para com qualquer outra pessoa. Eu não recebia carinho então não conseguia dar carinho, uma espécie de bloqueio que eu não fazia muita questão de quebrar com Joe por ele saber exatamente como sou desde que começamos a namorar, e em partes ele considerava isso bom, quer dizer... Ninguém gosta de uma garota pegajosa. Depois do almoço fui direto com Joe para a casa dele, onde encontrei com Nick e passamos o resto da tarde ensaiando copiosamente a mesma música. Fui
para casa pouco antes de anoitecer, conversei com a minha mãe por um tempo antes de seguir para o meu quarto e sacar meu celular, que denunciava 5 mentions e 13 RT. Eu sou o que pode ser considerada uma das “famosas” do twitter, apesar de achar que não mereço levar tal crédito. Tornei a tomar banho e me arrumei, aguardando Nick para irmos até o bar e assim que chegamos lá Charles recebeu-nos com um sorriso largo.

- Boa noite minhas estrelas! Sabe que sinto falta dessas carinhas felizes durante o dia? – apertou a bochecha de Nick –

- Quer dizer que você decidiu da noite para o dia que I will
vai entrar para o repertório? – ergui a sobrancelha –

- E o que tem demais nisso? – franziu o cenho olhando-me com
certo desdém – Você vive se gabando de que sua voz combina com tudo.

- E combina, mas você sabe como a Demi é. – Nick revirou os
olhos – Ela e suas manias de diva.

- Desde que continuem me trazendo clientes. Cada louco com
suas manias.

Revezei o olhar entre Nick e Charles, que riam juntos enquanto eu permanecia séria. Olhei rapidamente envolta e percebi o bar
razoavelmente cheio para uma noite de terça feira, porém já estava acostumada com o público e tomei meu lugar tranquilamente, começando a aquecer a voz enquanto Nick afinava novamente o violão. Recebi um aperto no ombro e olhei para Charles um tanto quanto irritada, ele sabe o quanto é importante a concentração antes do show.

- Só para te lembrar que na sexta-feira aquela minha amiga
vai trazer as meninas da companhia de balé de New York e você precisa estar bem, portanto... Não canse muito sua linda voz hoje. Boa sorte princesa.

Acenei positivamente para Charles e voltei-me para o público,
cumprimentando-os com um boa noite antes de começar a cantar Natural Woman.


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Notas finais do capítulo

reviews?