Jay

Ele estava a espreita, observando o filho de Hades deixá-la, despediu-se com um beijo... Tentou imaginar-se no lugar dele, seus lábios formigaram.

A essa altura os deuses já deveriam saber que ele a visitava! Eles sabiam de tudo, afinal.

Parte dele, uma parte bem grande, queria que eles soubessem, assim poderia falar com ela. Mas, aquela outra parte tinha medo. Medo da rejeição? Do que ela diria? Do que eles pensariam??? Filhos de Hermes não deveriam ter medo. Mas, um nó se formava em sua garganta toda vez que pensava na possibilidade de irritar os deuses.

Mas, se Nico podia...

-Quem está aí?! Agora tenho certeza que não é minha imaginação! Consigo ouvir sua respiração! Nem minha imaginação extremamente  fértil poderia criar algo tão real! É um herói??? Por que não se mostra? Está machucado? – ela gritou, com o coração na mão.

-Uh. – ele arquejou.

-Se não está machucado porque não se mostra? Por que não vem até mim?

-Eu não posso... – ele sussurrou.

-As Parcas não sabem sobre você...- ela murmurou. – Mas como???

-Eu... Eu tenho um dom..- ele respondeu, com um suspiro. Podia ouvir os passos dela se aproximando.

-Você é um filho de Hades, também?!

-Não...- ele disse, incerto. Ele sentiu a respiração dela na frente dele. A mão dela tocou o ombro dele.

-Porque você não me conta quem é? Eu sou Calipso, filha do titã Atlas. Eu estou quase sempre sozinha. Eu sou uma prisioneira.

-Eu sou... Eu sou Jay, filho de Hermes. Eu nunca estou sozinho, no meu chalé tem um bocado de gente. Minha mãe está desaparecida há sete anos. às vezes eu queria algo que me prendesse a alguém ou algum lugar.

Ela não compreendia, ele tinha tudo para ser feliz... Não tinha? Ela queria poder ajuda-lo, era o dever dela: ajudar os heróis que viessem até ela, mas, nem ao menos se lembrava o que era ter irmãos, ou o sentimento de perder uma mãe. Por isso, o abraçou. O abraçou mais forte do que a pressão que o cordão prateado fazia em sua cintura. Sentiu as mãos dele a envolvendo. Ela sentiu o cheiro dele, baunilha, Pepsi e xampu.

- Eu não posso ficar aqui. – ele disse por entre os cabelos louros dela.

- Sim, você pode...

- Precisam de mim... Na guerra.

- Guerra?! Nico nunca me falou sobre uma guerra. – a voz dela tremeu e seu abraço afrouxou.

- Os titãs estão se reerguendo. Querem a nova Era do Ouro.

- Meu pai? – ela perguntou irritada – Ele se safou da maldição dele?!

- Não sei direito. Acredito que não. Inverno passado ele colocou a lady Ártemis para tomar seu lugar. Mas um cara do acampamento a salvou...

- Percy Jackson.

-Sim... E agora Cronos está recrutando semideuses... E...

- Ele te chamou, Jay?

- Sim...

- Qual é o seu poder? – ela perguntou.

- Não vai perguntar se aceitei ou não?

- JAY!

- Eu posso ir a qualquer lugar; só de pensar.

- Você precisa negar, Jay. Eles te usarão para entrar no Olimpo sem dificuldades. O que eles te prometeram? – ela disse soltando-o.

- Minha mãe... Calipso... Eu preciso dela.

- Jay. Eles não a tem. Eles são mentirosos, inescrupulosos, maldosos...

Ele trincou os dentes.

- Eu sei, e não vou aceitar... Hermes é muito ausente e tudo mais, mas ele é meu pai... Isso é um laço, não, é? Laços são tipo importantes... E eu preciso muito deles. É o que o Quíron diz.

- Jay... O que realmente aconteceu com você?! Seu corpo pode ser ágil e estar extremamente saudável. Mas aqui, – ela disse apoiando as mãos delicadas no peito esquerdo dele. – você está doente. Machucado e ferido.

- Você pode me ajudar?

-Não sem sabe o porque, Jay...

- Eu também não sei, Calipso... E é por isso que eu preciso de você.

- Quer Pepsi?

- Isso foi um sim?

- Isso foi um quer Pepsi, Jay.

- Ah.

Ela beijou a boca dele de leve.

- E isso, foi um sim.

- Eu adoro Pepsi. – ele disse.

Ela estralou os dedos e uma taça dourada surgiu na mão dela.

- Criados invisíveis. – ela explicou, dando de ombros. – Os deuses não são tão maus quanto parecem.

Ele pegou a taça da mão dela e tomou um gole.

- Isso não é Pepsi...

- É Vanilla Coke. Quando te abracei senti cheiro de Pepsi e baunilha...

- Acertou em cheio.

- Acho que vamos nos dar muito bem, Jay. Vamos.- Ela pegou ele pela mão.- Vamos, preciso ver seu rosto, não é mesmo? E você precisa ver as ondas. São maravilhosas durante a madrugada.

- E se eu for feio? Deformado e esquisito.

- Eu precisaria pedir gentilmente que você fosse a guerra. – ela riu – Venha logo.

Ela foi na frente, puxando-o pelo braço, os cabelos tão claros e tão brilhantes brilhando a luz da lua, a pele pálida cintilando.

Usava um vestido branco que chegava até a altura das canelas com mangas curtas.

Ela olhou para ele. Seus olhos se arregalaram. Ele era espetacular. Tinha olhos castanhos, cabelos acaju e a pele clara como a dela. Seu nariz tinha algumas sardas e seu sorriso poderia iluminar um campo de futebol.

- Deformado.

- Meu pulso faz um barulho esquisito quando eu mecho. Porque uma vez a Clarisse, do chalé de Ares, me jogou do Punho de Zeus e... – notando o olhar perdido dela, ele se interrompeu. – Você não conhece o acampamento.

Ela balançou a cabeça levemente.

-Nico não é uma pessoa que descreve as coisas. Ele só fala sobre elas. E ele é meu único contato com o mundo lá fora. Quero dizer, tem Hermes, mas o Olimpo não conta...

- Será que eu poderia tentar uma coisa? – ele pediu estendendo a mão.

- Não vai funcionar. Uma corrente mágica me prende aqui.

- Mas você merece, nós podemos tentar e...

-Vamos simplesmente olhar o céu, Jay. É fácil. Você pega minha mão e finge saber o nome alguma constelação, você aponta para ela, e depois... Eu vou rir, porque sei o nome de todas elas, mas acho lindo como você se esforça. Eu vou apontar para as ondas e perguntar se você já viu algo tão bonito. O que acha?

- Acho bom. Talvez, você seja minha âncora.

- Acho que posso mesmo ser sua âncora.

- Sobre as ondas... Só uma coisa é mais bonita que elas.

Ela ergueu as sobrancelhas, curiosa.

- Você.