“Pai? Me deixe só, já tomei minha decisão!”

       Subi pelas escadas da enorme casa de meus avós. Hoje não seguiria a rotina, hoje ficaria presa no estranho desejo de que o amanhã nunca chegasse. Uma casa de vampiros, escadas limpas, arejada e bela, com uma paisagem de arvores e pássaros cantando afora. Corri pelo corredor, com as lágrimas me acompanhando. Tentei abrir a última porta, uma escolha aleatória.

       Ela estava trancada. Uma estranha e forte sensação de dor e desespero me fez querer entrar naquele quarto. Joguei meu braço contra ela, e a porta se abriu revelando um estranho quarto. Queria  me aprisionar em qualquer lugar, queria chorar sem ninguém para limpar minhas lágrimas, e aquele quarto novo em que eu nunca tinha entrado serviria perfeitamente.

       Olhei para o lado e vi a estranha figura de meus pais, me olhando como se quisessem que eu entrasse naquele quarto. Eles tinham um estranho sorriso no rosto, um sorriso que mostrava receio.

       Não me lembrava daquele aposento. Será que como nos filmes de terror, a mansão de meu avô tinha passagens secretas? Ri daquele pensamento estranho, e entrei no quarto, limpando com a manga do meu vestido meu choro.

       Ao entrar no cômodo, olhei em volta. Era um quarto de criança com uma pequena cama, onde repousava uma boneca de porcelana. Ela era linda, tinha cachos rubros, e olhos verdes, que prenderam toda a minha atenção. Tão parecida comigo.

       Me sentei na cama despreocupada, a janela estava aberta, o vento soprava em direção dos meus cabelos. Quando fui pegar a boneca, passei a mão em seus cachos, com um estranho desejo de brincar.

       Senti uma leve pontada de dor e quando retirei a mão delicadamente, vi uma enorme mancha de sangue.

       Soltei instantaneamente a boneca, que virada de costas, se encontrava coberta de sangue escuro. Um aroma doce veio à minhas narinas, fechei meus olhos, e quando abri pude rever toda a cena do dia que se criou a penosa cicatriz em meu pescoço...

       Fiquei congelada no tempo, anciando desejos proibidos...

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